Parte V
Desde que anunciamos nosso casamento, eu vinha ouvindo todo tipo de comentário. Meu pai só tinha um irmão e ele já tinha falecido, mas minha mãe tinha vários. E mesmo que eu nunca tenha sido muito próxima de nenhum dos meus tios e tias e muito menos dos poucos primos que tinha, eles todos me escreveram para me desejar boa sorte e felicidade. Claro que estavam todos convidados e nem precisaria disso. Mas era como se eles tivessem muito mesmo o que comentar e não pudessem esperar.
Durante o mês todo, eu ouvi repetidas vezes várias coisas deles. Em chás da tarde ou até mesmo por escrito, os ouvia falando de mim mesma como se fosse outra pessoa. E sempre concordava com a cabeça, agradecia, era tão cordial quanto devia ser em uma situação como essa. E nada que um me falou era muito diferente do comentário do outro. Era praticamente sempre a mesma coisa. As mesmas felicidades. A mesma festa enorme que esperavam. A mesma pena que tinham de mim.
Sim, eles tinham pena. Eles me diziam o quanto estavam felizes por mim, me desejavam boa sorte e depois, como se não fosse nada, eles ficavam com pena de mim. Pena de que minha mãe não estava ali para me ver casando. Pena de que ela perderia esse dia, esse momento com o qual ela devia ter sonhado tanto em sua vida.
Eu mesma nunca tinha sonhado com o meu casamento. A ideia não me incomodava tanto a ponto de realmente pensar em nunca me casar. Mas tão pouco me era natural.
Talvez fossem todas as vezes em que ouvi as pessoas discutindo com quem eu me casaria desde pequena. Era assunto desde que eu tinha nascido e ninguém fez muita questão de esconder isso de mim. Me lembrava bem de brincar com filhos de amigas de minha mãe e me perguntar se seria com eles que eu teria que me casar, só porque, enquanto nós brincávamos, as duas conversavam sobre meu futuro. Era normal falar sobre isso. Mesmo que eu tivesse seis anos, dez, quinze. Meu casamento era o segundo grande evento na minha vida, o segundo mais importante. E, para todos efeitos, questão nacional.
Mas mesmo que minha mãe e até meu pai tenham pensado nisso já antes, mesmo que o reino todo tenha imaginado esse dia, eu mesma nunca parei para sonhar com ele. Nunca tinha me emocionado em eventos assim, nem mesmo no casamento do Príncipe Sebastian alguns meses atrás. Nunca tinha visto tanta graça em vestidos de noiva e me preocupado com o que eu falaria. Simplesmente nunca tinha sonhado, nunca tinha fantasiado com quando eu aceitaria passar o resto dos meus dias com o mesmo homem.
Mas ali, de frente para o espelho, eu sentia como se tivesse passado cada segundo da minha vida só esperando chegar àquele momento. Sentia que não havia mais nada no mundo que importava, como se o fim dos tempos estivesse chegando e o único jeito de fazer tudo ter valido a pena era olhar nos olhos de Reid e prometer que eu o amaria enquanto respirasse. E não sabia porque estava assim, porque, de repente, só conseguia pensar em entrar na igreja, em me casar com ele. Talvez fosse a proximidade do momento, talvez fosse o pouco de tempo que eu tinha passado com ele antes do almoço.
Ou talvez fosse o vestido à minha volta.
Ele era mais do que bonito. Pendurado do lado de fora de meu closet, ele era lindo.
Mas, em mim, ele era maravilhoso. Devastador. Eu não consegui passar nem alguns segundos o olhando no reflexo sem lacrimejar e era a pior pessoa do mundo para chorar.
Mas ele era grande, imponente. Era simplesmente impressionante. Não conseguia tirar meus olhos dele, do branco refletindo na minha vista. Não conseguia pensar em mais nada e nem precisava. Só de vê-lo, de vesti-lo, eu já estava feliz.
Clarissa se inclinou para mim com uma caixa de lenços na mão. Eu me senti idiota, mas até ri recusei, me recusando a chorar de verdade.
