Capítulo 04
Acordei com Lucy se mexendo na cama. Senti minha perna entre as suas e constatei que em algum momento da noite eu me virei e a envolvi em uma conchinha.
Pensei em acordá-la para que eu pudesse me levantar, mas descartei a ideia quando vi que ela estava num sono tão pacífico.
Puxei o braço o mais vagarosamente que consegui de debaixo da sua cabeça, sentindo o sangue voltar a correr e aquela sensação 'maravilhosa' de quando a dormência começa a desaparecer. Tirei minha perna do meio das suas e engatinhei até a ponta oposta da cama e desci pela parte onde nossos pés estavam.
Olhei por sobre meu ombro e constatei que ela ainda dormia tranquilamente. Menos mal.
Desci as escadas e vi mamãe sentada à mesa tomando chá e lendo o jornal no tablet. Depositei um beijo em sua cabeça e me sentei ao seu lado.
- Sua amiga está melhor? – perguntou. Ela parecia bem cansada.
Concordei com a cabeça. Não é a primeira vez que Lucy vem pra cá por causa das brigas dos pais, então minha mãe sabe um pouco da situação.
- Tem pizza na geladeira – falei. – Mas se a senhora quiser eu preparo a janta.
- Não precisa. Eu vou ter que cobrir no trabalho hoje de novo. Parece que vou ter que ficar até quarta-feira direto, mas depois vou ganhar quinze dias de compensação.
- Você vai ficar bem? Não vai ficar muito puxado?
- Eu não tenho escolha. Eles concordaram em me realocar sem pedir muitas informações e nem questionar o motivo...
Suspirei. Isso é verdade. E como ela é "nova" aqui, acaba ficando em uma situação muito delicada para recusar qualquer coisa.
Escutei passos pesados vindo da escada e logo depois Lucy apareceu aqui na cozinha. Seus cabelos estavam uma bagunça e ela coçava o olho, tentando espantar o sono.
- Bom dia, Dona Elbe.
- Bom dia, querida – se levantou e foi para a pia para poder lavar a xícara. – Eu já estou de saída, mas você pode ficar o quanto quiser – falou. – Sam, qualquer problema me ligue – concordei enquanto ela se despedia e saía de casa.
- Quer assistir alguma coisa? – perguntei enquanto pegava um pouco de café para mim e oferecia uma xícara para Lucy.
- Não estou muito no clima – se sentou ao meu lado enquanto encarava seu café.
Suspirei. Parece que dessa vez a situação foi feia...
- E o que você quer fazer então?
- Ficar deitada e dormir o dia todo? Escutar você negando o quanto quer dar uns pegas no Seth? Sei lá...
- Você é uma diabinha – ela soltou um risinho fraco. – Qual é, Lucy, você não pode ficar nesse clima de funeral o dia todo. Vamos pelo menos fazer alguma coisa para distrair a cabeça.
- Não sei, Sam... Eu realmente não quero sair de casa. Mas acho que a gente pode assistir a um filme sim.
Acenei e comecei a pesquisar nomes de filmes no celular para podermos assistir. Sei que Lucy é a maníaca do filme de terror e suspense, o foda é encontrar um que ela ainda não viu...
Depois de muita pesquisa a gente voltou pro quarto e ela se jogou na cama enquanto eu colocava o filme pra passar na televisão.
Fiquei mexendo no celular, procurando outros filmes para assistirmos mais tarde, ou talvez até iniciar uma série, até que me lembrei da mensagem de Seth.
Desculpa sumir ontem. Tive um imprevisto, mas já está tudo certo agora.
Obrigada novamente pelo dia. Mas sobre isso de parecer brilhar, ser mais viva etc, sei disso não rs
Você parece estar prestando bastante atenção em como eu ajo.
Escutei um baque alto vindo da televisão e quase tive um troço. Lucy se virou para me olhar e começou a rir.
- O que? – perguntei irritada.
