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Capítulo 37

Como o esperado, Lucy já chegou reclamando, mas também parecia muito feliz ao me ver.

- Você tá mais morena... – reparou. Ah, pronto.

- A gente foi pra cachoeira – admiti.

- Curtiram a visita? – sorriu maliciosamente, o que me arrancou uma risadinha. Ahh, se ela soubesse.

- Sim, muito. Tinha uma gruta ou espécie de caverna subaquática. Foi bem interessante – respondi fingindo inocência enquanto tentava disfarçar meu próprio sorriso malicioso.

- Você não é nada divertida – resmungou.

- Por que você não pergunta logo o que você quer saber?

- Porque quando eu sou direta você se finge de idiota de qualquer forma.

Dei de ombros.

- Às vezes eu só não quero falar sobre isso, o que acha?

- Você nunca quer falar sobre nada, Sam.

- Isso não é verdade – me defendi. – A gente fala sobre coisa pra caramba. A única coisa sobre o qual você pode reclamar é sobre eu não ficar te falando sobre tudo o que eu faço com o Seth.

- Eu não preciso mais ficar sabendo essas coisas – sorriu vitoriosa. – Agora que vocês namoram, eu já estou satisfeita. Meu trabalho de cupido foi cumprido com maestria.

Ri e me deitei na cama.

- Você é maravilhosa, sabia? Eu não sei o que eu faria sem você na minha vida.

- Provavelmente ia viver a mesma vida chata e sem graça de sempre – fiz uma careta.

- Se você diz que minha vida era chata e sem graça... O que é uma vida animada pra você? – questionei, realmente curiosa.

- Sei lá. Acho que isso depende da pessoa. Tem gente que diria que sair, ir à festas e baladas seria uma vida animada. Outros diriam que ficar com um monte de gente e fazer um monte de merda é uma vida animada. Outras já poderiam dizer que viajar e ou conhecer lugares é uma vida animada. Eu acho que minha concepção fica no meio desses três.

- Ou seja, eu tive uma vida medianamente animada, até, deixa eu ver... um ano atrás? – sorri. – Pra mim é justo.

- Acho que tem razão. E se for realmente esse o divisor, a minha vida é tão chata quanto a sua – admitiu. Um pouco mais, eu imagino, se for levar em consideração o terceiro fator. Não que ela saiba que eu simplesmente sumia para poder explorar por aí.

- Bem-vinda ao clube então – ironizei e levei uma travesseirada. – Como estão as coisas com o Matt?

- O mesmo de sempre – deu de ombros. – A gente sai, a gente conversa, a gente namora... O básico, eu acho.

- Isso é ruim? – perguntei, estranhando seu tom de voz.

- Não. Eu prefiro nos manter no simples que é algo que tá dando certo do que inventar ideia e estragar tudo. Ele pensa da mesma forma.

- Mas?...

- Ah, é só preocupação com o futuro. Vou pra faculdade?, arrumo um trabalho? Eu ainda não sei o que eu quero. E eu não sinto particularmente nada me chamando para algum caminho também – arqueei a sobrancelha, mas ela me interrompeu antes que eu tivesse tempo de perguntar sobre a prova de admissão que ela fez pra faculdade. – Ah, eu sei que eu passei, mas sei lá... Eu estou tentando me decidir se sigo ou não com esse ideal. O Matt também não tá animado de ter que fazer faculdade por causa que os pais querem que ele siga a linhagem de médicos da família. Ele tentou muito fugir disso.

- Eu sei um pouco como é essa pressão.

- A dona Elbe queria que você fizesse algo específico?

- Minha mãe não.

- Ué? Então como pode entender?

Sorri de canto.

- Está se esquecendo de uma pessoa, Lucy – seus olhos brilharam em entendimento. – Meu pai queria que eu seguisse carreira militar como ele. Ele chegou a ter esperança que eu faria exatamente isso porque eu vivia enfiada na academia. Nas pouquíssimas vezes em que a gente conversava, ele parecia muito satisfeito com isso.

- Ah... – desviou o olhar.