Não era a minha primeira prova, eu estava sendo emotiva demais. Já o tinha vestido várias vezes, depois de vários consertos. Não tinha porque chorar naquele momento.
Mas talvez fosse o véu também, que se estendia atrás de mim. Ele foi preso rapidamente, só para ver se não atrapalharia o vestido. Mas seria praticamente impossível atrapalhar. Os dois combinavam perfeitamente e quase não precisavam de mim ali.
Eu estava tão...noiva! Nunca tinha me visto assim, nem achava ser possível me imaginar assim! Era tão nupcial, que me sentia como outra pessoa. Mas não de um jeito ruim, de um jeito diferente só. Sabia que olhava em meus olhos, que eram meus ombros, minhas mãos que sentiam cada um dos detalhes na saia rodada e cheia. Mas apostaria que era um sonho. No meio de todas as coisas que eu tinha que fazer e planejar durante esse mês de noivado, as provas sempre me pareciam uma experiência única, quase fora de meu próprio corpo.
Era como se eu me visse mesmo de fora, como alguém completamente estranha. E, mesmo assim, mesmo sentindo que mal conhecia aquela que observava, não conseguia evitar de ficar feliz por ela. De sentir, no fundo do meu próprio coração, que ela sabia a sua sorte e a felicidade que a esperava.
"Pode tirar, Alteza," a costureira falou e eu olhei para baixo.
Não tinha movido os olhos do espelho até então e senti como se estivesse quebrando um encanto quando olhei para ela.
"Oh," soltei. "Está bem."
Uma olhada na direção de Clarissa a indicou que podia vir me ajudar. E ela não hesitou por um só segundo, logo estava soltando cada um dos botões nas minhas costas.
Assim que o vestido soltou do meu tronco e eu avistei de novo pelo espelho o corset que usava embaixo, tive outra vez a impressão de que acontecia com outra pessoa. Era branco e continuava parecendo bastante nupcial. Era quase uma fantasia. Mas não era engraçada, era estranhamente intrigante.
Quando terminei de me trocar e amarrei o lenço com cara de turista de Knighton no pescoço, Clarissa ainda ajeitava meu corset junto com o vestido e o véu na cama. A costureira falou para ela que tudo estava perfeito, que elas tinham arrumado tudo que precisava e que os acabamentos estavam impecáveis.
E eu acreditava nela. Olhava para o monte de tecido branco puro e não conseguia pensar em um só defeito que ele poderia ter.
Uma batida veio à porta, seguida de Liev entrando.
"E agora?" Perguntei, antes que ela mesma tivesse chance de falar alguma coisa.
"Vamos dar uma últi-" Ela mesma se cortou para ouvir o que vinha de seu fone. Até levou uma mão a ele, olhando rapidamente para a prancheta.
E então se virou de costas, falando algo no microfone que eu não consegui entender.
Quando se virou de novo para mim, ela respirou fundo.
"Íamos dar uma última checada em todos os assentos e quem ficará perto de quem," ela começou.
"Si-im," falei, prolongando a palavra para que ela continuasse.
"Mas recebi um aviso que os Cartwrights acabaram de chegar. E estão vindo para cá," ela até mordeu o lábio quando me olhou por cima da prancheta.
Eles estavam entre as famílias mais poderosas e influentes de Ashland, sem contar que Joseph Cartwright, duque de Holfburg, um dos lugares mais ricos do país, era um grande amigo de meu pai.
Não tinha como negar.
Abri os braços no ar, me rendendo. "Então eu vou recebê-los."
Ela respirou fundo, discretamente aliviada. "Ótimo," disse, abrindo a porta e falou algo no microfone.
Não, eu não gostava quando pessoas chegavam fora do horário marcado e eu tinha que revisar todos meus planos para recebê-los, pois eles tão pouco aceitariam chegar sozinhos.
Mas já esperava tantos problemas daquele dia e nada demais tinha acontecido até então. Tudo ia tão bem, que nem me importei com esse mínimo desvio.
Eu me virei para Clarissa, que segurava meu trench coat para eu vestir. Deslizei meus braços pelas mangas e ela ajeitou a gola em volta do meu pescoço.