- Fica prestando atenção no celular, é isso que dá – se sentou e puxou o aparelho da minha mão e leu a mensagem – dei de ombros, sem a menor vontade de tentar esconder dela. – Até por mensagem vocês ficam flertando, puta que pariu... – seus olhos voltaram para a tela do meu celular e ela sorriu maliciosamente.
- O que foi agora? – me deitei na cama e coloquei os braços atrás da cabeça e fiquei olhando para o teto.
Ela virou o celular para mim para que eu pudesse ler:
Fiquei me sentindo um stalker esquisito, mas vou ter que admitir que eu presto muita atenção em você sim. Eu gosto de te observar.
- Eu não sabia que ele era piegas assim – Lucy me cutucou no braço, o sorriso dez vezes mais malicioso do que antes. Desviei o olhar e me virei para a parede para poder esconder meu rosto. – Responde ele.
- O que? Nem pensar! Você vai me encher o saco pelo resto da vida se a gente continuar essa conversa.
- Ah, qual é. O filme tá chatão. Pelo menos assim eu me entretenho e você ainda pode continuar flertando.
- A intenção não era essa, Lucy... Agora que eu percebi que eu faço essa merda, eu nunca mais vou responder ele sem pensar trinta vezes antes – bufei. – Se não quer assistir, eu vou desligar a tv.
- Não, deixa aí. Pelo menos o barulho é legal – estendeu o celular na minha direção e esperou eu pegar, mas eu não me mexi. – Eu vou responder então – ameaçou.
Puxei o celular da sua mão quando escutei barulho de teclas e percebi que ela estava mesmo escrevendo uma resposta.
- Eu quero ver o desenrolar dessa conversa e o quão longe vocês vão... – piscou.
- Ok. Você quer ver o quão longe eu vou? Então beleza... Qualquer merda que acontecer a partir daqui, a responsabilidade é sua – avisei.
O que tem de tão interessante em mim para você gostar de me observar?
Enviei a mensagem me sentindo estranha. Essa é a típica mensagem que você manda quando quer um elogio, ou quando você quer que a pessoa fale mais sobre algo que você já sabe. É a famosa frase de quem ''se finge de bobo'' manda.
Não sei. Eu gosto de ver como você lida com as coisas. Gosto de ver suas expressões, essas coisas. Me faz querer ser mais próximo de você só para descobrir mais coisas a seu respeito.
Senti uma leve vontade de sumir enquanto Lucy lia a mensagem por cima do meu ombro.
Bloqueei o telefone e joguei ele pra debaixo do travesseiro.
- Não vai responder?
Grunhi em resposta.
- Não. Cansei dessa brincadeira. Eu não vou te dar mais munição pra você encher meu saco depois.
- Então me deixa responder. Eu quero ver se ele vai admitir que tá a fim de você.
- Claro. Ótima ideia, Lucy. Maravilhosa! Aí ele admite e eu faço o que, porra? Chego na segunda e finjo que nada aconteceu? Ou você acha realmente que ele não vai esperar alguma coisa? – ela riu, o que só me irritou mais ainda. – Eu estou falando sério.
- Eu sei. É só que ver o seu desespero é engraçado.
- Você é uma sádica, sabia disso? – ela deu de ombros.
- Se você não sabe o que responder, deixa eu falar. Qual é, Sam, desenrola logo essa situação. Seja sincera consigo mesma. Bancar a cupido cansa quando uma das partes não colabora.
- Não me lembro de ter pedido para ser cupido de ninguém. Minha vida amorosa não está aí pra você ficar brincando. Na verdade, prefiro que ela continue como está há dois anos: inexistente.
- Ok, ok. Vou parar de encher o saco. Prometo – se deitou novamente na minha frente e voltou a prestar atenção no filme.
Peguei o celular sob o travesseiro e respondi com uma simples pergunta:
Por quê?
Olhei para o lado e vi que Lucy roncava baixinho. Peguei o controle e abaixei um pouco o volume da televisão e fiquei mexendo no celular para distrair, já que eu não estava com sono e o filme estava realmente chato.
