Capítulo 26
Acordei sentindo aquela familiar dor no corpo pós sexo.
Um pensamento meio descrente de que tudo isso realmente aconteceu com Seth ontem à noite brincava no fundo da minha mente. Junto com um pensamento meio maravilhado também. É absolutamente incrível o fato de eu ter realmente conseguido dormir com ele em tão pouco tempo. Eu levei dois anos e simplesmente não consegui atravessar essa barreira com Jack...
Tirei seu braço de cima do meu corpo, sem me importar muito com delicadeza. Seth tem um sono pesado demais para acordar só com isso, ainda mais depois de quase desmaiar de exaustão como aconteceu ontem.
Coloquei minha calça e desci as escadas até a cozinha para preparar nosso café da manhã. Um pequeno agradecimento pela noite e um reforço para os jogos que a gente vai ter daqui a pouco.
Voltei ao quarto quando tudo estava pronto para poder acordá-lo, já me preparando psicologicamente para o trabalho que isso ia me dar.
Cutuquei seu ombro, mas obviamente ele nem sequer reagiu. Observei seu rosto, com um pouco de pena de ter que acordar ele, já que ele tá dormindo tão pacificamente. Me inclinei e beijei sua bochecha, seu queixo, seu maxilar e fui descendo até chegar em seu pescoço. Senti sua pele arrepiar e um gemido fraquinho saiu por seus lábios entreabertos.
- Seria tão melhor se você me acordasse sempre assim – sua voz saiu baixa e rouca de sono e eu me senti culpada por me sentir excitada com isso. – Bom dia – sorriu ainda de olhos fechados.
- Você mereceu ser acordado desse jeito hoje – brinquei. Na verdade, eu quis testar a teoria da Lucy de que acordar ele com beijos seria efetivo. Me surpreende um pouco que realmente tenha funcionado. – Eu fiz o café da manhã.
Ele gemeu enquanto coçava os olhos, tentando se manter acordado.
- Não precisava ter feito. Ou você podia ter me chamado pra te ajudar – se sentou na cama e eu sorri.
- Você estava tão bonitinho dormindo que eu não queria te acordar – admiti. – Mesmo agora eu não queria ter que te acordar, mas a gente precisa comer para sair. Vamos, antes que você apague de novo – segurei sua mão e o puxei comigo. Peguei sua calça no chão e entreguei pra ele vestir. – Por mais que eu goste da visão, eu preciso me concentrar. Te ver desse jeito me faz lembrar de muita coisa – sorri maliciosamente. Ele riu um pouco.
- A gente ainda tem tempo – disse e me envolveu em seus braços, me beijando calorosamente, suas mãos apertando minha bunda.
- O café vai esfriar – adverti.
- Hmmm... Sexo com a minha namorada ou um café quente? – fez cara de pensativo. – Não é uma escolha difícil – sorriu zombeteiro e me beijou de novo, já abrindo o zíper da minha calça, me guiando até a cama.
- A gente não deveria poupar energias para o jogo?
- Eu duvido que nosso desempenho vai sofrer tanto assim por causa disso... – abri a boca para protestar, mas tornei a fechá-la. – Acabaram suas desculpas? – ironizou enquanto tirava minha blusa. Que eu obviamente o ajudei a tirar.
- Ah, merda! – o puxei para mim, desistindo de fingir que não queria exatamente a mesma coisa que ele.
Liguei o carro e saí numa velocidade incrível. Seth me olhou do banco do carona, se divertindo.
- Você não devia rir. A gente tá atrasado por culpa sua! – virei na primeira rua e acelerei ainda mais, fazendo careta.
- Pelo que eu lembro, somente a primeira vez foi minha culpa... Aliás, você tá indo para onde?
- Buscar a Lucy! Se a gente ligar pra ela agora avisando que não vai dar, ela vai reclamar com a gente pelo resto da vida.
- Sim, mas você pegou o caminho errado... – olhei para ele rapidamente e franzi o cenho.
- Você mora aqui a vida toda e não conhece de fato a área, não é mesmo? – debochei. – Por esse caminho dá pra chegar à casa dela em pelo menos metade do tempo... – ele me olhou, toda sua descrença desenhada em seu rosto.
- Eu entendo a pressa, mas você não precisa tentar matar a gente – disse ao ver o velocímetro chegando aos 120km e subindo. Ri.
- Um pouco de adrenalina não faz mal... Relaxa, eu não vou bater – eu espero.
- Sam, é sério. A gente não tá tão em cima da hora assim. Não precisa dirigir que nem uma lunática! Além do mais, se esse atalho realmente funcionar tanto quanto você diz, a gente ainda chega lá com tempo de sobra.
Suspirei, mas não retruquei enquanto desacelerava o carro para o limite da pista.
- Obrigado – falou parecendo verdadeiramente aliviado.
- Aconteceu alguma coisa? Vocês não são de atrasar assim... – Lucy perguntou assim que entrou no carro, mas não parecia irritada.
- A gente teve um imprevisto – respondi e Seth riu. Olhei para ele rapidamente e pude ver seu sorriso malicioso. Eu preciso confessar que ele aprendeu a usar uma versão muito efetiva do meu sorriso, embora ele ainda não seja capaz de causar em mim o que eu causo nele. E nesse momento tal sorriso tá sendo muito mais efetivo, já que eu estou com memórias muito recentes que envolvem ele e o dono dele. Gemi baixinho, ajeitando meu sexo em minha calça com a mão esquerda para que Lucy não visse.
Ela olhou de mim para ele, mas não disse nada.
- Algum problema, Sam? – Seth provocou.
- Nen... – pigarreei, tentando controlar meu evidente desconforto. – Nenhum – consegui dizer, mas o resultado não tinha sido muito melhor do que a tentativa anterior.