"Sua Alteza convidou todos da família?" Ela perguntou, sua voz tão baixa que, se não estivesse tão perto dela, provavelmente não a ouviria.
"Está falando por causa da namorada de Trevor?" Perguntei e ela deu com um ombro só. "Ela vem, se é isso que você quer saber. E Kyle também."
Clarissa sorriu, mas olhou para o chão.
"Você lembra de Kyle, não é?" Perguntei e ela concordou com a cabeça.
Claro que lembrava. Eu praticamente tinha crescido com os dois e Kyle hoje em dia usava Knighton como sua válvula de escape. Qualquer momento em que ele sentisse que precisava fugir da casa dos pais, ele vinha para a minha. E, em dias normais, Clarissa estava o tempo todo comigo. Era mais como uma amiga do que somente minha criada.
Olhei para ela, que ainda mirava o chão atentamente, suas mãos à sua frente. Quando era mais nova, nós éramos mesmo como amigas de infância e ela era só uma aprendiz para virar minha criada. Eu até a teria chamado para ser minha madrinha, mas seria estranho.
E, independente do quanto éramos próximas antes, desde que eu tinha começado a faculdade, nós passávamos cada vez menos tempo juntas. Só dava mesmo para ela fazer todas suas funções e eu já tinha que sair correndo pela porta para estudar. Nossas conversas, os conselhos que ela me dava, tudo isso estava ficando cada vez mais raro. Eu já nem saberia dizer o que acontecia em sua vida.
Mas nós ainda tínhamos uma história. Uma história até bastante intrometida por Kyle. E eu achava que ela gostaria de sair um pouco daquele quarto, fazer um intervalo em todas as suas tarefas.
"Venha comigo," pedi, fazendo-a me olhar curiosa. "Receber Trevor e Kyle," expliquei. "Venha comigo."
Depois de algum protesto, ela acabou aceitando. Mas, quando nos posicionamos do lado de fora do castelo, ela foi ficar no final da fila dos criados que atenderiam aos convidados.
Meu pai só chegou quando o carro já passava pelos portões. Nós trocamos um aceno e eu dei um passo ao lado para lhe dar lugar. Até arriscava um olhar na direção de Clarissa, quando senti a presença de uma pessoa à minha direita.
Sorri quando meus olhos encontraram os de Reid e senti sua mão procurando a minha.
Mas meu sorriso morreu quando Skar se colocou ao lado dele.
Voltei a olhar para a frente, acompanhando o carro dos Cartwright se aproximar, como todos os de bagagem ali faziam atrás dele. Já podia imaginar o quão desagradável seria mais tarde ter que ficar ali para receber todos os outros membros de realezas e nobrezas de incontáveis países e cada um dos meus parentes mais distantes.
Skar não parava de se mexer um só segundo. Ficava constantemente tentando tirar a onda marrom de cabelo que atrapalhava sua visão e insistia em volta assim que seus dedos a deixavam. E ele ficava arrumando sua postura, pigarreando, respirando fundo, praticamente batendo os pés. E se ajeitando, do blazer, até as mangas da camisa, depois voltando ao cabelo.
Era simplesmente insuportável!
E eu estava contando os segundos para ver Trevor saindo da limusine e tudo aquilo terminando.
As primeiras pessoas que saíram foram o duque e a duquesa. Eles vieram até nós e nos cumprimentaram, e eu tive a chance de apresentar Reid. Logo atrás deles, vieram Trevor e sua namorada, que eu descobri se chamar Arya. Ela fez questão de me falar que estava muito animada, que minha roupa era linda, que era um prazer me conhecer, que sempre tinha me visto pelos jornais, e nossa!, aquilo que eu tinha feito de distribuir café tinha sido incrível. Falou tanto, que eu mal conseguia acompanhar. Mas ela foi obrigada a parar, pois Trevor tinha uma mão nas suas costas que a empurrou para continuar até Reid e Skar.
Assim que Kyle saiu do carro, ele fez menção de vir na nossa direção. Mas deve ter percebido Clarissa com o canto dos olhos, pois desviou seu caminho até ela e lhe deu um abraço.