Vi a notificação de mensagem com a resposta de Seth.
Você quer mesmo que eu responda? Eu não quero te assustar...
Suspirei.
Não é como se eu já não soubesse a resposta...
Aguardei por alguns minutos, considerando fortemente apagar a mensagem que eu acabei de enviar, mas antes que eu pudesse tomar uma decisão, ele já estava digitando a resposta.
Ok. É porque eu estou a fim de você.
Pronto, agora a Lucy tem motivos reais pra surtar...
Fiquei um bom tempo encarando a mensagem, mas não sabia o que responder.
Viu? Eu te assustei...
Desculpa, Sam. Eu não quero te forçar a me dar uma resposta, afinal de contas, não é como se eu já não soubesse a resposta :P
Tive que rir.
Mas que audácia!
Talvez eu seja mais transparente do que eu pensei, o que é péssimo...
Eu estou errado?
Pensei em encerrar o assunto e dizer que sim, que ele está errado, mas acho que ele merece pelo menos esse mínimo de sinceridade da minha parte.
Não. Você está certo.
Pronto. Agora a merda está feita.
Se alguém me perguntar nesse exato momento o motivo de eu ter levado o assunto tão longe assim, apesar de eu afirmar categoricamente que não quero me envolver com ninguém nesse momento, eu vou ter bastante dificuldade em encontrar uma resposta. Talvez eu esteja entediada, ou talvez eu queira testar a teoria da Lucy e ver o que vai acontecer se eu me arriscar, ou talvez eu só seja inconsistente mesmo...
Acabei pegando no sono pouco tempo depois. Se Seth enviou alguma resposta, eu não tive a coragem de confirmar. Eu basicamente sumi da internet depois disso.
Acordei e quase morri de susto, já que Lucy estava parada no meio do quarto me encarando, de braços cruzados, no meio da penumbra.
- O que foi? Tá maluca? – sentei na cama e me espreguicei.
- Eu posso ficar aqui hoje?
- O que? – perguntei, ainda confusa por causa do sono.
- Eu perguntei se eu posso dormir aqui na sua casa de novo.
Dei de ombros.
- Minha mãe disse que você pode ficar o quanto quiser, e eu também não me importo.
- Minha mãe me ligou... – ela se sentou ao meu lado, mas não se virou para me olhar, ao invés disso, manteve os olhos presos em suas mãos que descansavam em seu colo. – Ela disse que as coisas estão pesadas lá em casa, e não acha bom eu voltar por agora...
- Aconteceu alguma coisa?
- Parece que ele chegou bêbado ontem e... – sua voz falhou. Me ajeitei na cama e puxei ela para o meu colo, fazendo sua cabeça descansar nas minhas pernas enquanto ela tentava se recompor. – Ele quebrou muita coisa... E...
- Shhhhh – afaguei sua cabeça, tentando acalmar ela, mesmo que um pouquinho. – Esquece. Não precisa se forçar. Tá tudo bem.
- Ele bateu nela – senti a lágrima quente na minha coxa. Odiei o sentimento de impotência que eu senti. Gostaria de poder fazer mais por ela, mas eu não sei o que fazer. – Ela teve alta do hospital agora. Ela me ligou da delegacia. Ela tá com medo dele descontar a raiva dele em mim, caso eu apareça em casa. Ela pediu para eu ficar aqui até tudo acalmar e ela conseguir se livrar dele de vez – seus soluços aumentaram e ela se agarrou a mim como se eu fosse única coisa que a impedia de ser levada por uma correnteza violenta.
- Lucy – senti minha garganta apertada. Eu não sei o que dizer. Eu quero poder confortá-la, mas eu não sei o que fazer. – Vem, você precisa se acalmar um pouco. Você pode ficar o quanto quiser, já falei – me levantei e a puxei delicadamente, levando-a para o banheiro. – Você trouxe roupa o suficiente para quanto tempo? – perguntei, enquanto a ajudava a se despir para que ela pudesse tomar um banho e tentar relaxar um pouco.