- Não precisa fazer essa cara. Eu estou bem – pela primeira vez e como eu nunca estive antes. – Mas eu nunca quis esse tipo de serviço. E eu tinha muito medo de ser mandada para a guerra, porque eu vi de perto o que isso faz com as pessoas.

- Seu pai foi pra guerra? – perguntou horrorizada.

- Sim, foi. Ele voltou uma pessoa totalmente diferente. As surras, as exigências, as humilhações, tudo isso só começou depois que ele voltou.

- Deve ter sido muito doloroso pra você.

- De várias maneiras – dei de ombros. – Nós éramos mais próximos até do que eu sou com a minha mãe. Então foi um choque e tanto quando ele voltou daquele jeito.

- Isso ainda te incomoda?

- Como assim? – perguntei confusa.

- A mudança do seu pai, a perda da relação de vocês, essas coisas.

- Não mais. Eu costumava pensar muito nisso quando era mais nova, mas hoje em dia eu não me importo mais de saber os motivos dele. Provavelmente ele presenciou coisas horríveis e isso eu entendo. O que eu não entendo é descontar na família e se recusar a buscar ajuda. Essas coisas eu não vou entender e aceitar jamais.

- Você perguntaria o porquê se o visse novamente na sua frente? – estremeci. Só a ideia de vê-lo já me faz sentir falta de ar.

- Dificilmente eu conseguiria perguntar alguma coisa.

- Você acha que ele partiria pra cima de você? – falou com assombro.

- Sinceramente? Não sei. Mas eu não apostaria no contrário. Mas a questão toda de não perguntar é porque eu realmente não conseguiria – em todos esses anos, essa é a única coisa que eu sinto que ficou pendente entre eu e ele: o porquê. Essa simples pergunta é a única coisa que ainda falta para eu conseguir deixar meu passado completamente para trás.

Lucy me fitou com intensidade e depois deu de ombros, sentindo que eu não queria admitir o motivo. É mais difícil do que eu pensei que seria. Mas ela entende. E ela sabe. Não é difícil entender e perceber sabendo tudo o que eu já contei pra ela.

- E você ainda pretende se mudar depois de amanhã? – mudou de assunto.

- Sim. Já tá tudo pronto.

- Por que você tinha que ir pra tão longe? – choramingou. – Vai ser tão difícil você arrumar tempo pra gente fazer alguma coisa. E ainda tem o Seth...

- Foi mal – sorri me sentindo um pouco culpada. – Mas aquela era a melhor opção para o que eu quero estudar.

- Tudo bem, Sam. Não precisa pensar demais nisso. Quando todos esses anos de tortura acabarem, a gente vai ter um pouco mais de tempo – fez uma careta. – Não muito, já que a gente vai ter que trabalhar e vamos ter que ser adultos também – achei graça da forma como ela disse a frase.

- Eu vou dar um jeito de te manter na minha vida, nem que seja uma vez a cada duas semanas. Você ainda não vai se livrar de mim – sorri e Lucy me acompanhou, parecendo até um pouco mais aliviada. – Ah, e o Seth vai comigo.

- Pera, é o que? – começou a surtar e eu ri.

- A gente decidiu dividir a casa e morar juntos enquanto estudamos.

- Como ele te convenceu à isso? – disse perplexa.

- Quem te garante que não foi eu quem sugeri? – franzi as sobrancelhas.

- Eu te conheço o suficiente pra saber que ele deve ter tido dificuldades de te convencer.

Ri.

- Você tá meio certa. Ele não teve tanto trabalho assim. Ele usou argumentos bem tentadores... E eu ia sentir falta dele, preciso admitir. O fato da gente já ter acostumado a dormir juntos com frequência também tem impacto. Mas a gente vai dormir em quartos separados, pelo menos a maior parte dos dias.

- Esse é um passo bem grande pra vocês dois. Talvez não demore pra vocês partirem para algo mais sério ainda.

Grunhi.

- Por que precisa colocar as coisas dessa forma? Eu levo o namoro à sério.