Ela parecia que queria se enterrar no chão, mesmo ele sendo feito de pedra.
Mas, assim que Kyle se afastou e voltou a nos mirar, vi Clarissa esconder um sorriso. E até arriscou um olhar na nossa direção quando ele já falava com meu pai.
Assim que entramos no castelo, meu pai foi andando com o duque e a duquesa, conversando sobre alguma coisa. Skar e Reid foram logo atrás. Eu até tinha parado para esperá-lo e poder falar com ele mais um pouco, mas ele só piscou com um olho para mim e continuou conversando com Skar.
Trevor e Arya vieram logo atrás, com ele explicando para ela coisas sobre o castelo e a nossa família. Eu fingi não ouvir e só esperei que Clarissa entrasse.
Mas, antes que ela conseguisse chegar até mim, Kyle se colocou ao meu lado.
"E aí, Lola?" Ele perguntou, enfiando as duas mãos nos bolsos das calças que estavam levemente largas demais para ele. "Vai fazer despedida de solteira?"
Só a levantada de sobrancelha dele já foi o suficiente para eu lhe dar um tapa no ombro. "Tá louco?"
Ele riu. "E o noivo? Vai fazer? Estava querendo ir em alguma festa hoje."
Foi minha vez de rir, enquanto dava alguns passos para deixar que os criados entrassem com as malas deles.
"Você sabe que tem quinze anos, não é, Kyle?" Assim que falei, notei Clarissa entrando. "Clare, acredita que Kyle quer ir na despedida de solteiro de Reid?"
Ela olhou para mim um pouco assustada, depois franziu as sobrancelhas, parando do meu lado. "Não sabia que o Sr. Willard vai dar uma festa."
"E ele não vai mesmo. Kyle pode procurar quanto ele quiser pelo castelo hoje à noite."
Nós começamos a andar de novo.
"Por que vocês não fazem alguma coisa?" Ele perguntou para mim. "Aproveita sua última noite solteira, Lola. Chama um guarda no seu quarto, ordene que ele tire a-"
Antes que ele terminasse, eu lhe dei um tapa na cabeça que o fez parar de falar.
"Eu mereço?!" Perguntei para Clarissa, que escondeu o riso atrás de uma mão. Quando olhei de volta para Kyle, estava balançando a cabeça. "Não. Não mereço." Vi Liev atrás dele e respirei fundo. "Agora, com licença. Eu tenho compromissos sérios a atender."
"Foi só uma sugestão," ouvi Kyle falar, apesar de eu já os deixar para trás.
Estava esperando que Clarissa viesse comigo, mas quando cheguei perto de Liev, percebi que ela tinha ficado para trás. Uma olhada por cima do ombro tinha me feito constatar que ela conversava com Kyle alegremente. E então eu me virei de volta para Liev.
"Princesa, eu vou ter que ir até a catedral agora," ela começou. "Não quero te alarmar, mas tem algumas coisas que eu preciso ver pessoalmente para ter certeza de que estão sendo bem feitas."
"Eu entendo."
"Tentarei voltar antes que os próximos convidados cheguem-"
"Não precisa," eu a cortei, do jeito mais educado que podia. "Só volte a tempo do ensaio e está bem."
Ela respirou fundo. "Okay," disse. Depois olhou para a sua prancheta. "Eu deixei a grade dos assentos na sala verde do Leste. Faça as modificações que lhe agradarem e eu tomarei conta de tudo depois."
"Ótimo," falei, mas ela ainda não tinha terminado.
"Pedirei para Clarissa te chamar quando os próximos convidados chegarem então. Qualquer coisa que precisar, pode mandar me buscarem."
Eu assenti. E então ela fez a menor das reverências e deu a volta em mim, indo em direção às portas.
Quando olhei na sua direção, vi que Clarissa ainda falava com Kyle, mesmo sendo interrompida por ela. Não queria que ela achasse também que eu tinha algum problema com eles sendo amigos, então me virei e comecei meu caminho antes que ela voltasse ao modo profissional.
