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Capítulo 21 | Memória impiedosa

As imagens do caos começaram a tomar espaço em minha mente, quando os vidros do SUV se partindo com o impacto da batida. Os estilhaços caindo por cima dos nossos corpos e a sensação de estar sem chão, voando rumo ao nada. O vazio desesperador que se propagava do estômago até a coluna. Revivi o desespero, entrando em pânico. A impotência me torturava. Não podia fazer absolutamente nada e me via de punhos atados outra vez, novamente vivendo a mercê das circunstâncias, frágil demais para lutar contra as catástrofes da vida.

A morte de Stayce. Minha mente estava revivendo aquilo de novo e de novo, e parecia que relembraria aqueles momentos pelo resto da minha vida.

A culpa conseguia irromper dos sonhos e queimar meu corpo, voltando as águas furiosas e impiedosas que tomava pouco a pouco toda a extensão do carro destroçado, sugando-o para o fundo do rio. O sangue se esvaindo das nossas feridas abertas e se diluindo na água que se tornava vermelha.

Abri meus olhos de súbito e arquejei ainda em pânico. Era como se ainda estivesse embaixo da água, prendendo a respiração, morrendo, sem ar nos pulmões.

As minhas pálpebras estavam abertas, mas ainda me via imersa numa escuridão estridente. Espalmei a estrutura macia embaixo do meu corpo e sentei num pulo, olhando ao redor, através do breu, em uma respiração descompassada e pesada. Senti o suor escorrer da raiz dos meus cabelos para a testa, devido à quentura e ao mal-estar que irradiavam por todos os meus músculos.

O meu corpo conhecia o cheiro daquele lugar, mas eu não sabia ao certo se estava delirando devido à febre, e muito embora não me lembrasse, devido a dor e a confusão dos fatos, ainda assim, havia uma estranha sensação de já ter estado ali antes.

Suspirei, empurrando os fios de cabelo banhados de suor para fora do rosto, e arrastei as pernas para fora da cama. Gemi agonizando ao contrair o rosto e interceptar os movimentos ao sentir a perna latejar de dor, me fazendo lembrar do que tinha acontecido nas horas anteriores.

Travis havia dado pontos no meu ferimento e depois, desmaiei com a mistura de bebida alcoólica, dor e analgésicos. Tentando conter a dor gritante e me limitei a apenas levar a mão sobre o local da ferida, que estava enfaixado e amparei a perna, levando os meus pés descalços, dessa vez com mais cuidado ao chão, tentando me erguer.

Com a mente estava pesada e confusa, levou algum tempo para assimilar e identificasse o local onde estava, mas cheguei à conclusão de que estava no quarto da casa de Travis. Apoiei meu corpo na cama e avancei, espalmando as paredes, seguindo a passos vagarosos ao tentar forçar o mínimo possível a perna ferida e dolorida. Segui em direção a porta e suspirei com grande alivio, quando a minha mão esbarrou no metal frio da maçaneta, girando-a. Pus a minha cabeça para fora, avaliando o corredor.

Estava escuro, vazio e silencioso.

Embora as luzes da sala jorrassem até a metade do corredor, ainda duvidava que pudesse haver alguém na casa, mas ainda assim deslizei furtivamente meu corpo pela brecha da porta, tomando o corredor ao evitar fazer qualquer barulho.

Segui direto, em direção à sala, mas diminui o passo à medida que algumas vozes começavam a se elevar do cômodo e continuei o caminho até que pudesse ouvir com clareza.

— Do que o Raymond sabe? — Ouvi a voz grave de Ernest se pronunciar depois de uma pausa dramática na conversa.

Virei na direção da parede coberta por uma tintura bege ligeiramente amarronzada, que sucedia o corredor, de modo que me mantivesse escondida e me apoiei com as palmas das mãos, ajudando a equilibrar a maior parte do peso do meu corpo sobre a perna boa.

— Raymond acha que ela morreu na fuga. — Os meus ouvidos capturaram a resposta. A voz era inquestionavelmente de Travis.