- Então você já pensou no seu futuro com o Seth? Quer dizer, possível futuro com ele... Eu sei que nós somos muito novas ainda pra ter a ilusão de que nossos atuais namorados serão nossos parceiros pelo resto da vida.

- Eu prefiro pensar que sim – dei de ombros. – Eu não estaria com o Seth se eu não o quisesse comigo pelo resto da vida. Eu não sou o tipo de pessoa que namora só pra ter alguém.

- Quem diria que você é romântica – ironizou.

- Não é romantismo. É um simples fato. Beijo e sexo eu posso arrumar com qualquer um sem grandes dificuldades, como o meu passado já provou ser verdade. Mas não é isso o que eu quero.

- Você quer a estabilidade de alguém ao seu lado, que vai estar contigo em qualquer situação e não somente por interesse – sorriu maliciosa.

- Droga, Lucy, como você consegue estragar esse tipo de frase clichê com esse maldito sorriso? Nem tudo é putaria, sabia?

Lucy riu e o som, de alguma forma, saiu tão melódico que eu achei lindo.

- Eu não estava sendo maliciosa. Eu entendo o que você quer dizer. O motivo para eu estar namorando é exatamente esse. Eu acho que o Matt é a pessoa que vale a pena lutar para me acompanhar pela vida. E pelo jeito que você olha para o Seth, eu imagino que você pensa algo muito semelhante.

- Mais ou menos. Eu não faço planos. Nunca fiz. Mas ele vale a pena o esforço – dei de ombros.

- Você mudou, sabia? – todo mundo me fala isso...

- Todo mundo muda. Estranho seria se eu continuasse a mesma coisa.

- Isso é uma verdade. Mas você tá muito mais fofa assim, toda apaixonada.

Franzi as sobrancelhas e a encarei, séria, o que fez com que ela soltasse uma risada.

- Viu? É exatamente o tipo de expressão que uma pessoa que tá perdidamente apaixonada faz quando alguém comenta sobre...

- Eu não posso falar que eu gostava mais de você antes porque você sempre me atormentou por causa dessas coisas... – suspirei. – Pelo menos agora você me entende. Entende o que é realmente gostar de alguém – dei de ombros e me levantei para pegar o controle da televisão. – Você também mudou muito desde que começou a namorar com o Matt – me virei para ela e sorri.

- Mas eu comecei a gostar do Matt antes de você começar a gostar do Seth – arqueou a sobrancelha, como se suspeitasse de algo.

- Sim, eu sei. Mas eu tinha o Jack antes.

- Alguma coisa mudou? Quer dizer... a forma que você gosta do Seth é igual ao jeito que você gostava do seu ex? Ou é um sentimento diferente?

- Hmm... – ponderei. – É totalmente diferente.

- Diferente como? – perguntou, interessada.

- É difícil explicar. Mas eu não acho que seja possível gostar de duas pessoas de um mesmo jeito. As coisas que nos conectam são diferentes. O jeito que eu me uni ao Seth também foi diferente. Eu acho que... bom, eu tenho certeza, na verdade, mas o que eu sinto pelo Seth é mais... direto? – cocei a nuca, tentando encontrar as palavras para o que eu queria dizer. – É mais intenso... E é mais simples... – confirmei com a cabeça. Isso. Essa é uma boa definição. É simples. E é perfeito exatamente por isso. O que eu gosto tanto no Seth foi a simplicidade com o qual ele fez o sentimento surgir e se manteve dessa maneira.

- Eu acho que é diferente. E especial se você parar para pensar – Lucy comentou. – Afinal de contas, você conseguiu atravessar um obstáculo que nunca foi possível com o seu ex.

- Hã? Qu—comecei, mas me interrompi logo em seguida. - Ah! Tá falando sobre o Seth ter sido o primeiro homem que eu tive uma relação física? – e deveria ter sido o único... suspirei. – Nem eu mesma acreditei que tinha rolado quando eu acordei no outro dia – confessei. – Eu fiquei alguns minutos tentando me convencer de que era real – sorri. – Ainda mais que foi coisa do momento.