- Só para ontem. Eu realmente não imaginei que eu fosse precisar ficar mais que um dia.
Cocei minha nuca. Nenhuma das minhas roupas cabem nela, já que ela é bem maior do que eu. Nem as roupas da minha mãe cabem nela. Suspirei.
Olhei a hora no meu celular: 23h17. Nenhuma loja aberta a essa hora em um domingo para comprar roupas.
- Eu pensei numa solução... – comecei, incerta. – Mas eu não sei se é uma boa ideia...
Ela se sentou no chão da banheira enquanto a água do chuveiro batia na sua cabeça.
- Eu preciso que você ligue para a sua mãe agora e pergunte se o seu pai está em casa. Dependendo da resposta dela, eu vou lá na sua casa e pego roupa o suficiente pra você passar o mês aqui se necessário. Mas eu preciso dessa confirmação.
Ela fez que não com a cabeça.
- Você não pode ir lá em casa. É perigoso. E está tarde – sua voz tinha um leve traço de desespero.
Me sentei na borda da banheira enquanto discava o número da mãe dela no meu celular.
- Lucy, você não tem roupa, e nenhuma roupa nessa casa cabe em você. Não tem nenhuma loja aberta nesse momento, e a única pessoa que eu conheço em comum com você é o Seth. A única solução que eu consigo pensar é em ir buscar na sua casa.
- Liga para o Seth e pede para ele trazer roupas dele então. Você não pode ir lá em casa sozinha.
Suspirei.
- O quão familiarizado com essa situação ele está? - ela deu de ombros.
- Ele sabe de tudo. A gente se conhece desde sempre.
- Então pergunta pra sua mãe se seu pai está em casa que eu dou um jeito de pedir ao Seth me levar lá na sua casa para buscar suas coisas.
Antes que ela tivesse tempo de protestar sua mãe atendeu a ligação, que estava no viva-voz.
- Sam? O que houve? A Lucy está bem? – o desespero na voz dela era quase palpável.
- Oi, Dona Lili. Desculpa ligar assim do nada. Ela tá bem, sim.
- Mãe, eu preciso saber se o pai tá em casa...
- Não, ele não está lá. Tem certeza que está tudo bem?
- Sim, está tudo bem. Não se preocupe. Eu preciso desligar agora. Se precisar de alguma coisa, me liga. Tchau.
Encerrei a chamada e liguei a internet de novo para poder mandar uma mensagem para Seth, já que por algum motivo eu não me senti com a mínima coragem de ligar para ele.
Para o meu alívio, ele não respondeu a mensagem que eu enviei antes de dormir, o que facilitou um pouco em fingir que nada tinha acontecido.
Seth, tá ocupado?
Fiquei apreensiva, pensando no que eu faria caso ele já estivesse dormindo, ou não estivesse em casa...
Não, estava indo tomar banho para poder dormir, por quê?
- Se importa se eu falar pra ele o que aconteceu? – perguntei à Lucy e ela negou com a cabeça.
Bom, teve uma situação na casa da Lucy, e eu precisava ir à casa dela pegar roupas e coisas do tipo, mas minha mãe teve que trabalhar hoje de novo então ela foi de carro.
Eu sei que tá tarde pra caramba, e é pedir demais, mas você pode me ajudar e me dar uma carona até lá? Eu me sinto mais segura também tendo alguém do meu lado.
A resposta veio praticamente no mesmo segundo.
Ela tá bem?
Claro que posso te levar lá. Me espera que chego aí em cinco minutos.
- Lucy, vou tentar encontrar alguma roupa íntima que caiba em você, só pra você não ficar de toalha até eu voltar. O Seth tá a caminho.
Me levantei indo em direção ao meu quarto enquanto digitava uma mensagem de agradecimento a ele.
