Capítulo 8 | Desvio de conduta
— Amy Murray foi uma das poucas mulheres que conheci que nunca se fava ao luxo de errar... — comentou Travis, destravando e abrindo uma grande maleta metálica prateada disposta sobre a mesa à nossa frente. — Ela tinha fama de se dedicar exclusivamente ao seu trabalho, a vadia era realmente muito boa — disse, enquanto encarava o conteúdo dentro da maleta. Suas retinas refletindo o brilho prateado do objeto a sua frente.
Intrigada eu observava todos os seus movimentos, com os braços cruzados diante do peio, tentando ignorar a onda de ódio que ele conseguia despertar em mim ao falar daquela forma a respeito de mim.
O lugar para onde Travis tinha me trazido era como um grande galpão vazio. Carregava um clima pesado e frio e mesmo com as luzes acesas, ainda sentia algo sombrio sobrecarregar o ambiente. O espaço não era tão largo, mas em compensação era bastante comprido.
— O que você sabe sobre o meu passado? — perguntei, fitando duramente o seu rosto.
A postura do homem se tornou surpreendentemente ressentida e rígida, seu maxilar se contraiu, e sem se dar ao trabalho de me olhar, ele pescou com destreza a imponente arma prateada do molde de espuma, que havia dentro da maleta.
— Você é o que sobrou da única vez que ela vacilou. — Rebateu, encarando com fascínio a pistola em sua mão.
— Eu sei, Travis — suspirei — mas como você a conheceu? — tentei explorar o assunto, mesmo com receio da resposta, e engoli a seco no momento seguinte ao ver um brilho sádico em seus olhos.
Isso me fez pensar sobre o que ele pretendia fazer com a arma? Eu já estava farta de sempre haver uma arma apontada em minha direção.
— Se você pudesse escolher agora... — Ele ergueu o olhar interessado da pistola para mim pela primeira vez. — Gostaria realmente de se lembrar?
Ponderei por um momento. Eu queria acreditar que me lembrar não se tratava de uma questão de escolha e sim de estímulo. Meu cérebro não sofreu danos, apenas sofrera um impacto intenso e o médico disse que em algum momento elas voltariam. Espero por isso há dois anos, mas nunca aconteceu.
— Quero acreditar que sim. — Limitei-me a responder com franqueza.
Ele segurou a arma pelo punho com mais firmeza, balançando-a ao selar os lábios um no outro antes de se pronunciar.
— Mesmo sabendo que pode não gostar de quem era? Ainda assim estaria disposta a assumir isso? — questionou, erguendo o olhar com curiosidade. Ele estava jogando comigo e eu podia sentir a seleção de palavras em sua mente. — Você é corajosa, mas isso não quer dizer que o passado seja simples.
— Como posso saber se quero ou não ser alguém que sequer conheço?
Travis fixou seu olhar sobre mim como se procurasse a verdade nos meus olhos, e arqueou as sobrancelhas ao ajeitar a postura, mexendo os ombros e voltou sua atenção para a arma.
— Não há do que se orgulhar. — Contestou secamente ao dar de ombros.
— O que? — Retruquei assim que suas palavras geraram confusão aos meus pensamentos.
— Não somos boas pessoas, Amy. Você precisa saber disso. — Limitou-se a dizer. — Mas, talvez só precise de um incentivo. — Comentou, dando de ombros. — Essa daqui é uma HK45... — Explicou e o estalido da arma sendo engatilhada ecoou pelo ambiente fechado, causando-me calafrios pelo corpo todo.
Aquilo me rendeu uma náusea desconfortável no estômago. Não sabia se era pelo que ele acabara de falar ou pela sensação de estar novamente de frente para uma arma enquanto os olhos frios dele analisavam a pistola.
— Possui um cano de nove milímetros com um poder fogo surpreendente. — Acrescentou, olhando-me de lado. — Aquele é o seu alvo. — Designou, apontando com a cabeça para o alvo do outro lado da sala, desengatilhado repentinamente a arma num estalido, esticando o braço e estendendo-a para mim. Sua atitude me fez ficar boquiaberta.
Por que ele estava fazendo isso? Estiquei o braço para pegá-la de sua mão, mas travei e recuei hesitante, levando a mão para trás das costas. Meus olhos se estreitaram, ele não podia estar falando sério. Com certeza isso não passava de um dos seus jogos sujos.
— Pegue! — Insistiu, muito convincente. — Você precisa aprender a usar, mas lembre-se que eu não sou burro.
Engoli em seco e peguei a pistola rapidamente, sem me dar ao menos a chance de arrependimento. Analisei o objeto em meu poder. O metal frio em contato direto com minha pele. O encaixe perfeito dos meus dedos na arma. Eu não sabia o que acelerava mais os meus batimentos, segurar uma pistola ou o desejo corrosivo de apontá-la em direção a Travis.
Até que não seria uma má ideia. A minha coordenação parou de funcionar por alguns segundos. Ele merecia tudo de ruim que o mundo tinha a lhe oferecer.