- Se você tivesse que escolher, qual dos dois você diria que gosta ou gostou, claro, mais? – ela tá se divertindo, percebi.

- Bom... é complicado ao mesmo tempo que é bem simples. O que eu sinto por Seth, de alguma forma e em algum momento, superou o que eu sentia por Jack. Se não fosse isso, hoje eu não estaria com ele e ainda estaria me prendendo à tudo o que o Jack significou pra mim.

- Então, em resumo, você ama mais o Seth do que amou o seu ex?

- Basicamente – confirmei. – Seria estranho gostar mais do meu ex do que do meu atual namorado – Lucy abriu a boca pra falar algo, mas a interrompi. – Não estranho desse jeito que você deve estar pensando. Eu falei que são dois sentimentos completamente diferentes e isso eu mantenho. Dito isso, pra mim é bem óbvio que, se você tem dúvida entre duas pessoas, você ou não gosta de nenhuma das duas, ou você deveria escolher a que foi a causadora da dúvida, porque você simplesmente não gosta da "primeira opção".

- Que orgulho da minha menininha – me puxou, me fazendo quase cair sobre seu corpo, e bagunçou meus cabelos enquanto ria.

Tentei me libertar de suas mãos também rindo, mas acabei desistindo já que ela tá se divertindo e tá feliz.

- Vamos terminar de assistir aquela série? – falei quando finalmente consegui me soltar.

- Claro, é uma boa.

- Ok, então deita aí e sossega que eu vou arrumar algum doce pra você.

- Por que você tá sendo legal? O que você aprontou?

- Haha – fiz careta. – Eu sou sempre legal, sua ingrata.

Lucy soltou uma risadinha.

- Eu sei, você é uma pessoa incrível mesmo – deu de ombros. – Mas eu quero saber o porquê de você estar me mimando...

- E eu não posso te mimar sem um motivo específico? – arqueei a sobrancelha e cruzei os braços.

- Não – respondeu e eu ri.

- Eu não quero nada, ué.

- Eu não disse que queria – sorriu. – Acho que a sua motivação é outra.

Suspirei.

- Ok, ok, eu me senti levemente culpada porque eu sumi sem motivos aparentes sendo que a gente tinha algo marcado e porque eu vou estudar longe pra caramba e eu vou sentir sua falta, então eu queria aproveitar agora...

- Você sabe que eu só estava dramatizando, né?

- Você tá sempre dramatizando, Lucy – sorri quando ela me fuzilou com os olhos.

- Certo... Então já que é assim, eu quero brigadeiro.

- Não abusa, ok? – riu.

- Eu achei que eu teria pelo menos o direito de escolha, já que você tá querendo me recompensar.

- Você quer realmente brigadeiro? – suspirei quando ela fez um joinha. – Tá. Então fica aí bonitinha que eu já volto.

- Você nem tem os ingredientes, né? – percebeu. Sorri e me virei, saindo do quarto sem responder.

Fui andando até a padaria para comprar o que era necessário e mais algumas outras coisas e voltei pra casa, preparei o doce, e voltei para o quarto.

- Pronto, seja feliz.

- E o que a gente faz agora? – indagou enquanto esfriava uma porção na colher pra começar a comer.

- Você escolhe. Hoje eu sou sua – ri.

- Essa é uma frase muito perigosa.

- Nah. Eu confio em você e sei que não serei assediada – Lucy arqueou a sobrancelha e eu me arrependi da frase na hora. – A gente não tá mais jogando, então eu acho que estou segura – pontuei.

- Está – afirmou. – E eu queria fazer a observação de que, no Verdade ou Desafio, quem foi assediada foi eu! – desviei o olhar. Ela tá certa. Quem a beijou foi eu. Quem fez toda aquela merda porque o Jack desafiou foi eu. Ela só aceitou calada.

- E isso me faz questionar agora... Eu não sei se você estava bêbada, pelo menos na parte do desafio do Jack, porque eu acho que quando eu te beijei só eu tinha começado a beber, mas por que você não se manifestou contra? Você não era obrigada a passar por aquilo.

