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Capítulo 42 | Cretino irresistível

Travis e Ernest conversavam. Ambos com uma postura tensa, e eu presumia que o assunto era o amanhã. Eles estavam planejando pegar Raymond e estavam planejando a melhor forma de fazer isso. Eu também queria pegar Raymond, mas estava pensando no que deveria fazer. Foi quando olhei para Seth que estava ao meu lado.

— Por que você não está lá com eles? — indaguei, apontando com o queixo para os dois que conversavam, e vez ou outra pegava Travis olhando para mim, como se certificasse de que eu ainda estaria ali.

— Eles não param de falar de Raymond e blá, blá, blá... — Seth revirou os olhos e levou a garrafa embalada por um saco de papel à boca.

Ergui as sobrancelhas, impressionada com a postura que ele assumira, mas deixei para lá.

— O que você está bebendo? — perguntei, olhando com interesse para a garrafa que ele segurava o tempo inteiro.

— Gin — respondeu erguendo a garrafa, encarando-a. — Você quer? — Seth colocou a garrafa a poucos centímetros de mim.

Não pensei, descartei a minha de cerveja e dei uma boa golada na dele.

— Posso ficar? — questionei, bebendo um pouco mais.

— Ah! Claro. Você precisa mais do que eu... — Ele praticamente dispensou-a ao gesticular com a mão. — Aliás, eu queria dizer que sinto muito por tudo o que aconteceu e agradecer por você não ter atirado em. — Ele falava rápido e me parecia um pouco fora de órbita, mais acelerado do que o normal. — Sério. Ernest disse que você atiraria e não parava de falar o quanto você era maluca e instável, quando na verdade, você só estava desesperada e assustada. Eu também ficaria com medo do Travis se ele falasse daquele jeito comigo e talvez até tivesse atirado, só que você não fez isso... Graças a Deus. — E ele riu.

— Ernest disse isso? — pensei com desapontamento, bebendo mais do gin. — Maluca...

— É. Às vezes ele é um pouco idiota, mas ele ainda é um cara legal.

Às vezes

Pensei, devolvendo a garrafa a ele, passando o torso da mão na boca depois de beber um pouco mais.

— Eu vou comprar uma água. — disse a Seth, me direcionando ao bar a alguns metros de mim.

Na volta, abri a garrafa e levei-a à boca com pressa, mas uma mulher esbarrou em meu ombro e uma boa dose de água caiu sobre mim e sobre a gola do meu casaco.

O ar me faltou e meu coração bateu apertado quando ergui a cabeça com exasperação e vi a mulher se afastar, de costa para mim, os cabelos praticamente brancos soltos sobre o sobretudo grosso dentro da touca preta.

Blake.

Tinha que ser ela nos espionando.

Soltei o ar de súbito e apressei o passo até ela.

Eu tinha certeza do que estava fazendo, por isso quando a alcancei, levei a mão ao seu ombro e a virei com brusquidão para me deparar com traços desconhecidos.

Uma mulher tão loira quanto, mas de olhos claros e traços delicados, estremeceram entre as minhas mãos, assustada.

— Mas o que... — Ela balbuciou confusamente, com as sobrancelhas juntas.

Senti meu coração bater nos ouvidos.

Eu estava maluca.

Engoli em seco, encarei-a um pouco mais, processando a situação toda, até que meu cérebro emitisse o comando de soltar a moça. Os meus dedos se afrouxaram ao redor dos ombros dela.

— Eu... eu... Me desculpe. Acho que confundi. — Tentei explicar com a voz vacilante, deixando a garota pálida e assustada para trás.

Eu queria ir embora, por isso retornei alarmada e em choque, retornei para perto de Seth que estava reclamando.

— Ela já voltou. Vamos embora ou nós vamos morrer congelados. — Seth disse para Ernest e Travis.

— É só entrar no carro e para de reclamar. — Ernest delegou, batendo a porta da frente e Seth se arrastou para o banco ao meu lado.

A essa altura, eu percebi que dos três, Seth era o nerd desconsertado, Ernest o mandão e Travis o calado.

Era por volta das dez quando Ernest manobrou na garagem da casa, e eu desci, seguindo em direção ao quarto. Sozinha, a minha mente começou a disparar flashes da morte de Stayce. Tentando fugir da minha mente, fui para o banheiro, e me preparei às pressas para um banho ao tirar as roupas com urgência e abri a água sobre a minha cabeça.

Não tinha ninguém nos seguindo. Tentei convencer a mim mesma, enquanto esfregava os olhos para lavá-los sobre a água. O cheiro de Travis penetrou em meu nariz e eu engoli a seco com as lembranças que o meu olfato havia me trazido.

