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Capítulo 12

Acordei mais cedo do que o normal, mas não por causa do meu despertador. Por algum motivo, depois da conversa que tive com Lucy ontem à noite, vários pensamentos me assolaram a noite inteira, e quando eu finalmente peguei no sono, não demorou muito para eu despertar novamente.

Me ajeitei na cama, apoiando minha cabeça nos braços enquanto encarava o teto. Suspirei pesadamente. Aonde foi parar todo aquele sono que eu estava depois de sair do vestiário?

Pensei em assistir vídeos até a hora de me arrumar, mas o início de uma dor de cabeça me fez bastante ciente de que essa era uma péssima decisão. Já vi que hoje vai ser um dia daqueles...

Me levantei da cama e me arrastei até minha escrivaninha de estudos e liguei o computador. As palavras da Lucy não saíam da minha cabeça. Embora eu tenha tentado me manter alienada sobre os ataques, eu acho que é uma boa hora para começar a saber o que está acontecendo, já que eles se fizeram presentes tão perto da minha casa da última vez.

Abri o navegador e comecei a ler os jornais e as notícias sobre os ataques que estão acontecendo desde o início do ano. Os ataques não pareciam ter o mínimo de correlação entre si, mas existiam padrões nos ataques que as autoridades descartavam como sendo mera coincidência.

Testemunhas e vítimas descreveram os agressores como sendo homens brancos, com idades variadas de 17 até mais ou menos os 35. As vítimas que deram entrevistas anônimas eram LGBTQI+ ou negros, imigrantes etc. Os ataques eram em grupos de pelo menos sete pessoas.

Me senti mal. Cada notícia nova que eu lia me fazia sentir pior. Tanto por medo quanto por imaginar o que cada uma dessas pessoas passou no momento.

Quando eu não aguentei mais a sensação de inquietação que estava surgindo em mim, desliguei o computador e fiquei andando pela casa, procurando o que fazer para distrair minha cabeça. Acabei na área de serviço, colocando as roupas que seriam lavadas no final de semana dentro da máquina.

- Aconteceu alguma coisa? – olhei para trás, sobressaltada. Minha mãe estava encostada no batente me encarando com olhos cansados.

Dei de ombros e voltei a enfiar as roupas dentro da máquina, sem sequer me dar ao trabalho de separar.

- Você sabe que se misturar tudo isso e enfiar tudo de uma vez na máquina ela provavelmente nem vai ligar, né? – falou e depois suspirou. Se aproximou de mim e segurou minha mão quando eu estava prestes a colocar algumas calças jeans lá dentro.

Me afastei e me encostei na parede enquanto ela retirava tudo de dentro da máquina e colocava de novo dentro do cesto. Cocei a nuca, ainda me sentindo inquieta.

- Você não respondeu a minha pergunta – ressaltou.

- Nada. Não aconteceu nada – mamãe arqueou uma sobrancelha, sabendo que eu estava omitindo alguma informação. – Eu estava sem sono e fui pesquisar sobre o que está acontecendo recentemente... Sobre os ataques... Sei lá, depois da vigésima notícia, eu já estava me sentindo incomodada demais para conseguir voltar pra cama, então vim fazer alguma coisa.

Ela me olhou com empatia. Vez ou outra ela discutia comigo sobre essas coisas, e ela sabe o quanto isso me afeta.

- Se precisar de alguma coisa, eu estou no escritório – falou e me deu um beijo na testa antes de sair da área de serviço.

Olhei para o cesto e me sentei no chão, separando as roupas dessa vez antes de entulhar a máquina de lavar de novo. Pouco tempo depois eu já estava na cozinha preparando um café da manhã super adiantado.

Depois de preparar o café da manhã eu já não tinha mais absolutamente nada para fazer, então voltei para o quarto. Peguei o celular na cômoda ao lado da minha cama para mexer em alguma coisa. Pensei momentaneamente se o Seth realmente viria se eu ligasse para ele, mas descartei a ideia antes que eu fosse insana o suficiente para acordar o pobre.

Resolvi apenas mandar uma mensagem, comentando que estava sem sono e que estava perambulando pela casa que nem assombração e que o tédio de não conseguir voltar a dormir estava me fazendo surtar.

Ainda são 2h da manhã e eu espero não acordar ele por causa da minha mensagem.

Quase morri do coração quando meu celular começou a tocar por causa de uma chamada de vídeo de Seth.

- Desculpa, eu te acordei? – falei assim que a chamada conectou. Ele sorriu e fez que não com a cabeça.

- Eu também não consegui dormir. Eu estava vendo filme quando sua mensagem chegou – como se para confirmar seu álibi, ele virou a câmera para a televisão e depois se filmou melhor, todo empacotado com um cobertor, deitado no sofá da sala. – Mas confesso que o filme está um saco – ri. – Aonde foi parar todo aquele sono que você estava sentindo quando eu te deixei aí? Você não ficou estudando até tarde e perdeu o sono, não é? – arqueou uma sobrancelha.

- Também estou me perguntando isso – falei. – E não. Eu nem sequer mexi no meu material escolar. Fui direto tomar banho e dormir. Mas acho que saber que aconteceu um ataque tão perto de onde a gente mora me incomodou mais do que eu pensei. Eu cheguei a apagar, mas foi por pouquíssimo tempo.

- Sua mãe está em casa? Já conversou com ela?

- Está. Eu esbarrei com ela na área de serviço – ele arqueou a sobrancelha, tentando entender o que eu quis dizer com isso, mas eu apenas balancei a cabeça negativamente, dizendo para deixar o assunto de lado. – Ela tá ocupada. Voltou para o escritório. Não quero atrapalhar ela com essas coisas.

