Verdade. ✔✔✔
Sentei em uma cadeira, tentando assimilar toda informação. Ainda não estava conseguindo entender como poderia ter acontecido tudo isso. Estava confuso, provavelmente, maluco.
Escutei um barulho. Passos estavam vindo em minha direção. Inesperadamente, Julie apareceu, preocupada.
— O que aconteceu? — indagou ela.
Um relâmpago surgiu no céu através das janelas, seguido de trovões. Não estava nublado para chover. Fiquei surpreso. Voltei os olhos para ela e mostrei o jornal.
— Você pode me explicar o que é isto? — questionei.
Sua expressão mudou repentinamente e seu pavor foi visível.
— Você descobriu! Não pode ser!
— O que está acontecendo?
— Isso não pode ser real. Logo, você... não.
Julie transmitiu preocupação e não consegui compreender tanto desespero. Tentei tranquilizá-la para encontrar esclarecimentos.
— Fica calma. Me explique o que houve. Vamos conversar.
Nos sentamos sobre a cadeira. Respirei fundo e aguardei pelo pior. Ela tentou ficar calma.
— Eu... Desculpa ter falhado com você, sinto muito. Sou uma fantasma e morri na década de 1920, conforme está no jornal — justificou ela.
Fiquei assustado.
— Como assim?
— Quando fui atropelada, não senti nada e... foi incrível. Tentei falar com meus pais, mas ninguém me escutava, e, ao decorrer do tempo, descobri que... estava morta. Foi muito chocante esse dia. Nunca me esqueço.
— E por que eu não poderia saber isto? — indaguei, desconfiado.
— Você corre perigo. Nenhum ser humano pode saber da nossa existência, caso alguém descubra... fará parte do nosso mundo.
— Não acredito. Vou morrer também?
— Sim. Não poderia ter acontecido isso. Nunca vou me perdoar.
— Podemos enfrentar isso juntos. Tem que existir alguma saída.
— Infelizmente, não. O dono do meu mundo virá pessoalmente resolver a sua situação. São sete mandatos de morte, em sete dias.
— Como funciona isso? Não quero morrer, logo agora...
— A partir de amanhã, o Dórlex vai enviar alguma maldição para te executar, e não sei o que pode acontecer. Se você resistir até o sexto dia, provavelmente, no sétimo, ele cuidará de todo trabalho.
— E tem alguma coisa para impedir tudo isso?
— Não sei. Nunca passei por uma situação como essa. Estou de mãos atadas.
O clima ficou tenso. Compreendi o que estava acontecendo e tive que aguardar pela minha morte, sem ter para onde fugir. Senti medo pelos próximos dias. Jamais pensei ter que passar por um momento tenebroso como esse. Eu estava perdido.
Julie demonstrou tranquilidade e criei esperanças para salvar minha vida. Ela olhou para minha expressão pensativa e sorriu.
— Agora, você entende por que nunca apareci para sua família?
— Sim. Você evitou que mais pessoas soubessem da sua existência.
— Raramente um ser humano mantém contato com nosso mundo. Quando vi você pela primeira vez, me apaixonei perdidamente, sem pensar nas consequências, e, agora, estou sofrendo por dentro. É complicado passar por isso porque nenhum fantasma tem sentimentos ou emoções... também, estou um pouco confusa. — Seus olhos brilharam demonstrando afeto. Admirei sua expressão enquanto se lamentava. Estava amando de verdade e eu sabia que esse era o caminho certo, mesmo depois de saber do risco que estava correndo. Julie fitou meu aspecto e sorriu com satisfação. — Quando você brigou com aqueles dois garotos na escola, eu estava lá, e te ajudei.
— Como?
— Consegui entrar no seu corpo, sem que percebesse, e bati neles. Foi muito arriscado, mas, felizmente, ocorreu tudo bem. O importante, agora, é manter a sua segurança.
— Existe alguma chance de acabar com esses mandatos?
— Primeiro, você deve se afastar da sua família. Eles podem estar correndo risco, também. — Outro relâmpago surgiu no céu através das janelas. — Ele já sabe que você descobriu tudo e precisamos tomar alguma atitude. Vai até a sua casa, pegue algumas roupas e vamos fugir para bem longe, o mais rápido possível.
Senti confiança em suas palavras e fui embora às pressas, sem comunicar Marcely.
✔✔✔
Cheguei apressado em casa. Evitei fazer barulho para não acordar meus pais. Julie me acompanhou até o quarto. Peguei uma mochila velha e coloquei o essencial dentro. A adrenalina tomou conta de meu interior. Fiquei nervoso por saber que estava correndo risco de vida. Foi muito sufocante.
Julie passou mais algumas informações enquanto eu organizava minhas coisas. Muita informação para a minha cabeça, dentre todo desespero. Tentei absorver apenas o necessário.
— Vamos fugir na parte da manhã. Deixe sua mochila em um canto e te aviso quando for a hora — disse ela.
Demonstrei preocupação.
— Como vou conseguir ficar longe da minha família por sete dias?
— Deixe um bilhete comunicando sobre sua fuga. Isso é para o próprio bem deles.
— Não vou resistir. É muita pressão.
— Fica calmo, Chendy, vai dar tudo certo. Confie em mim.
— Confio em você. Mas é complicado saber que estou correndo perigo. Ainda não consegui assimilar tudo que está acontecendo.
Encarei a expressão preocupada de Julie. Nos abraçamos como refúgio de todos os pensamentos negativos. Senti uma energia maravilhosa ao tocar seu corpo. Estava contente por saber que poderia contar com a garota que amava de verdade, e eu tinha certeza que este era o certo a ser feito: ser feliz. Precisava enfrentar meus medos mais obscuros e encarar a realidade. Comecei a chorar em meio aos pensamentos agoniantes.
Ela passou a mão sobre minha cabeça.
— Fica tranquilo. Vamos sair dessa, juntos — disse ela, lançando suas palavras acolhedoras.
— Como é esse Dórlex? — indaguei, entre soluços.
— Não sei como ele é fisicamente.
— Vamos para onde?
— Vou te levar para um lugar longe da cidade. Vai dar tudo certo.
— Confio em você. Pode ter certeza.
— Mesmo sabendo que sou uma fantasma?
Tentei encontrar as melhores palavras para agradá-la, mas não foi fácil me expressar naquele momento tétrico.
— Você é especial... só isso.
Nos beijamos demonstrando afeto. Em seguida, nos sentamos sobre a cama.
— Morri sem beijar ninguém... nunca me apaixonei de verdade — revelou Julie.
— Sou o seu primeiro amor?
— Sim. Você me fez voltar a viver de uma maneira inexplicável.
— Não sei como consigo sentir seu corpo, seus lábios... seu toque. É incrível.
— Esse é o resultado do mais puro e verdadeiro amor.
— Acredito nisso. Somos dois seres diferentes, conectados pelo destino.
Sorri demonstrando compreensão. Acariciei seu rosto com suavidade. Ela fitou meu cenho, apresentando seriedade, e segurou minha mão.
— Você é meu primeiro amor e sempre vou estar ao seu lado de qualquer maneira — declarou ela.
— Você também é minha primeira garota, só que... ainda, estou confuso.
— Entendo seu lado. Só preciso que compreenda minha situação.
— Estou tentando.
Apreciei seu olhar obscuro e a beijei. Estava me acostumando aos poucos com todo perigo. Por amor, eu estava disposto a enfrentar todas as barreiras e, se possível, correr todos os riscos.
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