Pouco tempo depois ouvi uma leve buzina na frente de casa, então saí, não sem antes pegar a chave da casa de Lucy na mochila dela.
- Obrigada – falei enquanto eu entrava no carro.
Observei sua figura dentro do interior escuro do carro. Seus cabelos estavam bagunçados como se ele tivesse recolocado a roupa de qualquer jeito, a camisa inclusive estava ao avesso. Mas seu rosto estava sério. Sério como eu nunca tinha visto.
- Já fazia um tempo que isso não acontecia – falou depois de muito tempo só encarando a estrada. Ele parecia tentar se controlar para não explodir, apertando o volante com força. – Eu cheguei a pensar que as coisas estavam melhorando, já que ela não falou sobre isso em muito tempo. Parece que eu me enganei.
- Parecia ter melhorado – comentei, suspirando. – Já fazia tempo que ela não tocava no assunto comigo também. Parece que o divórcio estava acontecendo, e que o clima estava pesado, mas nada além disso.
Ele parou na frente da casa dela, praticamente estacionando no meio da calçada, sem se importar. Saímos do carro e eu fui até a porta para poder abrir, mas antes que eu pudesse entrar ele segurou minha mão e se posicionou na minha frente.
- Eu conheço o sujeito. É melhor eu entrar na frente – apenas concordei com a cabeça e segui em seu encalço.
Fomos o mais rápido que conseguimos. Peguei uma mala que achei no quarto dela e enchi com todo tipo de roupa que eu encontrei na minha frente. Fui ao banheiro, mas desisti de pegar coisas como shampoo e condicionador, já que ela pode usar o meu.
Peguei também calçados e material escolar. Tudo o que ela poderia precisar foi colocado dentro da mala.
Na hora de voltarmos, Seth carregou a mala e a colocou no carro.
- Acha que ela vai se importar se eu for lá na sua casa e falar com ela? Eu estou preocupado...
- Não sei, Seth. Sinceramente eu não sei... Eu posso perguntar quando a gente chegar.
Ele acenou com a cabeça e me deu um leve sorriso – o primeiro desde que o encontrei hoje.
- Você vai para a escola amanhã? Eu venho buscar vocês se vocês forem.
- Eu acho que não. Ela tá abalada demais para ir pra escola, e eu não vou deixar ela sozinha aqui, mas obrigada pela preocupação.
Quando entrei em casa, Lucy estava me esperando no sofá.
- O Seth está lá fora. Ele quer saber se pode entrar. Ele tá preocupado com você...
Ela concordou fracamente. Entreguei a mala para ela e ela foi para o banheiro social para poder se vestir, enquanto eu fui lá fora buscar o Seth pra gente esperar ela na sala.
Depois que ela retornou, ficamos nós três conversando na sala por bastante tempo, o que pareceu melhorar um pouco o astral dela.
Por volta de 1h30 ela apagou no meu colo, e nós dois não estávamos em melhor situação do que ela.
Olhei para Seth que obviamente lutava contra o sono no meu sofá e não consegui segurar o sorriso.
- Você pode dormir aqui se quiser – murmurei para não acordar Lucy. – Tem um quarto a mais na casa, você não vai precisar dormir no sofá.
- Tentador... – sorriu. – Mas eu nem avisei que ia sair. E eu preciso ir pra escola amanhã para poder avisar sobre a falta de vocês duas pra Sophia. Mas eu te ajudo a levar ela pro quarto – ele se levantou e pegou ela no colo com o maior cuidado do mundo pra não acordá-la. – É só me guiar.
Fui andando na frente, ligando as luzes para ele não tropeçar em nada, até ele chegar ao meu quarto. Abri a porta e ele a colocou na cama, e depois a gente saiu. Descemos novamente as escadas até a porta.
- Obrigada de novo. Você me ajudou pra caramba, mesmo que já fosse super tarde.
Ele sorriu.
