Capítulo 33
- Isso me traz zero memórias boas... – Jack disse e eu concordei.
- Mas está um pouco diferente agora. A sensação não é mais a mesma de algo inacabado – olhei nos olhos azuis de Jack e não vi tristeza ali.
Sim... as coisas são diferentes agora... Quando eu fui embora, o sentimento que permaneceu em nós dois foi de que alguma coisa estava errada e de que nós fomos interrompidos. Uma memória amarga foi tudo o que sobrou. Mas agora nós dois conseguimos superar esses sentimentos. O tempo voltou a correr e nós dois estamos em movimento. E é assim que deve ser. É assim que deveria ter sido desde sempre.
- Não faz essa cara – envolveu gentilmente meu rosto com sua mão. Me deixei levar pelo carinho, apoiando o peso de meu rosto em sua mão, sentindo seu calor e aproveitando seu toque um pouquinho mais.
- Obrigada por ter vindo – falei com sinceridade. – Foi a coisa mais estúpida e altruísta que você já fez, mas eu preciso te agradecer mesmo assim – tentei sorrir, já começando a sentir vontade de chorar. – E eu espero te ver de novo. Eu quero você presente na minha vida.
- Eu sempre estarei aqui – falou gentilmente. – Mas agora você tem outra pessoa ao seu lado.
- Eu sei...
- Eu continuarei aqui – garantiu. – Você é minha melhor amiga e é uma pessoa muito importante para mim, então eu continuarei aqui. Mas já está na hora de você ajeitar as coisas com o Seth. Não o deixe esperando por um motivo tão bobo – encostou sua testa à minha. – Ele te ama de verdade e eu sei que você o ama da mesma forma. É fácil de ver isso nos seus olhos quando você olha pra ele. Você mesma não é capaz de perceber o sorriso que sempre tem nos lábios quando ele tá por perto.
- Você estava prestando bastante atenção...
- Não. Qualquer um consegue notar. Se um dia ele duvidar que você gosta dele, ele é simplesmente um idiota, porque todo o seu corpo se declara a cada instante para ele, desde o brilho nos olhos até o sorriso bobo.
Desviei o olhar, meio envergonhada.
- Conversa com ele – disse com a voz cheia de carinho. – Se permita ser feliz. Eu sei que você tá sofrendo por causa do término e que você já perdoou ele há muito tempo. Ele errou e eu sei que você tem medo de se machucar de novo, mas você nunca vai saber a não ser que tente outra vez.
- Não é por isso que eu ainda não voltei com ele – revirei os olhos.
- Samanta, há quantos anos eu te conheço? – bufou. – Eu sei que não é só por isso... – suspirei.
- É horrível não conseguir esconder as coisas de você, sabia?
- Eu sei – riu. – Eu também detesto quando você faz isso comigo – a chamada para o voo dele soou no alto falante e isso também me trouxe uma memória ruim. – Eu preciso ir – seu sorriso falhou e as lágrimas que ele estava lutando para prender escorreram por seu rosto. Ver o seu choro me fez não conseguir segurar minhas próprias lágrimas, então eu acabei chorando também. Agora ele tem a liberdade até para chorar. Me surpreende um pouco a realização do quanto todas aquelas pendências que a gente tinha estavam nos prendendo tanto emocionalmente que nos impedia até de chorar. – Eu vou sentir sua falta.
- Eu também vou sentir sua falta – o puxei para um abraço longo e apertado.
- Eu espero que você me chame para o casamento – riu, me apertando contra seu corpo. Revirei os olhos.
- Claro, claro – ele me afastou e depositou um beijo em minha testa. Virei o rosto e beijei sua bochecha. – Até mais, Jack.
- Até mais, Sam.
Dei um passo para o lado e o observei se afastar. Diferente da nossa primeira despedida, dessa vez ele não está machucado e eu não sinto que cometi o maior erro da minha vida.
Saí do aeroporto e andei calmamente até o carro. Que sensação estranha... Eu não sinto nada. Absolutamente nada. Nem mesmo o vazio que eu pensei que eu sentiria quando ele fosse embora.
A tempestade que caía talvez devesse me fazer sentir triste ou até mal, mas ela só me traz uma sensação de paz. Liguei o rádio do carro para poder ter alguma coisa para fazer enquanto estava presa no trânsito.
Ouvi meu celular tocando e considerei fortemente não atender, mas como eu não estou realmente me movendo, acho que não corro riscos de pelo menos fazer uma besteira... Bom, não que eu precise usar o celular, já que eu posso atender pelo próprio carro...
- Sam? Você tá ocupada? – Lucy perguntou, sem nem sequer me dar Oi.
- Não exatamente, mas também não estou livre. Por quê?
- Sei lá, eu queria saber se eu podia ir pra sua casa. Minha mãe vai sair hoje com o namorado dela e o Matt tá tomando conta da irmãzinha dele.
- E por que você não vai pra casa dele?
- Os pais dele não gostam muito que a gente fique sozinho quando ele tá só com a irmã, então eles pediram pra gente evitar, mesmo que a criança tenha surtado porque eu brinco horas e horas com ela e ignoro o próprio Matt – ela riu e eu acabei acompanhando, imaginando a cena.
- Você tá em casa? Eu passo aí e te pego. Eu tô no carro agora.
- Você falando no celular no carro? Por isso tá chovendo tanto...
- Haha – revirei os olhos. – Eu estou presa no trânsito...
- Tem mais ou menos uma previsão?
- Duas horas? Tá bem feio isso aqui... Já faz algum tempo que eu nem me mexo...
- Tudo bem, eu espero. Não é como se eu tivesse muita coisa pra fazer de qualquer forma. Eu vou poder dormir lá?
- O que você acha?...
- Ok, então vou ajeitar minhas coisas – ouvi o barulho do outro lado da linha, talvez dela se levantando da cama. – Como você está? A gente não tem se falado muito desde o dia do Verdade ou Desafio.
Suspirei.
- Eu estou bem – respondi, sem saber mais o que dizer e nem como continuar a conversa.