Recordei precisamente o que Travis fazia para que uma arma funcionasse. Segurei-a da forma que considerava certa. O meu instinto tomou o controle e levei o indicador sobre o acionador, engatilhei-a com a outra mão de forma cautelosa, mas sem muita precisão, temendo que qualquer movimento errado pudesse fazê-la disparar, ocasionando-me sérios danos.
— Precisa segurar bem firme para disparar ou então o coice vai te machucar — alertou e eu o olhei por cima do braço esticado, de esguelha.
Desde quando ele se importava com o meu bem-estar?
Apontei a pistola em direção ao alvo, que havia me sido designando, do outro lado da sala. Uma placa retangular com rodas vermelhas e brancas pintadas.
O que eu estava fazendo? Condenei a minha mente medíocre com os dentes cerrados ao sentir uma injeção de adrenalina se espalhar repentinamente por todo o meu corpo.
Eu tinha o poder em minhas mãos e a sensação era incrivelmente boa.
A arma. O que faltava? Coragem? Por que eu estava hesitando?
A vida de um criminoso! — Meu inconsciente berrou. Afinal de contas eram eles ou eu.
Meu coração disparou acelerado e hesitante. Eu seria uma vadia má por tirar a vida dele? Ou eu seria uma mulher desesperada disposta a tudo para sair de um inferno malfadado?
A vida do homem que estava me fazendo passar por todo esse inferno ou a minha? Sua morte seria meu passaporte para a liberdade. Isso não era menos reconfortante, sobretudo, pelo menos, existiria uma vida para conviver com isso.
Respirei fundo e desviei lentamente a pistola de direção. O meu alvo já não era mais o ponto vermelho que ficava no final do canto oposto.
O medo fazia as minhas mãos se tornam rígidas. Era capaz de sentir cada célula de meu corpo liberar uma gotícula de suor sobre a pele.
— Você é o meu alvo! — exclamei os dentes.
Quantas vidas ele havia tirado até agora? Perguntei a mim mesma, analisando-o com a cabeça um pouco inclinada para o lado. Não me surpreenderia se a resposta fosse mais de uma centena. Eu não seria a primeira, tampouco a última. A sua postura irradiava crueldade e não era difícil imaginá-lo matando alguém. Na verdade, eu quase conseguia notar a parede fria de revolta e crueldade que havia dentro dele. Como ele conseguia conviver com tanta crueldade?
Então, qual será o preço de uma vida? Qual o preço de fazer o que é preciso para se manter a salvo? Eu descobriria assim que acionasse o gatilho da pistola.
A verdade era apenas uma: há momentos na vida que você realmente precisa sacrificar algo consideravelmente grande por algo ainda maior, e Travis nem era grande coisa.
— Não se mova! — interceptei, no momento em que Travis tentou discretamente alcançar sua arma no coldre preso a sua calça.
Ele ergueu suas sobrancelhas e com relutância levou as mãos ao alto, encarando-me com um brilho desconhecido nos olhos. Eu sabia o que ele estava pensando.
— Se eu fosse você, não tentaria fazer isso. — Pronunciou-se, mantendo sua voz no mesmo tom, firme e controlado.
Talvez fosse o medo falando, ou seu orgulho, quem sabe? Ele parecia ser o tipo de cara que nunca dava o braço a torcer. Mas que tipo de criminoso era ele?
Um tremendo idiota! Eu poderia dizer. Ele ainda pensava que estava no controle, e eu quis rir disso, se não fosse a raiva que me corroía de dentro para fora.
— O que foi? Você não tem medo de morrer? — Rebati, furiosa devido à calma em seu tom de voz. — Que convicção é esse de que eu não vou atirar em você?
A arma tremeu em minhas mãos vacilantes, a raiva e medo enviavam ondas consistentes por todo o meu corpo, mas mesmo assim, não recuei. Insistindo no alvo.
No fundo, eu sabia que não tinha coragem suficiente para atirar em alguém, mas estávamos falando da minha sobrevivência, afinal. Precisava lutar com unhas e dentes para que o meu final não fosse tão desastroso quanto morrer nas mãos de psicopatas criminosos.
O cretino ainda se mantinha na pose superior e arrogante, como se todo o controle da situação estivesse em suas mãos, mas ele estava prestes a descobrir que o poder é uma coisa relativa.
— Você não está pronta para atirar em alguém. — Tentou dissuadir com frieza e confiança.
Eu nunca estive pronta para estar no inferno em que estava agora. Não estava pronta para passar por nada do que venho passando, no entanto, ainda assim estava nessa merda. Nas mãos de criminosos. A cada momento me torando pior ou igualmente ruim por estar prestes a atirar em uma pessoa.
— Você está errado. — Rosnei com desprezo.
Não permiti que a minha cabeça pensasse demais, apenas apertei os olhos com força, fechando-os ao evitar presenciar o que estava prestes a acontecer, e puxei o gatilho, temendo pelo caos que o disparo ocasionaria.
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Opaaaa!! Marotana de capítulos, é isso mesmo?
Sim!! Pretendo postar PELO MENOS UM CAPÍTULO POR DIA, até a semana que vem.
Não percam os próximos capítulos, prometo cenas quentes e surpreendentes!! <3
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