Seu sorriso se alargou um pouquinho mais e eu senti meu membro pulsar. Mordi o lábio e voltei a me concentrar na rua à minha frente, ignorando totalmente – e falhando vergonhosamente – enquanto ele segurava seu pênis por cima da calça com a mão direita, também demonstrando o quão duro ele já está. O ato foi inesperado. Foi vulgar. E eu gostei. E me excitou. Pra caralho. Apertei o volante com força, quase sentindo os toques de Seth em meu corpo novamente. Grunhi.
- Tem certeza? – perguntou baixinho, sexy, fazendo eu me arrepiar. Puta que pariu! Eu estou quase no meu limite e ele nem me tocou! Mordi o lábio novamente, ignorando que ele já está machucado, limitando meu decrescente autocontrole com a dor. – Você parece incomodada com algo...
- Seth, - sibilei – por favor...
Ele soltou outra risada, cheia de satisfação.
- Parece que eu estou começando a entender os seus pontos fracos – continuou, a mesma voz rouca.
- Você sabe porquê está me afetando tanto! – sibilei, praticamente incapaz de controlar minha voz.
- Sei? – levou sua mão ao meu rosto, alisando desde minha bochecha até meu pescoço, fazendo eu me arrepiar por inteira.
- Ah, mas isso vai ter volta – me mexi desconfortável no banco, falando entre dentes trincados. – E eu vou fazer dez vezes pior com você – prometi.
- Humm? – o som saiu arrastado, como se ele mal conseguisse se concentrar também. Ele voltou a me tocar, encostando seu dedo desde a ponta do meu joelho e subindo com ele até a lateral do meu busto e, sinceramente, eu não sei dizer quem ficou mais sem reação com o gemido completamente erótico que escapou por meus lábios.
Fechei os olhos com força e coloquei uma das mãos no rosto, absurdamente envergonhada e corando até não conseguir mais.
Lucy irrompeu em risos, quebrando um pouco o clima no carro e tirando Seth de seu transe provocativo. Já eu fiquei ainda mais envergonhada.
- Ah, cara... Eu vivi pra ver esse dia! – ela disse entre risos, quase não conseguindo completar a frase.
Seth abriu a boca pra falar alguma coisa, mas interrompi.
- Nem mais uma palavra qualquer um dos dois! – ele sorriu com arrogância, aquele sorrisinho irritante que diz claramente "eu consegui", mas fez o que eu pedi.
Passei o resto do caminho pensando nas coisas mais broxantes que existem, mas mesmo assim eu não conseguia me livrar da ereção. Era mais difícil ainda porque meus olhos vagavam para Seth sem a minha permissão. Seu rosto meio inexpressivo com o sorrisinho pervertido brincando em seus lábios enquanto ele tá com a bochecha apoiada na mão, olhando para a janela lateral estava me excitando ainda mais. Cara, eu sou muito masoquista.
Hoje o transporte para a escola onde seria o amistoso teve um problema, então todos que tinham a autonomia de se locomover até o local deviam ir diretamente pra lá.
Estacionei o carro de Seth numa vaga bem perto do colégio e depois tirei meu casaco pra poder amarrar na cintura.
Quando saí do carro, que bateu aquele vento frio pra caramba em mim, me fazendo estremecer instantaneamente, eu pude ver que Seth se sentiu um pouco culpado por ter levado a brincadeira longe demais. Ele se aproximou, me oferecendo seu próprio casaco. Estalei a língua e dei as costas para ele, indo em direção ao portão de entrada.
- Acho que você pegou um pouco pesado – ouvi Lucy falando pra ele, ainda deixando umas risadinhas escaparem. – A Sam é uma mulher orgulhosa e aquele último gemido foi bem constrangedor.
Eu não estou irritada. Eu estou com vergonha. E eu estou excitada. Provavelmente muito mais do que eu devia. Nossa noite vai ser bem longa hoje...
- Alguma de vocês sabem para onde tem que ir? – Seth perguntou depois de um tempo só me seguindo. Dei de ombros.
- Não é como se eu conhecesse o lugar – respondi. – Estou só procurando alguém que possa me indicar o caminho ou então tentando encontrar a quadra mesmo.
- A capitã tá me ligando – Lucy avisou e parou em um canto qualquer para poder atender.
- Eu vou continuar procurando – falei, sem sequer me dar ao trabalho de parar e esperar por ela. Andar ajuda a me acalmar um pouco e nesse momento eu estou precisando bastante disso.
Seth parou, indeciso, mas no fim resolveu continuar me seguindo.
- O quão irritada você tá comigo nesse momento? – arriscou.
- Pela vergonha que você me fez passar, definitivamente muito. Por me excitar em um momento em que eu simplesmente não posso resolver, um pouco menos.
Ele riu um pouco.
- Foi mal. Eu realmente não achei que eu fosse conseguir te levar tão perto do limite. Por um momento eu pensei que você ia realmente chegar ao orgasmo... – suspirei. Eu não vou dar o gostinho pra ele de confirmar que quase aconteceu mesmo. – Mas você tá errada em uma coisa: eu posso sim resolver – me puxou para dentro de um banheiro e fechou a porta, me apoiando nela.
Ele desfez o nó nas mangas do meu casaco e o jogou em seu ombro, pra não colocar no chão e se ajoelhou enquanto abria o zíper da minha calça.
- Seth, tá maluco? – sussurrei apressadamente afastando suas mãos do meu corpo. – Sabe a merda que vai dar se nos pegarem fazendo isso?! Isso vai repercutir em toda nossa escola!
- Sam, você precisa relaxar um pouco. Nesse momento em mais de um sentido – suas mãos vagaram para meu corpo novamente, pra só depois se focar na calça, abaixando ela e a boxer o suficiente para ter acesso ao meu membro. – Eu só preciso que você controle sua voz – piscou um olho para mim e envolveu meu sexo com sua boca.
