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Parte II


Quando finalmente deixei meu quarto e encontrei com o guarda que me acompanharia até a sala de café da manhã, Liev já tinha repassado os nomes dos convidados importantes de outras cidades e da família de Reid. Não que precisasse, eu e ele tínhamos feito questão de memorizar todos os parentes um do outro nas noites daquela semana. Talvez não do método mais eficiente do mundo, mas definitivamente do mais divertido.

O castelo estava cheio. Normalmente, os vários corredores só eram constantemente habitados por guardas e o ocasional nobre que visitava. Mas nos dias que antecipavam o casamento, era difícil encontrar um só vazio. Nós tínhamos contratado bem mais criados do que já tínhamos e eles corriam de um lado para o outro, não só preparando o grande evento, mas também cada um dos quartos e acomodações que seriam usados pelos convidados. Eu já não sabia o nome de quase nenhum de costume, agora então seria impossível começar a aprendê-los.

Mas toda vez que qualquer pessoa cruzava meu caminho, eu lhe fazia um aceno, que era prontamente retribuído. Quando finalmente cheguei ao primeiro andar, meu pescoço quase doía. Mas eu não parava. Todos que passavam por mim me olhavam com olhos brilhando. E sabia que não era só por mim, era pelo que estava prestes a acontecer.

E entendia. Gostava disso! Podia parar e conversar com cada um, ouvi-los me dizendo o quanto estavam felizes por mim. Mas, como isso seria praticamente inviável, me contentava com os acenos.

Quando entrei na sala de café da manhã, meu pai já comia. Arrisquei um olhar em direção ao relógio para descobrir que já eram quase sete e vinte.

"Estou atrasada," falei, querendo logo assumir o erro e deixá-lo me repreender.

Mas ele levantou o rosto na minha direção e sorriu. "Bom dia," disse.

Eu me aproximei, sentando na cadeira que o guarda puxou para mim, logo antes de ir ficar perto da porta. Além de meu pai, outras cinco pessoas também estavam ali. A mesa era só nossa, mas seus dois guardas pessoais estavam perto das outras portas que davam para aquele cômodo. Tinha também um servente para cada um de nós e, é claro, o conselheiro real, Donald, que parecia estar preso dentro do seu próprio mundo. Poderia jurar que ele nem tinha me visto, se ele não tivesse se levantado quando eu entrei. Mas nossos olhos nem se cruzaram e logo ele já estava mirando seu telefone outra vez.

Por incrível que pudesse parecer, assim que eu pude sorrir de volta para meu pai, senti que estávamos sozinhos.

"Bom dia," eu falei. "Me perdoe o atraso."

"Perdoado," ele disse rapidamente, olhando de relance para o papel ao lado de seu prato e então voltando a me mirar. "Os corredores estão cheios, até eu cheguei um pouco atrasado."

Apertei os olhos, o observando atentamente. "Quanto tempo?" Perguntei, enquanto meu criado me servia uma xícara farta de café.

Meu pai fez cara de quem estava pensando, mas acabou por sorrir. "Talvez quinze segundos," falou, se dando por vencido.

Eu balancei a cabeça, o reprovando de brincadeira. "Esperava mais de você, Gareth Farrow. Esperava mais."

Ele riu de leve, logo levando o chá para lavar a garganta. Usava sua coroa mais simples, o que me indicava que devia ter algum compromisso em que apareceria em público, mas provavelmente nada muito importante. Não era exatamente necessário que ele aparecesse com a coroa, mas, apesar de todas as suas outras virtudes irem contra qualquer tipo de vaidade fútil, ele secretamente adorava usá-la.

Talvez não tão secretamente, já que todos naquele castelo já tinham percebido.

"Como vão as preparações? Tudo direcionado?" Ele quis saber, quando voltou sua xícara à mesa e foi servido de um prato com broas inglesas.

"Ainda tenho mais um dia de preparações, mas sim. Tudo direcionado," eu me estiquei e alcancei uma das suas broas, a trazendo de volta para mim. Ele nem falou nada, só continuou comendo. "O que me lembra," continuei, "o ensaio começará às quatro e vinte."

"Devo comparecer?"

"Não," falei, sarcástica. "Só se ainda quiser entrar comigo na igreja. Senão, eu posso chamar outra pessoa." Na hora em que falei isso, a porta se abriu. "Stan, por exemplo," completei, apontando para o mordomo assim que ele se materializou de pé ao lado da mesa.

