Capítulo 18
Me sentei na quadra, voltando à torturante rotina de assistir Lucy e Seth jogarem vôlei sem poder participar.
O problema não é só eu não poder, mas também o fato de que Seth e Lucy simplesmente não deixam eu jogar!
Seth se sentou ao meu lado enquanto estavam na pausa entre partidas. Olhei feio para ele, irritada.
- Eu não tenho culpa! – se defendeu.
- Tem sim! – bufei. – Vocês não me deixam jogar!
- Porque você não pode! – fez cara feia também.
- Mas que inferno. Como eu supostamente vou ser de alguma utilidade no torneio se eu não posso praticar? Como você acha que eu vou manter um mínimo de condicionamento físico assim?
Deu de ombros.
- Eu confio na sua capacidade – falou simplesmente, o que, por algum motivo, me irritou mais ainda.
- Seth, eu não sou um prodígio. Eu cometo erros. Muitos. Se eu não me esforçar para superar eles e simplesmente parar de treinar, eu vou ser tão útil em quadra quanto aqui sentada no banco...
- E se você levar outra bolada? Ou se alguém esbarrar em você? Ou qualquer acidente acontecer? – suspirei.
- E eu já não estava em risco de todas essas coisas antes de me machucar?
- Sim, mas agora você já está em desvantagem. Se qualquer coisa acertar seu nariz, pode ser que piore em muito a fratura anterior. Você nem se recuperou da cirurgia ainda!
- Seth, o meu limite é até sexta-feira. Segunda eu volto à quadra, queiram vocês ou não! – ele abriu a boca para contestar, mas o impedi. – Se eu não jogar aqui, vai ser em outro lugar, sem vocês por perto para serem minhas babás – ele ficou quieto, só me observando e eu sorri, sabendo que tinha ganho.
- Você não tem juízo – suspirou. Dei de ombros.
- Você precisa voltar. Estão te chamando – disse e gesticulei pros garotos acenando para ele.
- Sam... – seu olhar pesou sobre mim, intenso.
- Seth, só... Só esquece, ok? Pra mim, ficar sem jogar é muito pior do que a possibilidade de me machucar de novo... – ele suspirou e concordou com a cabeça e depois se inclinou para dar um beijo em minha bochecha. Olhei para ele de canto de olho e depois para as pessoas que nos observavam. – Você também não colabora, não é?
Ele sorriu travesso.
- Eu gosto de dar alguma coisa para eles se distraírem de vez em quando – piscou um olho para mim. Me recostei no banco, mas não disse mais nada, apenas o observei voltar.
Lucy me olhou maliciosamente à distância, me fazendo corar. Agora ela vai ficar com essa maldita mania de ficar me olhando desse jeito? Diferente dos olhares que ela me lançava antes, parece que agora eles têm realmente um significado, e é isso o que mais me irrita!
Fiquei tentada em mandar um belo dedo do meio pra ela, mas não vou ser infantil assim.
Coloquei os fones e dei play em uma música qualquer no celular. Parece que hoje o dia está se arrastando... Fechei os olhos, inclinando minha cabeça para trás, já que não tinha encosto. Não sei quanto tempo fiquei assim e nem quando acabei pegando no sono, mas em algum momento eu senti alguém cutucar delicadamente minha coxa.
Abri os olhos e olhei para o lado, meu pescoço doendo por dormir de mal jeito.
Lucy estava sorrindo, a toalha no ombro provavelmente indicava que eles já tinham terminado por hoje.
Gemi, tentando me levantar.
- Você tá bem? Você apagou pesado... Já faz um tempo que estou tentando te acordar.
- Estou – respondi. Levei a mão ao pescoço, massageando o local. – Eu não dormi muito hoje. Demorei para pegar no sono, na verdade – começamos a voltar, a quadra já estava vazia.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntou preocupada.
Fiz que não com a cabeça.
- Nada fora do comum. De vez em quando acontece... Geralmente eu levanto para estudar ou jogar quando eu não consigo dormir...
- Então é assim que você consegue essas olheiras enormes – brigou. Sorri sem jeito.
- Ficar deitada na cama rolando pra lá e pra cá me irrita. Eu prefiro me distrair de alguma outra forma.
- O Seth estava com você, não é? – concordei com a cabeça.
- Ele apagou em menos de dez segundos – revirei os olhos e ela riu. – Não deu nem pra ficar conversando pra distrair. Eu só fiquei lá olhando pro teto... – suspirei.
Ela entrou no box e se despiu rapidamente.
- Eu vou esperar lá fora – avisei. – Vou ver se consigo fazer meu pescoço parar de doer, porque tá difícil... – ela concordou e eu saí do box, me sentando no banco do vestiário, fazendo alguns pequenos movimentos com o pescoço.
Não demorou muito para ela terminar seu banho e aparecer do meu lado.
Enquanto ela mexia no armário, a capitã entrou no vestiário e nos cumprimentou.
- Sam, já faz algum tempo que eu não tenho a oportunidade de falar com você... Como você está? – perguntou enquanto tirava a blusa de educação física para poder trocar por outra limpa.
Dei de ombros.
- Eu estou bem – confirmei. – Segunda feira eu volto para a quadra – informei e Lucy me olhou por cima do ombro, franzindo as sobrancelhas. Pelo visto Seth não contou para ela...