- Você ainda tá chateada com a gente, Sam? – perguntou depois de um tempo considerável de silêncio na linha.
- O que você acha, Lucy? – respondi, ácida.
- Que pelo visto sim.
- É óbvio! Ou vocês acharam que eu simplesmente ia esquecer daquilo? – e olha que eu realmente tentei fingir que não aconteceu...
- Foi só um beijo, Sam.
- Não foi s... – suspirei me interrompendo. – Lucy, não era pra ter acontecido. Nem com o Seth, nem com o Jack – os carros à minha frente se moveram um pouco e eu fiquei feliz de ter alguma mudança no trânsito. – As coisas não funcionam tão simples assim entre eu e o Jack e esse beijo definitivamente não poderia ter acontecido. Tiveram consequência. Aliás, o seu desdém sobre o assunto só me irrita mais. Zero arrependimento da sua parte.
- Olha, eu não vou dizer que é a coisa que eu mais tenho orgulho na vida e é claro que parando para pensar com calma, eu sei que foi errado de muitas formas aquela situação, ainda mais porque o meu próprio namorado estava envolvido, apesar de não ter rolado nada. Mas eu penso de uma forma muito simplificada com relação a isso: já aconteceu, então não vai adiantar eu ficar me estressando por causa disso – bufei. Eu quase posso vê-la dando de ombros, indiferente. – Mas mesmo assim e, de novo, desculpa, Sam. Realmente não era para ter acontecido. Te colocar contra a parede daquele jeito foi errado, te forçar foi errado, mas a minha intenção não foi me aproveitar de você ou forçar uma situação com você, o Seth ou o seu ex, eu só realmente não coloquei muito pensamento no que poderia vir a acontecer depois.
- Ok, Lucy, esquece isso. De qualquer forma, aquele dia foi o exemplo vivo do porquê eu não gosto de brincar desse tipo de coisa.
- Você não se divertiu em nenhum momento? Não teve nada ali que te fez sentir que valia a pena vivenci---
- Eu me diverti – cortei. – Pelo menos enquanto eu não tinha virado o alvo – reclamei. – A melhor parte foi o seu olhar confuso depois que Jack pediu pra eu dar em cima de você – ri com deleite.
- Sádica! – riu também. – Aliás, Sam, você realmente leva jeito para aquilo. Se não fosse pelo Matt e eu saber que era só uma brincadeira e que o objetivo era arrancar uma reação minha, eu provavelmente teria caído com muita facilidade.
- Eu não sei se eu considero isso um elogio ou não... Mas me desculpa pela agressividade. Eu nunca fui invasiva daquele jeito.
- Nah, eu tô de boa. Mas eu queria ver você indo realmente com tudo – riu. – Eu fiquei curiosa para saber como seria se você realmente estivesse tentando me levar pra cama.
- Não inventa ideia, Lucy.
- Relaxa, eu não vou pedir pra você fazer nada. Eu só fiquei curiosa porque você disse que eu me sentiria pior se você fosse com tudo quando eu disse que me sentia usada.
- Ah, aquilo... Bom, obviamente você sabia que era só um jogo, mas tinha muita garota que achava que o que eu estava fazendo era com a intenção de um relacionamento ou que depois que a gente dormisse juntos, de alguma forma viraria um namoro. E eu nem era babaca pra mentir e enganar a garota. Eu era clara e direta nas minhas intenções e sempre fiz questão de deixar claro que achava namoro e relacionamento sério um saco e que aquilo não era para mim. Eu já magoei muita gente por causa disso... Bom, eu também já deixei de levar muita garota pra cama por causa da minha sinceridade em dizer que não viraria algo a mais – ri.
Olha, até que parando para pensar eu não era tão ridícula assim... Eu era até que uma pessoa bem decente. Se eu levar em consideração que eu sempre deixei todas as minhas intenções bem claras, não me lembrar do nome da pessoa na hora ou depois não é nada de mais... E se eu ignorar quantas pessoas levaram chifre por minha causa também...
- Eu consigo imaginar. Mas teve alguma coisa naquela hora que me fez sentir estranha... Eu não sei explicar. Teve o efeito que você queria, mas ao mesmo tempo não, entende?...
- Na verdade, não teve o efeito que eu queria – admiti. – Eu só achei que precisaria pegar mais pesado por causa das questões que você mesma já falou, mas eu acabei descobrindo que eu estou bem enferrujada – ri. – Talvez eu não tivesse precisado de tanto esforço quando eu era mais nova, não sei, mas eu não sinto que eu consegui exatamente cumprir o objetivo.
- Você é muito meticulosa. Talvez eu não devesse dizer isso, e eu espero que você leve na boa, mas você conseguiu me deixar... bom...
Coloquei uma mão no rosto, incomodada e com vergonha.
- Lucy, informação demais – falei. – Eu passei todo esse tempo tentando não pensar nisso...
A gargalhada dela soou tão alta que eu tenho certeza que os motoristas dos carros ao meu redor ouviram.
- Bom, foi mal, mas se você enferrujada conseguiu me fazer aquilo, eu não sei se eu queria testar sua versão mais afiada – ri.
- O trânsito tá voltando a se mexer. Acho que vou tentar trocar a rota, já que parece que é só por aqui que tá engarrafado... – mesmo que esse caminho alternativo seja muito mais longo, ainda vai valer muito mais a pena do que ficar aqui parada.
- Você quer continuar conversando ou prefere usar esse tempo de paz e introspecção para pensar na vida?
Ponderei.
- A sua companhia, nesse momento, tá me ajudando – admiti.
- Obrigada? – disse, soando levemente ofendida.
- Como foram seus estudos? – perguntei. – A prova de admissão foi há uma semana, não é?
- Eu não aguentava mais ficar sentada olhando para livros, e cadernos e anotações. Eu já estava ficando maluca! – gemeu. Ri.
- Eu te entendo. Eu também estava perigosamente perto de atingir meu limite psicológico e jogar tudo pro alto – suspirei, sentindo todo o cansaço dessas últimas semanas. – Eu estive dormindo tão mal e tão pouco que minha mãe brigou comigo. Nem mesmo Jack com toda a insistência e perturbação conseguiu me fazer dar uma desacelerada.