Nós dois levantamos o rosto para olhá-lo.

"Majestade, Alteza," ele fez uma rápida reverência, "perdoe a intromissão. Mas a Princesa Penelope chegou."

Meu pai olhou dele para mim, enquanto eu bufava discretamente o quanto aquilo era inconveniente. Olhei ao relógio, sete e vinte e cinco. Ela estava exatamente uma hora adiantada. Realmente devia achar que eu não tinha nada para fazer, já que ficava mudando o compromisso e aparecendo quando lhe desse na telha.

"E então?" Meu pai perguntou, um sorriso aparecendo em seu rosto. "Parece mais um problema seu do que meu."

"Ultimamente, parece que só problemas meus aparecem por aqui."

Ele riu. "Quer trocar?"

Eu levantei uma sobrancelha, considerando aquilo. Meus problemas estavam bem mais frequentes nos últimos dias, principalmente no último mês. Eu que tinha decidido me casar trinta dias depois do noivado, praticamente merecia aquilo.

Mas mesmo que eles fossem inconvenientes e, na sua maior parte, completamente dispensáveis, ainda preferia ter que lidar com eles a trocar com meu pai. Já teria que assumir os dele quando estivesse no trono, não tinha problema algum em adiar aquilo um pouco mais.

"Alteza?" A voz de Stan me trouxe de volta ao momento e eu olhei para ele. "Gostaria que eu a enrolasse?"

"Por favor!" Pedi, exclamando de felicidade.

Ele concordou com a cabeça e saiu pela porta. Sabia que aquilo não era o suficiente. Penelope nunca se deixaria levar pelo mordomo e o que quer que ele estava planejando usar para distraí-la. Mas pelo menos eu tinha ganhado alguns minutos para terminar de comer.

"Por que Reid não pode lidar com esse tipo de coisa?" Perguntei, me apressando para terminar a broa e me servir do pão de passas e rum que estava logo à minha frente. "Por que sou eu que tenho que fazer sala para os convidados?"

"Primeiro, porque Penelope é sua dama de honra," meu pai fez questão de apontar. "E não se preocupe com o Sr. Willard, ele terá um dia cheio conosco."

"Sabe que pode chamá-lo de Reid, não é?"

Ele sorriu, satisfeito. "Estou ciente," disse, levando sua xícara de volta à boca para um gole rápido. "E o chamarei, uma vez que for realmente meu genro."

Dei de ombros. "O que está planejando para ele?"

"Outra visita ao parlamento, um almoço com os ministros, uma conversa séria."

"Uma conversa séria?"

Meu pai fez questão de soltar da faca que usava antes de continuar. "Uma conversa séria," ele repetiu, juntando as mãos acima do prato e se apoiando nos cotovelos. "Acha mesmo que eu deixaria qualquer um se casar com a minha filha sem antes ter uma conversa séria com ele?"

Eu revirei os olhos. "Reid dificilmente é qualquer um, pai. E o que essa conversa implica? Alguma ameaça caso ele me machuque? Ou está mais preocupado sobre quando ele virar o próximo dono de sua coroa?"

Instintivamente, meu pai levou as mãos a ela. "Não," ele me garantiu, a ajeitando mesmo que fosse desnecessário. "Com a coroa, ele pode ficar. As ameaças serão todas por sua causa," ele finalizou baixando as mãos e me entregando outra broa.

Eu tinha acabado de comer o único pedaço de pão que tinha pegado e nem precisou de mais do que uma olhada minha na direção do seu prato para ele entender o que eu queria.

"Obrigada," falei, a pegando dele. "Mas devo dizer que uma conversa sobre sua coroa faria bem mais sentido, pai. Reid é a última pessoa no mundo que me machucaria."

"Não," ele me corrigiu, direto e firme. "Eu sou."

Nossos olhos se encontraram e eu imitei seu sorriso. Teria me levantado para ir abraçá-lo, mas só aquele olhar já era o suficiente. E nós continuamos comendo.

"Tem alguma conversa séria que você precisa ter com a outra metade desse casamento?" Perguntei, discretamente disfarçando meu interesse. "Algo que precisa me falar?"

Ele olhou rápido de volta ao documento que fingia revisar e o dobrou antes de me responder. Fez até questão de se inclinar no encosto da cadeira e me mirar fundo. Quando finalmente abriu a boca, eu mesma já tinha soltado de meu garfo e esperava a pior notícia do mundo.

"Todas as conversas que já tivemos durante sua vida inteira, Lola, eram para te preparar para esse momento. E vários outros. Acredito que você já fez um trabalho excepcional de me ouvir até durantes seus anos adolescentes e que não precisa de outra conversa agora."

Pela distância que ele estava, parecia que ele me observava mesmo com um trabalho finalizado. Ou, pelo menos, que chegava perto disso.

Eu me deixei absorver o peso do seu olhar, tentei inspirar aquela sensação que ele parecia ter de linha de chegada, transição de momentos na vida, tudo aquilo que eu estava esperando que me afetasse há meses.

Mas ele desviou o olhar para o prato antes que eu conseguisse me sentir diferente e eu me voltei ao meu.

"A verdade, Lola, é que tenho certeza de que você vai se dar bem em tudo que escolher fazer."

"Mesmo em dois cursos de faculdade ao mesmo tempo?" Arrisquei.

Ele bufou rapidamente uma risada. "Não que haja a necessidade de você se matar para conseguir completar tão rápido os dois, mas, sim, acredito que vai se dar bem. E já está se dando, eu sei." Ele virou o resto de chá que tinha e parou a mão no ar, esperando que o servente viesse trazer seu charuto. Eu continuei comendo até que ele o tivesse aceso e pudesse falar de novo. "No seu casamento, não será diferente." Ele bufou alguns círculos de fumaça no ar. "Se você encontrar alguém que realmente ame, tenho certeza de que será feliz e superará qualquer dificuldade que tiver."

"Como assim, se?" Perguntei, praticamente segurando minha respiração. "O que você quer dizer com isso?"

Ele tragou outra vez, tirando o charuto da boca e se inclinando de volta no encosto. "Não quero dizer nada demais. Não tenho nada contra Willard."

"Reid."

O servente tirou seu prato e ele se inclinou na mesa, na minha direção. "Não tenho nada contra ele, Lola. Nem pensava nele. Estava falando de você e só você."

Respirei fundo, soltando os ombros e olhando para meu prato. O cheiro do charuto já tinha tomado conta do ambiente, mas não me incomodava. Combinava estranhamente bem com o café que eu bebia.

Peguei minha xícara e a trouxe para mais perto de mim.

"Eu não tenho tanta certeza de que vai ser fácil assim," falei.

"Nunca disse que iria ser fácil," ele me corrigiu. "Mas sinta-se livre para ter um pouco mais de esperança em si mesma, Lola."

"Não sei se me falta esperança," parei para tomar um gole e deixar o líquido quente se atrever a me esquentar. "Eu tenho certeza de que não teremos problemas. Não em relação ao casamento. Reid é," pausei, olhando para o teto, procurando a palavra certa. Mas não a encontrei e acabei só balançando a cabeça. "Eu tenho certeza, profunda certeza de que teremos o melhor casamento da história. Estou bem mais ansiosa com a festa do que os anos que se seguirão."

"Qual o problema então?"

Suspirei. "Eu não venho sozinha. Se nós fôssemos ter só um casamento, já seria complicado o suficiente. Mas eu venho com um reino inteiro. E se ele se cansar? E se não aguentar ser rei? Se não fosse a lei que me obriga a só poder virar rainha com um marido, ele seria só um príncipe-consort. E não teria toda a pressão que eu tenho."

Foi minha vez de me inclinar com os cotovelos na mesa.

"Eu o amo, pai. E, quando olho para ele, sei que é o suficiente. Sei que podemos superar qualquer coisa. Não me falta esperança ou fé. Não em nós dois juntos. Mas me sobra insegurança de que ele não tenha percebido o que vai mudar para ele, quem ele irá se tornar."

Meu pai franzia a sobrancelha, me observando. "Não," disse, sem a mínima hesitação em sua voz. "Volte a se preocupar com a festa, Lola. Ou até mesmo com o casamento. Se tem uma coisa da qual eu tenho certeza é de que Reid sabe exatamente no que está entrando."

Recuei um pouco no meu lugar. "No que está entrando?"

"E de que quer se tonar o soberano desse reino. Não precisa nem perder mais um segundo pensando nisso. Se você o visse no parlamento, entenderia. Até mesmo Julia Fletcher acredita que ele está levando tudo bem mais a sério do que esperávamos." Na hora, pensei em Julia e em como eu a teria que ver no almoço. Nunca nem tinha parado para pensar no que ela e os outros ministros poderiam achar do meu casamento. "Se você tem medo de ele não estar preparado para ser rei, pergunte a ele," meu pai continuou, intercalando palavras com tragadas. "Tenho certeza de que ele já pensou bastante nisso e de que a ideia lhe agrada bastante."

Meu pai falava como se o assunto não fosse nada, jogando as palavras no ar junto com a fumaça do charuto, completamente desinteressado sobre onde iriam depois que saíssem de sua boca.

Mas, para mim, parecia um peso que ia se acumulando em meus ombros. Eu ficava esperando a próxima vez que ele falaria alguma coisa e torcendo para que ele se explicasse com o que eu queria ouvir.

Depois de alguns segundos em silêncio, me ajeitei no meu lugar e larguei minha xícara na mesa.

"Você acredita que ele almeja ser rei?" Perguntei, levando tanto tempo para terminar a frase que quase desisti no meio.

Meu pai assentiu. "Sim," falou, parecendo sentir o quanto me custava ter que perguntar aquilo em voz alta. "Mas isso não significa que ele não queira ser seu marido," ele continuou. "Lola, a melhor pessoa para tomar o trono não é aquela que não quer, que não almeja o poder. Claro que aquela que só pensa nisso é declaradamente desqualificada para a posição. Mas indiferença não é uma virtude nesse caso. É preciso amar a ideia de ser rei, querer isso de verdade. Porque não é um emprego que se pode largar ou levar de qualquer jeito. Ele querer o trono é um bom sinal. Significa que você não precisa se preocupar. Ele nunca vai usar isso contra você, nunca vai te ressentir por colocá-lo em uma posição na qual ele nunca quis estar."

Concordei com a cabeça, respirando fundo, mas discretamente. Era isso que eu queria ouvir. Então por que o peso nos meus ombros parecia ainda estar lá?

"Agora," meu pai continuou, "se em algum momento você sentiu que ele não estava sendo verdadeiro," eu balançava a cabeça já freneticamente quando a porta se abriu e ele virou o rosto na sua direção. Quando voltou os olhos para mim, já parecia ter desistido do que falava. "Penelope," disse, baixo o suficiente para só eu ouvir.

Virei meu rosto para encontrá-la apoiada no batente da porta de braços cruzados e parecendo bastante impaciente.

Olhei uma última vez para meu pai, engolindo a seco logo depois. Ainda não estava pronta para sair daquela conversa. Ainda precisava garantir a meu pai que eu não tinha a menor dúvida, que nunca tinha sentido que Reid não estava sendo verdadeiro.

Mas Penelope bateu o pé! E eu tive que respirar fundo e me levantar, jogando meu guardanapo na mesa.

"Penelope, querida," falei, a assistindo praticamente fumigar que eu a tinha feito esperar. "Que bom te encontrar."

"Engraçado, Lola. Estava começando a achar que não queria me ver!" Ela se virou de costas para mim quando eu estava chegando perto dela e saiu pela porta.

Antes de segui-la, olhei no relógio. Oito horas.

"Ouvi dizer que fará uma viagem hoje mesmo," falei, indo atrás dela.

Penelope não era muito alta, mas tinha pernas longas, o que dificultava para eu chegar ao seu lado sem ter que correr. Mas fiz meu melhor.

"Sim," ela disse, ainda impaciente. "E é para você!"

"Como assim, é para mim?"

Por um segundo, achei que ela fosse dizer que teria que me buscar algum presente.

Ela brecou com tudo para me olhar, quase acertando uma criada. "É para eu ir pegar o meu vestido para amanhã, Lola!" Ela explicou, abrindo os braços e me obrigando a esconder um sorriso. Claro que não era para mim de verdade. "Stace estragou completamente o que eu ia usar! Agora eu vou ter que ir a Milão para buscar um novo!"

Ela voltou a andar, ainda mais rápido, batendo os pés no chão como se os usasse para aliviar sua frustração.

Eu respirei fundo antes de começar a ir atrás dela. Por que não tinha escolhido outra pessoa para ser minha dama de honra?

Ela trombou com um guarda no final do corredor e o barulho me fez a olhar.