- Tem certeza que é seguro? Eu não quero que você se machuque de novo... Eu não sei qual vai ser a atitude de algumas garotas quanto você estiver do outro lado da rede... – suspirei.
- Eu corro risco de me machucar em qualquer partida... Não vai fazer diferença. Além do mais, eu preciso voltar a jogar, caso contrário, eu não vou participar do torneio... Eu não quero ser um peso morto.
- Ok. Eu vou ficar de olho. Qualquer coisa eu vou parar o jogo – abri a boca para protestar. – Só estou te deixando ciente – se levantou. – Até amanhã, garotas – acenou e saiu logo em seguida.
Lucy sentou que nem uma ogra do meu lado, me encarando.
- Eu não vou entrar nesse assunto de novo – comecei. – Eu não aguento mais, Lucy. Que quebrem meu nariz de novo! Enquanto não for os meus membros, eu vou continuar jogando! Agora para de me olhar de cara feia porque nada do que você disser vai me fazer mudar de ideia.
Ela levantou as mãos e se levantou, pegando a mochila e trancando o armário, e depois saiu sem olhar para mim uma segunda vez. Respirei fundo, dando alguns segundos de vantagem para ela e depois saí, apagando a luz e fechando a porta atrás de mim.
Ficamos em silêncio o caminho inteiro. Lucy e Seth me olhavam pensativos de vez em quando. Na hora que chegamos à casa de Lucy eu já estava fumegando de tanta raiva.
- Mas que porra! – explodi, quando ele pegou o retorno depois de deixar Lucy na casa dela. – Vocês vão ficar me encarando o tempo todo agora?! Eu não sou uma criança, sabia? Eu tenho total consciência das consequências das minhas atitudes! – olhei para Seth irritada.
- Eu não fiz nada! – se defendeu, me olhando com uma sobrancelha arqueada.
- Não fez, mas fica me olhando como se eu fosse... sei lá que porra você tá achando que eu sou! Seth, eu sei que vocês só estão preocupados, mas não deviam ficar preocupados só com a minha saúde física, inferno! – rosnei e me arrependi na mesma hora. Eles não estão exatamente cientes do que me levou a começar a praticar o esporte...
Ele parou o carro em um semáforo e se virou para me olhar. Fechei a cara e cruzei os braços e olhei para o outro lado, para a janela, evitando seu olhar. O clima dentro do carro ficou pesado, e eu me recusei terminantemente a olhar para ele novamente.
- Então foi por isso que você começou a jogar? – perguntou por fim, a voz suave. Rangi os dentes e senti uma pontada na palma da minha mão, e só então eu percebi que eu estava apertando meus punhos tão forte que minha unha rompeu a carne.
- Eu não quero falar sobre isso – respondi depois de muito tempo.
Ele parou o carro em uma rua deserta e o desligou, se virando para mim. Sua mão gentilmente envolveu a minha, afrouxando a pressão que eu aplicava. Ele suspirou.
Olhei para nossas mãos e depois especificamente para o que eu tinha feito à minha.
- Para uma pessoa que joga vôlei, você cuida muito pouco da sua maior arma... – ele comentou, pegando um kit de primeiros socorros de dentro do porta luvas para tratar da cagada que eu fiz.
Resmunguei meia dúzia de sons e grunhi mais alguns, mas não falei nada. Ele também ficou calado enquanto estava concentrado.
Quando Seth finalmente terminou, ele encostou as costas na porta e me olhou. Tinha algum tipo de brilho em seus olhos, mas eu não saberia dizer o que ele está tentando me expressar.
- Eu não vou pedir para que você me explique e nem para que você me conte. Eu acho que isso deve acontecer quando você estiver pronta. Eu só queria que você não fosse imprudente por causa que você acha que algo vai acontecer se você não recomeçar a jogar logo. Você tem a mim e à Lucy, e devia se apoiar e confiar mais em nós dois.
Suspirei.
- Por que você acha que eu comecei a jogar, Seth? – perguntei, finalmente me virando para encarar ele. – Por que você acha que eu jogo? – franzi o cenho. – Se eu não confiasse em vocês, vocês não saberiam a metade do que vocês sabem sobre mim...
- Não é sobre esse tipo de confiança – ele suspirou. – Você nos conta as coisas que aconteceram na sua vida, e eu não imagino o quanto isso é difícil para você... Mas você não se apoia na gente emocionalmente. Às vezes é como se você sequer quisesse se sentir ligada a algum de nós dois...
Arqueei a sobrancelha. O que ele espera que eu faça? Que quando eu estiver triste chore no ombro de algum deles?, ou que busque abraços apertados quando me sentir acuada por alguma situação que aconteceu e porventura eu acabei me recordando?
Uma risada sarcástica que nasceu em minha garganta escapou por meus lábios. Balancei a cabeça negativamente, quase incrédula.
- Talvez você esteja certo – falei enquanto encarava a pista deserta à minha frente, pela janela frontal. – Eu sou a pior pessoa para depender emocionalmente dos outros. Eu não quero essa merda. Dependência emocional é a pior coisa que um ser humano são faz. Eu confio e me entrego à vocês até onde é seguro para mim, só isso – eu sei que eu estou sendo agressiva e que eu não precisava falar dessa forma, mas eu estou irritada, e nesse momento a minha última preocupação são as merdas que eu estou dizendo.