Lucy soltou uma risadinha.
- Eu não consigo imaginar sua mãe brigando com você ou se metendo em qualquer coisa da sua vida.
- Pois é, ela geralmente não se mete mesmo... Isso é pra você ver o tanto que eu irritei e preocupei ela – ri. – Mas agora eu tô pegando mais leve, então ela parou de pelo menos me olhar feio quando milagrosamente me vê pela casa.
- Uau. Eu imagino como sua mãe é irritada...
- Nem queira imaginar. Ela me dá medo real – admiti, estremecendo. – Lucy, eu consegui fugir do trânsito, então eu não devo demorar pra chegar aí.
- Ok. Vou te deixar se concentrar porque eu sei que você não gosta de falar no celular enquanto dirige. Até daqui a pouco – se despediu e desligou em seguida sem nem me dar chance de me despedir também.
Parei em frente à casa de Lucy e buzinei. Eu é que não vou sair do carro só pra me molhar...
Ela saiu e trancou a porta e depois correu até o carona e se enfiou no carro.
- Foi mais rápido do que eu pensei. Aliás, aonde você estava? É raro você sair assim... – passou a borda da camisa no rosto e as mãos nos braços, tirando o excesso da água da chuva.
- Aeroporto... – respondi com a voz neutra e com um rosto plácido.
- Ah – ela ficou quieta por um tempo. – Você tá legal com isso?
- Sim, por que não estaria? – questionei com curiosidade.
- Porque é o seu ex e você já sofreu muito por causa da primeira vez que você foi embora, e ver essa cena se repetir poderia ser absolutamente pesado e você não suportar? – disse como se eu fosse idiota. Talvez eu seja idiota...
Dei de ombros.
- Eu achei que eu ficaria pior, mas sinceramente, eu não sinto nada.
- Você superou ele?
- Eu não acho que isso vai acontecer algum dia. Quer dizer, superar ele como amigo e pessoa importante na minha vida não. Mas a gente se ajeitou, então algumas coisas são diferentes agora.
- E como andam as coisas com o Seth?
Suspirei pesadamente.
- Aconteceu alguma coisa? Vocês pareciam tão bem a última vez que eu os vi juntos.
- Não aconteceu nada – fui evasiva.
- Não quer falar sobre isso? Você já percebeu que eu tenho, às vezes, o tato de um cavalo, então se você não for clara, eu posso acabar me metendo em algo que você não quer.
- Eu não quero falar sobre isso – falei depois de algum tempo calada, só prestando atenção na pista e nos carros.
- Ok.
A verdade é que eu não sei o que aconteceu. Eu e Seth não brigamos e não houve nenhum desentendimento entre nós dois, mas nós não nos falamos desde o dia seguinte do Verdade ou Desafio e por algum motivo eu tenho a sensação de que ele está me ignorando deliberadamente. E foi graças a isso que eu acabei me afundando ainda mais nos estudos, para ter com o que distrair a minha cabeça e me impedir de pensar nele e no quê possivelmente o fez começar a agir dessa maneira.
Suspirei e apertei o volante com força, rangendo os dentes em frustração. Por que gostar de alguém tem que ser tão complicado? Eu não tinha nenhum desses estresses nem essas preocupações enquanto estava solteira e nem quando era uma idiota que só queria sexo.
- Eu não sabia que você é uma pessoa tão insegura – Lucy comentou, me tirando do meu ciclo de pensamentos e tortura interna.
- O que?
- Insegura – repetiu. – Eu sempre te vi como uma pessoa muito certa de si e do que quer, mas você é bem insegura.
Dei de ombros.
- E o que que tem?
- Ele não tá com outra garota, Sam – ri.
- É com isso que você acha que eu tô preocupada?
- E não é?...
- É claro que não, Lucy. Apesar de eu ter feito essa grandessíssima burrada e ter dormido com o Jack, eu sei que o Seth não faria isso comigo. Não é da índole dele esse tipo de coisa e eu confio o suficiente nele pra nem sequer pensar e me preocupar com a possibilidade.
- Então você tá surtando exatamente com o que?
Suspirei.
- Pera... – ela arqueou a sobrancelha. – Você tá com medo de ele ter deixado de gostar de você? – fiquei calada. Eu queria poder dizer que não, mas isso é um pensamento recorrente, mesmo que ele sempre demonstre o quanto gosta de mim. Sim, eu sei... Idiota... – Fala sério! – Lucy riu até não aguentar mais. – Sam, pelo amor de deus. É mais fácil você conhecer outro cara e deixar de gostar do Seth do que o contrário – eu realmente duvido disso.
- Não é só isso que eu penso – revirei os olhos.
- Então você realmente tem medo disso acontecer?! – riu ainda mais
- Vai à merda, Lucy.
- Ok, calma, relaxa – deu mais umas risadinhas até finalmente conseguir se conter. – Desculpa. É que eu realmente nunca tinha te visto como uma mulher insegura, então te ver assim é meio que um choque pra mim. E é cômico também...
- Lucy, é sério, eu não tô no clima pra esse tipo de coisa. Eu sei que me preocupar com isso é idiotice, é problematizar de forma desnecessária, mas você nunca, nem uma vez sequer, pensou isso?
- Não – respondeu na lata. – Olha, eu sei que pode parecer estranho pra você, mas eu tento ser muito livre e não me prender a essas coisas. Eu e o Matt conversamos demais, sabe?, e a gente já falou sobre isso também. A questão é que se um dia a gente terminar, bola pra frente. Eu não posso dizer o quanto eu vou ficar chateada ou o quanto vai doer em mim, até porque eu nunca nem sequer passei por uma experiência de término de namoro, diferente de você, e eu entendo o seu receio, mas se eu for ficar pensando demais em tudo assim, um dia isso vai prejudicar meu relacionamento, e pode prejudicar de uma forma permanente. Eu não quero que isso aconteça, mas se um dia ele deixar de gostar de mim e começar a gostar de outra garota, eu vou ficar com a minha mente o mais tranquilo possível, porque eu sei que eu fiz o que eu podia por nós dois e pelo nosso namoro.
- Eu sinto falta de quando você me pedia conselhos de relacionamento e não me dava eles... – suspirei. – Não é que eu pense nisso com frequência e não é isso que tá me preocupando agora também. É só que depois do dia que todos vocês dormiram lá em casa, a gente não se falou mais e parece que ele tá me ignorando de propósito.
- Você tentou falar com ele? – perguntou em tom acusatório, como se eu fosse aquelas pessoas surtadas que inventam mil coisas na cabeça sem sequer ter falado com o parceiro ou parceira.
- Eu tentei! – me defendi. – E a resposta dele foi super distante. Nas duas vezes em que eu tentei falar com o Seth foi parecido. A segunda ele sequer me respondeu!
- E vocês realmente não brigaram? Não rolou nada quando vocês foram dormir? Vocês dormiram juntos aquele dia, não é?
- Não! E é isso que tá me deixando maluca! Até a hora que ele foi pra casa dele, a gente estava de boa. Estávamos brincando e implicando um com o outro, como sempre. Ele dormiu comigo na cama, Lucy. Eu não consigo pensar em nada que eu posso ter feito ou algo que ele possa ter pensado pra ele estar agindo assim...
- Nesse caso, eu realmente não sei. Ou ele tá sendo babaca sem motivo, ou aconteceu realmente alguma coisa que causou tudo isso, mas que não é necessariamente culpa sua. Às vezes você não fez nada, mas aconteceu alguma coisa com ele. Os pais dele estavam brigando ultimamente, não é?, e ele estava com medo deles se separarem, certo? Pode ser que algo relacionado a isso aconteceu e ele não tá muito legal e quer ficar sozinho...
- Lucy, você sabe tão bem quanto eu que o Seth é um cara sensível e que não aguentaria essa situação sozinho. Ele iria nos procurar.
Ela suspirou.
- É, eu sei. Mas eu queria encontrar uma explicação lógica, porque eu não consigo imaginar ele com raiva de você a troco de nada... Se mesmo depois do término ele não fez nada disso, eu não consigo imaginar que ele faria agora, sendo que vocês estavam tão bem.
Senti vontade de bater em alguma coisa de tão frustrada que eu estou.
- Esquece esse assunto. Eu não quero mais pensar nisso e eu estou começando a ficar irritada.
- Ok.
- O que você quer fazer? Tem alguma ideia? Você não pediu pra ir lá pra casa só pra ficar olhando pra minha cara, né?
- A sua cara é bem bonita, então eu não me importaria de ficar sentada fazendo só isso – revirei os olhos.
- Lucy a galanteadora – debochei.
- Mas é sério, ué. Ou você se acha feia?
Dei de ombros.
- Nunca parei pra pensar nisso, para ser honesta, mas se eu tivesse que responder, eu diria que eu sou gostosa pra caralho – falei com sarcasmo e ri logo em seguida. Lucy não aguentou e começou a rir comigo. – Mas é sério, tá? Eu sei que eu fui irônica, mas essa é a minha resposta.
- Eu adoro seus surtos de narcisismo em momentos aleatórios.
- Eu tenho olhos, Lucy. Ou você queria que eu fizesse drama dizendo que não sou? – sorri de canto. – Eu tento não ser arrogante, mas você me perguntou. Bom, eu nunca fui arrogante nesse aspecto, na verdade, mas eu também não posso fingir que eu não me apoiava na minha aparência para conseguir algumas coisas – dei de ombros.
- Não dá pra discordar de você. Você é gostosa e eu sei que você sabe disso. Você se fingia de cega na escola, mas eu sei que você entende o quanto chamava a atenção.
- Eu não queria nada com ninguém. Também não queria nenhuma perturbação na minha cabeça, é claro que eu ia me fingir de idiota.
- É uma ótima estratégia. Ainda mais se levar em consideração o quanto é perigoso a inveja de algumas pessoas.
- Ah, com essa parte eu já estava acostumada. Os caras do meu antigo colégio, até os do meu ciclo de amizade, reclamavam bastante do meu porte físico – dei de ombros. – Ninguém levava em consideração a quantidade absurda de horas que eu passava na academia. Parecia que na cabeça deles eu tinha dormido um dia e acordado no outro daquele jeito.
- As garotas do nosso colégio também reclamavam do seu corpo – comentou.
- Sério?... – eu nunca ouvi nenhum comentário desse tipo lá. Ela confirmou com a cabeça.
- Aliás, Sam, que físico, hein – Lucy sorriu maliciosamente só pra implicar comigo, o que me arrancou um gemido constrangido.
- Você também não!
- Você tá vermelha – riu.
- Me dá um tempo, Lucy – quase implorei.
- Mas é sério. Eu não sabia que você ainda malhava.
- Hm? Por que acha isso? Eu não malho há mais de quatro anos – olhei rapidamente pra ela, confusa.
- Pelo o que eu vi naquele dia que a gente jogou vôlei. Foi a primeira vez que eu te vi com tão pouca roupa, então foi a primeira vez que eu vi tanto do seu corpo – deu de ombros. – Quer dizer, no dia que eu te vi pelada no vestiário do colégio você estava com menos roupa, mas eu não reparei no resto do seu corpo... – riu.
- Ahhhh... – ignorei a última parte do que ela disse. Estacionei na frente de casa e corremos para dentro para não nos molharmos muito. – Aquilo era só porque eu estava me exercitando.
- Como assim? – tranquei a porta da casa e coloquei as chaves no porta chave e me virei pra ela.
- É bem simples na verdade – levantei meu casaco para que ela pudesse ver minha barriga. – O normal é esse – dei de ombros. – Nem o Seth nunca tinha me visto daquele jeito, já que eu nunca me exercitei na frente dele sem camisa.
- Entendi. Quer pedir pizza?
- Não, senhora, chega de comer besteira. Eu vou preparar a janta e você vai me ajudar.
- Tá bom – bufou. – Só vou levar minha mochila para o seu quarto.