Porque eu não tinha outra amiga para escolher. Não que não fossem minhas primas ou colegas de faculdade. Penelope era a única pessoa que eu conhecia desde pequena. E a mídia já tinha incontáveis fotos nossas juntas durantes os anos para fazer um álbum de noiva-dama-de-honra. Todos concordavam que era a escolha que fazia mais sentido, até eu mesma. Será que seria uma pessoa terrível por quase querer não ter dama de honra alguma?

Quando voltei a andar na direção dela, Penelope já não brigava com o guarda. Pelo contrário, ela enrolava o próprio cabelo no dedo, ria até ter que jogar a cabeça para trás e o tocava distraidamente de vez em quando. Ele devia ter o dobro de sua idade, mas ela claramente parecia não se importar.

Passei por ela, andando rápido pelo corredor, enquanto cada criado parava para assentir de volta para mim. Nem olhei para trás ou chamei seu nome, mas ela acabou me seguindo.

"E então?" Ela perguntou quando estava do meu lado. "Tem alguma coisa que eu preciso saber antes de amanhã? Alguma razão em especial para você ter me chamado aqui?"

Eu parei de andar, esperando que o guarda mais próximo abrisse a porta da sala de chá para nós entrarmos e depois fechasse atrás de nós.

Uma criada colocava a mesa, provavelmente esperando que nós só chegássemos às oito e vinte. Ela me olhou assustada e correu para ficar de pé do lado da mesa, escondendo suas mãos nas costas e fazendo uma reverência.

"Pode ir," falei para ela, que olhou de mim para a mesa.

Eu segui seu olhar. Nossas xícaras estavam ainda em sua bandeja e ela não tinha tido tempo de terminar.

Só assenti e ela correu para não demorar mais do que o absolutamente necessário. Quando terminou e saiu pela porta, pude imaginá-la respirando fundo lá fora, aliviada. Queria ter sorrido para demonstrar que não precisava entrar em pânico, já que não podia falar que a culpa era de Penelope e sua falta de responsabilidade com compromissos marcados. Mas a criada saiu antes de trocar outro olhar comigo, e a princesa espanhola falava sem parar do que tinha feito na noite anterior e de como sua irmã era hilária.

Pessoalmente, nunca tinha achado Micaela tão engraçada. Mas ela ainda era muito nova e eu definitivamente não tinha paciência o suficiente para prestar atenção ao que ela dizia por muito tempo.

Penelope era alguns anos só mais velha que ela, mas falava dela como se ela mesma já fosse adulta. Poderia apostar que ela já se sentia como maior de idade, mesmo que ainda não tivesse noção do que aquilo significaria. Ela até tinha a terrível mania de falar comigo como se fosse mais velha que eu, fingindo não ter dois anos de experiência e bom senso a menos.

"-E foi tão engraçado!" Ela riu alto, completando sua história.

Eu mesma não conseguiria dizer sobre o que era e o que tinha sido tão engraçado nem para salvar minha vida. Sabia que não precisava, Penelope falaria sozinha com ou sem incentivo. E eu não estava disposta a me ocupar dos problemas dela.

"Que ótimo," falei rapidamente. "Mas Penelope, sobre seu vestido novo. Ele ainda será azul escuro, não é?"

Ela tomou um gole do seu chá, que estava me embrulhando o estômago desde o outro lado da mesa. "Não," disse, assim que apoiou a xícara na mesa. Eu arregalei os olhos. "Desculpa, Lola! Mas não consegui encontrar nenhum que fosse azul escuro," ela fez questão de revirar os olhos quando falou a última palavra. "Mas ele será azul, não se preocupe."

"Que tipo de azul?" Já podia imaginá-la destoando de toda a decoração do casamento.

Não que ela precisasse do vestido errado para isso. Conseguiria facilmente só com as suas risadas e comentários inapropriados em momentos inoportunos.

"É até melhor," ela continuou, parecendo nem me ouvir. "Eu vi uma foto da Eveline com um vestido da mesmíssima cor na Austrália. A última coisa da qual eu preciso é das revistas falando que estou tentando imitá-la!"

Eu respirei fundo, mil comentários aparecendo na minha cabeça. Primeiro, que, sim, Penelope tinha a mania de tentar imitar outras princesas e todo mundo já sabia disso. Mas ela era nova, não me espantava tanto. Segundo, que ninguém perderia tempo falando das roupas de Eveline da Bélgica. Sua vida era cheia e complicada o suficiente para que não tivessem que procurar assuntos fúteis para estampar as capas das revistas.