— Aconteceu alguma... — A voz de Travis foi morrendo quando ele se pôs diante da porta do banheiro e se deparou comigo embaixo do chuveiro.

Travis...

Ergui meus olhos e encarei-o fixamente, sentindo todo o meu corpo se arrepiar com o fato de saber que o olhar dele recaia sobre mim, enquanto a água morda escorria pela pele nua. Eu não tinha a menor ideia do que estava fazendo, mas me flagrei saindo de baixo do chuveiro e indo na direção dele. A água pingando e molhando o chão por onde passava. Mas eu só conseguia olhar para ele e sentia o imã que me atrair. Um desejo tão pungente.

E de repente, o abismo que havia entre nós já não estava mais ali. Estávamos próximos de verdade.

E ele era tão bonito. Pensei, olhando-o mais de perto agora. Tão gostoso... Uma lembrança de mim tirando a sua camisa me veio a mente junto com uma onda de excitação que se instalava por entre as minhas pernas.

Travis também não parava de me encarar, e isso me deixava ainda mais intrigada. Os lábios entreabertos, a o pescoço um pouco curvado fitando-me de perto.

Não tinha passado. Esse desejo que eu sentia por ele não havia passado e eu o teria beijado se não fosse a interrupção de Seth.

Eu o beijaria novamente se ele deixasse. Foi o que pensei quando parei diante dele e encarei seus lábios úmidos.

A minha barriga se revirou com o nervosismo e a ansiedade da espera, enquanto os olhos obscurecidos pareciam tentar me entender. Mas um lampejo de desejo acendeu ali. Travis me desejava da mesma forma que eu o estava desejando agora.

— Eu achei que pudesse fugir de você, Travis. — Disse, passando a mão pela lapela do casaco dele. — Mas eu não posso. — Declarei, focada em desabotoar os botões enquanto ele ficava ali, parado, me assistindo com cautela. — Você está em todos os lugares em que estou. — Os meus dedos trabalhavam no último — Eu não consigo evitar, porque você... — eu ergui o meu olhar, fitando-o para flagrá-lo parado, em estase com a minha atitude. — Não sai da minha cabeça. — Completei, empurrando o casaco para trás e a peça passou pelos braços até cair no chão.

— Amy... — Ele hesitou, mas prosseguiu. — Você... — Ele ia dizendo, mas fui mais rápida e antes que ele terminasse a frase, tomei seus lábios com os meus. Beijando-o como se a minha vida dependesse daquilo.

Fazia um tempo que eu esperava fazer aquilo e não havia percebido o tanto que eu o queria até as suas mãos segurarem o meu rosto enquanto as minhas trabalhavam em livrá-lo das roupas, até tirar a camisa.

— Não importa. — Soltei, negando com a cabeça. Beijando outra vez. — Acho que nada mais importa. Eu quero você!

Ele não resistiu, porque era isso o que ele queria. Desde o começo. Não podemos escolher o que sentir, ou por quem sentir, mas poderíamos escolher o que fazer com isso e eu só queria me embriagar de Travis sem ressalvas. Sem ressentimentos ou arrependimentos.

Eu o queria desesperadamente. E a necessidade tomou conta de mim quando Travis me puxou para si, colando seu corpo ao meu e eu pude sentir seu volume crescente em meu estômago. Arquejei embriagada pelo cheiro dele.

Tão duro...

Droga, Amy... — ele resmungou quando eu me apertei mais nele, me deliciando da sensação enquanto descia com a mão pelo peitoral forte e nu até que parar sobre o cinto que pendia na calça e eu não hesitei em desafivela-lo e abaixar o cós para baixo e me livrar da peça.

— Eu também te quero tanto... — Ele balbuciou entre suspiros, puxando a minha coxa para cima, fazendo-a ficar em torno do seu quadril e eu embalei a outra, prendendo-me ao quadril dele.

— Você não imagina o que está fazendo... — Ele disse, enquanto eu empurrava a cueca boxer para baixo e a visão de seu pau foi igualzinha a da minha memória.

Mas eu não me contentaria com memória. Eu queria senti-lo e me deleitar. Aproveitar cada momento desse sentimento ao lado dele.

— Então me mostra... — respondi-o antes que ele me beijasse com mais intensidade, chupando o meu lábio inferior e envolveu os braços ao redor do meu corpo, e apertou as minhas nádegas quando o desejo lhe tomou por completo e então, ele andou enquanto me beijava até o chuveiro que ainda estava aberto.

A água recobriu nossas cabeças e ele me prendeu contra a parede, fora do chão. A boca descendo pelo meu pescoço, para a clavícula, chupando os meus peitos contraídos pelo desejo que embriagava meu corpo.

