Capítulo I
🐼 millena1D 🐼
O nascer do sol em meu rosto realmente é um incomodo. O pior ainda estava vindo, as pontadas em minha cabeça estavam piorando a cada segundo, mal abri os olhos e estava mais cansada do que nunca. Senti uma dor aguda em meu coração como se cristais de gelo estivessem percorrendo minhas veias, cortando artérias e músculos. Minha vista estava embaçada, mas ainda assim pude notar uma sombra escura e anormal no teto branco logo acima de minha cabeça. A sombra se mexeu repentinamente caindo em cima de mim, tentei mexer minhas mãos para afastar o que acabará de cair, mas elas estavam presas por correntes pesadas que impediam qualquer movimento delas. Logo apelei pelas minhas pernas, porém, meus tornozelos estavam na mesma situação de meus pulsos.
- Sente-se Emmeline, está com fome? Se não comer o suficiente não irá aguentar o evento dessa noite. Mal posso esperar para vê-la dançar em meus braços, suas vestes estão prontas, basta escolher a que mais lhe agrada. - Os olhos que agora pousavam sobre mim eram familiares. Azuis acinzentados. Minha respiração estava ficando mais irregular. Seu sorriso cresceu, será que poderia escutar?
- Saia de cima de mim, me solte o que acha que está fazendo seu animal deplorável, não se atreva a achar que irei acatar suas ordens – A fúria em minha mente estava se tornando intensa mesmo sem saber de onde ela vinha, mas junto dela o pânico se espalhava.
- Não faça essa expressão minha linda e doce Emmel, se não for obediente terei que apertar mais forte suas correntes. A deixei solta e quase matou metade de meus criados, fez uma grande sujeira. Mas não pude deixar de apreciar o modo como rasgou a garganta de um deles, realmente memorável.
Seus olhos pareciam atravessar meus pensamentos e ler minha alma. Seus traços eram bem desenhados, parecia um anjo, porém, com certa maldade. Seus cabelos ondulados e bagunçados eram tão claros quanto o céu. Havia certo deboche em seus olhos, um claro sinal de sua grande arrogância, mas estava presente no mesmo certo divertimento, aparentemente me tornei seu entretenimento momentâneo. Tentando me levantar, senti náuseas e um refluxo subindo por minha garganta dolorida. Quando o liquido cintilante saiu, o homem desconhecido logo a frente olhou perplexo parecendo não acreditar no que acontecerá nesse instante. Lutando contra o impulso de desmaiar novamente senti as dores se fortalecerem e comecei a suar. Ele ensopava minhas vestes junto do líquido que saia de minha boca. Pulmões ardendo, o ar escapando e o cenário girando, novamente tudo tentou se apagar. A voz do desconhecido se tornou um eco cada segundo mais distante, e o silêncio voltou a ser um conhecido recebido por minha mente.
Repentinamente um choque atravessou meu corpo não deixando que o silêncio consumidor persisti-se. Não tive forças para me mover nesse mesmo instante, mas pude escutar o barulho de uma festa logo após a porta de meu aposento. Em minha terceira tentativa de sentar na cama, o teto se estabilizou e pude notar que na cômoda ao lado da cama repousava um bilhete com a mais bela caligrafia que já vira.
"Minha adorável Emmeline, não pude permanecer, pois o baile estava para começar. Se está lendo isso as poções e ervas estão fazendo efeito e logo estará se sentindo bem, lamento pelo ocorrido, falha de minha parte. Se estiver disposta, sua presença seria incrivelmente apreciada por mim está noite. Deve ter perguntas e tenho a intenção de responder parte delas esta noite, sob as estrelas.
Atenciosamente
G. Sebastien"
Levantei e caminhei ao imenso vestido que se localizava ao outro lado do quarto, ele possuía mangas longas de camurça bordô, seu espartilho inteiro bordado com pedrarias e sua saia longa e armada, além de múltiplos detalhes em dourado. Fui até uma porta semi-aberta na parede ao lado. Fiz um coque, tirei minhas roupas e por fim entrei na banheira morna sentindo todas as partes de meu corpo relaxar. Sai rapidamente dela e enrolei-me em uma toalha. Saindo da estufa me deparei com uma mulher estranha parada junto a porta. Seus olhos pareciam amedrontados e tristes. Seus cabelos loiros estavam arrumados impecavelmente em um coque no alto de sua cabeça, seus olhos negros pareciam um poço de mágoas, mas mesmo assim ela estava com a postura reta e seu uniforme limpo. Estava machucada, seu pescoço enfaixado, parecia tremer levemente assim que me viu.
- Você está bem?- perguntei aflita, depois um pouco mais de um minuto sem resposta ela finalmente respondeu de um modo nervoso.
- A senhora deve me dar permissão para falar. Não é permitido dialogar com hóspedes. Aprecio sua pergunta, mas não deve se preocupar comigo. Sra. Maccol, estou aqui para auxiliar em suas vestimentas. Daria-me a honra de arrumar seus cabelos?
- Claro, qual seria seu nome?
- Criada, me chame por criada. Permita que eu continue meus afazeres em silêncio.
- Não quero prejudicá-la, queira me desculpar.