Estremeci violentamente enquanto ele se movia, me chupando com até certa força. Puxei minha blusa e mordi o tecido, sem confiar o suficiente na minha capacidade de abafar qualquer som nesse momento.
Não demorou muito para eu chegar ao orgasmo, ainda mais que eu já estava quase no meu limite dentro do carro. Para a minha surpresa – o que também me excitou ainda mais – ele não se afastou, mantendo o movimento com sua boca mesmo depois de eu gozar.
- Seth – gemi com os dentes cerrados sobre o tecido da minha roupa, sentindo a sensação de outro ápice se acumular em meu corpo. – Você não precisa... – perdi a linha do que eu estava falando quando estremeci com força, sendo atingida pelo segundo orgasmo com violência. Gemi alto, o som arranhando através da minha garganta e se forçando através dos meus dentes trincados que se agarravam à minha roupa.
Ele parou um pouco, limpando a lateral de sua boca e depois lambendo o dedo, só pra me provocar.
- Enquanto você estiver excitada, eu não vou parar – sorriu maliciosamente e retornou sua atenção para o meu sexo. Sua mão direita subiu pelo meu torso se esgueirando sob meu sutiã enquanto ele massageava meu seio.
Ao todo foram cinco orgasmos, um mais forte do que o anterior, a ponto de eu já não conseguir me manter em pé quando gozei a última vez.
Respirei fundo, tentando me recuperar.
- Viu? Não foi tão ruim toda aquela provocação – brincou enquanto se levantava para fechar minhas calças e me devolvia meu casaco.
- Você é maluco, sabia? – agarrei ele, beijando-o com agressividade, sentindo meu gosto em sua língua. – Vamos, antes que alguém realmente nos descubra aqui dentro.
- Você devia sair primeiro, já que eu tenho quase certeza de que esse é o banheiro feminino – ri.
- OK. Só me dá um minuto pra eu ver se é seguro pra você sair também. Qualquer coisa eu te ligo e aviso se der problema do lado de fora... – ele concordou com a cabeça e eu saí, dando de cara com o corredor vazio. Suspirei aliviada. – Seth – chamei, falando um pouco mais alto e ele saiu também.
Andamos rapidamente para longe do lugar, rindo como duas pessoas que acabaram de fazer besteira e saíram impunes riem.
Logo depois disso conseguimos encontrar alguém para nos auxiliar a chegar à quadra.
Lucy nos olhou com desconfiança quando a gente chegou depois dela, sorrindo maliciosamente, ainda mais quando reparou que eu agora vestia o meu casaco, ao invés de tê-lo amarrado na cintura para esconder meu excitamento.
- Você corrompeu o Seth – ela me alfinetou. – Eu nunca vi ele se comportar tão mal assim em toda a minha vida... – riu.
- Eu corrompi o Seth? – ri. – Acho que você não o conhece tão bem assim – ergui uma sobrancelha ironicamente.
- Talvez ele tivesse os pré requisitos, mas graças a você ele atravessou completamente para o outro lado. Ele era bonzinho o suficiente para sequer beijar uma garota na escola...
Me virei para olhar para ele, buscando uma confirmação. Ele deu de ombros e sorriu.
- Eu acho que você me corrompeu – ele disse por fim.
- Pera, é sério que você nunca ficou com ninguém na escola?! – perguntei, incrédula.
- É sério – riu. – Nem sequer um beijo – piscou um olho para mim.
- E de onde veio a coragem pra tudo isso? – quis saber com sinceridade. Ele tinha muito mais a perder sendo descoberto fazendo sexo oral em mim do que apenas sendo visto dando uns beijos em uma guria qualquer que ele estivesse ficando...
Ele se aproximou para sussurrar no meu ouvido.
- Porque eu também estava duro demais para fazer nada. E mesmo que eu não tenha gozado com você, eu me preparei o suficiente para hoje à noite – me virei para olhar pra ele e ele me roubou um selinho.
Sorri maliciosamente, me recuperando um pouco dos ataques recentes. Puxei a camisa de Seth, murmurando em seguida.
- Então eu preciso te dar essa experiência – beijei seu queixo. – Transar com alguém na escola é algo que nunca mais vai sair da sua cabeça. A adrenalina é tão insana que tudo é sentido com mais intensidade – pisquei um olho pra ele.
Olhei para Lucy e ela sorriu. Pela sua cara, eu tenho certeza que ela ouviu pelo menos uma parte do que a gente disse.
- Ok, chega disso por agora – se meteu e segurou meu braço, me arrastando para longe. – Já tá quase na hora e a gente ainda precisa trocar de roupa. Aliás, Seth, você também devia dar um jeito nisso. Qualquer pessoa que olhar pra você vai perceber na hora – gesticulou com o dedo, apontado para baixo.
Eu e ele olhamos ao mesmo tempo. O volume em sua calça era nítido. Nítido até demais.
Seth deu de ombros, não parecendo se abalar.
- Eu tenho uma namorada gostosa pra caralho – sorriu, malicioso. – Seria estranho eu não ficar excitado.
Ela deu de ombros, despreocupada, e voltou a me arrastar até o vestiário.
- Vocês se pegaram em algum canto da escola, não é? – perguntou, mesmo que ela já soubesse a resposta. Ri.
- Por que acha isso?
- Porque pelo jeito que você estava, zero chance de você se recuperar por força de vontade.
Ri novamente. Ela tem um bom ponto.
- Eu não sei porque eu ainda tento – dei de ombros. – Ele deu um jeito sim – sorri maliciosamente. – Um jeito muito bom.
- Um jeito... – ela me olhou rapidamente, incrédula.
- O que? Você achou que resolveria só beijar ele? – ri de sua expressão. – Qual é, Lucy, se não for para brincar direito, eu prefiro nem começar – alarguei mais meu sorriso.
- Vocês finalmente fizeram, não é? Dá pra ver claramente só de olhar para os dois... – riu e eu dei de ombros.