— Eu preciso de você... — Sussurrei para ele. — Agora. — Eu chupei o nódulo de sua orelha e arquejei, gemendo quando o membro dele começou a me penetrar.

— É isso o que você quer? — A voz dele soou como um rosnado enquanto a água recobria nossa pele.

Era tudo o que eu queria. Por isso assenti com a cabeça, sentindo o calor do corpo dele contra a parede gelada. Era como se o mundo tivesse parado enquanto a minha cabeça girava e o meu corpo se contorcia de prazer, sendo preenchida por completo enquanto recebia as estocadas dele.

Não queria que parasse e quando Travis segurou os meus braços para cima e se movimentou com mais força. A testa apoiada na curva do meu pescoço, quando uma das mãos desceu, acariciando o meu peito, até segurar firme no meu quadril. Nos meus olhos surgiram estrelas e eu senti meu corpo todo contrair por dentro. Me aguarrei mais a ele, as mãos cravando em seus ombros quando eu atingi o ápice, gemendo quando tudo se tornou negro e silencioso pelo tempo em que senti meu corpo gozar do que nós acabamos de fazer. As lufadas de ar de Travis acariciavam o meu pescoço às pressa e um arquejar mais forte, enquanto ele se contraia dentro de mim se fez ouvir.

Minha nossa. Eu suspirei, quando ele se inclinou para alcançar a minha boca, cobrindo-a novamente com seus lábios.

Ele soltou as minhas pernas, parecendo hesitar se era aquilo o que ele queria e entrou embaixo do chuveiro em silêncio, trocando olhares comigo.

Eu soltei um sorriso fechado e peguei o sabonete.

— Acho que eu acabei de ganhar um lugar na cama. — Travis brincou, soltando um sorriso e passando os braços ao redor do meu corpo, beijando o topo da minha cabeça.

✦✦✦

— Você se importa? — Travis indagou, esperando a minha autorização para deitar na cama. E eu neguei com um gesto de cabeça.

Eu não me importava. Na verdade, eu o queria perto de mim. Seu corpo aninhado ao meu até que o seu cheiro estivesse em mim e até que toda essa loucura que a minha vida tinha se transformado sumisse.

Mas era esperar demais, então me contentei com a sensação de segurança que ele me proporcionava.

— Nós vamos sair às sete da noite. — Travis disse quando eu me deitei na cama.

— Ok. — Respondi, me enfiando nas cobertas até que o senti perto de mim. As mão dele passaram ao redor da minha cintura e desceram até a minha perna.

A mão dele se emaranhou por baixo da minha camisa e subiu até estar na minha cintura, e eu me peguei passando os joelhos em volta dos quadris dele. Ficando por cima, beijando-o com a necessidade de tê-lo novamente dentro de mim.

— Se você fizer isso de novo, não vai mais poder fugir de mim. — Travis advertiu, e a minha garganta se apertou com a intensidade com que ele disse aquilo.

Mas eu estava cansada de fugir e já sabia exatamente o que queria e apesar de tudo, de todos os desdobramentos e riscos impensados, eu não conseguia odiá-lo e detestava a ideia de perdê-lo novamente.

Das minhas lembranças, eu o conhecia intimamente e confiaria a minha vida a ele. Sentia que tinha cometido um erro quando escolhei a minha carreira ao relacionamento com ele. O noivado. Minha mente vagou para uma lembrança remota, dois anos depois do Programa Sigma. Ele queria se casar comigo e eu lhe virei as costas.

Eu fui embora. A cena preencheu meus olhos de relance. As luzes de um pub acesas, a noite caindo e eu atravessando a porta com passos decididos. Só não conseguia entender o porquê.

Todos nós cometemos erros. Todos nós carregamos cicatrizes difíceis de serem encaradas e elas representam todas as nossas tentativas de acertar. Cada qual com sua história. Cada uma delas com seus motivos. Eu tinha as minhas; Travis tinha as dele. Talvez nós nos tornássemos melhores se ficássemos juntos. Talvez criássemos histórias e lembranças melhores do que as que tínhamos até agora.

Eu não sabia. Mas queria tentar, pois desejava ficar com ele e estava disposta a renunciar algumas coisas se fosse preciso. Não havia mais nada para mim aqui e as únicas coisas que me mantinham viva era esse turbilhão de emoções e sensações e essa necessidade desesperada de estar perto dele, mesmo quando eu o detestava. Mas acho que esse é o significado de amar alguém.

Porque ele estava comigo, mesmo quando eu não queria. Ele estava ali, no canto mais remoto da minha mente.

— Eu não quero fugir, Travis. — disse, antes de me inclinar para perto e selar seus lábios com os meus.

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