Seth suspirou novamente. Ele não parecia magoado com o que eu falei, então eu me senti menos culpada pela pequena explosão.
- Eu entendo – disse. – Eu demorei muito tempo para poder entender como isso funciona. Eu já me ferrei muito por causa disso – arqueei a sobrancelha, provavelmente o "e tá aí o porquê eu não faço isso" escrito em todo o meu rosto. – Mas eu nunca me arrependi por ser assim. As pessoas que erraram comigo foram as responsáveis, e não eu.
Bufei.
- Claro, e você se sentiu muito animado por passar por essas coisas por causa dos outros, eu imagino – ele riu.
- É claro que não! – revirou os olhos, ainda meio rindo. – Mas se eu tivesse deixado isso me impedir, hoje eu não estaria aqui com você... Eu também não teria remendado meus laços com Lucy...
Suspirei.
- Olha, Seth... Eu confio em vocês. Provavelmente muito mais do que eu deveria, na verdade. Eu só demonstro isso de outra forma. Eu não sou a pessoa mais emotiva do mundo e nem sei como fazer isso. No momento certo vocês vão entender que eu me entrego, mas à minha maneira. Não se cobre por isso, e não duvide da minha confiança em vocês.
Ele concordou com a cabeça e se inclinou para me dar um abraço apertado. Me senti frágil em seus braços. Me agarrei ao seu casaco, me apertando contra ele.
- Desculpa – murmurou em meu ouvido. – Eu nunca mais vou duvidar de você. Eu entendi agora... – me afastei e seus olhos brilhavam em entendimento. Sorriu. Eu retornei seu olhar intenso com um olhar confuso, mas não prolonguei o assunto. Ele se ajeitou no banco e retornou para a estrada.
Ficamos em silêncio novamente, mas dessa vez não era um silêncio desconfortável.
- Eu aprendi a fazer bolo – falou, me olhando com um sorriso orgulhoso. Soltei uma risadinha, concordando com a cabeça. – Eu queria que você provasse – seus olhos brilhavam.
- Já faz alguns dias que a gente não se separa... você vai acabar enjoando da minha presença – alertei, brincalhona e ele fez uma careta indignada.
- Que calúnia! Eu nunca vou me cansar de ficar perto de você – sorri um pouquinho.
- Se você insiste... – dei de ombros. Sorrindo um pouquinho mais, ele acelerou o carro, ultrapassando em muito o limite de velocidade da pista. – Se você tomar uma multa, a culpa vai ser somente sua – avisei e ele riu, parecendo um menino. Acabei sorrindo também.
Chegamos à sua casa rapidamente e em pouco tempo ele já tinha trocado de roupas e estava na cozinha separando os ingredientes para poder fazer o tal bolo.
- Quando você disse que queria que eu provasse, eu presumi que você já tinha pronto – arqueei a sobrancelha e ele sorriu sem graça. Olhou desesperado para a lista de coisas que faltavam e se sentou à mesa triste, coçando a cabeça. Revirei os olhos para o drama que ele estava fazendo. – Eu vou lá comprar. Enquanto isso, vai fazendo o que dá pra fazer, nem que seja o café! – ele se levantou e tentou me impedir, mas eu parei e cruzei os braços e ele se sentou de novo. Sorri. – Bom menino – provoquei. – Me dá a chave do carro – pedi. O mercado não é longe, mas eu não estou no clima de ir andando.
Ele se levantou e a pegou do porta-chaves que ficava ao lado da porta e depois me entregou.
- Eu não chamei você pra cá pra ter que ir ao mercado por minha causa – protestou e eu revirei os olhos.
- Você quer fazer o bolo para mim, não é? – perguntei e ele fez que sim com a cabeça. – Então você vai fazer, ué. Eu não vou te ajudar em nada. Só vou ao mercado para você não precisar sair e depois ainda ter que cozinhar – dei de ombros. – Além do mais, eu estava mesmo precisando comprar algumas coisas lá pra casa que minha mãe pediu antes de viajar e eu estou enrolando... – desviei o olhar quando ele me fitou acusatoriamente.
- Por que não falou antes? Eu teria ido com você!
- Justamente por isso – bufei. – Eu não queria que você deixasse de fazer suas coisas para ir ao mercado comigo.
- Sam, depois que eu chego da escola, eu fico o resto do dia deitado fazendo absolutamente nada. Você não tem ideia do quão satisfatório seria poder ir ao mercado com você, só pra poder sair dessa rotina chata – falou. Suspirei.
- Ok, ok. Mas hoje você não vai – cortei e seu sorriso morreu. – Você me prometeu um bolo – pisquei para ele. – Vinte minutos no máximo eu estou de volta – avisei e saí logo em seguida.
Antes de sair com o carro peguei a lista que minha mãe tinha me dado no bolso da minha mochila e coloquei no bolso, junto da lista de Seth.
O mercado está vazio, o que é bem raro pro horário. Peguei o carrinho e vaguei pelo estabelecimento à passos rápidos recolhendo nas prateleiras tudo o que eu precisava. Acabei pegando também uma barra de chocolate, para agradecer à Seth o esforço.