- Aconteceu sim.
Ela ficou pensativa por um tempo, até me olhar maliciosamente.
- Então foi por isso que vocês se atrasaram! – sorri. Ela pega as coisas rápido.
- Não vou discordar. Mas talvez se a gente tivesse parado antes – dei de ombros. – Você sabe há quanto tempo o Seth não ficava com alguém? Ele disse que já fazia pelo menos um ano, mas eu tenho a sensação de que é mais tempo do que isso...
- Hmm... Não sei, Sam. A gente não falava muito sobre essas coisas. Mas eu acho que já faz realmente mais de um ano desde que ele ficou com a... – olhei pra ela e arqueei a sobrancelha, fazendo ela rir. – Não imaginei que você fosse do tipo que se importa com isso...
- Eu não devia ser mesmo – admiti. – Mas eu confio nele.
- Mas por quê a pergunta? – cocei a nuca. Eu não pensei muito na parte da explicação quando eu perguntei...
- Bom... Você já sabe que fazia muito tempo que eu não dormia com alguém e que eu também saí de uma vida sexual bem ativa. É compreensível que seja mais difícil... – franzi o cenho. – Você entendeu...
- Te satisfazer? Ou te cansar? – riu e eu desviei o olhar.
- Bom, eu nunca fui a pessoa de uma foda só – confessei. – Mas eu não imaginei que ele conseguiria acompanhar... Ainda mais que estão despertando certos instintos adormecidos em mim...
- Ahh. Basicamente você achou que ele não daria conta – ri maravilhada da sua conclusão.
- Não, claro que não. Eu não achei que ele fosse ser tão...
- Tarado quanto você? – completou. Desisti de encontrar palavras que não serviriam para ela ficar me perturbando mais tarde e só concordei. – Vamos colocar isso dessa forma: vocês são praticamente recém casados, que não transavam há um tempo... Vocês não vão conseguir se largar por algum tempo – sorriu. – Mas é realmente um contraste interessante sobre ele. Seth sempre foi o tipo de se manter calado sobre essas coisas. Até hoje eu não sei sequer com quantos anos ele perdeu a virgindade.
- Ele também mudou bastante desde que eu o conheci. Ele parece muito mais próximo agora. E mais sincero também. Ele está livre o suficiente para deixar transparecer a personalidade verdadeira dele e eu tô achando isso incrível.
- A verdade é que vocês dois foram o impacto positivo que cada um precisava na vida do outro.
- Eu acho que você tá certa – entramos no vestiário e nos despimos rapidamente, trocando para o uniforme. Sentei no banco para colocar o tênis.
- Mas agora a pergunta que não quer calar: o Seth é bom de cama? – perguntou e eu lembrei da nossa conversa de ontem. Ri e me levantei, guardando minhas coisas em um armário qualquer.
Sorri um pouquinho e ela deixou um barulhinho de satisfação escapar.
- Ele é – confirmei.
- Preciso me lembrar de fazer a mesma pergunta pra ele mais tarde – disse, me olhando com um brilho diferente nos olhos. – Embora eu já saiba que sim...
Dei de ombros.
- Talvez ele não te dê exatamente a resposta que você tá esperando...
- Por quê? – ela questionou, confusa.
- Bom, o mesmo vale para a pergunta que você me fez... As minhas experiências sexuais foram completamente diferentes da que eu tive ontem com ele. Eu não tenho exatamente no que me basear para dizer se ele é bom ou não, a não ser eu. Já ele, bom, ele teve outras parceiras, parceiras cis. Provavelmente a experiência foi tão diferente para ele – por eu ter um hábito sexual diferente – quanto foi pra mim – dei de ombros novamente. – Eu não sei se o que eu estou tentando dizer faz algum sentido pra você... – ela concordou, pensativa.
- Ou seja, você acha que era melhor antes do que você provavelmente foi agora? – ela tentou entender o que eu dizia – ri.
- Acho que esse é um jeito de simplificar, sim.
- Saberemos a resposta quando eu perguntar pra ele – Lucy sorriu maliciosamente e eu resolvi desistir do assunto, sabendo que nada do que eu disser vai tirar essa ideia da cabeça dela...
- Vamos voltar para a quadra. Não tem porque esperar a capitã aqui – eu disse e ela concordou.
Hoje seria o único dia em que os garotos disputariam com o mesmo colégio que as garotas, então todos iremos jogar no mesmo local. Uma pena que eu não vou poder acompanhar a partida de Seth. A partir de amanhã, disputaremos em horários diferentes e em escolas diferentes, então a gente vai ficar o resto da semana sem se ver, praticamente.
- Já estava indo chamar vocês – a capitã disse, quando nos viu entrar. – O jogo dos rapazes vai começar agora. A treinadora das meninas disse que uma delas teve um probleminha pra chegar à escola hoje, mas já já tá aqui – concordamos com a cabeça.
- Pelo menos vou poder ver o início do jogo deles – sorri e Lucy riu um pouquinho.
- Cara, vocês estão tão melosos ultimamente.
- Não é isso! – me defendi. – Eu quero ver por causa da técnica. O Seth é um bom jogador, assim como o Matt e alguns outros rapazes que estão como titulares hoje. Observar é bom. Você devia fazer disso um hábito também – aconselhei. – Mas não vou mentir que ver ele correr e se movimentar, suado, dentre outras coisas, influencia nisso tudo – ri um pouquinho e ela chacoalhou a cabeça, desistindo da conversa.
Seth se aproximou da gente à passos largos.
- Vocês não vão jogar? – perguntou preocupado.
- Uma das titulares do outro time se atrasou e parece que não quiseram trocar ela, então a gente tá esperando – dei de ombros. – A gente vai assistir vocês enquanto isso.
