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Epígrafe | Fim de jogo

Na infância, quando o meu pai me perguntou pela primeira vez o que eu queria ser quando crescesse, lembro-me de responder: quero ser médica. A minha mãe, Lauren Murray, era médica e me lembro de tentar ser igualzinha a ela. Eu queria ser a sombra dela. Mas isso mudou quando, no dia do meu aniversário de doze anos, ela fora assassinada dentro da nossa própria casa, na minha frente. O meu pai estava fora do país a trabalho, e os criminosos nunca foram pegos pela polícia e isso transformou toda a trajetória da minha vida. A partir daquele momento, desejava tirar vidas e não mais salvá-las. Senti, ali, que a minha infância tinha ficado para trás, e aos poucos, o ballet foi deixado de lado ao ser substituído pelo quimono. A boneca fora trocada por uma pistola e as brincadeiras já não eram mais tão delicadas. A pobre menina indefesa, cuja mãe morreu numa tentativa de salvá-la, se transformou numa predadora corajosa e trabalhava duro para fazer tudo com o máximo êxito e perfeição. O meu pai me treinou, me deu chão, suporte e me ensinou habilidades que nem todo mundo poderia ter acesso, contudo se ele soubesse qual era o meu principal objetivo nisso tudo, jamais teria permitido que isso acontecesse. Eu queria vingança e a minha raiva foi alimentada pelo tempo, como o monstro embaixo da sua cama, que cresce um pouco mais a cada prato de comida. Ele consumiu a minha vida, mas também me deu ela. A minha existência foi direcionada a isso. Eu queria fazer justiça pela morte da minha mãe. E assim eu fiz, mas quando não encontrara nada mais pelo qual lutar depois disso, me voluntariei ao Exército Americano e entrei para as Forças Especiais.

Deslizei a ponta do dedo sobre o vidro do porta-retratos, passando-o sobre o rosto bonito de pele morena e cabelos escuros da foto. Essa era ela, a pessoa que eu nunca me tornaria.

É tão estranho ter a lembrança dessa foto, ao mesmo tempo em que parecia tão próximo, os sentimentos eram vazios e distantes. As minhas memórias estavam ali, claras e latentes, mas as sensações do momento, não. Amy Murray nunca mais seria a mesma, mas uma mistura de Amy e Rose. Nós compartilhávamos lembranças e isso é um fato que nunca mudaria.

Desviei o olhar da foto e foquei no vidro através da janela, observando o jardim florido do outro lado. O campo de girassóis exalava a paz e preenchia o recito. O céu alaranjado do cair da tarde brilhava ao longe. Pela primeira vez em muitos anos, não havia medo, dor ou desespero.

— Nós precisamos ir. — Travis informou quando surgiu na porta.

Desvencilhando pelo cômodo até chegar a mim, alisando o meu braço. Sua voz fez-se ecoar perto do meu ouvido, fazendo-me fechar os olhos com o som agradável enquanto seu rosto encaixava-se ao meu pescoço e seus braços envolveram a minha cintura.

Virei o meu rosto e senti o nariz dele afagar a minha testa, assentindo positivamente com a cabeça.

Era o fim.

Tudo isso seria deixado para trás e uma nova vida nos aguarda.

O FBI não havia nos perdoado, e a morte do Raymond na explosão do iate só serviu para colocar a atenção deles no nosso rastro. Raymond não pagaria por todos os crimes que havia cometido, mas nós também não. Fugiríamos para o Marrocos e esperávamos que daqui a um ano, ninguém sequer se lembrasse dos nossos nomes. Isso tinha acabado. O passado ficaria no passado e nós ficaríamos bem.

Ele assentiu com um gesto de cabeça e beijou meus lábios antes de se afastar e checar o celular uma última vez e em seguida, rumou em direção à porta.

Segurei a alça da bolsa de viagem e olhei uma última vez para o quarto em que dormimos, pegando a fotografia e seguindo a diante.

Nós adentramos ao carro, um Dodge Charge preto comprido, clássico e com a lataria polida, e analisamos a enorme casa agigantada na horizontal, no meio do nada, isolada pela estrada a mais de dez quilômetros da cidade.

No carro em movimento, Travis e eu demos uma última olhada antes de abandonar a Califórnia, passando por Sacramento e eu liguei o rádio depois isso.

"O clima em Nova York é de muita tensão. A polícia recebeu provas hoje pela manhã, e divulgou uma lista de contatos dos envolvidos na rede do criminoso foragido Brandon Pallignton. Vários policiais já foram presos, inclusive o Diretor Assistente da CIA, Nichols Coleman, que omitiu uma missão em 2018, e a morte de uma Agente Especial, Amy Murray, cujo corpo nunca foi encontrado. Mas a caçada ainda não terminou. Diversos homens do alto escalão já foram presos nessa tarde, até mesmo os donos da corporação Borden e ..."

Travis trocou a rádio, e a voz do Revival preencheu o espaço com a canção Have You Ever Seen The Rain? e olhou para mim por trás dos óculos escuros Ray Ban, deixando um sorriso largo e encorajador escapar. Eu sabia que Ernest não me decepcionaria, ele passara o pen drive a diante e Nova York se tornara um caos.

Ele soltou a mão da manopla de marcha e pegou a minha, pressionando-a levemente.

Era o nosso fim. Meu e de Travis, nós viveríamos bem e muito longe desse inferno — pensei, com a cabeça livre e a consciência leve. Meus cabelos soltos ao vento chicoteavam a minha pele junto e me davam a sensação de liberdade. Eu estava livre, mas Brandon Pellignton, não. O inferno dele estava apenas começando.

Fim***

AGORA SIM É OFICIAL. O ponto final de TOUGH foi finalmente digitado e eu não estou sabendo lidar com a novidade e essa despedida. Sim sou apaixonadissima em Travamy. (Sim, gente, meu primeiro livro foi concluído e espero que esse seja o primeiro dos muitos. Estou muito feliz e sem palavras para expressar esse sentimento.)

Só tenho a agradecer a vocês por terem me acompanhado até aqui, sei que não foi fácil. Foram dois anos até esse momento e repleto de altos e baixos. Nossa, lembro de começar, parar, desanimar porque não saia como desejava. Revisar muito, trocar coisas, substituir palavras. Enfim, escrever é isso. Mas, não vamos nos agarrar a esses detalhes. Aliás, você já ficou sabendo? TOUGH tem livro dois, na verdade, ele é o primeiro de uma série independente (CORAÇÕES CORROMPIDOS). Você consegue ler sem se prender a um ou outro, mas quem me conhece sabe que amo um plot e quem conhece TOUGH também percebeu que tem uma história que ficou em aberto.

Siiiiiim, o amor da minha vida ficou na merda. Na verdade, ele caiu numa foça e tá podre de lama. Brandon Pellignton está ferrado e nós estaremos aqui, passando pano para as merdas dele. 

Bem-vindo, Ruddy. Que você seja tão lindo quanto o TOUGH.

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