Quando cheguei à casa dele novamente, nem treze minutos tinham se passado. Acho que é um recorde.
Sorri quando entrei com as sacolas de coisas para o bolo e entreguei para ele, e depois me virei para pendurar a chave ao lado da porta novamente.
- Como você conseguiu ser tão rápida?
- Costume, eu acho. E principalmente falta de paciência pra ficar olhando as coisas. Eu só pego o que eu preciso e vou embora.
Me sentei à mesa e observei enquanto ele começava a separar as quantidades necessárias de ingrediente para o bolo, totalmente concentrado. Peguei o celular no meu bolso e tirei uma foto dele, sorrindo.
Seth me olhou confuso e eu virei o celular em sua direção.
- Parece que você está fazendo a cirurgia mais complexa do mundo – debochei e ele estreitou os olhos para mim.
- É muito perto disso para mim – admitiu e eu ri.
- Agradeço o esforço então – me recostei, voltando a observá-lo.
Ele não falou muito enquanto fazia o bolo, mas de vez em quando comentava sobre alguma coisa ou contava alguma história de quando ele era mais novo. A que eu achei mais interessante foi de quando ele tentou fazer vitamina e conseguiu quebrar o liquidificador.
Ele sorriu orgulhoso ao colocar o bolo no forno.
- Espero que dê tudo certo...
- A não ser que queime, não tem porque não dar... Você fez tudo perfeito – assegurei e ele sorriu. Ele segurou minha mão e entrelaçou os dedos aos meus, me levando para o seu quarto no segundo andar. – Mas por precaução, vou colocar meu celular para despertar para daqui trinta minutos – arqueei a sobrancelha e ele pareceu sem graça, provavelmente se esquecendo que deveria voltar para olhar o bolo em algum momento.
- Obrigado – murmurou.
Peguei o pequeno presente que tinha comprado no mercado do bolso do meu casaco e entreguei para ele, sorrindo. Seus olhos brilharam e ele me agarrou em um abraço apertado.
- Obrigado! – seu humor mudou drasticamente para melhor depois de apenas isso.
- Não por isso – falei e me sentei em sua cama, me sentindo cansada novamente. Olhei de maneira tentadora para a superfície macia e confortável, tentando me convencer de que seria grosseria da minha parte simplesmente me deitar e dormir.
- Você parece cansada – falou, parecendo ler minha linha de pensamentos.
- Muitas horas olhando pro teto, poucas horas dormindo – resumi, sorrindo de canto.
- Você deveria descansar então – disse e se sentou ao meu lado e deitou minha cabeça em suas pernas. – Eu te acordo quando tudo estiver pronto – prometeu.
- Não, tudo bem. Eu pretendo dormir mais cedo hoje para recompensar. Eu não vim pra cá pra dormir.
- Besteira – senti sua mão passeando delicadamente sobre minha cabeça num cafuné. Tentei reprimir o bocejo, mas não consegui. Imagino se ele está sorrindo.
Desisti de tentar contra argumentar e simplesmente fechei os olhos.
Se eu pensei que ele ia me acordar assim que o meu celular despertasse, eu estava muito enganada. Quando eu finalmente despertei, o céu já estava escuro.
Tateei pela cama, percebendo que eu estou completamente coberta e que meu celular não estava em lugar nenhum por aqui. Me levantei e andei cuidadosamente pelo quarto até achar o interruptor, mas nem assim consegui encontrar o dito aparelho.
Confusa, desci as escadas à procura de Seth e o encontrei na sala.
- Por que não me chamou? – perguntei ainda meio sonolenta. – Cadê meu celular?
- Desculpa. Quando ele despertou eu entrei em pânico e saí correndo com ele do quarto – sorriu envergonhado. – Eu deixei ele na bancada da cozinha. Eu ia esperar o bolo esfriar para poder te acordar – se levantou e veio atrás de mim.
Peguei o aparelho e o guardei no bolso.
- Eu deixei um presente para você nele – sorriu maliciosamente e voltou para a sala. Arqueando a sobrancelha, peguei o celular novamente e o desbloqueei, percebendo que tem uma mensagem de Seth no whatsapp. Curiosa, abri a foto e grunhi.
- Isso é sacanagem! – reclamei alto da cozinha, indo atrás dele, pisando pesado.
- Foi você quem me fez pensar nessa possibilidade – deu de ombros. Grunhi novamente. Abaixei o olhar novamente para a foto que ele tirou enquanto eu dormia, absolutamente constrangedora.
- Nunca mais durmo perto de você – resmunguei, me sentando ao seu lado, ainda olhando a foto.
- Por quê? Você está tão fofa – sorriu e beijou minha bochecha. Suspirei.
- Seth, acho que nem minha mãe ia falar que eu estou fofa nessa foto – bloqueei o celular e o joguei na mesinha de centro.
- Eu aprecio todos os detalhes referentes à você – piscou um olho para mim, galante. Balancei a cabeça negativamente, desistindo da conversa.
- Você deixou o bolo queimar? – perguntei, mudando de assunto. A casa não cheirava à coisa queimada, mas vai saber...
- Mas é claro que não! – disse indignado. – O bolo está perfeito! – revirei os olhos. – Talvez já dê para a gente comer. Vamos – segurou minha mão e me guiou até a cozinha.