Ele sorriu, animado, mas não teve tempo de falar mais nada, já que um dos rapazes chamou ele. Seth se despediu com um aceno e correu para ver o que queriam.
- Ele parece que tomou dois litros de energético – Lucy riu e eu concordei.
- Parece mesmo... Mas aposto que quando ele chegar em casa, não vai aguentar nem tomar banho direito antes de desmaiar – sorri.
- Você vai pra casa dele hoje? Os horários que a gente vai jogar agora vão ser bem diferentes, então a gente não vai se esbarrar com eles por algum tempo.
- Eu pensei sobre isso... Mas não sei se é inteligente fazer isso. O cansaço dos jogos e o cansaço da noite, à longo prazo, vai nos prejudicar bastante. Nós dois não dormimos muito ontem e eu sei que nem você e Matt – ela me deu um sorriso amarelo. – E mais, o primeiro jogo vai ser colado com os amistosos, então a gente não tem sequer tempo pra descansar direito.
Ela suspirou.
- Você tem razão. Eu queria que não tivesse, mas eu sei que tem. Matt também me disse a mesma coisa – fez careta. – Às vezes eu queria que ele fosse mais impulsivo que nem o Seth e menos racional que nem você – franzi o cenho.
- Ué, eu tenho culpa de pensar nas consequências das coisas? Lucy, eu já tive minha cota de atos impensados e me arrependo de boa parte deles... – ela riu.
- Ok, senhora certinha, tá começando o jogo, então presta atenção.
Me sentei no banco e olhei para a quadra. O juiz soou o apito e o time da casa sacou. O líbero do nosso time recebeu e levantou a bola quase na mão do levantador e Seth cortou, passando facilmente pelo bloqueio deles.
Observei o jogo atentamente, me prendendo em cada detalhe de postura – não só dos rapazes do nosso time, que por mais que fosse interessante gravar cada detalhe de seus trejeitos em jogos, já são pessoas que eu estou relativamente acostumada -, técnica, tudo.
Seth parecia ser o espírito do nosso time na quadra. Ele parecia mais vivo do que eu jamais vi com o sorriso incontido no rosto, cada ponto fazendo ele mais excitado do que o anterior.
- O treinador tá nos chamando – a capitã disse, se aproximando por trás. – Tá na hora de começar nosso aquecimento – concordamos e nos levantamos.
Acenei para Seth, que nos olhou quando começamos a nos afastar, e ele me mandou um beijinho disfarçado. Sorri um pouquinho e fui embora com a lembrança de seu sorriso enquanto jogava. Pra mim é realmente impensável acreditar que ele já odiou o esporte em algum momento da sua vida...
- Eles parecem tão animados – Lucy comentou, me tirando dos meus pensamentos.
- Sim. Eu também nunca tinha visto o Matt se empenhando tanto em uma partida.
- Ele tem preguiça de se esforçar nos treinos porque é só treino. Não é nada muito sério – sorriu zombeteira. – Mas ele realmente se empenha se precisar.
- Vocês combinam de uma forma assustadora – ri e ela me deu um empurrãozinho de brincadeira. – Eu estou mentindo? – debochei.
- Um pouco, tá? Eu me esforço nos treinos sim! Mais do que ele, pelo menos – revirei os olhos. – Aliás, quando foi que eu passei a sensação de que não me importo com os treinos? Se esse fosse o caso, eu estaria no banco agora... – franziu o cenho, me encarando.
Dei de ombros.
- A capitã só não te conhece tão bem quanto eu... – sorri. – Teve muito ponto que você deixou as outras garotas marcarem na gente por pura preguiça e você sabe disso – ri de sua careta de frustração.
- Eu pensei que eu disfarçava bem... – falou cabisbaixa.
- Ah, mas você disfarça, é só que eu sei como você funciona. Também têm diferenças sutis quando você entra em quadra que dizem como vai ser o seu desempenho do dia.
- Você me observa tanto assim?...
- Eu gosto de observar as pessoas – sorri. – É um hábito de muito tempo. Mas eu prefiro sim observar mais atentamente pessoas que eu gosto, então é bem comum eu estar observando você e o Seth.
Começamos os exercícios para nos aquecer enquanto as outras garotas começavam a fazer aquele pequeno aquecimento com saques e cortes na quadra. Sorri ao perceber que uma delas tem um saque interessante. Espero que eu esteja no fundo quando ela sacar, porque a Lucy não está sequer olhando para elas nesse momento e provavelmente vai ceder alguns pontos nossos para ela até pegar o jeito da defesa.
- Eu já estou pronta – informei e ela concordou, me seguindo, junto com as outras meninas do nosso time, cada uma se posicionando na quadra.
O apito soou, iniciando nossa partida também. Fiz os cálculos rapidamente, contando os rodízios, e parece que eu vou realmente estar no fundo quando a camisa 13 sacar, ótimo.
Sorri já sentindo a carga de adrenalina tomar conta do meu corpo e dessa vez nem um sinal sequer de que eu perderia o controle, então agora eu me sinto confiante o suficiente para acreditar que depois daquele primeiro jogo eu consegui superar tudo isso.
Os pontos vinham com dificuldades e o jogo seguia num ritmo acelerado demais pra gente conseguir manter um controle preciso sobre nossas ações. Suspirei quando o treinador pediu um tempo. Apertei os punhos, irritada. Elas estão nos forçando ao desespero e os erros estão se acumulando do nosso lado, dando pontos gratuitos para elas.
O treinador também estava possesso. Ele reclamou um pouco e falou que a gente devia manter a cabeça no jogo e parar de tentar correr com o placar. Cada ponto é importante, mas se a gente deixar elas ditarem o ritmo do jogo, a gente vai, incontestavelmente, entregar o jogo para elas.
Está na minha vez de sacar e o treinador pediu para eu ir com tudo. Sem gracinha, sem saque flutuante. Ele quer que eu pontue na base do ódio mesmo. Revirei os olhos e chamei Lucy para um canto, já que a gente ainda tem alguns minutos.
