Capítulo 46 | Apertando o cerco
O meu coração batia em uma frequência absurda. Era possível ouvir o pulsar incomodo nos meus ouvidos. A corrente de adrenalina que se proliferava por todos os meus membros deixava-me em estado de alerta. Os meus músculos tornavam-se cada vez mais tensos e o meu estômago embolado.
Essa era a hora.
Tínhamos de sair naquele momento.
— Hora de correr! ─ Ernest disse.
Assenti que sim com a cabeça e antes de engolir a seco, pus meu corpo para fora, arriscando-me em direção ao carro que nos aguardava.
Um disparo sucedeu à minha frente, quase atingindo minha cabeça. Minha cabeça!
Congelei por um instante, em choque.
Miserável.
— Vamos... Vamos... Vamos... ─ Gritou Ernest atrás de mim, empurrando-me e atirando com a arma dele quando outros disparos ecoaram por entre nós.
─ Não é hora de parar! ─ Gritou no meio do fogo cruzado. ─ Você está maluca? ─ Puxando-me e correndo a trilha suicida até o SUV.
Onde eu estava com a porra da minha cabeça? Tratei de engolir o medo que havia me tomado e derrapei os pés em alta velocidade, aproximando-me do carro e abrindo a porta. Pulei no banco do motorista e Ernest fez o mesmo, logo em seguida.
O meu coração batia apertado dentro das costelas. A minha respiração estava desregulada e ruidosa. A adrenalina espalhava-se por toda a minha corrente sanguínea em um misto de pavor, euforia e agonia.
Mais disparos ecoaram, alvejando ruidosamente a traseira do veículo fazendo com que eu me desconsertasse. Balancei a cabeça, espantando o medo e levei a mão até as chaves na ignição acelerando o carro num tranco e saindo da mira do atirador.
─ Por que raios a polícia ainda não chegou? ─ Inqueri a Ernest.
─ Eu não sei. ─ Resfolegou, acomodando-se contra a poltrona. ─ Mas se ficássemos lá aguardando os desgraçados, estaríamos mortos.
Respirei fundo e manobrei o carro com brusquidão, estacionando-o no meio da mata.
─ O que você está fazendo? ─ Ele indagou imediatamente, arrastando-se para a frente do banco.
─ O que? ─ Rebati, cruzando os braços e afundando-me na poltrona do carro. ─ Não vamos deixar Travis para morrer.
Ele respirou ruidosamente e encarou-me antes de se pronunciar.
─ Eu preciso tirar você daqui... ─ disse, abaixando o tom de voz.
─ Por quê? ─ Questionei, sem me alterar. Já estava decidido.
─ Porque o Travis me pediu isso. ─ Respondeu com pesar.
Eu arregalei os olhos.
Então era isso. Era tudo coisa de Travis. Eu me ressenti com indignação. Depois de tudo o que passamos.
Qual era o problema dele?
─ Travis não sabe de nada. ─ Rebati inconformada. ─ Se o Raymond conseguir pegá-lo, não vai mata-lo. Se ele sair da mansão e pensar em ir a algum lugar, vai precisar passar por aqui e nós estaremos bem aqui se isso acontecer.
─ Se... Se e se... Quanto se ─ Ernest parecia insultado ─ Se o Raymond pegar Travis você estará a salvo. É isso o que ele deseja, e eu terei cumprido a minha parte do nosso combinado. ─ Argumentou, coçando a cabeça. ─ Vamos, Amy... Cai fora dessa droga. Você não queria estar aqui. Você não se lembra nem de quem é de fato, e tudo o que aprendeu foi na marra. Você conseguiu o que queria. Travis te colocou nisso e ele mesmo está te tirando.
─ Eu me lembro. Ernest. ─ retorqui. ─ e eu não queria que fosse desse jeito. Ele não tem que fazer nada disso por mim. ─ Insisti em um tom mais decisivo. ─ Nós vamos ficar. ─ Decretei.
─ Ah... Qual é, cara... ─ Ele parecia começar a apelar. ─. Travis não vai morrer. Ele nunca morre. Ele vai dar um jeito em tudo...
Eu joguei a cabeça para trás, respirando fundo e sentindo a dor apertar no braço conforme o sangue ia esfriando.
Estava fora de cogitação deixar Travis para trás, então encarei-o com dureza.
─ E se não resolver? ─ Retorqui duramente. ─ Ele vai morrer porque NÓS o abandonamos. Eu não vou carregar esse peso na minha consciência. Fora que eles poderiam facilmente nos pegar depois.
Ele suspirou ruidosamente e me encarou sem fazer menção de nada.
─ Precisamos terminar o que viemos fazer aqui, Ernest. Isso não pode continuar ─ falei. ─ A polícia não virá, ou pelo menos não virá a tempo.
─ E o que nós vamos fazer? ─ Retrucou com ironia.
Isso fez com que eu me inclinasse e encarasse o ferimento em meu braço. O sangue havia se espalhado e ensopado a poltrona e a jaqueta.
─ Eu posso cuidar disso. ─ Respondi, tirando a jaqueta.
Inclinei-me pelo banco e em seguida, e vasculhei o porta-luvas em busca de um pedaço de pano, mas não havia nada. Mirei através do vidro da janela em busca de algum sinal de movimento, porém tudo estava parado. As árvores farfalhavam na lataria do carro. Eu esperava estar bem camuflada. Não poderíamos ser pegos a essa altura.