- Ela também é minha amiga, e eu me importo com ela. Eu faria tudo de novo sem nem pensar duas vezes. Além do mais, tirando o motivo, foi divertido passar a noite conversando com vocês.
Senti como se um peso estivesse sendo levantado dos meus ombros. Saber que Lucy está dormindo agora e que está mais calma me aliviou. Soltei um longo suspiro.
- Espero que possamos repetir isso, mas por outros motivos – sorri. – Obrigada de novo, Seth. Te vejo na escola na terça – sorri.
Ele me olhou um pouco hesitante, até se aproximar, passando os braços ao redor da minha cintura em um abraço sem jeito.
Quase o afastei por causa da surpresa, mas me controlei no último segundo. Abaixei um pouco a guarda e passei os braços em sua cintura, apoiando meu rosto em seu ombro.
Me afastei um pouquinho, para poder olhá-lo. Li sua vontade de dar um passo a mais, mas sua hesitação era maior. Pensei se seria sensato recompensá-lo pela ajuda, mas ao mesmo tempo me questiono até onde vai minha audácia para levar isso mais longe... É fato que eu cedi demais ao responder aquela mensagem, e me arrependi um bocado depois de enviar ela. Mas também é fato que eu quero.
Subi minha mão até seu pescoço e me estiquei um pouquinho, depositando um beijo no cantinho do seu lábio e me afastei. No momento, esse é o mais longe que a minha coragem me leva.
- Até mais – sorri. Ele ainda parecia meio atordoado, mas conseguiu sorrir enquanto ia para o carro.
Voltei para dentro de casa respirando mais pesado, me xingando e agradecendo ao mesmo tempo pelo meu autocontrole.
Subi as escadas e vi Lucy sentada na cama, com uma expressão indecifrável.
- Aconteceu alguma coisa? Sua mãe te ligou? Você está bem? – parei à sua frente e fiquei esperando uma resposta.
Quando vi o sorriso malicioso começar a surgir nos seus lábios tive certeza de que nada estava errado. Minha dúvida nesse momento só é a seguinte: ela viu, ou ela supõe que aconteceu alguma coisa?
- Vocês se beijaram – não era uma pergunta.
- Nós não nos beijamos – sorri. – A senhorita não deveria estar dormindo? Ou você só fingiu? – me sentei ao seu lado e fiquei encarando o teto.
- Não, eu cheguei a dormir mesmo, mas acordei quando vocês estavam saindo do quarto. Agora me conta – pediu.
- Contar o que? Não tenho nada para contar – ri de sua expressão pidona. – É sério, Lucy, não rolou nada.
- Qual é, Sam. Você está feliz demais para não ter acontecido nada.
- Não posso estar feliz pela minha amiga estar melhor? – perguntei, séria.
- Pode. Mas eu sei que não é por isso.
Suspirei.
- Foi só um agradecimento. E não foi exatamente um beijo.
- Então você tomou a iniciativa! Meu deus, como eu queria ter visto isso! – ela soltou uma risadinha cheia de satisfação. – Onde foi? – encostei meu dedo no canto do seu lábio, demonstrando até onde eu tinha tocado. Por um momento analisei o que eu mostrava para Lucy e percebi que não foi ''tão no cantinho assim''. Afastei minha mão enquanto ela me encarava boquiaberta.
- Nem mais um pio sobre isso – falei quando ela ameaçou falar alguma coisa. – Eu já percebi, ok? Ok! Agora me deixa.
Me levantei e fui para o banheiro, me trancando lá dentro.
Analisei minha imagem no espelho, observando meus lábios. A realidade é que, sem eu perceber, eu acabei encostando praticamente metade dos meus lábios nos dele.
Oi, oi, meus queridos, tudo bom? Finalmente liberando o capítulo 04 :3.
Não tenho muito o que falar aqui, então, até o próximo. Se puderem deixar um comentário e votar, vai ser muito valioso mesmo para mim!
OBS.: Fanfic também postada no Nyah! Fanfics
Fran
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