Capítulo V
No meio da noite, pareci acordar, mas não exatamente. Eu não conseguia me mexer umcentímetro; meu corpo estava totalmente paralisado, como se estivesse preso por correntefrias e pesadas a cama. Um desespero enorme tomou conta de mim pois aspartes escuras do quarto, antes não sendo merecedoras de atenção, agora pareciam contermil perigos e segredos que se espreitavam com olhos escondidos, quase como a flor, e nãohavia nada que eu podia fazer porque eu não conseguia sequer mover um músculo. Meucoração gélido batia rápido enquanto minha vista ficava estranha; era como se houvessemolhos por todo meu corpo e eu tivesse uma visão ilimitada e desesperadora do quarto inteiro.
Uma luz , primeiro distante, pareceu se aproximar mais e mais da janela, preenchendoainda mais o brilho do noite. Meus batimentos cardíacos corriam freneticamente, sem amínima ideia do que pensar.
Um disco branco acinzentado lentamente começou a se revelar do lado da janela,enchendo o quarto com uma luz maligna. Tomando mais e mais espaço, se mostrou a superfícieda Lua como uma vilã austera, invadindo o quarto e refletindo seu brilho insalubre em meusolhos arregalados.
Esse terror não se compararia ao que veio depois, que até hoje me lembro de cadasegundo. Ela apareceu... ela...
Uma mão ossuda e velha com unhas enormes e sujas se agarrou na borda de baixo dajanela, e como se fosse o demônio em pessoa, ela apareceu. Seu cabelo longo, liso e brancoparecia prateado enquanto aparecia lentamente acima de sua mão, e, quando mal pudeperceber, estava lá a criatura, botando uma perna para dentro do quarto; era uma velha nua ede aparência odiosa. Sem nenhum artigo de roupa, mostrava sua mínima carne que cobriaossos protuberantes em membros extremamente magros. Os olhos eram de um vermelhohorrível e nauseante, como se o sangue de um cordeiro houvesse sido derramado neles. Aquela realmente uma criatura horrenda.
Com passos lentos e um olhar cortante, foi chegando mais e mais perto de mim, cadapasso valendo a 1.000 batidas de meu coração. Parou sobre mim, olhando para baixo com suafigura escurecida que barrava a luz estridente da Lua na janela. Seus olhos vermelhosbrilhavam em sua forma rude e pontuda pelos ossos tão visíveis.
Tentei falar, tentei me levantar, tentei gritar, tentei me espernear.Nada.
A criatura levantou suas mãos rugosas sobre meu peito, e logo eu soube, de algum jeito, oque se seguiria. Aproximando mais suas garras do meu coração que claramente batia de umjeito frenético debaixo do tecido da roupa, aprofundou suas unhas sujas na pele. Uma dorestridente se espalhou com a mesma intensidade em toda parte de meu corpo; era como se acarne de minha pele houvesse, de algum modo, se dissolvido em um líquido estranho quepoderia ser facilmente penetrado.
Com a mesma expressão apática e cruel, a criatura intensificou meu sofrimentoaprofundando mais sua mão. Se o inferno existisse, aquela seria a sensação horrível que ospecadores experimentavam, pensei. Cada centímetro da garra do monstro se aprofundando parecia um novo nível mais profundo do inferno sendo adentrado. O quarto parecia ir seescurecendo.
De repente, uma sensação extremamente diferente me acometeu, mesmo sendo tão ou mais dolorosa que a de antes. No ponto mais profundo de meu peito, fui atingida porum aperto terrivelmente gelado e doloroso que pareceu confinar meu próprio ser. A dor eratão forte que pensei que poderia finalmente soltar um grito de tão forte que eles ressoavam mentalmente.
Lentamente e pesadamente, aquele frio de outro mundo foi sendo puxado para fora deminha carne, e eu me sentia como se as vísceras dentro de mim houvessem sido cortadas epuxadas por lâminas vermelhas e brilhantes. Nascendo de fora de meu peito, aparecia a mão da velha segurando algo pulsante egrudento; era meu coração. Linhas de sangue se derramavam em meu corpo enquanto meu órgão vital era erguidocomo um troféu profano segurado pelas mãos de um monstro infernal.
Subitamente, de escuro, tudo se tornou totalmente negro. Todo esse tempo, a Lua estevepassando pela janela, e agora havia totalmente se movido para o outro lado.
Aquela foi uma das experiências mais horríveis de toda a minha vida. Por mais que muitasparecidas prosseguiram essa, a primeira vez que você se encontra com o puro horror é bemmais marcante do que todas as outras.
Com a Lua sendo apagada, foi como se eu houvesse voltado e dormir. Sinceramente, nãome lembro de como foi me meu sono depois daquilo, provavelmente tive um pesadelo. Quando acordei com meus olhos apontando para o teto, o intruso Sol novamenteinfestava o quarto. Dei um grito impulsivo pelo que havia acontecido antes. Em segundos,minha mãe abriu a porta, assustada.
— O quê aconteceu, Amapolia? — Perguntou bastante preocupada.
Em meu coração, subitamente brotou-se uma semente de expectativa gigantesca decorada por felicidade. Me levantei com pressa e me olhei para o espelho,
mas nada havia mudado.
De novo derrubei meu rosto na cama, voltando e lacrimejar. Minha mãe, com umaexpressão dolorosa e silenciosamente fechou a porta e me deixou sozinha. Chorando.Mancando. Caindo. Sofrendo. Nesse pesadelo sem fim.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro