Capítulo XIV
O cheiro de sangue continuava atiçando meus sentidos. É deprimente o fato de gostar disto, as pessoas caídas em minha volta em intensa agonia, não deveria ser interessante para mim. Minha boca salivava e senti vontade me juntar aos carrascos punindo as pessoas que ali estavam. Imaginei o que teriam feito para estar na miséria que agora se encontravam, alguém ali teria feito o mesmo que ele?
ESTÁ TÃO PARECIDA COMIGO.
Desviei meus pensamentos do incomodo assunto. Era quente cheio de gritos, verdadeiramente sombrio, os terrores que passei anteriormente não eram nada perto deste lugar. Mintrebo continuava voando comigo em seus braços, me senti impotente, mas o que poderia fazer? Caminhar até aqui, seja onde for? O cenário de tortura se estendia por uma vastidão infinita. Em seu centro tinha uma espécie de caixa ondulante de uma enorme proporção. Assim como o muro de Betelguers era oscilante e possivelmente, os pontos negros que flutuavam em sua volta eram guardas. Não consegui enxergar o que tinha dentro pois me senti apreensiva com o que quer que estivesse lá, e só então percebi que estávamos indo em sua direção. Os gritos começavam a me incomodar junto do cheiro de carne queimada, minha pele se arrepiava. Medo, agonia, angustia, sofrimento, amargura, padecimento. Nenhuma conseguia descrever bem o que vejo. Me sinto inquieta.
Mintrebo aterrissou em uma ponte bem esculpida de madeira escura, abaixo dela havia um rio que logo reconheci seu cheiro. Sangue. Algo flutuava nele, na verdade varias coisas. Corpos boiavam e a surpresa fez com que me afastasse da borda. Os olhos dos corpos se voltaram para mim, mas não disse nada, apenas permaneceu com eles vidrados em mim. Segui em direção a oscilação e Mintrebo veio atrás de mim, parecia se preparar para caso eu sai-se correndo do local e desisti-se da ideia de conhecer seu lorde. Parei antes de entrar e olhei para ele, depois de seu aceno afirmativo passei minha mão e logo em seguida meu braço, lentamente. Coloquei a cabeça e meus olhos pareciam se enganar, voltei para fora da barreira e olhei o caus de dor e o cheiro de carne podre.
- Passe - Mintrebo mandou com autoridade.
- Ira entrar?
- Não sou permitido do lado de dentro. Vamos, entre, tenho tarefas a cumprir.
Ele foi em uma direção oposta a da barreira oscilante, e temendo ficar sozinha neste local horrível, entrei.
Ou estou tendo fortes alucinações, ou estou em um local diferente. Não é possível. Fora desta barreira apenas vi dor e dentro, a palavra que poderia descrever era magnifico. Não era quente e não se podia escutar os gritos de agonia vindos de fora dela.
O cheiro era o delicioso e acolhedor odor da grama verde que em muito tempo não via. Um jardim enorme e cheio de flores maravilhosas estava em minha frente, árvores, e o lindo céu azul que senti falta. Grandes tores e paredes de pedras, um lago com carpas, uma tenda e um labirinto de arbustos. Como a mais bela paisagem que vi em minha vida poderia se encontrar em meio a tamanho horror. Até mesmo minhas defesas se abaixaram e segui para a ponte de pedra em cima do lago que corria em torno do enorme castelo, notei que as gárgulas estranhas que tinham em seu topo nem ao menos me incomodavam devido a beleza geral do lugar. Fui para a porta que se abriu quando estava a alguns passos dela. O interior era tão belo quanto o exterior. Bem iluminado e vindo de uma passagem em meio ao salão vinha um homem alto de cabelos negros ondulados com uma aparência impecável, seu sorriso se abriu e seus brancos dentes fizeram minha nuca se arrepiar. Continuei caminhando lentamente em sua direção e desconfiei que este fosse o falado lorde Arctrus. Senti-me insegura perante ao possível poder que deveria ter, mas agora não poderia fugir nem que deseja-se. Ele se curvou, beijou minha mão e assim que a soltou fiz a normal reverencia. Sua pele clara contrastava com seu cabelo negro. Tinha uma expressão serena em seu rosto, ele era forte e seus muculos eram visíveis pelo modo como sua roupa se ajeitava em seus movimentos. Ele era cerca de uma cabeça mais alto e seu sorriso não se esgotava. Seus olhos verdes me atraiam.
- Arctrus suponho.
- De fato. Srª Maccol - Disse enquanto estendia para mim seu braço - Gostaria de conhecer o local?
- Sim. Desse modo o risco de me perder mais tarde seria menor - Sorri o mais casualmente possível - Tem um belo jardim, poderia ficar observando-o por horas.
- Fico aliviado, pelo que meu criado disse imaginei que fosse gostar dele, mas estive receios sobre ele. Mandei que o refizessem diversas vezes.
- O resultados de seus jardineiros realmente me agradaram. Uma das mais belas paisagens que já.
Caminhamos pelos cômodos e em cada corredor haviam servos. Passamos boa parte do tempo falando sobre assuntos sem importância e acabamos o passeio em um balanço que ele tinha em seu jardim.
- Lorde, o jantar está para ser servido. Perdoe-me pela intromissão.
A criada apareceu repentinamente de cabeça baixa não nos olhando em momento algum. Arctrus a dispensou e entramos. Senti que ele não era tão agradável e gentil quanto se manteve durante o dia. Em sua presença os servos se mantinham olhando para o chão e encostados nas paredes para não atrapalhar o caminho até a sala de jantar.
- Podemos continuar fingindo não saber que você, lorde Arctrus não é quem está tentando parecer ser e ir direto ao ponto. Me prometeram respostas e eu as quero o mais rápido para poder sair daqui.
- Uma dama ansiosa pelo visto. E sim, quis me manter agradável, mas não sou mal como pensa que sou. Sobre suas respostas pode vir ao meu escritório amanhã, não se deve falar de negócios a mesa.
- Muitos acham ser o melhor modo de fechar negócios já que todos adoram se deliciar com banquetes.
- Foi-me ensinado que negócios não devem sair do escritório.
- E mesmo com este ensinamento estou sentada a sua mesa.
- Posso quebrar as regras por uma adorável dama.
- Ele flerta.
- Faço muito mais -Seus olhos verdes roubaram minha atenção - Ficaria surpresa com o que posso elaborar.
- Imagino que sim - Me senti inquieta e coloquei uma de minhas mexas atrás da orelha.
- O que a esta incomodando?
- Não se preocupe com isto, não existe nada que me perturbe.
- Vejo que não gosta de fraqueza, me ajude e deixe-me ajuda-la, assim todos sairemos felizes.
- Sem mortes?
- Nossa ou de desconhecidos? - Meu estomago se revirou com o enorme sorriso que se formou em seu rosto.
- Ambos.
- Não posso prometer, mas sempre teremos que lidar com traidores - Seu olhar tornou-se perverso - Quem sabe arrancar alguns corações - Ele sabia. Claro que ele saberia.
- Vejo que descobriu sobre minha momentânea perda de controle.
- Honestamente não acreditei no que havia feito, mas depois lembrei do meu criado qual derreteu em uma poça de fluidos, e, aproveitei o show. Foi magnifico, não tenho palavras para descrever o quanto foi belo aos meus olhos - Ele não poderia estar sendo sincero sobre isto - Faz coisas admiráveis, realmente uma dama peculiar.
- E você lorde, o que você é? Se me permite a pergunta.
- Eu sou muito diversificado, terá de ser muito especifica se quiser saber algo. Não é um assunto para esta noite, conte-me sobre você.
- Não tem muito o que lhe dizer - Não lembro do que fiz - Não vivo grandes aventuras.
- Entendo, assunto delicado, vejo que não tem suas memorias completas ainda.
- Como pode saber sobre isto?
- Eu sei de muitas coisas e as que não sei, descubro. Assim que sobrevivi a tantos séculos.
- Não aparenta a idade que diz ter.
- Não tenho mais de meio milênio, parei de contar em algum momento - Olhei surpresa, e isto o fez rir alto - Idade é irrelevante.
- Isso é algo que apenas alguém que viveu muito poderia dizer.
Um criado se aproximou e sussurrou algo em sua orelha despertando minha curiosidade.
- Desculpe querida - Disse andando até mim - Alguns encrenqueiros vieram esta noite.
- Encrenqueiros?
- Ninguém fica feliz e aceita bem ter vindo parar em Pollux para pagar por seus pecados. Deixe-me levá-la ao seu aposento, o mínimo que posso fazer por me retirar repentinamente.
- Realmente acha que sou estupida o bastante para acreditar que vai sair deste local para resolver problemas com alguns encrenqueiros? - Ele sorriu em resposta para evitar responder a pergunta.
Ele me deixou em meu quarto e se foi, senti que seja o que fosse fazer mas tarde eu deveria descobrir. Revistei o quarto e não pude encontrar nada suspeito. Parte da noite passei em claro já que meus problemas para dormir persistiam.
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