O meu estômago se retorceu em náusea. Meu coração bateu na garganta. Travis e Ernest estavam falando sobre mim? Do acidente?

Eu tinha sido dada como morta? Como seria dali em diante? Eu me afobei.

Queria vê-los. Precisava saber o que eles estavam fazendo, enquanto falavam sobre aquilo, então, me ajeitei mais, inclinando um pouco o pescoço ao avançar mais com cabeça, pondo discretamente metade do rosto para fora. Assim, encontrei os largos ombros de Travis cobertos pela jaqueta de couro envelhecido, preto. Ele estava sentado na poltrona, de costas para mim e bebericava a bebida de coloração caramelada no copo em sua mão. Ernest estava despretensiosamente de frente, encostado no aparador, do outro lado da sala se servindo de bebida.

Não queria que minha presença fosse notada, porque algo no meu interior gritava, dizendo que era importante, e eles não me diriam se eu simplesmente perguntasse.

— E o que nós vamos fazer daqui em diante? — Ernest perguntou. — Porque o Nichols está na nossa cola, você sabe, e isso tudo está levando tempo demais, Travis. Entramos com o prazo de dois meses e já se passaram seis.

Em resposta, Travis levou as mãos aos olhos, esfregando-os com as pontas dos dedos. Engoli a seco e rolei nervosamente os meus olhos de Travis para Ernest e pude sentir a inquietação que pesava no ar. A curiosidade estava me deixando inquieta.

Do que eles estavam falando? Quem era Nichols? E o que estava levando tempo demais?

Travis bufou, ironicamente, balançando a cabeça em negativa e bebericou do copo quase vazio em sua mão.

— O rabo daquele pé no saco está seguro, sentadindo atrás da droga de uma mesa. De lá ele assiste a toda essa merda de camarote. — A voz dele estava carregada de ressentimento e amargura. — Nós precisamos seguir com o plano e nos preocupar com o Nichols depois. — Articulou Travis. — Está levando mais tempo, porque eu estou planejando pegar aqueles dois imbecis.

— Infelizmente é uma preocupação, afinal, é ele quem decide se continuamos ou não a operação? Sem isso, a gente pode até perder os distintivos. — Ernest constatou, e Travis bufou jogando o corpo para trás como em protesto pela fala do amigo. — Você está cavando uma cova muito funda com a agência e não quero entrar nessa.

Distintivos e operação, do que eles estavam falando? Ponderei de cenhos franzidos, enquanto Ernest fixou seu olhar no copo por alguns instantes e depois encarou Travis, levando a bebida aos lábios mais lentamente dessa vez.

— E quanto a garota? — Ernest perguntou sem insistir no assunto. — O que vamos fazer com ela?

— A Amy? — Travis indagou num suspiro.

Ernest assentiu com a cabeça, e Travis coçou a cabeça.

— Eu não sei. Ela consegue ser muito teimosa e não pensa. Não dá para confiar...

Congelei no momento em que percebi os seus olhos de Ernest sobre mim. Ele ergueu uma sobrancelha inquisidora em seguida, pegando-me em flagrante.

— Travis. — Ernest apontou em minha direção, com a mão que segurava o copo. — A bela adormecida já acordou... — disse, e eu revirei os olhos devido ao seu tom de sarcasmo.

Travis se levantou do sofá e me encarou por alguns instantes.

Estava nervosa e um pouco zonza. As minhas pernas amoleceram fracamente e eu ameacei cair, mas me segurei ao me apoiar com as mãos na parede. Os dois vieram em minha direção.

— Como se sente? — Travis perguntou, erguendo os braços para amparar meu corpo.

Dispensei sua ajuda com um gesto de mão, encarando-o por um longo tempo, não sabia o que lhe responder, porque estava bem, mas me sentia fraca, fora a perna que ainda doía como um inferno, contudo não estava sabendo lidar com o que estava acontecendo agora.

Por que eles se importavam?