Confirmei com a cabeça e tirei o casaco, jogando ele no sofá. Voltei para a cozinha e peguei algumas coisas na geladeira. Eu não estou realmente no clima de cozinhar, mas isso me acalma, então vai ser pelo menos útil por enquanto.
- O que você vai fazer? – parou ao meu lado, olhando os ingredientes.
Observei as coisas que eu tinha pego sem pensar muito de dentro da geladeira.
- O que você quer comer? – joguei a responsabilidade de decidir pra ela.
- Qualquer coisa pra mim tá bom – deu de ombros.
Confirmei com a cabeça e comecei a descascar e cortar as coisas com o auxílio de Lucy.
Depois que comemos eu tomei banho e fomos para o quarto.
- Como estão as coisas entre sua mãe e o namorado novo? – perguntei, me jogando na cama.
- Ele parece bem sério, e ela parece feliz.
- E você? Como tá lidando com isso?
Lucy deu de ombros.
- Eu fico bem em ver minha mãe feliz. O período de divórcio foi bem complicado, ainda mais com todas aquelas questões envolvendo meu pai. Ela demorou muito tempo pra começar a agir normalmente de novo e esse cara tá ajudando bastante ela nesse aspecto. Ela tá mais confiante e ele é aquele tipo de cara que embarca com tudo no que ela inventar e se sente verdadeiramente feliz por cada coisinha envolvendo ela.
- Entendo. Que bom. Já faz alguns meses que eu não converso com a sua mãe, então eu não fazia ideia de como ela está. Eu fico feliz que ela esteja assim, de verdade.
- Ela está melhor agora, obrigada – Lucy pegou o controle da televisão e a ligou. – E a dona Elbe? Sua mãe nunca pensou em ter outro relacionamento?
Sorri de canto, sagaz.
- Ela nunca realmente falou sobre isso comigo e nunca levantou o assunto, mas eu tenho reparado uma coisa ou outra ultimamente.
- Você acha que ela tá namorando escondida? – riu.
- Não. Pelo menos não ainda. Mas eu acho que ela conheceu alguém sim. E também acho que ela tá tendo certeza de que vale a pena apresentar ele pra mim...
- Como você percebeu?
- É difícil dizer. Foram pequenas coisas. Ela tem trabalhado até mais tarde, mas ela dificilmente fica de mal humor, mesmo quando traz pilhas de documentos pra casa ou quando tem que sair mais cedo. Eu a vejo com muita frequência no telefone ultimamente. Ela também tem usado menos o carro, ou seja, ela tá indo e voltando com alguém. Ela disse que agora que eu fico em casa o dia todo estudando que nem uma maluca e só saio pra fazer as coisas que ela pede ou pra ir para minhas consultas é melhor deixar o carro à minha disposição.
- Mas não deveria ser o contrário, já que você quase não sai?
- Pois é – dei de ombros. – Mas eu não discuti. Na verdade, ela ainda tá muito preocupada com aquela questão dos ataques e como eu não tenho mais o Seth para me dar carona, bom...
- Ah, entendo. Então nesse caso faz sentido. Ela ficava mais tranquila por causa que você podia contar com o Seth a qualquer momento.
Suspirei. Colocando dessa maneira fica tão pior...
- Eu acho que sim. Eu acho que ela percebeu que a gente se distanciou, ainda mais que já faz muito tempo que ele sequer aparece aqui em casa...
É incrível como nossas conversas sempre voltam para o Seth...
- Você tá realmente preocupada com ele, não é? Com o que aconteceu...
- Você não ficaria?
- Provavelmente – admitiu. – Mas é melhor a gente deixar esse assunto de lado. Eu não quero ver você fazendo a mesma cara que estava fazendo no carro de novo...
- Que cara?
Ela sorriu e se voltou para a televisão, querendo desconversar.
A verdade é que eu não preciso que ela me diga, porque eu sei muito bem o tipo de expressão que eu devia estar fazendo, e foi daí que ela veio com aquele papo de insegurança.
- Posso te fazer uma pergunta? E você pode me responder com sinceridade?
- Depende – dei de ombros.
- Por que você não conversou com ele e ajeitou logo as coisas? Era por causa que o seu ex ainda estava aqui e você não queria condicionar ele a presenciar isso?
- Eu não quero exatamente falar sobre isso... Mas não, não era por causa do Jack.
- Então por quê? Ah, não precisa me responder se não quiser – sorriu de canto.
Hesitei. Eu não sei sequer se o meu motivo faz sentido pra mim, quanto mais pra ela.
- Um dos motivos era porque eu queria ter certeza de que eu não iria me machucar de novo. Não que eu estivesse testando o Seth e o quanto ele realmente gosta de mim e o quanto ele quer voltar comigo. Eu estava mais tendo certeza de que eu estava em paz com tudo aquilo que aconteceu aquele dia e se eu não iria deixar a minha insegurança nos atrapalhar e acabar desgastando a nossa relação, como eu fiz quando era mais nova...
- E o motivo real? – voltou a me olhar, séria. – Eu sei que o seu ex estar aqui pesou de algum jeito na sua decisão de não voltar. Mas eu sei também que não era só isso.
- Pode ser que ele estar aqui tenha sim me influenciado, mas não pelo motivo que você pensa. Eu só fui orgulhosa. Eu não quis dar o braço a torcer e acabar fazendo o que ele queria. E eu não quis admitir que tudo o que ele estava me falando sobre o Seth e eu era verdade.
- Ele falava sobre o Seth? – ela pareceu meio surpresa.
Concordei com a cabeça.
- Se eu achava que você era chata enquanto queria que a gente ficasse... – suspirei. – O Jack era dez vezes pior. A gente discutiu por causa disso.
- Vocês discutiram? Uau. Eu achei que vocês dois fossem super amorzinhos um com o outro – ri.
- Eu estava pensando nisso da última vez, mas eu acho que fiz o nosso namoro parecer algo que não é exatamente verdade. Perto do final a gente brigava. Demais. E eram brigas bem feias, às vezes por motivo nenhum, às vezes por muitos motivos de uma só vez – sorri tristemente. – E eu tenho consciência de que tudo começou por minha causa...