- Minha proposta ainda tá de pé – falou depois de algum tempo. Ri achando graça.

- Claro. Seria lindo ver você saindo da sua casa de madrugada para vir para a minha dormir de conchinha comigo – apesar de eu saber que minha mãe não ia sequer se importar, ser descoberta fazendo essas coisas também é pedir pra passar vergonha demais desnecessariamente.

Ele sorriu travesso.

- Eu não falei nada de ir aí dormir com você – quase me bati por ter caído no truque dele. – Você considerou, não é? Me chamar. Por isso me mandou a mensagem – fiz careta enquanto ele se ajeitava no sofá, se sentando.

- Não sei do que você está falando – respondi evasiva. Óbvio que ele não se convenceu. – Eu não te ligaria para pedir isso. Não sou sem noção a esse ponto.

- Você não precisou me ligar. Quem ligou foi eu – arqueou a sobrancelha. – Eu estou à disposição, é só me dizer o que você quer – sorriu e eu revirei os olhos.

- Conversar é o suficiente. Já que o filme "está um saco", acho que você não vai se importar, não é?

- Escapou bem dessa – brincou. – Mas é sério. Eu gostaria que você fosse sincera comigo com relação a essas coisas, já que fui eu quem disse que você poderia me ligar caso precisasse de qualquer coisa.

Suspirei. Eu sei que eu vou me arrepender de abrir minha guarda assim, mas pelo menos dessa vez eu vou ser sincera.

- Ok. Eu pensei por um breve momento se você realmente viria se eu te ligasse – admiti e seu rosto se iluminou. – Mas eu não pediria isso de você. Está tarde, e é perigoso ficar andando por aí a essa hora. Fora que eu seria bombardeada por alfinetadas e olhares com duplo significado por parte da minha mãe pelo resto da minha vida – ele riu.

- Drama, drama. Aposto que sua mãe sequer se daria ao trabalho de te sacanear por causa disso. Muito... – completou logo depois me arrancando um sorriso. O pior é que eu sei que ele está certo. Ela provavelmente só iria me sacanear quando o visse, quando a gente fosse para o colégio. Isso se ela o visse, já que ela está soterrada de trabalho e não vai sair do escritório nem tão cedo. Ela provavelmente já não falaria nada amanhã. – Eu chego aí em dez minutos.

- Ok – falei e depois arregalei os olhos. – O QUÊ?! Seth, você tá doido?

Deu de ombros enquanto se levantava.

- Você não quer? – perguntou meio em pé, meio sentado no sofá. Sua pergunta me pegou de guarda baixa e tudo que eu consegui fazer foi abrir e fechar a boca que nem uma idiota, sem ter agilidade o suficiente de pensamento para mentir. Ele sorriu. – Chego aí em dez minutos – repetiu e encerrou a chamada.

Continuei olhando para o celular em minha mão, um turbilhão de pensamentos em minha cabeça. Mas que diabos!

Levantei e fui até o guarda roupas para colocar a calça do pijama e um sutiã. Olhei meu cabelo no espelho e ajeitei o melhor que pude, e depois fiquei na sala esperando.

Não demorou sequer dez minutos para ele chegar. Abri a porta e ele entrou. Tranquei a porta novamente e subi para o meu quarto, rezando pra minha mãe não sair do escritório agora. Quando finalmente fechei a porta do meu quarto atrás de nós, tudo o que eu pude fazer foi ficar encarando ele, que sorria feito criança travessa.

- Você é inacreditável, sabia? Eu quase te deixei trancado do lado de fora.

- Eu sei que você não faria isso comigo – sorriu e retirou a mochila das costas, colocando sobre a minha cadeira da escrivaninha. Passou a mão pelos cabelos, bagunçando mais ainda. É a primeira vez que eu os vejo tão rebeldes assim sem ele ter acabado de sair do banho. – E então, ainda quer conversar ou quer tentar dormir? – seu sorriso se alargou ainda mais quando eu praticamente me neguei a responder, só encarando ele com os braços cruzados, parada no meio do quarto.

- Você é inacreditável – repeti, sem saber o que dizer. – Vamos dormir. Foi pra isso que você veio, não é? – resmunguei por fim, empurrando ele para a cama enquanto eu ia apagar a luz do quarto.

Ele se deitou obedientemente, sem fazer graça. Parei na frente da cama, hesitando. O pensamento de "por que eu estou fazendo isso? O que diabos está passando na nossa cabeça pra gente fazer essa merda?" me assolava.

- Sam, você é muito certinha. Você tem que viver mais aventuras como essa, para ter o que contar quando for mais velha. Seja rebelde, audaciosa – ele se sentou na cama e segurou minha mão, entrelaçando seus dedos aos meus, e me puxou, me fazendo cair sobre seu corpo.

Seus braços envolveram minha cintura enquanto ele me abraçava apertado. Tentei me libertar e fugir, mas Seth não afrouxou até eu parar de me debater. Respirei fundo, deixando seu perfume invadir minhas narinas, relaxando aos poucos. Apoiei minha testa em sua bochecha e depositei um beijo em seu pescoço, fazendo-o estremecer. Sorri. Uma pequena vingança. Um leve som borbulhou por sua garganta, escapando por seus lábios. Ops.

Seu abraço estreitou um pouco mais ao meu redor, e ele me puxou mais para cima, meu rosto ficando à centímetros do seu. Seus olhos perderam o leve brilho brincalhão, sendo substituído por desejo, simples e puro. Seth levantou a cabeça, parando bem perto de meus lábios, e então desviou e depositou um beijinho na ponta de meu nariz. Sorri descansando minha testa à sua, os olhos de nós dois fechados.

Apoiei as mãos na cama, ao lado da sua cabeça e ergui meu tronco. Dessa vez seus braços não me prenderam, ele apenas me deixou ir. Peguei o cobertor que estava em nossos pés e nos cobri, e deitei a cabeça em seu peito, me aconchegando.

Senti seus lábios em minha cabeça enquanto ele iniciava uma carícia em minhas costas. Fechei os olhos, ouvindo o ritmo acelerado do seu coração, tentando dormir.

- Boa noite, Sam – ele murmurou, sua voz soando distante.

- Boa noite, Seth – respondi já com a voz embargada.

Ouvi meu celular despertando em algum lugar do quarto. Abri os olhos e me lembrei que eu estou dormindo com Seth. Depois de colocar a cabeça no lugar, o que mais me surpreendeu foi o fato de eu realmente ter conseguido apagar depois de ele ter vindo para cá. E o quão rápido isso aconteceu...

Seus braços me apertaram levemente, me impedindo de levantar. Olhei para seu rosto adormecido.

- Seth – chamei baixinho, para não sobressaltar ele. Acariciei seu rosto, subindo minha mão até seus cabelos. Me perdi momentaneamente enquanto alisava os fios, sentindo a textura sedosa em minha pele. – Seth – chamei novamente, mas nem sinal de que ele iria acordar. Pelo contrário. Ele se virou e me puxou consigo, enterrando sua cabeça em meu ombro, me fazendo bastante consciente de que, durante a noite, minha camisa tinha subido um pouco e que uma de suas mãos estava por baixo do tecido, na parte inferior das minhas costas. Respirei fundo. O barulho estridente do despertador continua a soar pelo quarto, e se eu não desligar esse troço logo, daqui a pouco minha mãe aparece aqui. – SETH! – falei um pouco mais alto, e apertei sua bochecha levemente com a mão esquerda, fazendo finalmente com que ele abrisse os olhos. – Bom dia, belo adormecido – tirei sarro. – Se importa que eu desligue o despertador antes que minha mãe apareça aqui no quarto?

Ele me olhou sem compreender, totalmente perdido por causa do sono interrompido.

- O que? Sua mãe vai aparecer aqui pra quê? – perguntou, tentando acompanhar a conversa. Arqueei a sobrancelha. Ainda demorou alguns segundos até ele estar acordado o suficiente para poder entender que ele precisava me soltar para que eu conseguisse sair da cama. – Desculpe – murmurou quando eu finalmente desliguei o som irritante do alarme. Ele se sentou na cama de pernas cruzadas e se espreguiçou.

- Dormiu bem? – perguntei enquanto pegava algumas roupas no closet.

- Muito. Já fazia tempo que eu não apagava assim – disse. Me voltei para ele, olhando seu rosto. Seth não parecia ter dito isso com um pingo de malícia, o que me faz crer que ele foi cem por cento sincero por causa do sono. Suspirei. O pior é que eu posso falar a mesma coisa.

- Levanta, senão nós vamos nos atrasar. Você pode tomar banho no meu banheiro, e eu uso o de lá de baixo – falei já andando em direção à porta do quarto com toalha e as roupas em mãos, fazendo uma pequena pausa antes apenas para pegar minha escova de dentes. – Quando você estiver pronto, me espera aqui no quarto que eu venho te buscar para a gente tomar café da manhã. Tem toalha limpa no guarda-roupas – falei e saí do quarto.

Desci as escadas e dei de cara com mamãe na sala. Ela me olhou e sorriu.

- Bom dia, Sam. Aonde está indo? – perguntou, levando sua xícara com café aos lábios e bebendo um gole.

- É... erm... Ao... Vou... Banheiro... Er... Vou tomar banho – respondi, enrolada, me atropelando nas palavras. Seus lábios se contorceram enquanto ela tentava segurar o riso.

- Relaxa. Eu vi o carro na garagem. Só queria ver a sua reação – senti um peso no meu estômago ao mesmo tempo que um peso saía dos meus ombros. – Eu sei que você preparou um café da manhã de madrugada, mas quando acabar o banho, pode chamar ele que eu estou preparando panqueca pra vocês – confirmei com a cabeça rapidamente e sumi para dentro do banheiro, querendo me enterrar no chão e não aparecer nunca mais. Será que ela acha que eu chamei o Seth pra cá pra gente transar? Eu não duvidaria... Na verdade, acho que qualquer pessoa pensaria isso... Suspirei.

Terminado o banho, subi as escadas e entrei no meu quarto, que está vazio. Olhei em volta, confusa. Geralmente ele termina antes de mim. Será que aconteceu alguma coisa?

- Seth? – chamei, mas não obtive resposta. Andei até a porta do banheiro e dei algumas batidas. – Seth? – falei novamente, dessa vez ouvindo alguma coisa através da madeira da porta.

- Estou aqui – respondeu.

- Aconteceu alguma coisa? Minha mãe fez panqueca pra gente... – ignorei a vergonha que senti ao me relembrar sua expressão.

- Eu estou sem blusa. Eu esqueci minha blusa em casa – falou através da porta. – E eu não posso ir com a que eu vim, porque é obviamente um pijama. Nem a roupa de educação física está comigo.

- Usa ela enquanto a gente toma café da manhã e depois a gente passa na sua casa para poder pegar outra – ele grunhiu do outro lado.

- Você já viu a hora? – questionou. – A gente vai ter muito mal tempo de comer e ir buscar a Lucy.

Peguei o celular que estava no meu bolso e percebi que ele está certo. A gente tem mais ou menos 25 minutos para comer, pegar a Lucy e chegar na escola antes do horário dos portões fecharem. O que que aconteceu com todo aquele tempo que a gente tinha?!

- Então sai daí agora mesmo! – falei, desesperada. – Eu vou ver se encontro alguma coisa pra você vestir.

- Mas...

- Mas nada! Quer ficar barrado do lado de fora do colégio? – ouvi a porta destrancar. Fui até o closet e abri a porta, mas não me mexi. Será que alguma das minhas roupas antigas sequer caberiam nele? Ele é bem maior do que eu jamais fui... Adentrei no espaço e fui para as gavetas que ficavam no canto, que era onde eu entulhava algumas coisas de antes de começar a transicionar.

- Sam, acho que nenhuma roupa sua vai caber em mim – falou bem perto de mim, às minhas costas. Essa é a minha suspeita também.

- Não seja tão descrente – me virei em sua direção com uma camisa em mãos e congelei. Meus olhos seguiram rapidamente por todo o seu torso, analisando minuciosamente cada detalhe. Mordi o lábio inferior e olhei para o chão antes que ele percebesse o que eu estava fazendo. Joguei a camisa para ele. – Veste.

Ele tentou colocar a blusa, mas era pequena demais. Respirei fundo, jogando camisa atrás de camisa para ele tentar vestir.

- Por que você ainda tem tanta camisa dessas? – questionou, depois de tentar talvez a décima peça. Dei de ombros.

- São boas para dormir – olhei as gavetas vazias na minha frente e suspirei. A gente vai muito ficar barrado do lado de fora do colégio.

- Sam, nenhuma camisa chegou sequer perto de caber em mim – choramingou.

Olhei em sua direção. Seth estava despindo a última peça que eu joguei para ele. Analisei seu corpo, mas dessa vez sem segundas intenções.

- Talvez tenha uma que caiba... – falei e me virei novamente para as gavetas. Abri uma e depois fechei. Abri outra gaveta e remexi um pouco, até encontrar uma peça que estava cuidadosamente dobrada e protegida dentro de um plástico, muito bem guardada. – Veste – praticamente ordenei. – Essa eu vou querer de volta depois – avisei. Ele concordou com a cabeça e tirou a blusa de dentro do saco e parou brevemente. Seus olhos analisaram o logo do Slipknot no tecido até seus olhos se arregalarem em entendimento.

- Essa camisa é...

- É – cortei. – Agora vamos – ele vestiu e pegou sua mochila, me seguindo para fora do quarto.

Me sentei à mesa com Seth em meu encalço. Mamãe entrou na cozinha logo em seguida.

- Bom dia, Seth – falou, alegremente. Ela analisou o garoto sentado ao meu lado, seus olhos se prendendo à camisa, mas ela não falou nada. Suspirei.

- Bom dia, Dona Elbe. Desculpa a intromissão – falou, acanhado. Ela soltou uma risadinha.

- Não se preocupe com isso. Você é sempre bem-vindo, não importa a hora – piscou para mim e eu quase soltei um grunhido de constrangimento.

Comemos na velocidade da luz e pouco antes de sairmos, lembrei que esqueci minha mochila no quarto e subi para pegar.

Antes de sair, vi o plástico em que a camisa de Jack estava guardada jogado em cima da cama, então parei e o dobrei, colocando dentro do meu guarda-roupas novamente.

Quando finalmente paramos em frente à casa de Lucy, ela já estava surtando.

- Por que caralhos vocês demoraram tanto, porra? – entrou no carro bufando.

- Bom dia para você também – falei, irônica.

- Até o momento o dia não está sendo bom – respondeu irritada. Revirei os olhos. – Oi pra você também, Seth.

- Ah, oi, Lucy – falou como se o corpo estivesse no carro, mas a alma estivesse à quilômetros de distância.

- Aconteceu alguma coisa com ele? – perguntou se virando para mim, a sobrancelha arqueada. Dei de ombros.

- Sei lá. Até a hora que a gente saiu de casa ele estava normal... – olhei para Seth, tentando entender sua distração. Ele parece muito perdido em pensamentos...

Como se voltando à realidade, ele se virou para me olhar. Seus olhos brilharam com um sentimento que eu não consegui identificar, mas ele parecia magoado.

Seth abriu a boca para falar alguma coisa, mas apenas balançou a cabeça negativamente e voltou a prestar atenção na estrada. Olhei para Lucy por cima do meu ombro, procurando algum tipo de tradução. Ela também parece bem confusa com a atitude dele.

Roubei alguns olhares em sua direção. Ele não parece realmente magoado, só pensativo. Suspirei pesadamente.

- Seth, essa sua cara de bunda está me agoniando – Lucy falou, e eu agradeci mentalmente por não precisar ser eu a falar alguma coisa. – Aconteceu alguma coisa?

- Não é nada. Só estou pensando... – me olhou. – Eu não sabia que você era o tipo de pessoa que se apega a objetos... – sua voz soou um pouco amarga, o que me surpreendeu. É a primeira vez que ele age assim. Lucy também pareceu estranhar, já que cruzou os braços e olhou para ele, arqueando uma sobrancelha.