- Olha, eu não sei o quanto eu vou conseguir pontuar com o saque, ou sequer se eu vou conseguir arrancar um ponto delas sequer. A próxima no saque, a camisa 13, tem um saque perigoso e eu quero que você não tente pegar ele.
- O que? – perguntou ofendida.
- Calma! Eu já joguei com uma pessoa que fazia algo muito parecido no passado e eu sei que o saque pode parecer simples, mas não é! A gente tá numa situação muito precária no jogo pra deixar elas pontuarem com saque de graça! – ela me olhou irritada. – Eu quero pegar o primeiro saque dela. É provável que ela mire em mim pra poder escapar da sua defesa, então mantenha seus olhos em mim se eu estiver certa e você vai entender como o saque dela pode ser arriscado para quem não conhece.
- Um pouco de confiança em mim seria legal – ela disse. Ótimo, eu feri o orgulho dela...
- Lucy, eu confio em você. Você sabe disso. Mas a gente tá com quase dez pontos de diferença e se a gente perder o primeiro set com toda essa diferença, eu não sei o que isso vai ocasionar no espírito das outras garotas do time e por melhor que eu, você e a capitã sejamos, a gente não consegue lutar sozinhas! – falei. – Por favor, confia em mim nessa. Você sabe que eu não te pediria para me deixar receber se não fosse importante!
- Ok, gênia, você vai ser o primeiro toque da bola... e quem vai levantar? – sorri largamente para ela e só então ela entendeu minha intenção.
- Você treinou isso até a exaustão, não é? Eu acho que você tá mais do que pronta pra testar isso em um jogo de verdade – seus olhos brilharam e ela me abraçou rapidamente. – Eu falei que eu confio em você – disse enquanto ela me apertava mais em seus braços.
- Vamos, tá na hora – concordei.
Peguei a bola e me dirigi ao fundo da quadra. A capitã pareceu confusa quando eu dei dois passos a mais do que eu dou para esse tipo de saque. Respirei fundo, mirando bem na líbero delas. Vamos testar o quanto você tá preparada pra essa porrada...
Corri e saquei, tentando fazer a bola ir bem em direção ao joelho dela e, como o esperado, ela conseguiu armar a manchete, mas seus braços se afastaram e a bola varou, pegando no chão, bem entre suas pernas.
Sorri aliviada. Pelo menos um ponto eu consegui fazer.
Voltei para o fundo da quadra e reajustei a distância, agora com três passos. Eu não vou deixar vocês preverem tão facilmente o meu saque!
Olhei para elas e percebi que a que está à esquerda da líbero parece meio assustada então sorri pra ela. Girei a bola em minhas mãos. Como se eu fosse cair nessa armadilha óbvia.
Saquei e mais uma vez mirei na líbero, dessa vez na altura do seu estômago e mais uma vez sua manchete se desfez, o que rendeu uma bela bolada nela.
Mandei um rápido pedido de desculpas antes de voltar pro fundo da quadra. 15x23. Nossa situação ainda tá bem precária.
Quiquei a bola no chão enquanto analisava as meninas do outro lado da rede, tentando definir quem seria meu alvo dessa vez. Acho que jogar entre elas agora vai ser a melhor opção. Já que os saques estavam sendo diretos, pode ser que elas não esperem essa mudança agora e se atrapalhem um pouco...
Ao todo, eu consegui fazer seis pontos de saque e isso foi ótimo. Foi bom para a gente tirar um pouco o ritmo delas, bom para o nosso moral e para desestabilizá-las. E de quebra eu ainda consegui deixar o nosso placar bem próximo. 19x24. A gente ainda tem chance. Embora seja difícil acreditar que a gente pode alcançar, eu acho que a gente ainda tem chance!
Me posicionei ao lado de Lucy e pedi baixinho para ela prestar atenção.
Como eu previ o saque foi direcionado para mim, mas ela mirou um pouco mais para a frente, então precisei me ajustar um pouco. Sorri ao perceber a carranca da camisa 13 quando eu recebi sem dificuldades e Lucy levantou. 20x24. Respirei fundo.
- Eu acho que entendi o que você quis dizer – Lucy comentou rapidamente e eu concordei.
No fim, o primeiro set seguiu quase até os trinta pontos, mas a gente conseguiu virar, de algum modo.
Depois disso, nos outros dois sets, elas pareceram entrar em quadra cercadas de um tipo de desespero e nervosismo que não estava presente no início da partida, então a gente conseguiu ganhar com muito mais facilidade.
Em algum momento entre os sets os rapazes se juntaram e assistiram da arquibancada, torcendo pela gente.
Quando o jogo terminou, Matt deu um abraço tão apertado em Lucy, comemorando com ela, que até a tirou do chão, os dois rindo, felizes.
Sorri e parei ao lado deles e de Seth que só me deu um joinha. Ri. Eu consigo sentir o quanto ele quer fazer a mesma coisa comigo, mas está se segurando por causa de todo mundo que tá olhando pra gente.
Nosso status de namoro no colégio ainda é incerto e a gente não faz muito pra mudar isso nem para o 'sim' e nem para o 'não' definitivo, mas a gente pelo menos evita contato muito frequente sem motivos. Nós deixamos para fazer essas coisas enquanto estamos sozinhos.
- Como foi o jogo de vocês? – perguntei.
- A gente ganhou – sorriu seu sorriso de menino. – O jogo de vocês foi incrível, aliás. O time feminino daqui dá de lavada no masculino – riu. – A gente não teve a metade da dor de cabeça que vocês tiveram.
- O time daqui é um dos top 4 regional, sabe... o feminino... – ri também. – Acho que o masculino realmente não tá nem no top 10 – dei de ombros. Foi uma surpresa a gente ter ganho de fato. Eu não estava acreditando tanto assim no nosso potencial, para ser bem sincera.