O primeiro corredor onde entrei estava estranhamente vazio, salvo pelos guardas sempre presentes. E, segundo seu relógio, eram duas e meia da tarde. Mas eu não tinha pressa. Sabia que aquilo era mais uma formalidade, um privilégio que tinha. Estava mais do que satisfeita com os assentos e aqueles que não me agradavam não podiam se afastar mais de onde eu ficaria por causa de título. Não tinha nada que eu precisasse mesmo fazer.
Assim que virei o corredor outra vez, avistei meu pai e seus convidados em uma sala que tinha a vista perfeita para a varanda até onde se estenderia a festa. Eles conversavam perto da janela, meu pai, o duque e a duquesa. E eu teria jurado que eram os únicos ali, mas, assim que cheguei perto da porta, percebi Skar e Reid um pouco mais escondidos da minha vista.
Parei na hora. Minha intenção era entrar e ir trocar algumas palavras com eles, que claramente estavam falando do meu casamento. Mas eu não queria ter que ouvir a voz de Skar. Já que, mesmo sem ter conversado exatamente com ele sobre aquele dia, tinha certeza do que ele falaria.
Skar era filho do único irmão de meu pai. E, apesar de eu ter primos também por parte de mãe, ele era o meu único que tinha sangue real. Até mesmo sua única irmã nunca poderia ser uma herdeira, já que não era filha do mesmo pai que ele. Enquanto eu não estivesse casada, Skar era o próximo ao trono.
E ele era homem. Se eu nunca tivesse nascido, ele teria um caminho livre até se tornar rei. Ele não precisaria se casar, como eu. Pelas leis ashlandesas, ele poderia reinar sozinho e feliz. E dava para ver que era exatamente o que ele queria.
Eu sempre soube que era o que ele queria. Ele sempre foi grudado na minha mãe, fazia questão de mostrar para ela que era o filho que ela nunca tinha. Eles nem eram ligados por sangue ou biologia, mas eram bem mais próximos do que eu e ela. E, quando ela morreu, parecia que o mundo inteiro tinha morrido junto para ele. Mal tive a chance de sentir o que era perder minha mãe, pois ele roubava toda a atenção. E, desde então, tinha praticamente morado no castelo por cada segundo que podia, apesar de ter sua própria casa. E meu pai nem para bani-lo.
Sempre tive a impressão de que ele me culpasse pelo que aconteceu com ela. Estava longe do meu alcance, não era como se eu pudesse curar o seu câncer. Mas via em seus olhos que ele sabia o quanto eu não era próxima dela. E talvez, se eu tivesse sido um pouco mais, ele me odiasse menos.
Mas não importava. Eu também o odiava. Eu odiava o quanto ele andava pelos corredores como se o castelo fosse dele. Como ele me olhava como se eu nunca fosse ser boa o suficiente, como se tivesse roubado algo dele. Algo que ele nem merecia, para falar a verdade. E que nunca mereceria com o caráter que tinha.
Já podia imaginar o quanto estava sendo horrível para Reid ter que aguentá-lo, o quanto ele devia estar tentando diminuir o que Reid viraria. E definitivamente não queria ouvir aquilo.
Olhei para dentro da sala, buscando meu noivo com os olhos. Ele respirou fundo e se virou para Skar, o puxando para mais perto da porta. Eu corri para passar dela e não os deixar me verem. E nem ia escutar nada. Pelo contrário, não tinha a menor intenção de ouvir a voz de Skar. Preferia continuar em negação e fingir que ele não existia.
Mas assim que a de Reid chegou aos meus ouvidos, fui obrigada a ficar um pouco mais.
"Ela vem?" Foi o que ele perguntou.
E não tinha nada de errado com aquelas duas palavras. Eram simples. Provavelmente sobre sua mãe ou alguém de quem eles falavam antes. Nada de errado.
A não ser o tom dele. E o jeito que sua voz pareceu tremer quando ele falou. Reid não estaria tão interessado assim em saber sobre a mãe de Skar, não a ponto de me dar a impressão de estar segurando a respiração até receber uma resposta.
Foi por pura curiosidade que eu fiquei ali mais um pouco e até cheguei mais perto para ouvir a resposta de Skar. E sabia bem o que aconteceria. Eu estava ficando toda ansiosa e acabaria ouvindo que era uma pessoa qualquer e então me sentiria idiota de ter me importado.