Encarei a minha regata branca e não hesitei em rasgar uma tira dela, eu precisava estancar a ferida. Enrolei o tecido em volta do braço, dando duas voltas e quando encontrei dificuldade em amarrar as pontas, Ernest estendeu a mão, terminando de fazer o nó.
─ Você venceu. ─ Suspirou em resposta. ─ Só tenta não morrer, tá legal. Raymond deve vir com tudo para cima da gente.
Encarei-o por alguns instantes.
─ Eu acho que posso fazer isso. ─ Sorri, sentindo uma pontada dolorosa no peito.
Suspirei pesadamente, pois acho que essa era a única coisa que eu vinha fazendo desde que acordei do coma. Sobreviver. E eu me sentia muito boa nisso, mas parecia que tinha chegado a um ponto que nada mais me importava. Eu não ligava mais para o que estava por vir. Já havia perdido tantas pessoas, tantos amigos. Tanta gente tinha morrido. A dor não parecia mais ser tão lancinante e corrosiva. Eu já tinha me acostumado com a perda, com a sensação de vazio e solidão.
Recusava-me a dizer isso, mas Travis e Ernest eram as únicas provas de que tudo ainda era a realidade. Eles eram a única prova de que tudo o que eu tinha vivido, era real. Eles eram o laço que unia-me a Amy Murray e eu não perderia isso.
─ Mais uma coisa. ─ disse rompendo o silêncio, e tomando a minha atenção. ─ Se ele der o fora com o Raymond e não soubermos mais do Travis, nós vamos sair daqui. ─ prosseguiu. ─ Eu vou te arrumar documentos e você vai seguir a sua vida bem longe daqui, e em segurança.
Pensei em dizer algo, mas ele me interrompeu.
─ E isso não está em discussão. Travis me deixou todas as coordenadas do que fazer com você se tudo der errado.
Do que fazer comigo... balancei com a cabeça com ironia antes de me pronunciar.
─ Cala essa boca, Ernest. Nós vamos resolver. E eu não sou um objeto para você e Travis definirem como será a minha vida.
Ele arqueou as sobrancelhas em resposta, abriu a boca para falar algo, mas desistiu no mesmo instante, recolhendo-se para o banco.
─ Dorme um pouco. ─ disse, sem me olhar. ─ Eu fico observando.
Ignorei-o por alguns instantes, hesitante.
─ Se precisarmos encarar o Raymond novamente, você precisará, pelo menos, não estar com sono.
Encarei-o mais um pouco com descrença, mas tive que aceitar a proposta.
─ Presta bastante atenção. ─ disse, puxando a jaqueta para cima dos meus braços, cobrindo-os da friagem e fechando os olhos.
✦✦✦
Minha boca estava coberta por lábios macios e quentes. O toque era intenso, sedento e úmido. As minhas mãos passavam pelo abdômen rijo e percorria a pele por debaixo da camisa. A sensação das mãos dele causa-me arrepios e também estavam afobadas, percorrendo a minha cinturam e apertando sedentamente a minha carne.
Desejo. Pensei quando ouvi o suspirar ruidoso.
Eu não conseguia parar de corresponder ao seu toque. Eu o queria tanto quanto ele estava me desejando. Então, passei as mãos pela beira da sua camisa e puxei-a rapidamente por sua cabeça.
─ Amy... ─ A voz rouca e baixa soou-me terrivelmente familiar assim que a camisa fora dispensada para algum lugar dali.
Afastei-me em um suspiro e encarei com assombro o seu rosto tão perto do meu. As lufadas de ar percorriam pesadamente o meu rosto.
Ele estava aqui! Levei a mão à cicatriz que já se fazia presente em seu rosto e deslizei o dedo lentamente, apreciando a sua presença e admirando os olhos verdes que me encaravam com intensidade, parecendo inquirir-me com a interrupção. Ele era tão... Real. Senti vontade de tocá-lo e fui abaixando a mão pelo seu rosto, deslizando pelo queixo, passando pelo pescoço e trilhando o seu peito. Tão amistoso e bonito.
Ele estava diante de mim, todo e absolutamente meu. Por alguns instantes desejei que esse momento não acabasse e então a sua mão avançou pelo meu rosto, acariciando com o polegar a minha bochecha, encarando-me com suavidade.
─ Travis... ─ A minha voz soou como um murmúrio engasgado e incrédulo.
─ Amy... ─ O meu nome ecoava ao longe pelo vácuo e escuridão.
─ Amy... ─ Senti alguém chacoalhar-me pelo ombro. ─ Acorda! ─ Era Ernest exclamando com exasperação. ─ Eles estão aqui...
Agora eu podia ouvir nitidamente a voz de Ernest, fazendo com que desse um pulo da poltrona encarando através da janela.
─ Quanto tempo eu dormi? ─ indaguei, me ajeitando com pressa no banco para olhar para além da janela.
─ Eu não sei, uma ou duas horas. ─ Ele deu de ombros. ─ São eles... ─ Ernest apontou. ─ Raymond está fugindo...
Os carros pretos passavam pela estrada de terra enegrecida pela noite e faróis altos iluminavam alguns raios a frente.
─ Nós precisamos ir... ─ exclamei, batendo com a mão no volante.
─ Ainda não. ─ opôs-se. ─ Deixe-os ir na frente para não levantar suspeitas. Como está seu braço?
─ Eu não sei... Melhor... ─ Franzi os lábios, girando a chave na ignição para dar partida.
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