- Você tem a péssima mania de se culpar pelas coisas, sabia disso?
- Nesse caso não é sem motivos – suspirei. – Mas esquece.
- E o que ele disse?
- Sobre o Seth? Muita coisa. E eu odeio admitir que ele estava certo.
- Você tem medo de ir falar com o Seth agora e ele não querer mais voltar?
- Olha, Lucy, eu não acho que ele faria isso, mas se eu disser que eu não tenho esse receio seria mentira. As prioridades das pessoas mudam a cada dia. Talvez hoje a prioridade dele em ter um relacionamento sério não seja tão alta quanto era quando a gente terminou há dois meses – dei de ombros. – Sinceramente eu só vou descobrir na hora.
- Sam, relaxa, você pensa demais em tudo e depois fica aí surtando à toa. Eu tenho certeza que tem um motivo muito bom pra ele ter sumido e que ele continua gostando de você do mesmo tanto ou até mais do que antes – deu de ombros.
- O seu desdém na hora de falar isso, ao mesmo tempo que me irrita profundamente, me dá um certo alívio, porque não faz parecer que você tá só me reassegurando das coisas.
- Não por isso – respondeu com sarcasmo.
- Lucy, uma dúvida sincera que eu acabei de ter.
- Diga-me.
- Como pode uma pessoa adorar filme de terror, jogos de terror e literatura de terror e ter medo de histórias, contos e lendas? – ela deu uma risadinha.
- Tem uns motivos por trás disso. Quando eu era mais nova meu pai me obrigava a consumir coisas de terror com ele. Eu absolutamente morria de medo, mas depois de um tempo eu passei a gostar, porque enquanto eu assistia à televisão, eu sabia que não era real e ele sempre esteve comigo, ele até segurava a minha mão quando eu me assustava com alguma coisa, e depois me ajudava a me acalmar. Mas na hora de dormir, quando ele lia, ou até pior, inventava alguma história para me contar eu ficava com medo porque era somente eu no quarto, então provavelmente eu acabei associando as histórias com o medo quando era mais nova. E eu acho que só nunca me recuperei do trauma, porque teve um dia que aconteceu uma tempestade tão violenta com raios e trovões que faltou luz, e isso foi pouco depois dele ter terminado de me contar uma história e ter saído do quarto. Eu não sei quem foi, provavelmente minha mãe, mas ela derrubou alguma coisa no andar de baixo e eu tive um puta crise de choro de tanto medo que eu fiquei, porque eu achei que era o monstro da história que tinha vindo me buscar...
Desviei o olhar, tentando segurar a risada, mas a imagem da Lucy enfiada embaixo do cobertor chorando de tanto desespero porque alguém derrubou alguma coisa no chão e ela pensava que era um monstro foi demais pra mim.
- Haha – me deu uma travesseirada, irritada. – Você nunca teve medo de nada quando era criança?
Parei de rir na hora, me lembrando do meu pai.
- Meu medo é algo que surgiu de algo menos bobo que histórias de terror e alguém derrubando alguma coisa no chão no meio de uma tempestade – coloquei a mão na nuca e olhei para a janela. – Talvez medo nem seja a melhor palavra para descrever. Acho que trauma se encaixa melhor – dei de ombros. Voltei meu olhar para Lucy e ela parecia ter entendido ao que eu me referia. Também percebeu que eu não me aprofundaria no assunto. E eu duvido que ela perguntaria. Ela ainda não se recuperou do dia que eu contei do meu pulso e literalmente desvia do tema "meu pai" como se sua vida dependesse disso.
- Como foi a sua primeira vez?
Uau, que mudança de tópico...
- O que você quer saber exatamente?
- Me deixa de fora dos detalhes do sexo – riu. – Mas pode se focar no resto.
- Deixa eu pensar... Bom, eu falei que eu acabei me aproveitando de uma oportunidade que eu tive, mas não é bem verdade. Pra ser sincera, foi tudo muito bizarro. Você já recebeu aquelas cartinhas de amor?
- Nunca – riu.
- Sério? – deixei escapar, quase incrédula. - Me surpreende, mas ok... Eu pensei que você também fazia o tipo popular na escola, ainda mais porque você sempre foi muito comunicativa.
- Eu mantinha uma certa distância dessas coisas. Quando eu era mais nova, eu era uma criança até bem inocente.
- O que aconteceu com você no meio do caminho? – perguntei, irônica.
- Haha. Muito engraçada. Vai continuar contando ou vai preferir continuar falando besteira?
Confirmei com a cabeça, rindo.
- Então. Um dia quando eu fui voltar pra casa, tinha uma carta dessas na minha carteira, entre os meus livros. Eu estava exausta do treino e não queria ir me encontrar com a garota, mas resolvi ir, só pra não deixar ela lá me esperando. O local de encontro seria uma lanchonete perto do colégio.
"Quando eu cheguei lá, absolutamente perdida e sem saber o que fazer, ela me chamou pra sentar com ela e comer, porque queria conversar comigo. Por ela ser mais velha do que eu, eu nem sequer sabia quem era a garota, e até hoje pergunto como ela achou que daria certo comigo – revirei os olhos. – Ela disse que tinha começado a gostar de mim quando viu a minha dedicação com o clube e porque eu era uma excelente aluna, e pediu pra eu dar uma chance pra ela."
"Eu também era bem inocente na época e não sabia o que dizer, então perguntei 'por que você quer namorar comigo? Tem caras mais velhos na sua turma que provavelmente são melhores do que eu e vão certamente ser melhores do que eu pra você'. Ela tentou me convencer do contrário e eu tive o brilhante insight de dizer que não queria relacionamento com ninguém porque era um saco e era uma dor de cabeça que eu definitivamente não queria ter."
"Ela me pediu uma chance pra mudar minha opinião e eu neguei e quando eu me levantei pra poder ir embora, ela perguntou se eu poderia pelo menos conceder um dia meu com ela. E eu, sem o menor pingo de malícia, aceitei, porque eu pensei que ela quis dizer uma coisa totalmente diferente..."