— Porque vocês estão me ajudando? — Indaguei, quando os dois ignoraram meu pedido e me ajudaram a chegar até o sofá da sala mesmo assim.

— Nós não queremos que você morra. — Ernest respondeu simplesmente, forçando um riso sarcástico.

— Eu agradeço a sua bondade, ou seja lá o quê isso for. — Mas, por quê? — Inquiri.

— A pergunta é: por que me sequestraram então? — insisti na pergunta.

Eu sabia que não podia e não deveria confiar neles, mas precisava de respostas urgentemente.

— É uma longa história. — Travis devolveu e eu o amaldiçoei, pois visivelmente, ele não deixaria as coisas mais fáceis para mim. — Você perdeu muito sangue e está fraca, e isso é normal. — Atestou ao abrir a maleta de primeiros-socorros que ficara em cima da mesa. — Isso te vai ajudar a se sentir melhor. — Completou, puxando um saco cheio de algum líquido transparente que me fez retrair instintivamente o coro.

Ele preparou tudo e veio com uma agulha e um duto condutor em minha direção. Recuei mais. O que ele estava pensando em fazer?

— O que você está fazendo? — questionei, encarando-o com desaprovação ao tirar o braço do alcance dele.

Travis suspirou, parecendo se esforçar bastante para se manter paciente.

— Estou tentando te ajudar. — Argumentou, me encarando fixamente, sem recuar.

— E desde quando você faz isso? — Rebati, amargamente.

— Na verdade — ele abaixou o olhar para a bolsa de líquido e depois o ergueu para mim. — Tenho feito faz um tempo, mas você sempre é teimosa demais para reconhecer isso.

— Lavação de roupa suja agora? — Travis e eu desviamos o nosso olhar para Ernest, cujo olhar era de desdém, como se nós dois fossemos um casal brigando.

Ernest deu de ombros e Travis voltou seu olhar para mim.

— Eu sou a sua única chance. — Ele teve a audácia de falar isso, e eu o fuzilei com o olhar cerrado, mas a minha postura tensa e rancorosa se desfez quando ao invés de encontrar um olhar frio, deparei-me apenas com uma preocupação sincera.

Bufei com possibilidade. Preocupação? Meu cérebro riu internamente. Não poderia me permitiria enganar desta forma, Travis não se importava comigo.

— A minha única chance é um médico. — Disparei ríspida, não querendo ceder a confusão interna que estava me causando.

— Eu sou o mais próximo de um médico que você vai conseguir agora. — Eu podia sentir a pitada de provocação em sua voz, e eu não gostava. — É isso ou Ernest, mas eu posso te adiantar que ele nunca aplicou uma injeção antes. Travis suspirou ruidosamente e me encarou. Eu me retraí instintivamente cruzando os braços, me recusando a responder aquilo. — É só um soro com uma dose de analgésico, isso vai te ajudar com a dor. — Acrescentou e permaneceu me encarando.

Engoli a seco, sem muitas alternativas, e permiti com apenas um gesto de cabeça que ele inserisse a agulha com o duto de soro em minha pele.

✦✦✦

Depois de tomar o medicamento, conforme as indicações de Travis, me senti livre da dor. Pensei em agradecê-lo, mas ele não merecia a minha gentileza, mesmo depois da perna não estar mais me incomodando. Direcionava-me ao banheiro, a fim de tomar um banho.

Enfiei a cabeça embaixo do caminho da água morna e lavei os fios até me sentir verdadeiramente livre da água do rio. Fechei os olhos ao sentir uma paz que abruptamente se transformou em pânico. Minha mente me bombardeou involuntariamente com imagens do acidente. A minha pele se arrepiou quando o rosto bonito da minha amiga agora não passava de uma imagem assombrosamente pálida e sem vida. Abri os olhos com urgência, respirando ruidosamente devido a pausa na respiração. Precisei apoiar os cotovelos na parede por um instante quando o sentimento de culpa começou a corroer por dentro de mim. Esperava que a água pudesse lavar isso das minhas costas, mas eu me odiava, e esse sentimento não sairia da minha mente e parecia que eu jamais conseguiria me livrar desse momento.