- Porque depois de tudo o que eu falei pra você sobre ser chata e estraga prazeres, sobre a brincadeira etc, eu não poderia ser a pessoa a ficar me negando aos desafios.

- Ou seja, você mesma fez a sua sentença – sorri com escárnio.

- Acho que você pode dizer isso, sim. Mas eu também queria ver até onde você iria, porque eu percebi que você estava absolutamente sóbria e pensei que você se seguraria... Que doce ilusão – ri. Alto. Sua expressão serena com sua voz meio perplexa foi demais pra mim.

- Eu deveria ter me segurado. Mas eu vou ser obrigada a admitir que o Jack feriu um pouco meu orgulho com aquilo, porque ele estava me desafiando de uma forma diferente do que vocês perceberam. O nível era outro. Ele achou que eu falharia. E isso me deu um combustível que não deveria ter existido – dei de ombros.

- E eu fiquei no meio da disputa de vocês? – fez careta.

- Se você não reclamou até agora é ou porque você não se importou, ou porque não foi ruim... – cocei a nuca. – Espero que seja só porque você não se importou, porque eu não saberia o que fazer com a segunda parte da informação – admiti.

- Bobeira, Sam. Você pensa demais nas coisas. Eu posso dizer que eu gostei, mas não pelos motivos que você tá pensando. Foi a experiência de conhecer algo de você que eu achei interessante. Você sempre falou como era antes, mas acho que nunca pareceu muito real para nenhum de nós até a gente ver – e eu sentir, claro – com os nossos olhos. Se eu tivesse que escolher entre apagar essa experiência ou passar por ela de novo, eu não me incomodaria de fazer exatamente a mesma coisa.

- Vocês são meio estranhos...

- Então quer dizer que se eu fosse quase uma freira e te contasse várias coisas que eu fiz quando era mais nova, você não ficaria curiosa sobre ver?

- Eu não sou quase uma freira – fiz careta, irritada.

- Meu deus, Sam, você nem sequer olhava para outros homens antes de começar a comer o Seth com os olhos! – soltei uma risadinha e dei um sorriso malicioso pra ela. – É sério?

- Ser discreta não quer dizer que não aconteça. Você precisa urgentemente aprender essa diferença. Eu observava muito de perto os caras do colégio, mas nunca tive o mínimo interesse em nenhum deles. E não teria rolado nada mesmo se eu tivesse tido. Eu prestava tanta atenção que eu sabia até com quem eu teria chances só de me aproximar, sem muito esforço. Ah, isso valia pras garotas também – ri e ela coçou a nuca, parecendo meio sem graça.

Eu não sou cega e nem estúpida para nunca ter notado que a Lucy já teve algum interesse a mais em mim. Mas ela mesma nunca levou nada disso à sério, então nunca foi algo que me incomodou o suficiente para afastá-la de mim.

- E por que Seth foi diferente?

- Porque tinha uma certa pessoa pra ficar me atormentando – franzi as sobrancelhas.

- Você deveria me agradecer, sua ingrata...

- Sei não, Lucy. Deu tudo certo no final, mas foi uma aposta bem perigosa a que você estava fazendo comigo e com ele, ainda mais levando em consideração que o Seth era preconceituoso e que eu sou uma mulher trans.

- Eu percebi o interesse dele por você e eu vi que você era a pessoa que estava faltando aparecer na vida dele para que ele finalmente conseguisse compreender. Eu não sei como e nem porquê, mas eu tive a certeza de que você era a peça que faltava e que o Seth mudaria por você.

- Fico feliz que você estava certa então, porque poderia ter sido desastroso...

- Bom, eu pesei as possibilidades. Obviamente eu não te jogaria nesse perigo todo se eu não tivesse minimamente certeza da sua segurança, como por exemplo, que ele não espalharia para a escola toda sobre você...

- Você só deu sorte em uma coisa.

- E que seria?

- A minha personalidade... Eu mudei muito depois que eu comecei a transição. Antes, talvez até um ano e meio atrás, eu não teria sequer me dado ao trabalho de ser educada com ele depois do que aconteceu na sorveteria.

