Capítulo 10 | Primeira rodada
"Escolhas são como um jogo de Roleta-Russa."
Quando ouvi a porta metálica que isolava o andar se arrastar, comecei a retirar as roupas de dentro da bolsa, analisando-as da forma que podia em meio à ausência de luz. Havia ali uma jaqueta de couro preta, semelhante a que eu vestia quando fui trazida contra minha vontade para este lugar. Encontrei também um par de botas de cano curto, calça jeans e uma regata preta.
Algo me dizia que já estava sozinha, mas ainda assim vasculhei ao redor com os olhos, buscando encontrar Travis em algum canto escuro, mas quando isso não aconteceu, suspirei e me apressei em começar a substituir as peças de roupa, de modo que não ficasse completamente nua de uma só vez. Eu tentava evitar deixar o meu corpo o máximo exposto possível.
Vesti a última peça que faltava, a jaqueta de couro envelhecido que tinha servido como uma luva e puxei os fios de cabelo para fora da gola da peça, deixando-os cair por cima dos meus ombros. Alisei o jeans lavado com as mãos, que não ficava folgado e nem justo ao corpo. Não era algo muito diferente do que gostava de usar.
Um frio agonizante se espalhou do meu estômago para todo o restante do meu corpo quando Travis apareceu outra vez e digitou a senha no painel para desbloquear a porta que se abriu logo em seguida.
— Prepare-se. Nós vamos dar um passeio! — Informou Travis quando entrou na cela novamente.
— Passeio? — Questionei confusamente.
— Digamos que iremos acertar umas contas hoje.
Limitou-se a responder, lançando-me um olhar enigmático, antes que a minha visão foi repentinamente tomada pela escuridão total. Foi só então que me dei conta de que ele havia posto um saco preto em minha cabeça a fim de cobrir a minha visão.
— O que você está fazendo? — Protestei, sem entender absolutamente nada do estava acontecendo.
O pânico alastrou-se como erva daninha dentro de mim.
— Acalme-se! — Rebateu e eu pude ouvir a sua voz surgir em um tom distinto e calmo, próximo demais de minha orelha; dava para sentir sua barba roçar no tecido. — Eu não tenho culpa se você é meio maluca e nem um pouquinho confiável.
A ponta dos dedos dele deslizarem, passeando do meu pulso para a ponta dos dedos. Isso fez com eu paralisasse de súbito, sem saber o que fazer ou como interpretar o gesto, tirei a mão com urgência, impedindo o contanto.
Uma corrente ria irrompeu a minha carne quando ele enfiou um objeto metálico no cós da minha calça.
— Eu estou de dando mais uma chance de mostrar que pode ser útil, mas se você continuar se comportando feito uma maluca insubordinada, o Raymond não vai te querer aqui e nem eu.
— O que acontece se eu....
Não consegui concluir.
— Vai por mim... Você não vai quer saber!
Não sabia ao certo o que mais fazia os meus dentes rangerem, o contato gélido do material metálico em minhas costas ou a sua voz em um tom macio e quente. Não fazia ideia se o que dissera soava como um conselho ou uma ameaça.
Travis levou a mão ao meu ombro e permiti que fosse conduzida quando ele girou meu corpo, indicando-me a direção por onde havíamos entrado. Depois dali, podia jurar que seguia por caminhos que não conhecia.
O barulho das solas que calçavam os nossos pés contra o chão tomou outra proporção, parecia ser uma estrutura mais sólida e maciça abaixo de nós.
Foi quando senti uma brisa gélida roçar a pele exposta das minhas mãos que me dei conta de que poderíamos estar em um local aberto.
Será que tínhamos saído do interior do prédio?
Desejei desesperadamente que houvesse uma pequena fresta no tecido para que pudesse ver onde estávamos.
Talvez eu reconhecesse o local.
Prendi a respiração por um instante, sem conseguir conter os pensamentos arriscados.
Será que ainda estava em Nova York?