Para o crédito dele, pelo menos visualmente o bolo realmente parecia perfeito. E como eu acompanhei de perto todo o processo de fabricação, eu posso garantir que o gosto também está.
- Faça as honras então – gesticulei para ele e me sentei, esperando. Eu não vou perder meu tempo oferecendo ajuda ou tentando ajudar porque eu já sei que ele não vai deixar, e eu ainda estou com sono demais para discutir essas futilidades.
Ele sorriu e o partiu, colocando uma fatia para mim e depois me dando uma xícara de chá. Arqueei a sobrancelha.
- Você prefere chá, não é?
- Sim, mas você já tinha feito o café...
Deu de ombros.
- Eu só furtei um pouco da água quente e a desviei para outro lugar. Não deu trabalho nenhum – concordei com a cabeça, rindo.
- Obrigada – sorri. Provei o bolo e arqueei a sobrancelha. Ele me fitou parecendo cabisbaixo.
- Ficou ruim? – neguei com a cabeça.
- Não. Tá muito bom... É só que eu não pensei que você tinha realmente aprendido a fazer bolo... Eu estava pensando algo muito menos perfeito – admiti.
- Poxa, valeu... – resmungou, mas sorriu logo em seguida. – Então está perfeito? Está bom mesmo?
- Comprove você mesmo – falei, enquanto comia. – Eu gostei – dei de ombros.
Seguindo minhas palavras, ele provou sua própria comida e me encarou, como se não acreditasse.
- Eu disse – sorri.
Quando terminamos de comer, ele recolheu as coisas e me encarou com a sobrancelha erguida quando eu não me mexi da cadeira.
- Sem discussão dessa vez? Sem reclamar, sem fazer cara feia e nem me xingar mentalmente? – ri e me levantei, parando ao seu lado na pia.
- Eu estava me questionando se valia a pena o esforço... "Mas você cozinhou, então eu quero pelo menos fazer isso" etc, etc... Eu não estou no clima pra essas coisas – sorri de canto e agarrei a gola de sua camisa e o reboquei até a cadeira, obrigando-o a sentar. – Mas já que você me poupou o trabalho... – me virei para a pia novamente, depois de piscar um olho para ele.
Eu não esperei que Seth fosse de fato me deixar fazer isso, mas a falta de reação dele me deu uma boa dianteira. Quando ele finalmente se levantou, não faltava muita coisa.
Ele se aproximou pelo meu lado.
- Você jogou pesado – resmungou e desligou a torneira. Me virei vagarosamente para poder fita-lo e ele sorriu arrogante.
- Seth, pelo amor, falta um prato e uma xícara! – abri a torneira novamente e ele tornou a fechá-la. Suspirei pesadamente.
Estiquei a mão para poder abrir novamente, mais me divertindo com a briga infantil do que me irritando.
- Se você abrir esse troço de novo, eu juro que você vai se arrepender – ameaçou. Sorri desafiadora.
- Ah, vou? – arqueei a sobrancelha e vagarosamente a abri. Quando a água chegou em seu fluxo anterior, ele sorriu.
- Eu avisei – e antes que eu pudesse ter qualquer reação, sua mão que estava na parte de cima foi para onde a água descia, fazendo um belo esguicho em minha direção. Rindo a ponto de precisar se segurar na borda da pia, ele fechou novamente o registro, e tudo o que eu podia fazer era encará-lo sem a menor reação...
Cruzei os braços, arquitetando minha vingança.
- Desculpa, eu não imaginei que fosse molhar tanto... – se ajeitou, puxando grandes quantidades de ar, tentando parar de rir. Sorri cruelmente e seu riso morreu instantaneamente.
- Não tem problema – falei. – Essas coisas acontecem... – dei um passo em sua direção.
- Vingança é feio! – tentou argumentar. – Foi só uma brincadeira inocente.
Arqueei a sobrancelha. A parte da frente do meu casaco estava toda encharcada.
- Por que esse medo? – falei suavemente e ele deu um passo para trás. Olhei rapidamente para o lado, sem virar a cabeça, calculando mais ou menos o quão longe eu estava do meu alvo. Não falta muito...
- Porque você está me assustando... Parece que você quer me prender na máquina de lavar! – deu mais dois passos para trás quando eu andei outro em sua direção. Sorri.
Quando ele percebeu minha intenção já era tarde demais.
Acontece que a casa de Seth tem aquelas torneiras que tem um tipo de "chuveirinho" do lado, e ele era o meu alvo desde o princípio. Quando eu estava perto o suficiente para agarrá-lo, Seth não teve tempo de se desviar e muito menos de me impedir.
O riso parecia que vinha do meu estômago, tão alto era a minha gargalhada.
- Pronto, agora estamos quites – sorri, ainda rindo um pouco. Seus olhos ardiam em minha direção, travessos. – Ou não... – não tive tempo de fugir quando ele pegou minha arma e a usou contra mim, me molhando mais ainda.
Nossa disputa durou por algum tempo, até não ter mais um pedaço de pele ou tecido em nossos corpos seco – e nem um pedaço da cozinha seca também...
- A gente fez uma bela bagunça – comentou enquanto ia à área de serviço buscar panos e baldes para a gente começar a ajeitar a cagada que a gente fez.