- O que exatamente você achou que ela quis dizer, Sam? – Lucy perguntou com a sobrancelha arqueada.
- Sei lá, Lucy, eu tinha 13 anos! Eu pensei que ela ia querer ir ao cinema ou algum lugar desse tipo. O máximo de malícia que eu coloquei foi que ela poderia querer me beijar, e só!
- Tá, continua.
Bufei.
- A gente saiu da lanchonete e ela me chamou pra casa dela. Disse que não tinha problema porque os pais dela não estavam lá e que seria melhor. Chegando lá, antes que você pergunte, não, ela não me atacou. A gente conversou, jogamos vídeo game e a gente realmente acabou ficando. E não, ela não foi a primeira garota que eu tinha beijado. Mas em algum momento ela falou que queria mais e que já que eu não aceitaria namorar com ela, ela queria ser a minha primeira – cocei a cabeça, envergonhada. – Não preciso dizer que eu quase entrei em parafuso de tanto nervoso, né? Claro, ela não era mais virgem e ela tinha absoluta consciência do que estava fazendo, mas eu não! – Lucy riu. – Bom, eu estava tão nervosa que eu fui absolutamente sincera e disse que não sabia como aquilo funcionava e nem o que eu precisaria fazer...
- Que mudança, hein...
- Pois é – ri também. – Então ela falou pra eu relaxar e, bom, agora são detalhes sórdidos...
- Eu vou ouvir se você quiser contar – sorriu.
Dei de ombros.
- Ela falou pra eu relaxar e começar com calma, beijando ela, e enquanto eu fazia isso ela usava a minha mão e me mostrava o que eu tinha que fazer, onde eu tinha que tocar e como eu tinha que tocar – abri a boca e fechei algumas vezes. – As coisas escalaram bem rápido a partir daí. Vamos dizer que eu aprendia rápido – sorri maliciosamente. É quase engraçado me lembrar daquele dia... – Quando chegou na hora da penetração eu já não estava mais tão nervosa e ela também tinha me acalmado bastante, então tudo deu certo. Ah, uma curiosidade: tudo o que ela me auxiliou e me ensinou foi focado no prazer dela. Claro, ela não me ignorou, mas talvez seja por causa disso que eu me satisfaça tanto em dar prazer para o meu parceiro. Ou talvez foi a sensação que eu senti quando ouvi ela gemendo a primeira vez, ou quando ela gozou – dei de ombros e Lucy balançou a cabeça negativamente.
- E o que você fez depois?
- Bom, eu me senti mal pela questão de eu ter negado, de novo depois do sexo, namorar com ela, mas ela levou até que na boa e falou que estava satisfeita em como as coisas tinham se desenrolado entre nós dois. No outro dia, já perto da hora da saída, praticamente todo mundo da escola já sabia... E então eu comecei a receber propostas de outras garotas que queriam ficar comigo. De início eu neguei porque eu não queria nada disso, mas por causa da pressão psicológica que eu sentia por causa do meu pai e por causa do papo dos caras do colégio, eu pensei que poderia ser uma boa ideia e que isso me ajudaria a ser "homem", então eu comecei a aceitar. Mas eu sempre fui muito específica em dizer que não queria nada sério com ninguém e que era e seria somente sexo, nada mais do que isso. Qualquer garota que viesse com papo de namoro ou de amizade colorida exclusiva eu rejeitava na mesma hora.
- É ainda mais incrível saber de todos esses detalhes.
- Eu tentava ser o mais honesta possível. Eu não queria exatamente enganar ninguém. O fato de eu não lembrar das pessoas e dos nomes já me fazia sentir bem mal. Eu não queria ser tipo aqueles caras que enganam os outros só pra ganhar sexo... – suspirei. – Mas eu não era exatamente a pessoa mais pura também. Sim, eu recebia muitas propostas das garotas e até de alguns garotos também – ri da cara que ela fez -, mas quando eu me interessava por alguém, bom... Eu não prometia que mudaria e que ela seria exclusiva e muito menos fazia juras absurdas de amor, e ainda bem que eu nunca desci a esse nível, mas eu me aproveitava de certas coisas que eu prefiro nem falar... – eu não sei até onde eu posso me orgulhar do fato de que mesmo nessas condições eu era sincera e dizia que eu só queria sexo, porque ainda sim era horrível certos tipos de aproximação que eu usava...
Lucy me lançou um olhar tão pesado que eu me senti mal tudo novamente por todas as vezes que eu fiz isso. Embora ela não parecesse me julgar. Ela parecia mais estar perdida em pensamentos do que qualquer outra coisa.
- Com quantas garotas virgens você transou? – falou por fim, ignorando o que eu acabei de contar.
- Eu nunca dormi com nenhuma garota virgem. Era muita dor de cabeça desnecessária envolvida. Cobrança demais também. Não era pra mim... Eu não queria nenhuma dessas chateações.
- Isso é verdade. Acho que se fosse eu no seu lugar, eu pensaria da mesma maneira.
- E você? Como foi a sua primeira vez?
- A minha foi super normal e sem graça. Eu estava ficando com uma garota já fazia algum tempo e um dia ela me chamou pra casa dela. A proposta foi literalmente essa: vamos lá pra casa transar? – riu. – Eu também não fiquei muito confiante, mas eu aceitei. E foi isso. Pouco tempo depois disso a gente meio que parou de ficar e ela começou a namorar outra menina e eu comecei um rolo com um carinha qualquer da escola. Minhas duas experiências sexuais foram bem próximas uma da outra em questão de tempo.
- Qual dos dois você gostou mais? – perguntei na cara de pau.
- Ah, da mulher, com certeza. O cara parecia que não fazia ideia do que estava acontecendo, então foi horrível... – sorriu de canto. – E você? Quer dizer, eu não preciso exatamente perguntar pra saber qual dos dois você preferiu, porque eu sei que você obviamente vai falar que sua experiência com um homem foi melhor, por toda aquela questão que eu já conheço... Então eu vou te perguntar de outra forma: qual dos dois foi melhor? – sorriu com malícia.