Talvez se remexesse um pouco a cabeça, quem sabe o tecido subisse. Saber onde estava seria um grande passo para a liberdade.
Não houve tempo para muitas tentativas, pois meus movimentos foram interceptados por um súbito estalido seco. Fui induzida a inclinar para frente, de modo que deduzi estar entrando em um carro. Sentei na poltrona que imediatamente atritou-se em contato com a jaqueta.
Senti um calafrio trilhar a minha espinha dorsal ao pensar em onde Travis poderia estar me levando.
Se estivesse planejando um assalto...
A porta se fechou em um baque surdo, interrompendo os meus pensamentos ao me pegar desprevenida, fazendo-me sobressaltar num pulo da poltrona.
Não tardou para que a porta do outro lado se abrisse, batendo em seguida. Ouvi quando o motor for acionado e o carro se remexeu, dando a partida. Recostei a cabeça no confortável assento, de modo a permitir que minha mente me torturasse ao mergulhar nas infinitas possibilidades que o meu cérebro trabalhava.
Perdi completamente o ar dos meus pulmões ao tomar um susto, quando o saco em minha cabeça fora retirado sem aviso.
Atônita, procurei o rosto de Travis que estava atrás do volante e me precipitei em olhar ao redor. Eu queria ver o prédio. Queria ver o que havia em volta, mas não fazia ideia de quanto tempo o carro estava rodando, sem contar que minha cabeça desconhecia o cenário noturno lá fora. Então não adiantaria dar muita atenção para isso.
Olhei pelo para-brisa, observando a estrada pouco movimentada através da noite, nela havia mais árvores do que casas.
A parca iluminação pública impedia que o local afundasse no negrume noturno.
— Para onde estamos indo? — Apressei em perguntar, desviando os olhos do cenário através do vidro para o rosto de Travis que estava focado na estrada.
— A um lugar que você não precisa saber. — Respondeu sem desviar o olhar da estrada à frente.
Não demorou muito para que Travis encostasse o carro próximo a um meio fio, estacionando em frente a uma grande casa de dois andares. A fachada era de madeira marfim, e grandes janelas brancas preenchiam as paredes, mas uma janela em especial chamava mais a atenção, pois brilhava devido à luz acesa do cômodo, o que denunciou a presença de alguém na casa. Um belo jardim ladeava o pé da fundação da casa e as luzes da varanda estavam acesas.
Tentei abrir a porta do carro de modo que saísse dali o mais rápido possível, mas a porta ainda estava travada. Voltei com o corpo bruscamente para o banco e virei meu rosto ficando de frenre para Travis que me aguardava com uma expressão de desagrado.
— Estamos aqui por um motivo. — Pontuou, inclinando-se de sua poltrona para ficar mais próximo de mim, recuei da forma que o banco me permitia e encarei o seu maxilar rígido. — Por favor, não tente fugir e não estrague tudo. — Ressalvou, fazendo um nó se formar em minha garganta com o brilho perigoso que relanceava em seus olhos.
Nossa, ele sabia pedir por favor. Isso realmente me deixou perflexa, mas travei a minha língua enquanto ele mantinha o seu olhar fixo em mim por segundos que se arrastaram como se fossem horas. As travas foram liberadas, e eu tratei de pular para fora do carro.
Cortamos o gramado umedecido pela brisa noturna, rumando em direção aos poucos degraus que davam acesso à porta principal da casa.
Travis precisou bater na porta de madeira branca três vezes seguidas até que alguém lhe respondesse.
O vidro do olho mágico da porta ficou escuro quando uma voz áspera e abafada ressoou de lá de dentro.
— Vá embora, Harmon!
Travis respirou fundo como se buscasse paciência dentro de si e aproximou-se mais da porta.
— Qual é... Seth? Essa não é a melhor forma de receber um velho amigo. — Travis tentou contra argumentar com o rosto muito próximo a porta.
Eu o observava, mantendo-me muito atenta ao que estava acontecendo, mas ouvia-se apenas o silêncio como resposta do outro lado da porta.