- Pois é. Trégua? – falei, esticando a mão em sua direção, em um sinal de paz, que ele aceitou prontamente.
Traiçoeiramente eu o puxei, fazendo ele deslizar e consequentemente escorregar, por causa da meia molhada, e comecei um ataque de cócegas. Ele tentou me impedir, mas eu sou muito mais ágil, e ele tem uns pontos sensíveis muito bons para serem usados nesses momentos. Ele ria, desesperado, tentando se libertar, até ele escorregar e cair, e me carregando consigo.
- Chega, por favor – pediu, e me abraçou apertado, prendendo minhas mãos contra seu peito. – Chega. É sério. Eu não consigo respirar – falou sofridamente, respirando mais rápido do que o normal.
- Desculpa – também tentei controlar minhas risadas. – Eu te machuquei? Você caiu bem feio...
- Eu vou sobreviver – sorriu e parou para me olhar.
Sem perceber, no meio de toda essa confusão, a gente tinha parado numa posição bem comprometedora. Seu rosto à centímetros do meu, seus braços ao meu redor, me apertando mais contra si agora que percebeu, tanto quanto eu, como a gente está.
Eu posso sentir todo o seu corpo, os leves tremores que ocorrem de vez em quando, provavelmente por causa do frio, seu peito subindo e descendo com sua respiração descompassada...
Ele se mexeu um pouco, seu sexo roçando contra mim. Deixei um grunhido escapar. Seus olhos diziam muita coisa nesse momento. Será que os meus estão entregando a ele tanto quanto os seus estão me entregando? Eu não sei dizer.
- Precisamos trocar de roupa – falei por fim, com medo de confirmar se eu estava sendo tão transparente quanto ele nesse momento. – Caso contrário nós dois vamos adoecer.
Ele suspirou.
- Você tem razão – disse, mas seus braços não afrouxaram o aperto e ele não dava sinais de que iria se mexer. Apoiei minha testa em seu colo. Sua respiração se acalmou vagarosamente e por fim seus braços cederam em meu corpo.
Me ergui cuidadosamente para não machucar ele, apoiando minhas mãos uma em cada lado de seu rosto e me ajoelhei. Tentei não me prender ao fato de que eu ainda estou em uma posição comprometedora...
Tentei conter o sorriso pervertido que brincava em meus lábios, alguns pensamentos nada puros me assolando. Seus lábios se entreabriram, prendendo minha atenção.
Meus joelhos doíam por causa da posição em que estávamos, então sem me importar muito com o que eu estou fazendo, eu simplesmente me sentei em sua barriga. Sua falta de reação me fez soltar uma risadinha, o sorriso malicioso se alargando mais em meus lábios. Eu sei que eu corro o risco de acabar perdendo o controle da situação, mas eu quero ver até onde eu consigo forçar ele até ele voltar a reagir... Contraditório? Muito. Mas esse tipo de diversão sempre foi meu fraco. Poder provocá-lo me faz não ligar muito para as consequências.
Seth me olhava, absolutamente paralisado, sem qualquer reação. Voltei a apoiar as mãos ao lado de sua cabeça. Se ele se esticar um pouco ele é capaz de me alcançar...
Me inclinei, os olhos fixos em seus lábios, e só então suas mãos reagiram, mas ele ainda parecia muito confuso, então só as apoiou em meu quadril. Desviei de seus lábios e depositei um beijo em sua testa.
Eu mantive os lábios ali por alguns segundos e então me afastei, sorrindo. Seth não parecia insatisfeito em como as coisas tinham terminado. Na verdade, seus olhos brilhavam com felicidade.
Me levantei e estendi a mão para ele, que arqueou a sobrancelha para mim, desconfiado. Sorri um pouquinho de canto. Eu acho que ele não esqueceu que eu fui a causa de sua queda...
Quando ele finalmente resolveu aceitar minha mão, eu o puxei e me afastei, levando os panos para a cozinha, um tremor violento de frio percorrendo meu corpo.
- Você devia trocar de roupa primeiro – ele disse, me alcançando rapidamente. Colocou o balde no chão.
- Eu não tenho roupa aqui – falei, espalhando os panos pela cozinha, tentando impedir que a água fosse para baixo das coisas. – Além do mais, é muito raro eu ficar doente, então eu não estou exatamente preocupada com isso...
Ele arqueou a sobrancelha e parou de fazer o que estava fazendo e me olhou com um olhar que significava muita coisa... Eu fui a pessoa que disse há menos de cinco minutos que se a gente não trocasse de roupas, ficaríamos doentes...
- Tá, eu já sei! – revirei os olhos. Aquilo foi só a primeira coisa que eu pensei para nos tirar daquela situação... – Mas isso não muda o fato de que eu não tenho roupa aqui e que teria que ir para casa para poder fazer isso – disse por fim, ainda focada na tarefa de secar a cozinha.
- Você pode pegar alguma coisa no meu guarda-roupas... Uma blusa e uma calça de moletom qualquer já é melhor do que você ficar molhada... – suspirei.
- Tá – desisti ao perceber seu olhar determinado. – Mas você trate de trocar também.
Ele concordou e foi ao seu quarto, comigo logo atrás... O que eu estou fazendo?