- É meio injusto comparar sendo que eu tive várias experiências diferentes com o Seth, e só uma com o Jack.
- Nem tanto. Eu poderia te dizer, na primeira vez que eu fiquei com o Matt, se você tivesse me perguntado, que ele foi de longe a melhor transa que eu tive. Você só não quer escolher um.
- Não quero mesmo – admiti, o que fez ela rir. – Sei lá, parece errado falar que um foi melhor do que o outro.
- Você tem um jeito estranho de ver as coisas. Qual diferença faria? Não é como se você fosse dizer isso para um deles, isso sim seria errado – deu de ombros.
Fiquei quieta, pensativa. A minha visão com relação às experiências que eu tive com os dois acaba sendo muito influenciada pelo o que eu estava sentindo na hora, assim como eu me sinto no geral. O dia em que eu dormi com o Jack, por exemplo, o dia tinha sido pesado, eu estava machucada e magoada demais com o que tinha acontecido na escola e com o término com o Seth; por outro lado eu também estava empolgada com a vitória e feliz pra caralho por poder revê-lo.
Graças a essa avaliação, pela primeira vez, eu percebi o quanto a importância de Seth cresceu em mim porque não tem comparação a força do que eu senti quando me relacionei com ele de quando eu me relacionei com Jack.
- Eu não estou, quer dizer, estava, com o Seth por conveniência ou brincadeira. Eu gosto dele de verdade, e não por ser melhor ou pior, mas se for para escolher, eu escolho o Seth. O sentimento é diferente. Na hora eu me senti diferente. Eu não sei explicar.
- Você é o tipo de pessoa mais sentimental e que menos parece ser que eu já conheci – estreitei os olhos em sua direção. – Mas eu sei o que você quer dizer. E é provável que seja por isso que eu considere o Matt o melhor. Simplesmente porque eu gosto dele e eu nunca tinha tido essa conexão com ninguém antes – deu de ombros.
- É lindo a visão que vocês têm de mim, como se eu fosse um robô sem sentimentos.
- Bobeira, Sam, a gente sabe que você é uma pessoa sensível, é só que você tem dificuldade pra expressar isso. Tem o adicional que eu gosto de pegar no seu pé, então eu vou sempre implicar com você...
- Fico feliz em saber – respondi com sarcasmo.
- Você já consumiu alguma coisa além de bebidas alcóolicas?
- Você quer saber se eu já me droguei?
- Basicamente – sorriu.
- Eu era maluca, mas não a esse ponto. Nunca tive a curiosidade também. Nesse aspecto eu era e ainda sou muito medrosa. E eu acho desnecessário. Mas eu já fumei – ri da cara que ela fez.
- Como assim?!
- Foi totalmente experimental. Eu fiquei curiosa porque eu via todo mundo fumando nas festas que eu ia, então eu pensei que deveria ter algo de muito especial naquilo. Não, não tem. É só ruim mesmo. E olha que eu tentei vezes o suficiente para a sensação de queimação na garganta já não ser mais um incômodo e nem me engasgar com a maldita fumaça.
- Eu nunca tive essa curiosidade...
- Você não tá perdendo nada, sério. O gosto é ruim, a sensação é ruim, você fica com um cheiro horrível, principalmente na mão... Aliás, beijar fumante é uma experiência péssima também.
- Que fumante você já beijou? Você já ficou com pessoas maior de idade? – disse incrédula.
- Claro que não, Lucy. Naquela época acho que a maior diferença de idade foi de três anos. Mas eu acabei conhecendo algumas pessoas que estavam longe de ser modelos de cidadão da sociedade, então... – me deitei na cama. – Mas esquece isso. Você quer assistir alguma coisa? Tem uma série nova que eu ia começar hoje. Se você quiser, a gente pode ver juntas.
- Pode ser. Só me dá alguns minutos pra eu tomar banho e trocar de roupa.
- Ok – peguei o celular para me distrair enquanto esperava por Lucy e me lembrei da foto com Seth. Abri a imagem e fiquei observando seu rosto perto do meu. Às vezes essa situação em que a gente tá me deixa triste e confusa, e às vezes ela me deixa absolutamente irritada. Nesse momento eu me encontro no segundo grupo. Minha vontade é de ir lá e confrontar ele, mas ao mesmo tempo eu tenho muito medo do que pode resultar disso, então eu me obrigo a pensar em outra coisa, refreando o pensamento impulsivo.
Desliguei o celular e joguei ele na cômoda, não aguentando mais olhar para a imagem. Quando foi que as coisas ficaram tão complicadas e tão indistintas entre nós dois? Nosso relacionamento costumava ser tão cristalino que era fácil de entender onde nós dois estávamos.
Lucy entrou no quarto no meio de outra das minhas discussões internas e infelizmente eu demorei muito tempo para perceber que ela estava parada na frente da porta, me observando, parecendo mexida.
Ela andou até mim e se sentou ao meu lado na cama. Sem dizer palavra ela me fez deitar com a cabeça em suas pernas e com a maior naturalidade do mundo escreveu o nome da série no buscador e deu play.
- Como você sabia que era essa? – questionei.
- Só um palpite.
Confirmei com a cabeça e voltei minha atenção para o programa. Eu não estou focada o suficiente para prestar atenção no que tá acontecendo e muito menos para processar e entender as informações que eu recebo da televisão nesse momento, mas o barulho das pessoas conversando e a mão gentil de Lucy em meus cabelos me apaziguam de alguma forma e pra mim isso é o suficiente.
Roi, bebês, tudo bom? Como anda a vida? Eu não aguento mais a pandemia sduhaud - tá dose.
Mas enfim. Felizes que o Jack foi embora? Eu vou sentir falta do meu bebê y.y
E a Lucy consolando a Sam, que coisa mais fofa *q*
Enfim, meus queridos, é isso. Eu vou parar de prometer que vou sumir ou que vou postar, porque sempre rola o contrário, mas se eu sumir, já sabem o motivo, então não me odeiem shadahsd.
Beijos,
Fran
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