- O que você quer fazer mais tarde? – começamos a voltar, andando em direção ao vestiário.
- A ideia principal é descansar. Você devia fazer o mesmo – ergui uma sobrancelha, sorrindo de canto quando ele fez uma leve careta.
- Eu tenho planos melhores pra hoje à noite... – disse baixinho e eu ri.
- Eu sei que tem. Mas vou ter que estragar eles, desculpe.
- Por quê? Eu ainda não consegui me desestressar por completo – disse, quase desesperado. Revirei os olhos.
- E a culpa disso tudo foi de quem mesmo?... – disse com sarcasmo e ele fez outra careta.
- Você já foi melhor, sabia? Menos malvada comigo... – respondeu cabisbaixo.
- Eu disse que tinha troco – sorri de forma presunçosa. – Mas não disse que seria da mesma forma – ele levantou o olhar do chão, parecendo incrédulo.
- Você vai realmente me deixar na mão?
- O que você acha? – ironizei e entrei no vestiário sem esperar para ver qual seria sua reação e muito menos a sua resposta. Ri com deleite do lado de dentro e Lucy me fitou.
Eu confesso que pensei em fazer algo parecido com o que ele fez mais cedo quando a gente entrou no carro, mas o meu cansaço era tamanho pelo jogo de ontem, a noite mal dormida, a sessão – embora prazerosa – de sexo antes da gente sair e o jogo de hoje que eu simplesmente não consegui. Ao invés disso eu apaguei no carro antes mesmo dele conseguir sair da frente da escola.
Acordei com Seth me dando um beijo na bochecha, sorrindo pertinho do meu rosto.
- A gente já chegou – murmurou. Ele saiu do carro depois de pegar minha mochila no banco de trás e deu a volta, abrindo a porta para mim. – Vem – segurou minha mão e me acompanhou até a porta da minha casa, destrancando ela com a minha chave. Me arrastei, sonolenta, atrás dele, seguindo-o até o banheiro do meu quarto. – Eu pensei em preparar a banheira pra você, mas eu tenho medos reais que você se afogue – riu e eu sorri fraquinho, apenas metade do meu espírito presente na conversa nesse momento. – Então eu acho melhor você tomar banho no chuveiro mesmo.
- Obrigada – bocejei e fiquei parada esperando ele sair do banheiro para eu me despir, mas ele não se mexeu. – Você não vai sair? – perguntei um pouco mais desperta agora e ele riu.
- Eu ia, na verdade, mas me peguei pensando momentaneamente que seria mais rápido tomar banho com você...
- Seth... – comecei, mas ele levantou as mãos pedindo pra eu ter calma.
- Relaxa, eu não estou com segundas intenções. Você tá muito mal conseguindo se manter em pé com os olhos abertos e eu vou ter que admitir que eu também estou cansado. Por mais que eu queira, não vai ser sensato fazer qualquer coisa hoje – olhei fundo em seus olhos e vi que ele estava sem um pingo de malícia.
- Ok, você quem sabe... – dei de ombros e comecei a tirar minha roupa, ignorando o fato que ele me olhava com olhos sedentos. Eu tenho a forte impressão de que ele não vai conseguir se segurar até a gente terminar esse banho.
Ele se despiu também e entrou no box, se comportando da melhor forma que conseguiu, deixando transparecer seu desejo somente quando me prensou contra a parede, me dando um beijo de tirar o fôlego.
- Se comporta – pedi e ele sorriu um pouquinho, mas não tornou a fazer nada. – Você quer comer alguma coisa? – questionei enquanto me vestia, depois que a gente voltou para o quarto.
- Bom, sim – sorriu maliciosamente, só pra implicar comigo e eu soltei uma risada fraquinha. – Mas seria legal sim. Eu estou morrendo de fome – admitiu.
- Então vamos lá pra baixo. Quer alguma coisa específica? Se eu tiver os ingredientes, eu posso fazer – sorri.
- Pode ser qualquer coisa, eu não quero ter que te dar mais trabalho – coçou a nuca. – E eu sei que eu não vou ser de muita ajuda na hora de cozinhar, então...
- Você sempre me ajuda com tudo o que eu peço. Pra mim isso já é ajuda o suficiente – dei de ombros e ele sorriu.
Acabamos entrando no consenso de fazer macarrão com lentilha e cogumelos e ele pareceu bem feliz com o resultado.
- Como você consegue ser boa em tudo? – falou enquanto comia. Achei graça. Se ele soubesse...
- Eu cozinho desde sempre, sabe? Eu precisava cozinhar ou mamãe teria que fazer comida depois de chegar do trabalho e seria muito mais cansativo ainda pra ela. E não é como se meu pai ajudasse em alguma coisa dentro de casa... – suspirei, me recostando no encosto da cadeira, soltando o garfo no prato. Me lembrar dele me fez perder a fome.
- Desculpa – Seth pediu, provavelmente pela minha mudança de expressão.
- Por quê? – fiquei brincando com a comida enquanto ele falava.
- Porque eu te fiz lembrar dele, do seu passado... – sua voz estava cheia de remorso. Levantei o olhar e acariciei seu rosto.
- Não é assim que funciona, Seth. Relaxa. Não tem como você saber o que vai ou não me trazer esse tipo de lembrança. E eu sinceramente prefiro que você não me trate como se eu fosse feita de vidro, porque isso vai me irritar de verdade. Eu não sou uma bonequinha de porcelana e eu preciso aprender a lidar com essas questões – ele continuou me fitando, ainda parecendo culpado. – Além do mais, não é como se eu me esquecesse dessas coisas. Tudo isso está sempre no fundo da minha cabeça, um pensamento constante. Não existe um dia que eu passe sem pensar nele – sorri um pouquinho. – Pode não parecer, mas a nossa vida não era assim antes. Ele não era esse monstro que vocês conhecem. Ele era bom e era carinhoso e eu realmente me sentia a criança mais sortuda do mundo porque meus pais eram maravilhosos.