Eu nunca tinha de fato reparado aonde ele guarda as roupas, e só agora eu entendi o porquê. O "guarda roupas" dele é uma porta de correr praticamente escondida, que só percebe quem sabe o que está procurando, da cor da parede e muito discreta.
Ele entrou no closet e saiu de lá com uma blusa, um casaco e uma calça de moletom e me entregou.
- Você sabe onde fica o banheiro – disse e sorriu, voltando para dentro do closet, provavelmente para se trocar ali dentro mesmo. Dei de ombros e segui sua instrução.
Não me dei ao trabalho de trancar a porta, já que eu sei que ele não vai entrar. Me despi rapidamente, ficando só com as peças íntimas, e coloquei as que ele me deu. Torci o máximo que pude minhas roupas na pia, e saí com elas na mão, sem saber exatamente o que fazer.
Quando saí do banheiro, ele já me aguardava, então pegou minhas roupas e desceu com elas.
Arqueei a sobrancelha.
- O que? – entrou novamente na área de serviço e colocou nossas roupas na máquina e depois jogou uma capsula de sabão em pó lá dentro. – Eu sou um desastre na cozinha, mas no resto eu me salvo! Não precisa ficar me olhando com essa cara.
- Ok, desculpa – ri. – Eu realmente não levei em consideração que você fica sozinho a maior parte do tempo e que tudo aqui está sempre muito organizado.
- Percebi...
Depois que terminamos de ajeitar toda a bagunça que fizemos, me virei para ele, para poder me despedir.
- Eu preciso ir – falei. – Já tá ficando tarde. Mas eu me diverti. E obrigada pelo bolo.
Ele pareceu tristonho, mas não contestou.
- Eu te levo – pegou o casaco e saiu, destravando o carro. Entramos e em pouco tempo ele já estava parado em frente à minha casa. – Tem certeza que não quer ficar lá em casa? Agora tem bolo – falou, meio brincando, meio esperançoso. Sorri.
- Eu adoraria, na verdade. Mas a gente tá dormindo junto praticamente todo dia... Eu não sei até onde isso é saudável...
- Por que você precisa ser tão racional com algumas coisas? – bufei.
- Seth, é sério, quantos amigos você conhece que dormem juntos todo dia? – ele deu de ombros, sem se abalar.
- Eu não vejo problema. A gente não tá fazendo nada de errado. As pessoas do colégio não sabem disso, mas se soubessem, também não faz diferença... Uma fofoca a mais ou uma a menos não vai mudar nossas vidas. Você também nunca me assediou de madrugada, então eu posso confiar em você... – deu de ombros.
- Haha. Muito engraçado.
- Eu entendo o seu ponto de vista, eu acho... Mas me diz: o que tem de errado?
Suspirei.
- É intimidade demais. É proximidade demais. Caramba, a gente dorme mais junto do que meus pais dormiam! – ele revirou os olhos e me deu um sorriso malicioso. – Você entendeu...
- Tudo bem... Eu só gosto de ficar com você. E tem alguma coisa quase medicinal em dormir contigo. Já fazia anos que eu não dormia bem assim. Não sei, eu me sinto relaxado.
Me senti um pouco culpada por não admitir que eu geralmente durmo melhor quando estou com ele também. Que desde que a gente passou a ter essa relação estranha de dormir juntos, eu tenho tido muito menos insônia e consequentemente, minha vida melhorou bastante.
Eu sei que eu provavelmente vou me arrepender depois por ser muito mole, mas no momento, eu só vou seguir minha vontade...
- Tá bom. Mas só hoje – cedi. – O resto da semana está proibido! Não adianta nem tentar! – alertei. – Entendido? – ele concordou bastante com a cabeça e depois sorriu. – Vai buscar suas coisas. Eu não vou voltar, não – ele riu.
- Que exigente... – arqueei a sobrancelha. – Ok, ok, estou indo.
- Vou deixar a porta aberta, então é só entrar. Você já sabe onde colocar a chave depois disso. Eu vou subir e vou tomar banho – saí do carro sem esperar sua resposta e fui fazer o que eu disse que faria.
Antes de eu sair do banheiro eu escutei o barulho da porta lá embaixo, e depois o barulho da porta do meu quarto. Fiquei com pena de jogar a roupa que ele me emprestou no cesto, por motivos de eu ter usado pouco mais de trinta minutos e não ter dado tempo de sujar, então mantive a calça e o casaco – que quase me engole -, mas é confortável e quentinho.
Saí do banheiro e Seth já estava confortavelmente me esperando em minha cama. Revirei os olhos, mas não disse nada. Só andei até o interruptor de luz e o apaguei, iluminando meu caminho com a lanterna do celular.
- Você ficou chateada comigo? – perguntou.
- Por que eu ficaria? – dei de ombros. – Eu que disse que você podia vim...
Me ajeitei na cama e me cobri.
- Você ficou com a roupa que eu te emprestei – sorriu.
- Eu fiquei com pena de pegar outra, já que eu não tive nem tempo de me sujar...
- Ficou boa em você – murmurou em meu ouvido, me fazendo arrepiar. Seus lábios roçaram levemente em minha pele, e então desceram, encostando gentilmente em mim até a minha bochecha. Eu pensei que ele fosse continuar, que fosse seguir o caminho até meus lábios, mas ele se deteve.