Mesmo com a torrente de lembranças e o sentimento agonizante, tratei de me enrolar na toalha e comecei a revirar a bolsa de roupas limpas que Ernest havia trazido para mim e as começava a tirar tudo dali de dentro até encontrar um short e uma blusa de maga comprida.

Ao passar o short pela perna lesionada, perdi o equilíbrio por conta da dor e acabei passando a mão por cima da pia, tentando me segurar a ela, mas derrubei tudo o que havia ali, inclusive o aparelho de barbear, o causar de um barulho estrondoso.

— Merda — resmunguei, pegando o aparelho do chão ao devolver para pia.

— O que houve, você está...— Ouvi a voz de Travis invadir o banheiro, e eu me virei, desesperada, soltando um grito, ao perceber que ainda estava sem a blusa.

— O que você pensa que está fazendo? — Indaguei no grito, virando o corpo a fim de puxar a toalha para cima do corpo, me cobrindo desajeitadamente.

— Me desculpe... Achei que... — Ele fez um sinal de calma com as duas mãos. — Eu ouvi o barulho e pensei que estava em perigo. — Alegou, e o seu olhar sobre os meus seios me fez rosnei uma resposta incompreensível.

— Por que isso te importa tanto? — questionei, grosseiramente. — Saia já daqui, Travis! — Berrei, transtornada, achando a ponta da toalha ao conseguir passá-la pelo corpo, empurrando-o em direção a porta.

Bati a porta bruscamente a fim de colocar uma barreira física entre nós e respirei fundo, aliviada, voltando a pegar as coisas da bolsa, me vestindo com a segurança da porta fechada.

Voltei pisando duro rumo à sala e levei a mão na cintura, parando diante dele que estava aparentemente relaxado com as costas recostas no móvel. Encarei seus olhos que pareciam interessados em mim agora.

— Tudo bem. — Soltei, primeiramente. — A casa é sua, eu sei disso. Você também está sendo gente boa comigo, mesmo depois de... — gesticulei com a mão, e Travis semicerrou o olhar para o rumo que estava dando a conversa, mas não me dei ao trabalho de recordar, porque ele já sabia de toda essa merda e esse não era o objetivo da conversa — mas isso não te dá o direito de invadir o banheiro, enquanto eu estou pelada lá dentro.

Travis ergueu o braço, apontando o controle em direção a TV, desligando-a.

— Tá legal! Me desculpe. — Ele pediu, outra vez, num suspiro ruidoso. — Não vai acontecer de novo, mas se ponha no meu lugar por um instante. O barulho me deixou assustado, achei que estivessem invadindo a casa e se fosse o caso, estaria em perigo. Você não pode me culpar por isso.

Encarei-o com relutância e deixei os braços caírem dos lados do corpo, me sentando no sofá, a uma distância segura dele e pude ver quando me encarou de esguelha.

— Sinto muito ter te constrangido. — Ele me pegou desprevenida. Não esperava que ele fosse se desculpar, mas vê-lo fazer isso com sinceridade me fez abaixar a guarda.

Travis exalou ruidosamente e apoiou o cotovelo no sofá, ficando de frente para mim.

— Precisa trocar o curativo — notificou, apontando com o queixo para a minha perna enfaixada.

Abaixei o olhar, recolhendo a perna ao escondê-la do seu contato visual.

— O pior já passou... — soltou, parecendo tentar soar reconfortante.

— Isso não parece ser verdade. — Respondi com tom evidente de amargura na voz.

Em silêncio, ele tamborilou os dedos no estofado do sofá, abaixando o olhar.

— Por que você está fazendo isso? — questionei, voltando o meu olhar para ele, quando o silêncio se tornara incômodo.

Não houve tempo para respostas, pois Ernest abriu a porta num solavanco e avançou sala adentro.

— Já chega dessa conversa de menininha. — Ernest disse ao se jogar na poltrona perto de Travis.