- É isso que está te incomodando? Você estar usando uma camisa do Jack? Ou saber que eu guardei a camisa dele? – ele não teve reação, mas percebi que suas sobrancelhas se franziram por uns poucos milésimos. Ele está realmente incomodado com isso... – Foi um presente de despedida – falei, mesmo que eu não tenha a mínima obrigação de me explicar. – Obviamente eu não a usaria, então eu só guardei – dei de ombros.

- Muito bem guardada – soltou uma risadinha sarcástica.

- Espera... Por que ele está usando uma camisa do seu ex? – Lucy falou, não sei ao certo se tentando apaziguar ou tentando foder logo com tudo de vez. Ela arqueou uma sobrancelha e me olhou com um sorrisinho malicioso nos lábios.

- Agora não, Lucy – cortei, fazendo ela rir. - Isso é um problema pra você? – perguntei, começando a me sentir irritada, mesmo sabendo que brigar por causa disso é de uma idiotice tremenda. – É um problema que eu tenha algo que me lembre dele?, por mais bobo que seja?

Ele fez que não com a cabeça e não falou mais nada. Bufei tentando controlar minha raiva antes que eu falasse alguma besteira.

Quando o carro parou no estacionamento do colégio, eu abri a porta e saí, bufando, sequer me lembrando de pegar minha mochila. Parei na frente da sala de aula só então dando por falta dela nos meus ombros. Ignorei o fato e entrei mesmo assim na sala, me sentando no meu lugar.

Lucy apareceu pouco tempo depois, carregando minha mochila consigo. Quando se sentou ao meu lado, jogou ela em cima da minha mesa, na minha frente, e se recostou à parede, me encarando.

- O que foi? – perguntei secamente.

- O que foi digo eu – respondeu. – O que foi aquilo no carro? Eu nunca vi vocês brigando antes – dei de ombros, ainda irritada.

- Existe uma primeira vez para tudo, sabia?

- Sim, eu sei. Mas isso não responde nenhuma das minhas perguntas...

- Lucy, eu realmente não estou com humor para essas gracinhas agora. Se quer falar alguma coisa, fala logo.

- OK – sorriu. – Por que ele está com uma blusa do seu ex?

- Eu não disse que iria responder suas perguntas. Se tudo o que você quer é me fazer um questionário, eu estou fora – me levantei e fui andando em direção à saída da sala, para ir ao banheiro, mas ela me segurou.

- Você é idiota ou o que?

- Sim, sim, eu sou uma idiota. Mais o que? – puxei meu braço com força, fazendo ela me soltar, mas não me mexi.

- Eu preciso te dizer o óbvio mesmo? – falou um pouco mais alto. Ainda bem que estamos sozinhas na sala. – Ele está com ciúmes, porra! Eu nem imagino como essa situação toda começou, mas o motivo de ele ter agido como agiu no carro só pode ser esse.

- Ah, caralho. O que você quer eu faça? Que eu peça desculpas porque eu tenho uma blusa do meu ex? Aliás, pra que ter ciúmes de uma pessoa que não está sequer por perto?

- Sam, se acalma! – ela falou, e só agora eu percebi que eu estou tremendo e meus olhos estão ardendo enquanto eu seguro as lágrimas. É ótimo que quando eu me irrito eu fico parecendo uma pinscher chorona, e as pessoas sempre acham que eu sou realmente frágil, mas é só estresse mesmo. – Senta aqui – segurou minha mão e me puxou para a minha cadeira, me fazendo sentar, e eu não fiz nenhuma força contra, só deixei ela me guiar.

Me apoiei no encosto da cadeira e levei minhas mãos ao meu rosto, respirando fundo.

- Ok, eu entendo o lado dele – admiti por fim. – Eu não sei se, na posição dele, eu ficaria satisfeita de receber uma roupa da ex dele para usar depois de passar a noite em sua casa – Lucy puxou minhas mãos do meu rosto, me encarando de cima, em pé ao meu lado.

- Pera. É o que? – comecei a repetir, mas ela me cortou. – Ele passou a noite na sua casa? – soltei um suspiro, me sentindo absurdamente cansada. Concordei com a cabeça. – Por quê?

- Eu estava sem sono. Ele estava sem sono. Uma coisa levou à outra. Não foi exatamente planejado – respondi de forma arrastada, sem a menor vontade de continuar falando.

Contei de forma resumida o que aconteceu.

- Então é por isso que ele ficou meio puto – comentou. – Você não está errada, mas eu também não posso falar que não entendo a chateação dele...

- Eu sei – respondi, secamente. – Eu sei disso. Por ora, eu acho melhor a gente esfriar a cabeça e tentar resolver isso depois. Pode ser que a gente acabe brigando de verdade se tentarmos resolver isso agora – ela concordou com a cabeça.

Ficamos em silêncio quando o professor apareceu. Eu tentei ao máximo me focar na matéria, mas simplesmente não estava dando. Eu pensei até em como a reprodução das borboletas acontece, mas nada de me focar na aula.

Na hora de ir para o clube, deu para sentir claramente que ainda estava um clima pesado entre nós dois, o suficiente para algumas meninas se aproximarem para perguntar se a gente tinha brigado. Eu apenas desconversei, fingindo ignorância. Lucy também me ajudou, praticamente espantando todo mundo que chegava perto com a intenção de perguntar sobre eu e o Seth.

O treino passou absolutamente rápido, como se as horas que a gente passasse na quadra tivessem virado apenas alguns minutos.

- Você já decidiu se vai participar do campeonato? – Lucy falou quando a gente entrou no vestiário. Eu a segui até dentro do box, por motivos de quero enrolar e não estou com pressa. – Você não vai tomar banho? – arqueou a sobrancelha enquanto se despia. Fiz que sim com a cabeça e me encostei à parede. – Ah...