Travis olhou furtivamente para baixo, constatando a presença do homem através da sombra da silhueta que vazava pela fresta ao pé porta.
— O que você quer? — A voz do homem do outro lado da porta soou ríspida e hesitante depois que comecei a pensar que ele havia indo embora.
Minhas mãos começaram a suar de ansiedade e apreensão, o que poderia estar acontecendo?
O que Travis queria com ele, e que tipo de conta havia para acertar?
Aí, caramba!
Minha mente entrou em curto quando me lembrei da arma que havia em minha cintura.
— Só preciso conversar com você sobre umas coisas...
O silêncio agonizante voltou a atormentar o ambiente.
— Abra a porta, Seth. — Orientou Travis, dando duas batidas com os nós dos dedos na porta, desta vez seu tom subiu e tomou um ar mais ríspido e ameaçador.
Travis se afastou um meio passo para trás quando se ouviu o estalido repentino da porta sendo destranca. O homem abriu uma fresta pequena, o suficiente apenas para pôr sua cabeça ali.
Surpreendi ao me deparar com um rosto jovem e cabelos encaracolados para cima.
— Eu não tenho nada para conversar! — Decretou duramente, encarando Travis diretamente — Me deixe em paz. Eu não tenho mais nada a ver com os negócios do Raymond!
Segurei a respiração, surpresa. Ele sabia quem era o Raymond?
Seth retirou sua cabeça da fresta e ousou tentar fechar a porta na nossa cara. Porém Travis interrompeu o movimento, apressando-se em colocar o pé entre o batente e a porta, impedindo que ela se fechasse totalmente na nossa cara.
— Isso não é jeito de tratar um amigo! — Travis disse, empurrando a porta, e abrindo-a um pouco mais.
— O que vocês querem? — Seth indagou estava com os olhos esbugalhados assim que me viu. Ele parecia muito assustado.
— Sabemos que você está com uma coisa que não é sua. — Percebi tom tranquilo de Travis se transformar em algo violento e severo.
Travis forçou a porta a se abrir mais, contra a vontade de Seth, que ainda a segurava e se pôs para dentro da casa, no momento seguinte e embora fizesse um grande esforço para não surtar diante do que estava acontecendo, fiz o mesmo, receando que alguém passasse na rua e me visse invadindo a casa de um estranho.
Antes mesmo que pudesse piscar, o garoto saiu correndo em disparada, esquivando-se dos móveis que adornavam o cômodo. Travis correu no instante seguinte, capturando-o nos primeiros degraus da escada que ficava entre a cozinha e a sala, desferindo um soco brutal no rosto do jovem, levando-o a inconsciência instantânea.
Travis suspirou e arrastou o corpo inconsciente de Seth pelos pés de volta para o centro da sala, deixando-o ao pé do sofá. Afastei-me com ânsia da figura desacordada, voltando para perto da porta.
Talvez eu devesse fugir.
Parecia ser uma boa hora, mas talvez Travis corresse atrás de mim e as coisas poderiam ficar mais feias do que já estava.
— Fique de olho nesse idiota! — Ordenou quando passou por mim. — Se ele acordar, não o deixe escapar.
— E o que eu faço se ele acordar? — perguntei, minha voz deixando em evidência todo o desespero que havia em mim, antes que ele saísse e me deixasse sozinha.
— Se precisar, atire, mas não o mate. — Instruiu, dando de ombros para o meu desespero. Abrindo a porta da saída e fechando atrás de si.✦✦✦
Gente, socorro!! Saiu o capítulo.
Espero muito que vcs estejam gostando dessa história, sério.
Essa é a segunda vez que tento postar aqui.
A primeira versão não ficou exatamento o que eu queria, então estou editando os capítulos e fazendo repost. Deixa um comentário aí, com a opinião de vcs. Eu adoraria saber o que vcs estão achando!
Beijos no coração de todos. Oh! Hoje foi maratona dupla [Dia especial]
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