- Bom, aquilo não foi planejado. E naquele início eu estava implicando com vocês, mas eu não estava realmente levando em consideração de que poderia rolar algo. Eu falava aquelas coisas só pra matar o tédio – bufei. Ela me usava de passatempo e ainda admite isso na cara de pau a sacana. – Eu comecei a suspeitar de que poderia rolar algo entre vocês quando eu fiquei aquele tempo aqui. O dia que eu tirei a foto, lembra? – concordei com a cabeça. – Você estava com uma expressão que eu nunca imaginei que veria em seu rosto. E eu tinha visto o Seth com um olhar mais ou menos parecido enquanto falava de você um ou dois dias antes daquilo.

- Eu acho que eu já te falei isso, mas eu vou repetir: eu comecei a gostar do Seth bem depois disso – Lucy abriu a boca pra contestar, mas a interrompi. – Eu vi a foto. E eu lembro. Aquela imagem ainda tá queimada na minha memória. Eu sinceramente não tenho explicação para aquilo, mas eu não via Seth de forma diferente. Talvez eu nem sequer estivesse pensando em Seth enquanto respondia e sim em Jack, e por isso aquela cara...

- Isso é meio... pesado... Conversar com uma pessoa enquanto pensa em outra...

- O Jack era um pensamento constante. Não tinha o que fazer. E me aproximar de Seth me fez pensar ainda mais nele, porque conforme eu percebia meu interesse no Seth, eu me sentia de certa forma culpada e em conflito.

- E quando você começou a perceber que estava parando de pensar no seu ex porque seu interesse pelo Seth estava muito além do que você imaginou que ficaria?

Suspirei.

- Eu preciso responder?

- Não, ué – deu de ombros e voltou a prestar atenção na colher em sua mão. – Se é algo que te faz sentir desconfortável, você não precisa falar.

- Não é desconfortável. É porque você já sabe exatamente o que eu fiz quando isso aconteceu.

- Sei?

Revirei os olhos.

- Sim, sabe. Você veio aqui em casa gritar comigo por causa disso – sorri quando sua expressão se iluminou em entendimento.

- Então eu estava certa: foi por causa que você percebeu que gostava dele que começou a agir toda estranha e a nos ignorar.

- Sim e não – revirei os olhos. – Eu precisava daquele tempo. Aquele dia que eu falei com o Jack na quadra, ele me disse uma coisa que me fez ficar pensativa. E eu percebi que eu não estava sendo honesta com o Seth. Mas eu também não estava pronta para poder admitir que eu gostava dele, porque isso ia significar que ele estaria ocupando um lugar que, teoricamente, deveria ser ocupado só por uma pessoa.

- Você entrou em conflito.

- Sim. E era um sentimento tão pesado de culpa e ao mesmo tempo eu queria tão desesperadamente me livrar de tudo isso. Me livrar do sentimento que eu ainda tinha pelo meu ex e que ainda me consumia... – respirei pesadamente, olhando pro teto.

- Eu não sabia que você passou por tanta coisa assim. Eu me sinto mal por ter te colocado nessa situação... E você deveria ter me dito se eu estava te causando algum mal, poxa.

Estiquei minha mão em sua direção e alisei seu rosto de forma carinhosa... e então me estiquei mais um pouco e furtei a colher reabastecida de sua mão, o que me rendeu um olhar de indignação por parte dela.

- Lucy, você não tem ideia do quanto eu precisava me livrar de tudo isso. Você me ajudou a tirar um peso que você jamais vai ter noção de cima de mim. Aquele foi o início que eu precisava. Aquele tempo foi absolutamente necessário pra eu me decidir entre continuar me forçando a lidar com o meu passado, ou aceitar que o que ficou para trás não representaria mais um futuro pra nós dois.

- Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço, sabia? – sorriu e depois sua expressão se fechou. – Tanto por lidar com tudo isso quanto por roubar meu brigadeiro! – ri e devolvi a colher depois de comer.