- Estou esperando a confirmação sobre a cirurgia para poder me posicionar sobre o campeonato. Eu não quero me comprometer e depois deixar todo mundo na mão – ela concordou com a cabeça.

- O quanto você pretende enrolar? Sabe que ele vai te esperar, não é? – cruzei os braços.

- Eu sei. Só... Só avisa para ele que eu vou voltar de ônibus... Amanhã eu falo com o Seth – me virei e saí do box, indo para outro para poder tomar banho também.

Me despi rapidamente e entrei embaixo do chuveiro. A água morna que percorria meu corpo me relaxava vagarosamente.

Duas leves batidas me fizeram despertar.

- Estou indo – Lucy falou. – Você quer que eu te espere para ir com você? Eu não quero que você vá sozinha para o ponto e nem para casa...

- Não, tá tudo bem – respondi. – Ainda não está tão tarde, acho que não vai ter tanto risco. Até amanhã, Lucy.

- Até...

Quando saí do vestiário uns 30 minutos mais tarde – que eu enrolei o máximo que consegui, só para garantir – eu tentei não olhar para o estacionamento para confirmar que o carro de Seth não estava lá, mas não consegui. Me deparei com o colégio deserto, assim como o estacionamento. Então a Lucy realmente conseguiu convencer ele a ir sem mim. Sorri. Ou talvez ele ainda esteja chateado o suficiente para não ter se importado se eu voltaria para casa de ônibus.

Peguei o celular na mochila e liguei o fone de ouvido nele e coloquei uma música de uma playlist qualquer para tocar e fui andando para o ponto. Surpreendentemente as ruas estão bem movimentadas, então eu me senti relativamente segura.

No ônibus acabei tirando um cochilo, despertando com a senhorinha que estava sentada ao meu lado me cutucando.

- O próximo é o seu ponto, não é? – perguntou, toda sorrisos. Sorri de volta. A gente pega tantas vezes a mesma condução juntas que ela já até me conhece.

- É sim. Obrigada – sorri novamente e me levantei, dando tchau enquanto ia para a porta. Tirei os fones do ouvido, deixando eles pendurados na blusa. Mesmo que perto da escola estivesse movimentado, eu não sei como está a essa hora no ponto em que eu desço e muito menos o resto do caminho até a minha casa, então eu prefiro escutar atentamente o que acontece à minha volta.

Ajeitei a mochila nos ombros e comecei a andar rapidamente. O céu está escuro e está tudo vazio, mas não é longe, e é bem iluminado.

Quando me aproximei de casa vi uma figura sentada à minha porta, com a cabeça baixa, fitando os pés tão concentrado que estava fazendo careta.

- Ah, merda – falei baixinho. Parei em frente à entrada de carros e ele me olhou. Fiquei parada, sem saber o que falar. Seth também não deu sinais de que iria falar alguma coisa.

Levei minha mão de meu rosto até meus cabelos, respirando fundo, e me aproximei. Peguei a chave no meu bolso e destranquei a porta e fiquei parada meio dentro e meio fora de casa.

- Quer entrar? – perguntei por fim, sem saber mais o que falar. Felizmente ou infelizmente, eu não teria a coragem de entrar e trancar ele do lado de fora, fingindo que eu não o vi sentado ali com cara de filhote abandonado. Ele ainda está com a roupa que eu emprestei para ele, o que me faz questionar se ele só foi para casa para deixar o carro lá.

Ele se levantou e me seguiu calado.

- Olha, Seth...

- Desculpa – ele me cortou. Arqueei uma sobrancelha. – Eu sei que eu não tinha o direito de agir da forma que eu agi hoje de manhã, então me desculpa. Eu sei que você só estava tentando me ajudar... É só que... não sei... eu comecei a pensar em tudo que esse pedaço de pano poderia significar para você... Ou melhor, em tudo que ele ainda significa para você – suspirei.

- Eu não vou te reassegurar de nada – falei, e ele pareceu magoado. – Mas eu também posso te dizer que a gente já tinha terminado muito antes de eu me mudar para cá. O que eu sinto ou senti por ele é algo que pertence somente a nós dois. Mas foi isso... pertenceu. Assim como tudo o que aconteceu naquela época, ficou para trás, e hoje eu não estou mais lá, eu estou aqui.

- Eu pensei que vocês tinham terminado porque você iria se mudar – falou. Fiz que não com a cabeça.

- Existiram motivos. Muitos. E nós preferimos terminar ainda amigos, antes que eu estragasse tudo – ri sem um pingo de vontade, me lembrando do dia. Não é como se eu não tivesse estragado de qualquer forma... – Tudo bem, Seth, eu entendo. Eu admito que eu também ficaria chateada se fosse o contrário – dei de ombros, andando até a geladeira para pegar água. – Quer alguma coisa para beber?

- Por que você se sentiria da mesma forma? – questionou e negou com a cabeça, respondendo a minha pergunta. – Você sabe o porquê eu fiquei daquele jeito? – cruzou os braços, seus olhos brilhando como se esperasse a minha resposta. Peguei a garrafa e me virei para colocar ela na bancada enquanto pegava um copo no armário, mantendo minhas costas viradas para ele cuidadosamente. Eu falei merda. Eu falei uma merda muito grande.

Eu não sou cega para não perceber que ele gosta de mim. Provavelmente gosta o suficiente para não ser mais apenas aquela coisa de ficar, então eu falar que eu também ficaria chateada como ele ficou quer dizer muita coisa. Cocei a nuca.