Ele puxou um cigarro do bolso e acendeu-o, levando-o a boca e tragando no momento seguinte, soltando a fumaça no rosto de Travis.

— Porra, Ernest! — Travis reclamou, balançando o braço a fim de tentar afastar a fumaça de si.

O meu peito vibrou numa risada silenciosa e Ernest soltou uma gargalhada, apoiando a mão com o cigarro no braço da poltrona, relaxando para trás.

— Relaxa, meu irmão, você se preocupa demais. — Ernest aconselhou, inclinando-se para a frente ao ficar bem próximo de Travis e depois jogou-se para trás, afundando a cabeça no estofado.

Travis o encarou por algum tempo, ele não parecia muito contente, mas Ernest também não se incomodava com isso, e eu me encolhi, ainda estranhando o comportamento dos dois diante de mim. Eles estavam tão calmos e relaxados, que era estranho assisti-los, sem ficar confusa.

— Quer? — Ernest inclinou-se da poltrona, estendendo a mão com o cigarro para mim.

Encarei-o de sobrancelhas franzidas e balancei a cabeça em recusa.

— Eu não fumo. — Respondi, dispensando.

Ele deu de ombros alternando o seu olhar inquisidor entre mim e Travis, depois ergueu a mão e levou o cigarro aos lábios grossos e marrons, dando outra tragada funda, a figura morena de Ernest tornou-se turva em meio a fumaça que liberou em seguida.

— Uma puxada e você não vai precisar de analgésico até amanhã. — Ernest parecia tentar me persuadir.

Encarei-o por algum tempo, cogitando a possibilidade e ousei lançar meu olhar sobre Travis, que parecia bastante curioso a respeito do que eu faria.

— O que tem nisso? — indaguei, apontando com o queixo para o cigarro.

— É natural. — Ernest limitou-se a responder, esticando o braço para que eu pudesse pegar.

Tomei o cigarro do dedo dele e prendi-o entre os meus, observando o caminho que a fumaça fazia na ponta acesa. Eu não sabia se deveria fazer isso, mas só conseguia me questionar o porquê de não fazer? Eu já estava bastante ferrada e uma tragada me ajudaria a relaxar. Analisei o pequeno objeto nas mãos ao pensar.

— É maconha. — Travis informou, quando levei a ponta do cigarro à boca.

Dei de ombros, a essa altura não importava. Por isso, fechei os olhos e traguei com força, isso encheu o meu pulmão de ar queimado, fazendo-me tossir copiosamente logo em seguida, engasgada com a fumaça que saía picotada pela boca e nariz.

— Que desastre! — Travis resmungou, balançando a cabeça ao me repreender com o gesto.

Ernest gargalhou e Travis respirou fundo ao me encarar por algum tempo.

— Passa isso para cá! — ele pediu, gesticulou com a mão.

Ergui o braço e passei-lhe o cigarro.

— Você precisa inalar devagar e soltar depois... — instruiu, soltando a fumaça bem devagar no meu rosto, eu travei a respiração para que a fumaça não me fizesse tossir. Os olhos bem abertos encarando a boca dele. — Sua vez. — Enunciou, devolvendo-me o cigarro.

Observei-o, o músculo bonito que se tencionava no braço esticado dele, antes de me inclinar e pegar o cigarro. Ergui o olhar ao analisá-lo. Os cabelos bagunçados e a barba cheia davam uma expressão neutra ao rosto, mas seus olhos verdes carregavam um tom anuviado e misterioso. A cicatriz em forma de linha, que começava na têmpora, parava na sobrancelha e depois continuava do côncavo dos olhos até a bochecha, na altura do nariz, não o fazia parecer menos bonito. Porque ele tinha tantas cicatrizes quanto eu. Cocei a garganta, limpando-a num ruído ao sair do transe, quando ele balançou a mão, me tirando da inércia.

Respirei fundo antes e levei o cigarro aos lábios, puxando mais devagar agora. Os meus músculos relaxaram quando a substância entrou em contato com todo o meu organismo e eu fechei os olhos, apreciando a sensação de leveza.