Seth ficou quieto, mas eu sei o quanto ele quer perguntar "e o que mudou?". Essa é a pergunta que eu me faço todos os dias...
- Meu pai era do exército – olhei para frente, desviando minha atenção de seus olhos. – Quando eu tinha uns cinco anos talvez, eu não me lembro ao certo, ele foi convocado para a guerra. Ele ficou muito tempo fora. Acho que foi quase quatro anos. A questão é que o homem carinhoso e amoroso que foi para a guerra não foi o que voltou – estremeci ao me lembrar do medo que eu senti ao avistá-lo no aeroporto quando eu e mamãe fomos recebe-lo no dia de seu retorno. - Quando ele voltou, era como se ele fosse outra pessoa.
- Sam... – Seth segurou minha mão que estava sobre a mesa e a apertou um pouquinho.
- Nessa época eu ainda estava muito longe de entender o que estava acontecendo comigo, mas eu já me sentia diferente. Eu comecei a me sentir incomodada com o meu corpo quando eu tinha oito anos. Não com o meu corpo no geral, o que mais me incomodava era a minha voz. Eu me olhava no espelho de vez em quando e também pensava que aquele rosto que me olhava de volta não era o meu. Como poderia ser? – ri um pouco. – Eu nunca aceitei o fato do meu rosto ser daquele jeito, mas ao mesmo tempo nunca consegui dizer "meu rosto deveria ser mais feminino"... O problema é que meu pai também percebeu isso – meu sorriso morreu no rosto e eu finalmente me virei para encarar Seth novamente. – Ele entendeu muito mais rápido do que eu o que estava acontecendo e foi por essa época que as surras começaram.
Ele estremeceu. Eu contei para ele sobre o meu pulso, mas tirando isso, Seth não tinha exatamente uma confirmação do que meu pai fazia comigo. Agora, na visão dele, talvez as coisas sejam muito mais reais.
Voltei a desviar o olhar, antes de voltar a falar. A dor em seus olhos está começando a me fazer fraquejar e eu não quero chorar na frente dele, mesmo que isso já tenha acontecido da pior forma possível, que foi quando eu tive a crise de pânico aquele dia...
- No início ele parecia realmente só querer me ensinar e depois ele sempre pareceu se sentir culpado. Mas acho que conforme o tempo foi passando e, de acordo com as palavras dele, meu lado "feminino" foi aflorando, ele foi perdendo a paciência, então as surras passaram a ser piores e com mais frequência também. Quando eu tinha quatorze anos eu fui parar na emergência a primeira vez por causa dele – estremeci. Me questionei brevemente o porquê de eu estar revivendo tudo isso para poder contar para Seth.
Sua mão envolveu a minha, entrelaçando seus dedos aos meus e eu a apertei.
- Bom – respirei fundo. – Esquece o resto dessa história por enquanto – tentei sorrir, mas falhei. Ele se levantou e me agarrou em seus braços, me apertando com força contra seu corpo. Me senti tão pequena, mas ao mesmo tempo tão segura...
O envolvi com meus braços também, o apertando contra mim, agarrando sua camisa como se eu realmente dependesse disso para que algo ruim não acontecesse comigo.
- Obrigada – sussurrei, minha voz saindo abafada já que meu rosto tá apoiado contra seu colo. – Por não me olhar com pena enquanto eu conto essas coisas... E por estar ao meu lado nesse momento – prendi a respiração, só agora sentindo vontade de chorar. Ele se afastou um pouco e me beijou, provavelmente para me acalmar.
- Sobe, vai descansar – falou. – Eu termino a limpeza aqui embaixo. Suspirei.
- Tudo bem, Seth. Você também tá cansado e você nem terminou de comer ainda. Eu também preciso comer, mesmo que eu não queira – nos sentamos à mesa e comemos em silêncio. Para o meu mérito, eu consegui comer tudo o que eu tinha colocado. Pelo menos não vou precisar desperdiçar comida.
Lavamos a louça ainda em silêncio, mas eu reparei que vez ou outra ele me olhava de canto de olho, parecendo preocupado.
- Seth, eu estou bem! – falei já um pouco irritada. – Dá pra parar de ficar me olhando desse jeito a cada dois minutos?!
- Não é isso – se defendeu. – Eu estou pensando no quanto você é incrível... Eu provavelmente nunca tocaria no assunto se fosse comigo. Nem mesmo com a minha namorada... – se virou para mim e sorriu. – Você é forte, Sam, e eu te admiro. Muito. Eu fico triste em saber sobre essas coisas que aconteceram com você, mas a minha admiração por você acaba aumentando ainda mais – riu um pouquinho enquanto se inclinava para me beijar. – Vamos. A gente já acabou aqui embaixo e você ainda parece que vai apagar a qualquer momento – sorriu, galante.
- Ok, senhor conquistador – brinquei e fui andando até o outro lado para apagar a luz enquanto ele se afastava em direção ao corredor. – Me espera lá em cima que eu já vou. Só preciso pegar meu celular na mochila – falei e ele concordou.
Respireifundo tentando controlar o turbilhão que estava a minha cabeça. A presença deSeth hoje me ajudou a lidar com toda essa carga pesada, mas eu sinto algo meiovazio dentro de mim agora. E esse sentimento, depois de muito tempo, é algo querealmente me preocupa.
Roi, bebês, tudo bem? Então... Não era pra eu estar postando mais capítulos, mas eu preciso passar uma mensagem pra uma pessoa que fez algo muito grave ~ a santa sabe quem é ~ então, só aceitem e talvez comemorem kkkk
Então é isso, eu amo todos vocês sauheu
Fran
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