- Você não vai responder, não é? – falou e eu ri. É claro que não vou responder. O que ele quer que eu diga? Que eu sei que a Lucy estava certa e que provavelmente ele só estava com ciúmes e que eu também tenho ciúmes dele?, fala sério! – Eu gostaria que você fosse sincera comigo pelo menos dessa vez. Eu sei que você não faz o tipo ''garota ingênua que não sabe o que as pessoas à sua volta sentem ou pensam'' – seu olhar penetrante quase me desarmou, mas eu não sou de ceder tão fácil, então apenas sorri.

- Não faço mesmo – se Lucy me escutasse falando isso agora, ela provavelmente gargalharia até não aguentar mais. Suspirei. – Ok. Eu sei que você estava, pelo menos, com ciúmes, e eu também sei o que a minha frase pareceu, mas eu não quis dizer exatamente nesse sentido.

- Então quer dizer que eu não tenho nenhuma chance? – ele se aproximou e apoiou suas mãos no mármore do balcão atrás de mim, cada uma de um lado do meu corpo, e se inclinou um pouco, mas ainda tinha distância o suficiente entre nós para eu ser capaz de passar por baixo de seu braço sem problema nenhum se eu quisesse. – Eu realmente não tenho nenhuma chance? – perguntou novamente, sua voz rouca. – Porque se você me disser isso, claro que eu vou te respeitar – se inclinou um pouco mais. – Mas sinceramente, Sam, não é isso o que sua linguagem corporal indica – Seth deixou um sorriso arrogante escapar e olhou brevemente para o espaço entre nós dois, me fazendo perceber que eu agarrei a camisa que ele está vestindo, puxando-o para mais perto. Engoli em seco, mas não fui capaz de fazer minha mão soltar o tecido. – Eu sei que eu te fiz prometer que não faria mais aquele tipo de coisa a não ser quando fosse pra valer – sussurrou em meu ouvido, me causando um arrepio quando seus lábios roçaram levemente na minha pele -, mas eu também já estou ficando perigosamente perto do meu limite. Cada dia está mais difícil de me controlar – seu rosto desceu, seus lábios se encontrando com a pele do meu pescoço. Mordi meu lábio inferior antes que algum som absolutamente constrangedor escapasse por eles. Criando um pouco mais de confiança por eu ainda não ter falado nada e muito menos tentado me afastar, seu corpo se colou ao meu, suas mãos saíram do mármore e seus braços se fecharam ao meu redor. Dessa vez em que seus lábios se encontraram com meu pescoço não era somente um roçar. Estremeci novamente. A trilha de beijos foi subindo até chegar à minha bochecha e então ele voltou para o meu ouvido, para sussurrar novamente. – Tem certeza que não quis dizer 'exatamente nesse sentido'?

Tentei me concentrar no que Seth falava, mas confesso que era meio difícil. Eu podia sentir todo o seu corpo contra o meu. Meu autocontrole também estava oscilando perigosamente. Segurei a camisa novamente e finalmente olhei para cima, para ele, meu sorriso pervertido escapando contra a minha vontade. Minhas mãos vagaram lentamente por seu peitoral, descendo, até pararem no botão de sua calça, perigosamente perto de seu sexo. Ele grunhiu. Subi minhas mãos novamente, mas dessa vez por baixo da camisa, sentindo seu corpo em minha pele, aproveitando e afastando o tecido, facilitando caso eu decidisse que ele está atrapalhando. Em algum canto na minha cabeça tinha o aviso de que o que eu estava fazendo era uma enorme burrada, mas eu não me importei.

Me estiquei, levando meus lábios até seu pescoço, sentindo seu gosto em minha língua. Tomei cuidado para não acabar deixando uma marca no local. Rocei meus dentes numa leve insinuação de mordida e o senti estremecer. Seus braços me apertaram um pouco quando meus lábios subiram para a linha do seu maxilar. Me afastei um pouco, descendo minhas mãos até o cós da sua calça. Seu rosto desceu de encontro ao meu, sua mão foi para o meu queixo, me fazendo olhar para ele. Olhei fundo em seus olhos. O brilho que eu encontrei ali era sincero. O desejo que o consumia nesse momento era o mesmo que me impulsionava e me fazia continuar. Seth sorriu e encostou sua testa à minha. Vagarosamente Seth fechou os olhos e se inclinou, acabando com o resto da distância entre nossas bocas. Seu lábio sequer roçou o meu quando eu o afastei, totalmente ciente de que eu tinha acabado de escutar o som da porta se fechando. Som esse que foi feito para soar alto propositalmente.

Olhei para o chão começando a corar. Eu tenho certeza absoluta que minha mãe tá parada de braços cruzados, contendo muito mal o riso ao ver a cena constrangedora à sua frente. Eu consegui ser pega em duas situações embaraçosas no mesmo dia! Puta que pariu!

- Boa noite, Sam, Seth – ela falou. Congelei, sentindo vontade de fugir ou de mergulhar no chão da cozinha. Senti os braços de Seth enrijecerem ao meu redor quando ele travou. Arrisquei um olhar para seu rosto. Seus olhos estavam tão arregalados que quase – eu disse quase – me fez rir.

Agradeci a todas as entidades existentes e inexistentes por não ter tirado a camisa dele. Pelo menos dessa vergonha eu me poupei.

- Boa... – tentei falar, mas minha voz saiu estrangulada. Pigarreei, tentando encontrar minha voz novamente. – Boa noite, mãe – retirei os braços de Seth da minha cintura e me afastei. Eu não tenho um pingo de coragem para olhar para a cara da minha mãe nesse momento.