- Não me provoca – avisei e pedi ao mesmo tempo, a vontade de quebrar essa pequena distância crescendo cada vez mais em mim. Por mais que eu tentasse averter meu olhar, ele acabava voltando para seus lábios. Seu sorriso falhou por alguns momentos, mas ele logo se recompôs.
Fechei os olhos e me virei, preferindo ignorar do que arriscar continuar com esse jogo de quem tem mais autocontrole. Pelo visto nenhum de nós dois é muito bom nisso...
O resto da semana passou rapidamente. Como o prometido, nós não voltamos a dormir juntos, e para a minha surpresa Seth nem sequer comentou sobre isso... Eu pensei que ele tentaria burlar no dia seguinte, mas ele manteve sua palavra.
Escutei quando seu carro parou em frente à minha casa. Eu ainda não acredito que estou fazendo isso...
Um pequeno arrependimento de ter lembrado para ele sobre hoje batia de vez em quando, mas tentei não me prender a isso. Não seria justo com ele dar para trás agora.
Desci as escadas vagarosamente. Quando finalmente cheguei à porta, ele já me esperava lá, sorrindo. Seth esticou o braço para mim, galante, me fazendo rir, e me acompanhou até a porta do carro, abrindo-a em seguida.
- Que cavalheiro – tirei sarro e ele riu.
- Desculpa, não resisti...
Ele dirigiu concentrado, cantarolando baixinho as músicas que tocavam no bluetooth do rádio, que eram transmitidas por seu celular. O festival era na área comercial onde fica localizada aquela sorveteria, que foi onde saímos juntos pela primeira vez...
Os acontecimentos daquela noite são quase inconcebíveis para mim hoje. Em pensar que ele mudou tanto... Até hoje ele se desculpa por causa daquele dia e se recrimina por causa das coisas que ele falou ou fez no passado, mas aos poucos eu estou conseguindo fazer ele conviver em paz com essas coisas. O que importa é que ele não pensa mais dessa forma.
Seth estacionou o carro não muito longe do local, o que facilitou bastante nossa vida.
- Tá muito mais cheio do que eu pensei que estaria – ele admitiu, olhando em volta as barracas. Ele segurou minha mão e entrelaçou seus dedos aos meus, me guiando animadamente até o local.
Pela sua atitude, a ideia era aproveitar tudo o que o local proporcionava, principalmente os jogos.
Seth gastou uma quantia que eu achei insana pra tentar pegar um ursinho de pelúcia que ele falou que combinaria comigo naquelas máquinas de garra, mas falhou miseravelmente. Na última ficha eu tomei a frente e peguei o bendito bicho.
Ele me encarou, perplexo.
- Como você pode ser tão boa nisso? – olhou o pato em suas mãos e o estendeu para mim, sorrindo.
- Anos de prática – sorri e aceitei, sabendo que não adiantaria recusar. O Seth consegue ser mais teimoso do que eu... – Obrigada.
- Vamos, tem outras coisas que eu ainda quero tentar – voltou a me levar pelo local, parando em barracas enquanto testava suas habilidades. Tudo o que eu fiz foi rir pela maior parte do tempo. Ele é absolutamente péssimo de mira.
Disputamos em algumas coisas também. Alguns ele ganhava, em outros eu me saía melhor, mas nenhum de nós dois se importava de verdade com os resultados...
Ele me levou para uma área menos movimentada e me virou para si antes de parar.
- Feliz aniversário – sorriu e me estendeu um embrulho. Suspirei. Eu pensei que ele tinha desistido...
Peguei o embrulho que ele me oferecia e abri, olhando o conteúdo estupefata.
- Uma mochila? – falei, sem acreditar.
Ele deu de ombros.
- Eu não fazia ideia do que te dar, mas um dia passando na frente de uma loja eu vi isso e lembrei que sua mochila é mais velha do que eu, então aproveitei – revirei os olhos com o exagero e sorri.
- Obrigada – agradeci com sinceridade. Abri a mochila para guardar o patinho de pelúcia que ele me deu dentro dela e travei. Arqueei a sobrancelha e olhei para ele novamente, que tinha um sorriso culpado no rosto.
- Não era pra você ter descoberto perto de mim – se adiantou. – Assim você ia surtar, mas não ia querer me dar um chute porque eu já não estaria por perto...
Dentro da mochila estava cheio de coisa. Bom, para ser mais exata, estava cheio de doces e guloseimas. Escolhidos com cuidado, pelo que parece, porque não vi nada aqui dentro que eu não posso comer...
- Obrigada, Seth. De verdade. Eu adorei – ele me deu um abraço rápido, mas apertado. – Eu só quero colocar isso no carro, para não correr risco de acabar estragando logo de cara... – ele segurou minha mão e recomeçou a andar.
-Então vamos, ainda tem muito mais coisa para a gente fazer.
Roi, meu amores, tudo bom? :]
Como vocês estão? Estão felizes? Consigo pensar em pelo menos duas pessoas nesse momento que estão tentando descobrir meu endereço pra vim atrás de mim kkkkkrying - e elas sabem quem são!, ai ai
Mas então é isso. Pra todas as outras pessoinhas que chegaram até aqui e estão com intuitos violentos, lembrem-se que eu amo todos vocês kkkk
Até o próximo.
Fran
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