O tempo parecia passar mais devagar agora — pensei, jogando a cabeça para trás e soltando a fumaça de vagar para cima.

— Devolve meu baseado. — Ernest resmungou, inclinando-se por cima de mim ao capturá-lo dos meus dedos.

Ele deu outra tragada, dessa vez mais longa. Ouvi um barulho vibratório e observei enquanto Ernest apalpava a calça, puxando o telefone do bolso — É o Raymond. — Ernest disse, rolando o dedo pela tela do smartphone. — Preciso ir! — Ele estalou, oferecendo o cigarro de novo para mim.

Peguei-o e traguei outra vez. Ernest bateu a mão na de Travis e se afastou em direção à porta, batendo-a atrás de si depois que saiu, e Travis se levantou do sofá, saindo da sala por alguns instantes.

— Precisa trocar o curativo. — disse lá da cozinha, um momento depois.

— Eu consigo. — Respondi com a voz arrastada, dispensando a ajuda dele ao tragar o cigarro outra vez.

Fechei os meus olhos por um momento, a minha mente estava vazia e os ombros estavam leves, recostados no estofado macio. Eu não sentia mais os meus membros periféricos como antes. Eles estavam leves e pareciam dormentes, mas isso acabou rápido, pois Travis surgiu diante de mim, segurando-me pelos braços ao me puxar para fora do sofá.

— Deixa disso. — Pediu, quando me suspendeu pelos ombros, colocando-me sentada na borda da mesa.

— Então... — disse, tragando mais uma vez o cigarro. — Por que você está fazendo isso? — insisti na pergunta, dessa vez, com a voz bastante arrastada, mas não me importava mais, porque a onda tinha me deixado leve e tudo parecia mais suave ao redor.

Inclusive Travis.

— O quê, exatamente? — perguntou, sem se dar ao menos o trabalho de me olhar.

O meu corpo estremeceu um pouco quando ele esticou a minha perna, segurando-a para começar a puxar o curativo do ferimento.

— Me ajudar. Por quê?

Travis ergueu os olhos da maleta de primeiros-socorros para mim e me encarou fixamente por alguns instantes, parecendo procurar alguma coisa no meu rosto. Talvez buscasse o sentimento que aquela conversa me causava.

— Você não precisa morrer... — Ele respondeu, abaixando o olhar outra vez.

Travei por algum tempo e observei-o passar umas gazes por cima dos pontos. A carne ainda estava bastante vermelha, mas o sangramento tinha parado e pensei a respeito do que tinha dito.

— Então, você não quer que eu... morra? — Me atrevi a perguntar, de cenhos franzidos, reformulando a pergunta com base em sua resposta. — Isso não é meio contraditório.

— Porque eu iria querer isso? — Ele rebateu de volta sem alterar o tom de voz, olhando-me outra vez, mas dessa vez com vincos entre as sobrancelhas.

— Eu não sei... — Exalei, fixando o meu olhar sobre ele enquanto ele puxava o curativo que cobria o meu ferimento. — É muito estranho, sabe... depois de tudo o que aconteceu. — Na verdade, quando estava na cela, pensei que você fosse fazer isso... me matar. — As palavras saíram de vagar e com um nítido tom de estranheza.

Os lábios dele curvaram-se num sorriso.

— É estranho lidar com isso... — Soltou, passando o esparadrapo e passando a mão por cima, a fim de fixar mais na pele.

O toque dele em mim fez com que o meu corpo enviasse pequenas correntes elétricas por todo o meu corpo e uma sensação fria preencheu o meu baixo-ventre. — Você não se lembra de nada... seria bem mais fácil se você se lembrasse, me pouparia alguns esforços.

— O que seria mais fácil? — tentei sondar, tragando o cigarro e assoprando-o em seu rosto bem lentamente, de modo que não o enevoasse por uma nuvem de fumaça tão densa. — Do que exatamente eu deveria me lembrar? Por que você simplesmente não me conta?