- Boa noite, Dona Elbe – ele sussurrou, fitando o chão como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

- Me desculpe atrapalhar. Eu não pensei que fosse encontrar vocês dois aqui embaixo – sorriu e eu entendi perfeitamente o que ela quis dizer com isso. Gemi. – De qualquer forma, eu já estou indo – andou até a geladeira como se não tivesse visto nada e pegou o chá gelado que ela tinha preparado de manhã. – Seth, querido, vai dormir aqui hoje? – olhei para ele ao meu lado. Ele estava petrificado. Sem chances de conseguir responder. – Bom, você é bem-vindo para passar a noite aqui se quiser. Ah, Sam, eu tirei folga esse final de semana para resolver algumas coisas e trabalhar em algumas coisas pendentes. Eu estarei no escritório caso precisem de alguma coisa – pegou sua bolsa de cima da mesa e seguiu seu caminho como se não tivesse visto sua filha – quase – aos beijos com um cara na sua cozinha.

Soltei a respiração que estava agarrada na minha garganta, e então comecei a rir de nervoso. Seth me olhou com a sobrancelha arqueada, pouco a pouco voltando a vida.

- Ahhh, que merda... Ela vai implicar comigo pelo resto do ano agora... Hoje cedo ela provavelmente deixaria passar, mas dessa vez eu tenho certeza que ela vai ficar me sacaneando...

- Desculpa – falou baixinho e fez um muxoxo. Dei de ombros.

- Você vai ser corajoso o suficiente para ficar? – acho que nenhum de nós dois pode garantir o que vai acontecer mais tarde se ele ficar. Não depois do que a gente iniciou.

- Eu estou realmente tentado. Essa madrugada foi maravilhosa. Já fazia tempo que eu não dormia assim – foi sincero. – Mas eu não sei se seria inteligente...

Senti meu corpo ainda quente. Todo o meu sangue parecia ser direcionado para uma única parte. Desviei o olhar e apoiei minhas mãos nos meus joelhos, respirando fundo. Senti meu rosto esquentar enquanto eu corava. A vergonha batendo com força. Ainda bem que eu estou com uma calça um pouco mais larga hoje. Mordi o lábio inferior, sentindo o incômodo mesmo assim.

- Sam?

- Só... – pigarreei, tentando encontrar minha voz novamente. Por um momento eu tinha me esquecido que isso poderia acontecer. – Só me dá um minuto – pedi. Respirei fundo mais algumas vezes, finalmente me sentindo acalmar. Pouco tempo depois passei a mão em minha nuca, e me ajeitei. Olhei para Seth, que estava com o casaco posicionado estrategicamente à sua frente. Sorri. Ainda bem que não foi só eu. Eu iria me sentir duas vezes pior e mais envergonhada se só tivesse acontecido comigo.

Ele sorriu sem graça quando percebeu que eu notei, mas também pareceu de certa forma aliviado por saber que esse nosso pequeno deslize teve o mesmo efeito em mim.

- Quer uma carona? – perguntei por fim, desviando o foco totalmente do que tinha acabado de acontecer.

- Acho que eu vou aceitar. Não estou muito no clima de voltar andando para casa, por mais perto que seja – sorriu.

Concordei com a cabeça e peguei a chave do carro e a minha chave em cima do balcão e saímos.

Entramos no carro, mas continuamos em silêncio. Parece que só agora está se encaixando em nossas cabeças o que a gente estava fazendo na cozinha. O pensamento mais recorrente em mim era "até onde a gente teria ido se a minha mãe não tivesse aparecido naquele momento?". Por razões muito fortes, eu não tenho tantas dúvidas com relação à resposta.

Pensei brevemente no que Lucy falou, e sobre o quanto a gente finge que nada está acontecendo. Até onde nós seremos capazes de manter a fachada? Pela experiência de alguns minutos atrás, não muito... Talvez nós devêssemos mesmo ser sinceros com relação à tensão sexual que tá surgindo, mas e depois? Obviamente a gente não vai olhar um pra cara do outro e dizer "poxa, eu quero transar com você" e virar as costas e ir embora.

Suspirei. Acho que ela simplesmente quis dizer que é melhor nós dois cedermos de forma consciente do que num momento de volúpia.

Estacionei na frente da casa de Seth.

- Até mais, Sam. Obrigado pela carona, e me desculpa de novo pela forma que eu agi hoje cedo. Eu fui um idiota. Mas eu prometo que amanhã eu te devolvo sua camisa limpinha e cheirosa – sorriu, brincalhão. Soltei uma risadinha.

Lembrei da sensação que eu senti quando beijei seu pescoço, porque seu cheiro invadiu minhas narinas naquele instante, e me questionei se a camisa ficaria com a mesma fragrância que ele estava naquele momento. Talvez não seja uma má ideia se realmente acabar ficando com o cheiro de Seth...

- Espero que você não tenha esquecido que amanhã não tem aula – falei e ele arqueou a sobrancelha. Pelo visto ele esqueceu mesmo. – Hoje é sexta, lembra?

- Ah, é. Verdade – sorriu amarelo. – Bom, se você ou a Lucy decidirem fazer alguma coisa amanhã, eu te devolvo mesmo assim – corrigiu. – Tchau, Sam – se inclinou e depositou um beijo na minha bochecha e depois abriu a porta do carro, saindo logo em seguida.

- Tchau, Seth. Até amanhã talvez – sorri e fui embora, dando um último tchau pela janela.



NOTAS FINAIS:


Espero que gostem. Beijos e até o próximo!

Fran

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