E, por último, e muito mais importante, é claro que não seria melhor assim! Independente do resto do mundo se vestindo da mesmíssima cor, a decisão era minha e Penelope não podia simplesmente fazer o que quisesse!

Mas eu respirei fundo outra vez. "Tudo bem," falei, enquanto já planejava na minha cabeça um jeito de encontrar outro vestido para ela. Já até podia imaginar quando eu pedisse para que ela o vestisse. Ela faria uma cara de emburrada que levaria pela festa inteira e só confirmaria minha vontade de não ter dama de honra alguma.

Ela pareceu nem precisar me ouvir outra vez, só continuou comendo e enchendo a boca, pegando seu celular e o deixando na mesa de cinco em cinco segundos. Eu sorri, tentando me concentrar na minha própria xícara de café, apesar de que a minha vontade de beber já tinha passado no café da manhã.

Mas nem meu sorriso ela notou.

Me perguntei se poderia simplesmente me levantar e ir embora. Será que ela me notaria?

Penelope se esticou um pouco no seu lugar para alcançar os docinhos que estavam mais perto de mim. Ela já mastigava alguns, mas não fazia questão de esperar para atacar os próximos. Como se nós não fôssemos a únicas ali e alguém pudesse roubá-los antes que ela tivesse a chance.

Fiquei olhando para ela nos próximos minutos, enquanto ela bufava toda vez que lia uma mensagem no celular e me explicava o quão insuportável a nova assistente dela era. Penelope era bastante bonita, naturalmente bonita. Mas era fácil aquilo passar despercebido quando ela jogava seus péssimos modos na nossa cara. Parecia que tinha pulado absolutamente todas as aulas de etiqueta que já tivesse tido na vida. Eu até questionaria se os pais dela não a reprimiam, mas eu os conhecia e eles eram ainda piores.

Ela falava alto, ria alto e às vezes mastigava com a boca aberta. Aliás, não se importava muito de esperar ter engolido para acrescentar mais um comentário. Não tinha pose, precisava jogar os ombros mais para trás, levantar um pouco mais o queixo, parar de fazer uma careta por segundo. Seu cabelo estava para todos os lados, quase caindo no prato e ela não parecia notar. Fazia piadas o tempo todo, reclamava de tudo. Qualquer pessoa que fosse minimamente contra o que ela queria levaria um comentário desagradável para casa. Ela era definitivamente a pior pessoa para se ter do meu lado no altar.

Mas não ter ninguém seria ainda mais humilhante. E não era como se a mídia já não tivesse percebido sua fama de desleixada. Pelo menos, seria melhor do que aparecer como a princesa que não tinha amigas. E, do seu lado, qualquer falha minha era ofuscada.

Eu só esperava não ser ofuscada completamente.

Olhei rapidamente para o relógio, torcendo para que já fossem nove e meia e eu tivesse a melhor das desculpas para sair dali.

Mas não. Ainda eram oito e vinte, exatamente o horário em que eu tinha marcado de encontrá-la.

Mesmo assim, me levantei. Senti um impulso de mentir e inventar alguma coisa e não resisti. Era melhor nem pensar muito, senão acabaria desistindo.

"Penelope, querida. Sinto muito, mas eu vou ter que te deixar," falei, colocando meu guardanapo na mesa.

Ela me olhou como se tivesse lhe dado um tapa. "Como assim?!" Perguntou, sua voz estridente chegando ao teto que estava a bons seis metros de nossas cabeças. "Mas você nem me falou porque queria que eu viesse hoje!"

Eu sorri, pensando rápido em uma desculpa. Antes, ia pedir que ela ficasse com as alianças, mas agora estava achando melhor pedir para Reid deixá-las com o seu padrinho.

"Então," falei, dando de ombros para ganhar tempo, "eu só queria poder te ver, saber como estava seu vestido. Essas coisas," péssima desculpa, Lola. "E ficaria mais tempo aqui, mas tive que marcar uma entrevista de última hora agora! Você me perdoa, não é?"

Não esperei que respondesse, já balancei o sino para uma criada vir.

Ela olhou para o prato à sua frente, parecendo bastante envergonhada, e eu senti uma pontada de culpa.

Ela ainda era só uma menina. Mesmo que tivesse seus hábitos detestáveis e não fosse muito mais nova que eu, ainda era uma menina. E eu estava praticamente a abandonando.

Fui até ela e apoiei uma mão em seu ombro. "Me perdoe. Mas você pode ficar aqui, aproveite dos doces!" Sorri, esperando que aquilo compensasse. Quando a criada bateu e entrou pela porta, eu me virei para ela. "Jen, cuide de Penelope e lhe sirva com tudo que ela pedir!" Ordenei, me virando de volta para ela. "E, se você precisar de alguma coisa, mande me chamar," na minha cabeça secretamente prometi que criaria outras desculpas caso ela realmente levasse aquilo a sério. "Te vejo amanhã de manhã!" Me abaixei e lhe dei um beijo no rosto.

Eu odiava aquilo. E toda vez que ela me cumprimentava assim, minha vontade era de lavar meu rosto.

Mas sabia que ela achava beijo na bochecha a coisa mais adorável do universo e eu precisava conseguir deixá-la um pouco menos desanimada ali. Quanto mais incomodada ela ficasse de ser abandonada, mais rápida correria de volta até mim para reclamar de alguma coisa.

"Adiós!" Falei, quando estava passando pela porta.

Mas Jen já tinha conseguido sua atenção e anotava mentalmente tudo que Penelope declarava necessitar para sobreviver àquele chá.

Saí no corredor e respirei aliviada. Vários criados e guardas passavam por mim, deixando qualquer caminho ali tumultuado e barulhento. Mesmo assim, me parecia bem mais relaxante do que lá dentro com Penelope.

Repeti para mim mesma que ela era só uma menina. Dezesseis anos era uma idade difícil. Se sentir perto de ficar adulta, mas ainda tão longe era difícil. E eu precisava ter um pouco mais de paciência com ela.

Mas não era fácil. Era praticamente impossível conseguir fingir me importar com o que ela falava. Cada um dos seus problemas com as criadas, a assistente, as pseudo-amigas. Eu já nem fingia ouvir e ela nunca pareceu se importar. Ou até mesmo perceber. Cada segundo do lado dela era um que eu contava para me afastar.

E, por mais que meu alívio de a deixar para trás viesse com pontadas de culpa, ele ainda era deliciosamente libertador.

Passei pelas pessoas pensando no que eu podia fazer com aquele tempo que tinha conseguido. Poderia criar mesmo uma entrevista, pedir para Liev chamar qualquer um dos repórteres que estavam do lado de fora do portão para uma exclusiva. Ou então podia simplesmente adiantar a degustação de vinhos.

Mas, por enquanto, gostava de poder andar devagar no meio de tanta gente apressada. Era como uma bolha que eu colocava em volta de mim, aproveitando meus próprios pensamentos sozinha. Mesmo que todos me vissem, me percebessem e acenassem para mim, meus pensamentos eram meus. E só meus. O único jeito de ficar sozinha ali. O jeito de poder aproveitar um pouco de calmaria, já que eu sabia que a tempestade chegaria rapidamente.

Só que, assim que virei o corredor, perdi toda a vontade de ficar sozinha.

Mas por uma boa razão.

A alguns metros e várias pessoas de mim, estava um par de olhos azuis que me sorriam. Reid estava parado, sem deixar que o caos de fora o atrapalhasse. Por um segundo, eu também parei. Mas logo voltei a andar, aumentando a velocidade a cada passo, querendo chegar até ele o mais rápido que podia!

Por entre as pessoas que passavam entre nós, eu conseguia ver seu sorriso, depois suas orelhas grandes que só conseguiam me fazer pensar que ele era lindo. Ele era lindo. E eu mal podia esperar para chegar perto dele, colocar os braços em volta dele e esquecer tudo que não fosse o fato de que em um dia eu seria dele, só dele.

Ainda estava a alguns dez metros de chegar ao seu lado quando outra pessoa colocou uma mão em seu ombro. Diminui o passo até parar. Mesmo ainda com todos os guardas e criados entre nós, pude ver que era meu pai. Ele falou com Reid, não percebendo que eu tinha estado indo em sua direção, e o forçou a começar a andar com ele. O sorriso, que antes era para mim, agora era para cada coisa que meu pai falava a ele. E eles só se afastavam de mim, levando consigo toda a esperança que eu tinha daquele pequeno encontro, pequeno intervalo só nosso.

Antes de virarem o corredor, Reid ainda arriscou um olhar na minha direção e, mesmo não tendo a chance de falarmos nada, só uma última troca de sorrisos foi o suficiente por enquanto.

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