- O resto é todo seu. Eu só queria um pouco – me levantei da cama. – Eu vou preparar alguma coisa pro almoço. O que você quer comer?

- Vou deixar a escolha pra você, porque o que eu realmente quero comer é totalmente errado de te pedir – riu.

- Eu não sou esse tipo limitada de pessoa... Mas não tem os ingredientes aqui e eu me recuso a sair pra comprar seja lá o que você quer de novo.

- Macarrão e molho já é o suficiente. Ou qualquer coisa que você queira fazer. Eu como qualquer coisa sem problemas.

- Certo. Não duvide da minha capacidade – sorri maldosamente.

- Ok, você conseguiu me assustar. Eu acho melhor eu te ajudar antes que você apareça com algo muito bizarro pra gente comer... – ri. O que será que ela pensou que eu faria? As opções nojentas estão obviamente de fora... – Ah, a dona Elbe tá bem? Já faz algum tempo que eu não a vejo.

- Tá sim. Mas tá soterrada em serviço e tá trancada no escritório há sei lá quanto tempo. Pela cara de cansaço dela quando eu cheguei hoje, eu chutaria pelo menos três dias com pouco mais de quatro horas de sono...

- E o que ela falou quando te viu? – se virou pra pegar uma panela no armário.

- Não muito. Eu preferi deixar ela quieta bem rápido porque eu vi que a situação está meio complicada.

- E o Seth? Vocês vão se ver hoje de novo?

- Não. Ele sabe que hoje eu sou sua... – ri quando Lucy se virou vagarosamente em minha direção.

- Você está num bom humor raramente visto antes...

- Me deixa – resmunguei.

- Eu imagino muito o motivo de toda essa felicidade – sorriu maliciosa.

- Eu já falei: nem tudo é putaria.

- E o motivo da sua alegria toda não foi recompensar esses três meses separados e sem sexo em uma semana?

- Não é bem assim que funciona... Nós não ficamos trancados no hotel, agarrados o dia inteiro.

- Aposto que foi exatamente isso que fizeram no primeiro dia – me deu um olhar de superioridade que eu senti vontade de apagar de seu rosto jogando água nela.

- A gente aproveitou muito menos nesse sentido do que você tá pensando. Nós realmente saímos, exploramos o lugar, conhecemos coisas... A gente se divertiu.

- E se agarravam quando voltavam pro quarto – ri.

- Bom... Eu senti falta do meu namorado... E eu não tenho todo esse autocontrole.

- O que aconteceu com aquela vontade de ferro de aguentar quatro anos sem relações?

- Era diferente. Eu dificilmente conseguiria me segurar se eu tivesse me relacionado com o Jack também – dei de ombros. – Eu não sentia falta, bom, não sinto, de dormir com mulheres. Mas com o meu namorado é diferente.

- E, deixa eu adivinhar: é melhor.

- Você pode colocar as coisas desse jeito. Mas não é tanto por "ser melhor", é mais por "ser mais certo". Antes parecia que tinha alguma coisa faltando. Agora é como se tudo estivesse no lugar – muito embora eu ainda não me sinta totalmente completa, o sexo agora já é bem melhor do que jamais foi. – Enfim, esquece a nossa vida e atividade sexual e vai temperar o molho.

- Você é muito mandona, sabia?

- Então fica com fome! – bufei.

- Calma – riu. – Já tô temperando, olha: alho e cebola.

Acabei rindo também.

- Quando você se decidir e a gente estiver com tempo, eu exijo que você me doe um dia da sua vida sempre que possível – falei com suavidade. Eu vou sentir tanta falta da Lucy...

- Sempre que possível – confirmou e me envolveu em seus braços, me abraçando carinhosamente.

Não é uma despedida. E não é definitivo. Mas não dá menos saudade ter que seguir caminhos diferentes.



Roi, bebês, tudo bom? Um cap mais leve e meio sem graça, de transição mesmo, porém necessário.

Nada muito para ser dito por aqui.

Então é isso, pessoinhas, até o próximo,

Fran

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