Mas Skar bufou, como se lhe faltasse paciência. "De que importa?" Ele perguntou, parecendo realmente à beira de ficar irritado. "Ela me disse que vocês não tinham mais nada."
Senti meu coração começar a bater mais rápido, enquanto minha mente dava voltas, tentando se lembrar de cada ex-namorada de quem Reid tinha falado e porque alguma delas conseguiria vir ao casamento.
"Eu queria vê-la," ele soltou, respirando tão fundo que eu pude ouvir de onde estava. Mas abaixou a voz antes de continuar. "Eu preciso falar com Eva."
Assim que ele falou seu nome, minhas pernas fraquejaram e eu tive que me apoiar na parede.
Eva não era uma de suas ex-namoradas. Eva não era uma de suas amigas, parentes ou convidadas. Mas Eva vinha ao casamento.
Eva era a meia-irmã de Skar.
Me virei para a parede, fechando minhas mãos, como se conseguisse me segurar a ela assim. De onde Reid conhecia Eva? Como ele podia tê-la conhecido? E por que ele não me contaria? Ela era praticamente minha prima, apesar de eu só tê-la visto algumas poucas vezes na vida. Por que ele não me falaria que conhecia alguém da minha vida?
E Skar? Ele conhecia Skar?
Ouvi passos se aproximando da porta e corri para a próxima salinha, fechando a porta antes que alguém pudesse me ver. Ouvi a voz de meu pai passando e fiquei esperando a de Reid, mas nada. Depois de alguns minutos, abri de novo um pouco a porta.
Todos os cinco estavam no final do corredor, caminhando para longe de mim. E eu nunca ouviria o final daquela conversa de Reid com Skar.
Mas eu não precisava ouvir, pensei na hora. Não precisava. Tinha que ter uma lógica naquilo.
Fui me sentar na primeira poltrona que vi e laceei o lenço em volta do meu pescoço.
Reid fazia Ciências Políticas comigo na faculdade. Só que ele era mais velho. Mas não tão velho quanto Skar. E Skar só tinha estudado Direito.
Mas e Eva? Pelo que eu sabia, ela estudava...Relações Internacionais? Eu nem tinha certeza! Nem poderia dizer aonde. Não sabia nem se era em Knighton.
Mas talvez fosse na mesma universidade que nós. Talvez fosse isso, eles podiam ter algumas aulas juntos. Não tinha problema algum. Eles só se conheciam. E então Reid conhecia Skar por Eva.
E ele não tinha me contado porque ele não sabia. Ele simplesmente não sabia! Ele podia ter pensado que meu primo era outro Skar e ter rido alto da coincidência de ser o mesmo!
Eu respirei aliviada e me levantei. Estava com a mão na maçaneta, quando me toquei de uma coisa.
Não era possível que Reid só tivesse descoberto hoje. Ele tinha visto várias e várias vezes as minhas fotos com Skar. E nós fomos ao mesmo jantar três meses atrás. Eles podiam não ter conversado, mas foram apresentados. Ele viu seu rosto. Ele o reconheceu. Ele sabia quem Skar era.
Não. Não. Eu só estava com uma má impressão daquilo, pensei, me voltando para a sala e começando a andar para gastar energia. Era só uma má impressão. Era pela surpresa, o fato de que não esperava aquilo. Era só isso. Minha cabeça já estava fazendo conexões erradas, suposições terríveis e descabidas. E eu não podia deixar aquilo acontecer!
Me forcei a respirar fundo. Não tinha nada de errado. Ainda teria uma explicação. E eu só precisava ir perguntar para Reid! Não daria a louca, não seria ciumenta nem paranoica. Pelo amor de deus, era Reid! Era dele que eu estava falando, não de um cara qualquer! Nós estávamos para nos casar! Não tinha nem porque eu o ficar interrogando!
Mas uma única pergunta e meu coração voltaria a bater calmo. Uma pergunta e eu poderia rir de mim mesma e acabar a conversa com um beijo dele. Uma pergunta e tudo ficaria bem.
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