Durante os seus cuidados comigo, permaneceu calada, tremia menos, porém em nenhum momento olhou para meus olhos. Ao sair desculpou-se por sua demora ao me aprontar, abriu a porta para mim e rapidamente desapareceu no corredor. Segui em direção a música alta e os barulhos de taças até uma escada alta. Procurei pelo homem que escreveu o bilhete deixado na cômoda do aposento onde fiquei. Como fui adormecer no palácio de alguém que nem ao menos saberia o nome se não tivesse visto em um bilhete?
- Procurando por alguém minha doce Emmeline? - Seu perfume logo invadiu minhas narinas devido a sua proximidade ao meu corpo para que conseguisse sussurrar em meu ouvido, me virei e contemplei seus olhos. Ele estava lindo a ponto de deixar-me sem palavras. Senti-me impotente perto dele, nesse instante notei sua altura e apreciei seu rosto. Tudo era estranhamente familiar, existia algo mais do que essa manhã - Vejo que leu meu bilhete, sente-se melhor agora?
- Muito melhor graças às poções e ervas, lamento por ter sujado todo o quarto.
- Não há problema, mas sei que existe algo mais em sua mente, vejo em seus olhos. Pergunte, prometi responder parte de suas duvidas essa noite. Mas antes terá de dançar pelo salão em meus braços, coloque isto.
Seus olhos assumirão um novo tom, saia nesse instante de um azul acinzentado para um tom esverdeado. O que ele era realmente foi a primeira pergunta que me ocorreu. Vesti a máscara recém entregue a mim, era dourada com as pedras mais lindas que já vi. Coloquei minha mão sobre a de Sebastien e permiti que ele me conduziu-se escadas a baixo e por fim pelo salão. Quando os músicos notaram sua entrada começaram a tocar uma melodia suave e lenta, tive a impressão de que ele programou isso. As pessoas abriam espaço na multidão quando passávamos, havia uma imensa admiração nos olhos de alguns e nos de outros certa inveja mal escondida. Quanto mais perto do centro do salão, mais os rostos mascarados abriam espaço, mais sentia os aromas da comida recém preparada e da cera das velas dos imensos candelabros espalhados pelo teto do salão. Sebastien colocou a mão em minha cintura e a outra colocou sobre a minha, logo me conduzia pelo salão a passos leves e em alguns momentos me girava. Logo os que nós observavam se aproximaram e dançaram a nossa volta, como fim da música saímos do meio do baile e se dirigimos a imensa porta de vidro onde ficava o jardim.
Ao abrir a porta, logo foi perceptível os aromas doces e suaves sendo carregados pela brisa fresca. Retirei a máscara de meu rosto e ele fez o mesmo logo em seguida.
- Onde me encontrou Sebastien? Por que não lembro os fatos anteriores? Há quanto tempo estou aqui?
- Você vai lembrar quando sua mente estiver pronta, vai vir aos poucos. Está a um longo tempo, a encontrei em uma cela. Estava ensanguentada, a trouxe para minha casa e a mesma mulher que a vestiu hoje a limpou. Quando voltei para verificar seu estado vi o que havia em você e isto a deixara em paz por um tempo, mas quando voltar se não a controlar ela irá consumir sua alma inteira.
- Por que aquele líquido saiu de minha boca? Nunca escutei sobre qualquer relato semelhante ao que ocorreu hoje.
A porta do terraço foi aberta um convidado se aproximou lentamente.
- Sr. Grant, venha conhecer minha filha, é uma jovem adorável.
O convidado saiu o puxando para longe de mim. Ele não respondeu as minhas perguntas, como ousa sair dessa maneira. Antes mesmo de pensar sobre as conseqüências de meus atos não resisti a me manter calada.
- Sebastien. - disse em um tom neutro, mas meus olhos deveriam expressar fúria, pois os dele expressavam divertimento e surpresa.
- Lamento, mas está noite já estou acompanhado de uma jovem adorável. - Ele olhou para mim de um modo em que meu peito pareceu explodir momentaneamente.
- Vamos Sr. Grant. Não me faça insistir - O convidado rude obviamente havia bebido mais que o seu corpo tolerava.
Sebastien desviou seus olhos dos meus e olhou profundamente aos do convidado a sua frente. Sussurrou palavra que não consegui captar, mas o homem saiu imediatamente como se fosse algo natural ser mandado para outro lugar de tal maneira. Quando se virou para mim, eles estavam mudando sua cor novamente para o azul acinzentado.
- Como fez isso?
- Irá precisar de muitos anos para fazer o mesmo. - Ele riu de modo suave e provocativo - Venha, vamos dar uma volta.
- Vai fugir de sua própria festa? Achei que fosse um bom anfitrião.
- Vamos apenas explorar o jardim, e modéstia parte, eu sou um ótimo anfitrião. Venha.
Esticou a mão para mim, e me levou para a borda do terraço onde apertou uma determinada parte na parede e uma escadaria apareceu repentinamente. Toda casa tem suas passagens, seus segredos. Se pudessem, quais deles suas paredes falariam para mim?
***
Após horas com ele em seu jardim, percebo que ele conseguiu desviar todas as minhas perguntas. Elas obviamente o deixaram desconfortável. Voltamos para o fim da festa onde ele se despediu dos convidados gentilmente, e o homem que nos encontrou no terraço parecia não lembrar de nós ter visto, Sebastien realmente é um sujeito peculiar. Trouxe-me a porta dos aposentos onde estou beijou minha mão e foi para seu quarto. Espero ter uma noite tranquila de sono após tanto tempo, não vou me preocupar com a lua.
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