No dia seguinte, acordei assustado. Fiquei preocupado com alguma coisa, mas não consegui identificar o que exatamente seria. A manhã foi um pouco conturbada. Julie sumira. Não me senti bem e precisava de sua companhia naquele momento.

Fui verificar a mata e tudo estava mudando. O clima ficou diferente. As folhas caindo sobre o chão comprovavam que o ambiente estava realmente fora do comum. O mundo benevolente que enxergava alguns dias atrás não era o mesmo naquele instante. Senti medo por estar sozinho. O vento soprava com suavidade para o sul. O céu obscuro deixou meus instintos amedrontados. Eu estava sem saída.

O dia reservaria muitos perigos e era preciso aceitar a realidade. Não tinha para onde fugir. Eu precisava encarar meus medos mais profundos e desviar a agonia incessante em meu interior.

Me aproximei de uma árvore, com folhas manchadas em sua volta. Fiquei impressionado com tanta exuberância. Refleti sobre tudo que estava acontecendo. A vida parece simples, mas é complicado lidar com os problemas e dificuldades. Talvez, seja apenas um aprendizado.

Caminhei os olhos até o topo da árvore e admirei sua estrutura. Respirei o ar puro, tentando evitar a pressão psicológica perante tudo que passara. De repente, algo me puxou para cima. Uma forma invisível. Não consegui ver o que seria. Fui levado às pressas para o céu. Além da terra. Eu estava com muito medo e não sabia como reagir.

Inacreditável.

Inesperadamente, parei no universo. Avistei o planeta de longe. A constelação era perfeita. Jamais presenciei algo semelhante. Como cheguei até aqui? Por que estava no espaço? Fiquei surpreso por respirar sem oxigênio.

Extraordinário.

— Tudo bem, Chendy? — disse uma voz rouca, em meio ao universo.

Tentei encontrar a pessoa que estava falando comigo. Foi difícil se movimentar no meio do nada. Não consegui me segurar flutuando no espaço.

— Estou bem. Posso saber quem é?

— Por enquanto, não, mas preciso saber o que você está achando dos últimos dias. Está gostando?

— Como você sabe o que estou passando?

— Aqui, quem faz as perguntas, sou eu.

— Então, me diz o que quer saber.

— Talvez, não lembre de mim, mas sou bem conhecido. Um inimigo muito rigoroso. Estou lhe acompanhando minunciosamente e vou atrás do que quero, independente do que aconteça. Espero que compreenda meu jeito de ser.

— Vou tentar.

— Com o passar do tempo, você entenderá.

— Posso saber onde você está?

— Ainda não. A paciência é uma virtude que nem todos têm. Você deve se acostumar com isso.

— Pelo menos, diga seu nome.

— Você já sabe.

Fiquei confuso. Ainda não sabia com quem estava conversando e percebi que o perigo era enorme.

— Como assim? Eu não lembro.

— Você sabe muito bem quem é o causador disso tudo. Pense mais um pouco.

Rapidamente caiu a ficha e fiquei mais apreensivo do que já estava.

— Dórlex! — falei, um pouco inseguro.

— Você é rápido. Agora, diga o que está achando dos meus mandatos?

— Não são tão surpreendentes como imaginava.

— Você pensa assim porque não sabe, ainda, o que vem por aí.

— Não quero criar expectativas.

— Um dos seus maiores medos pode vir à tona. Sei tudo sobre você e, inclusive, descobri seus segredos mais profundos, que não estão guardados o suficiente para os meus instintos. Não permito que alguém entre no meu mundo e fique feliz para sempre ao lado de uma fantasma.

— Você já foi feliz alguma vez na vida? — Aguardei por um instante, enquanto o silêncio permanecia intacto após meu questionamento intimador. — Provavelmente, você nunca presenciou algo semelhante. Tanto sofrimento deve ter levado você a chegar nesse ponto. Sua ignorância é nítida, e nada me impede de ficar ao lado da garota que amo. Aprendi a conviver com o medo.

— Está certo. Sou ignorante. Essa é a palavra que melhor me descreve. É melhor ser lembrado do que ser absolutamente nada. Ainda bem que permaneço em sua memória. — Ele começou a rir, de modo sarcástico. — Não sou obrigado a ouvir sua opinião insignificante.

— Então, nos deixe em paz!

— Você mesmo fez sua escolha. Só estou enviando a consequência. Nada garante que você mantenha segredo sobre nossa existência. Ninguém entra no meu mundo e sai ileso.

— Não vou contar para ninguém sobre o que está acontecendo.

— Poderia me arriscar, mas prefiro aproveitar a oportunidade de vê-lo morto.

— Quanta crueldade. Você precisa confiar em mim. Pode me vigiar, se quiser, mas eu juro que não vou contar absolutamente nada para ninguém. — Fiquei exaltado.

— Poderia... mas não vou.

— Por quê?

— Porque nosso mundo é bem diferente do seu. Temos regras a cumprir.

— Desisto! Você faz o que quiser comigo, não me importo.

— Tem certeza?

Fechei os olhos e aguardei pelo pior.

O oxigênio acabara. Fiquei sem respirar por alguns minutos. Não resisti a toda pressão e fiz o máximo para permanecer consciente, mas foi complicado tentar sobreviver no meio do espaço.

***

5️⃣🌍✨

Acordei assustado dentro do esconderijo. Julie veio às pressas do lado de fora, demonstrando preocupação por meu desespero repentino.

— O que aconteceu? Você está bem? — indagou ela.

Fiquei mais seguro com sua presença. Esbanjei um sorriso e senti um alívio por saber que estava apenas sonhando.

— Tudo bem, só foi um pesadelo.

— Pelo jeito, deve ter sido bem pesado.

— Talvez, tenha sido outro mandato. Foi muito real.

— Posso saber o que houve?

— Sonhei com Dórlex.

Sua expressão foi de surpresa.

— Como assim? O que ele queria?

— Só tivemos uma conversa, e mais nada.

— Você está machucado?

— Não, e, por favor, não toque mais nesse assunto.

— Pode deixar.

Julie sentou-se ao meu lado, envolveu os braços em meu corpo, demonstrando afeto, e confortou meu cenho com sua compreensão e seu gesto de carinho.

Talvez, o dia nos reservasse surpresas desagradáveis, mas eu esperava o pior. Me senti esgotado naquele momento.