Arquejei com a dor que irrompeu de repente, contraindo os músculos. Os olhos de Travis brilharam e um vinco se formou entre as sobrancelhas dele. Ele parecia intrigado com o rumo da conversa e se ergueu, ficando cara a cara comigo. Suas mãos repousaram ao lado das minhas coxas sobre a mesa. As minhas pernas estavam livres e ele se encaixou por entre elas.

— Te contar não vai mudar o fato de que não confia em mim. Tudo entre nós sempre foi difícil. Então, o que você quer com isso? — perguntou, a boca dele bem mais próxima do meu ouvido agora, e sua voz viajou no ar num sussurro rouco pelos meus tímpanos, que faziam a minha pele se arrepiar.

— Quer saber, mesmo que não lembre de nada disso amanhã? — Assenti. Ele sorriu, colando a testa na minha, fazendo-me suspirar com a proximidade. — Você sempre foi o amor da minha vida, Amy! Desde o primeiro momento que te vi. — Meus olhos se arregalaram e depois de assistir minha reação, Travis fechou os olhos e riu sem graça. — Isso é patético, eu sei e você também sabia. — Ele tentou se afastar, mas segurei seu rosto onde ele estava e abriu os olhos de novo.

— Continue, por favor... — pedi e ele suspirou, voltando a fechar os olhos com relutância.

— Você sempre foi forte, determinada, inteligente. Eu realmente achei que existia algo entre a gente, mas quando tentei oficializar o que sentia, você me disse que apesar de me amar, não estava disposta a se prender a mim, porque o seu trabalho era mais importante — Travis abriu os olhos, havia um brilho de magoa neles, e me senti mal por isso. Que espécie de monstro eu era para magoar alguém assim. — Mas, mesmo assim eu nunca te esqueci, e não sei se algum dia serei capaz disso. — Travis passou o polegar em minha bochecha. — Eu precisava de ajuda com o Raymond, porque o Seth estava prestes a morrer e então, você apareceu. — Ele sorriu, mais de culpa do que de graça. — Achei que pudesse trabalhar comigo, mas eu fui um idiota egoísta e estraguei tudo.

Seu maxilar estava travado e seus olhos não saiam dos meus lábios. A mão dele passou por volta da minha cintura, apertando a pele com firmeza e isso enviou ondas que me causavam correntes de agitação por todo o corpo. Eu não fazia a menor ideia de onde estava me metendo. Era a droga falando por mim e provavelmente me arrependeria muito disso amanhã. Mas depois do que ele disse, algo me dizia que era verdade, eu o havia mesmo magoado, e me parecia muito pior do que ele deixava transparecer.

Passei a língua pelos meus lábios secos e pisquei algumas vezes, encarando o rosto dele que parecia irresistivelmente atraente agora, e sem conseguir conter resistir a minha vontade de tocá-lo, levei a ponta dos dedos ao rosto dele, trilhando um caminho da bochecha aos lábios cercados pela espeça barba clara. Eu nunca tinha o tocado antes e ele fechou os olhos em resposta a isso, abrindo-os com as íris dilatadas, quando a minha mão caiu em meu colo. Avancei com o rosto, tocando o seu nariz com a ponta do meu e, inclinei a cabeça, beijando-o, minhas pálpebras tremelicando ao fechar, os lábios macios de Travis correspondendo aos meus e me impulsionei mais para frente, usufruindo o máximo que podia dele. Minhas pernas enlaçando ao redor da cintura dele e puxando-o para mim. Mas Travis jogou o corpo para trás, deixando-me à deriva ao abrir um espaço entre nós.

— Você está chapada. — disse num suspiro, passando a mão pelas minhas costas e parando no meu quadril quando eu avancei com o rosto um pouco para frente.

Eu queria beijá-lo novamente.

A mão dele segurou o meu quadril com mais firmeza e me puxou para a frente, tirando-me da mesa e me pondo de pé no chão.

— Hora de dormir.

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