capítulo único.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Fujinaga vivia em um ciclo interminável de palavras.
Facilmente se perdia entre significados e metáforas que se entrelaçavam como uma tapeçaria em sua mente; poesia e poemas.
O mundo, para ele, diferente de outras pessoas, não era feito de ações; sim de expressões, de versos soltos e frases que carregavam mais do que a realidade permitia. Ele se embebedava, não em líquidos politicamente aceitos, mas sim nas palavras, em seus significados.
As palavras tem esse poder, sabia? Te deixar louco. Elas e seus significados. Para se embebedar dessa "forma saudável", não era suficiente a leviandade de apenas uma lida, mas é necessário entender a agonia. Cada pequena sílaba em uma palavra rasgava, então, um pedaço de sua própria existência.
Palavras são fatais. Palavras, então, machucam, mesmo não sendo sua real intenção. Palavras matam. Palavras, elas de uma forma sutil, te torturam.
Hoje era apenas mais um dia em que a bruma do pensamento o envolvia por completo. Sakuya sequer conseguia distinguir as palavras que o petulavam naquele momento, ao seu redor. Ecoava como aquela melodia chata e incessante da música que Riku colocara para tocar em sua casa.
Estava sentado no banquinho da cozinha da casa dele, rodeado por seus amigos. Jaehee gesticulava sobre algum ocorrido recente, Riku ria ou contava uma piada sem graça ── o mais frequente ──, Sion encarava a tela do celular como se procurasse respostas sobre algo e Yushi mexia de forma distraída no copo à sua frente. Ryo, no mais, observava o amigo mais novo com um olhar analítico; Fujinaga odiava aquele olhar.
── Saku... Cê tá estranho... ── inclinou mais a cabeça, observando bem as bochechas infladas do amigo. ── Você não foi na onda do Sion e bebeu, não é..?
Piscou várias vezes antes de responder. Arfou sem graça, pela pergunta idiota que seu amigo fizera. Beber? Ele não precisava disso. Deu um sorriso torto.
── Eu sou poeta, Ryo. Não preciso de drogas lícitas para estar fora de mim. Boas dosagens de palavras difíceis já acabam comigo.
O grupo trocou olhares.
Alguns riram, como de costume. Outros apenas suspiraram, acostumados à forma como Sakuya via o mundo. Mas, ele sabia. Ele sabia que sua embriaguez não podia vir do álcool, mas da forma como as palavras consumiam sua mente; sempre, sempre e sempre o prendiam em um labirinto sem saída.
Ele não escrevia para ser compreendido, nunca fora sua intenção.
Ele escrevia porquê, se não o fizesse, as palavras o destruiriam. Cada sentença era uma lâmina que cortava sua sanidade. Cada metáfora um abismo onde ele se jogava sem hesitação; apenas os tolos hesitam. Mesmo que seus pensamentos ainda fossem banais, suas idealizações mais ainda, ele queria poder ser tolo e hesitar na maior vontade, mas não podia.
Ele morreria pela intoxicação de palavras caso o fizesse. Morreria incansavelmente.
Morreria em pensamento. Quando acordasse e pensasse que não tinha morrido de verdade, voltaria a pensar pelo quê morreu e isso seria um loop.
O problema de Sakuya não era a poesia. O problema era que ele não sabia viver sem ela.
Não podia viver sem.
aoba, outra história baseada em moodboard que eu fiz ano passadokkkk espero que tenham gostado, não tenho muito o que falar sobre, até à próxima!
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