Quarto mandato. 4️⃣🧙♀️💢
Já tinha me acostumado com o fato de estar correndo perigo. Tive noção de que o amanhã seria outro dia repleto de surpresas e riscos. Não sabia exatamente o que poderia acontecer. Senti muito medo do que estava por vir, mas tive ciência do que me aguardava e estava preparado para lidar com novos problemas. Jamais pensei que fosse lutar por amor. Fiquei sem notícias de meus pais e Marcely. Fiquei imaginando como eles estavam naquele exato momento. Provavelmente, o desespero tomou conta de minha família, e os deixei preocupados com minha fuga repentina, isto, sim, eu tinha certeza. Eu estava apaixonado por Julie e o sentimento que estava lidando não era semelhante a nenhum que já tenha presenciado. Era excepcional.
Nunca acreditei no amor. Sempre pensei que fosse algo irreal. As histórias e contos de fadas nos mostram um final feliz baseado na paixão. Foi difícil perceber o que estava sentindo quando avistei Julie na pracinha pela primeira vez. Tive certeza que viver ao seu lado era o correto, e proteger minha família, também.
Por que pensar no amanhã se o hoje ainda não terminou? E por que fazer planos se a vida pode ser apenas um improviso? Eis as questões que atormentavam minha mente. Era preciso ter paciência, pois o tempo poderia respondê-las com clareza.
4️⃣🧙♀️💢
Pelo amanhecer, resolvi avistar a paisagem que rodeava a mata. Fiquei surpreso pelo desaparecimento de toda neve. Julie se aproximou, talvez, soubesse do que acontecera.
— O que houve por aqui? — indaguei.
— Parece que a neve derreteu com todo aquele calor.
— Quando foi isso?
— Ontem, quando você desmaiou. Foi incrível.
— Pena que durou pouco. Queria ter aproveitado mais.
— Concordo. Mas você viu o que eu trouxe?
Julie entrou na árvore.
— O que é?
Aguardei, ansioso. Inesperadamente, ela carregava em suas mãos sacolas de comida ao sair do esconderijo. Esbanjei um sorriso ao ver o banquete.
— Trouxe algumas coisinhas para você comer — disse ela.
Senti muita fome e aproveitei a oportunidade para satisfazer meus desejos.
— Nossa! Muito obrigado.
Peguei algumas sacolas e caminhei até uma pedra grande para colocar os mantimentos. Nos sentamos e comecei a me servir. O cheiro de pão fresco exalou pelo ar. Não resisti à tentação de devorá-lo. Em meio a todos os acontecimentos, felizmente, consegui deletar alguns pensamentos desagradáveis da minha mente e aproveitei o momento. Julie observou minha atitude ao ver toda aquela refeição.
— Não se preocupe, falta pouco para acabar tudo isso — disse ela, demonstrando tranquilidade.
— A cada dia que passa, tento manter a calma para enfrentar os mandatos, e procuro não criar expectativas.
— O importante é você conseguir se adaptar.
Ficamos em silêncio, e Julie pareceu pensativa. Ela estava preocupada com algo e sua feição demonstrou apreensão. Tentei desviar de seu olhar para não persistir no assunto, provavelmente, lembranças de sua família haviam voltado. De repente, ela fitou meu aspecto e sorriu.
— Preciso contar uma coisa — disse ela.
Não disfarcei a curiosidade.
— O que houve?
Ela respirou fundo, fechou os olhos, demonstrando receio, e, rapidamente, os abriu.
— Essa noite, fui na sua casa. Seus pais estavam dormindo, pareciam bem, e sua irmã, também.
— Por que você não me disse?
— Estou falando agora.
Fiquei preocupado e, rapidamente, mudei o aspecto.
— Sinto falta deles.
— Só fui ver como eles estavam para deixar você mais tranquilo. Pensei que poderia ajudar, mas parece que não funcionou muito bem. — Ela percebeu que comecei a chorar, se aproximou e envolveu os braços em meu corpo. — Vai dar tudo certo. Vamos ficar todos bem, principalmente você.
— Sim, mas é difícil saber que... Você sabe.
— Sei. Quero que fique calmo e não desista, logo agora. Falta pouco. Vai ficar tudo bem.
Resisti às lágrimas. Tentei sorrir demonstrando tranquilidade.
— Você tem razão, mas eu queria ver eles novamente.
— Tenha paciência. Daqui alguns dias, vocês estarão juntos, quando tudo isso acabar.
— Tudo bem.
Esperei ansiosamente que a semana passasse depressa. Não aguentava mais lidar com os mandatos que colocavam minha vida em risco. Queria minha vida de volta, ao lado de Julie.
4️⃣🧙♀️💢
Próximo ao anoitecer, percebi que o clima mudara, e jamais tinha presenciado algo semelhante. Fiquei sozinho, enquanto Julie estava caminhando pelos arredores. Talvez, estivesse enganado, mas a noite não seria comum em um ambiente tenebroso como aquele. Tentei manter a calma para não criar pensamentos desagradáveis. Entrei na árvore, sentei em um canto, próximo à mochila, e fechei os olhos por um tempo. Procurei memórias convenientes para recuperar minhas energias. Respirei fundo e tentei esquecer o mandato surpresa. Em meio aos pensamentos agradáveis, ouvi um barulho no lado de fora. Poderia ser Julie. Novamente, o som ecoou para dentro do esconderijo. Fiquei curioso e com medo. O que estava acontecendo? Seria minha imaginação ou mais um mandato?
Fui verificar, cautelosamente, de onde estava vindo o barulho. Olhei para todos os cantos da mata, e o ambiente parecia calmo. Provavelmente, minha cabeça estava criando situações ilusórias para me confundir. Fiquei mais tranquilo por sentir segurança e decidi voltar para o esconderijo.
— Chendy! — ecoou uma voz, ao longe, antes que eu entrasse na árvore. Fiquei paralisado. — Chendy! Não vai falar comigo?
Olhei para todos os lados e não avistei ninguém.
— O que é isso? — sussurrei.
— Fale comigo. Sei tudo sobre você. Sobre sua família, seus amigos, sua namorada. Sei tudo, e um pouco mais — disse a voz misteriosa.
Respirei fundo.
Criei coragem.
— Quem está aí? Como me conhece? — indaguei, tentando descobrir quem estava me chamando misteriosamente.
— Não se preocupe, você está em boas mãos. Não tenha medo — sua voz era suave e feminina.
— Não estou com medo.
— Então, pare de tremer. Ouço seus dentes batendo daqui.
— Posso saber com quem estou falando?
— Você tem certeza que quer saber?
Fiquei ofegante. Eu estava curioso e sabia o quanto poderia ser perigoso lidar com aquela pessoa misteriosa.
— Sim, tenho certeza.
— Lembre-se que sou da escuridão. Não apresento sentimentos. Muitas vezes, nem tenho noção do que faço ou do que digo. Sou forte e me alimento de seu medo, por isso, estou te alertando. Quer realmente me ver?
Refleti por um momento. Não tinha como enfrentá-la sem saber ao menos com quem estava falando. Olhei ao redor, tentando encontrar Julie, e fiquei desesperado por estar sozinho. Teria que tomar a decisão por impulso. Acredito ter feito a coisa certa.
— Pode aparecer.
O silêncio tomou conta do ambiente. A voz misteriosa desaparecera. Tentei encontrar algo de diferente pela mata, mas estava tudo normal. Aguardei por um tempo tentando decifrar o enigma. Foi sufocante lidar com meu próprio medo e enfrentar o desconhecido. É doloroso ser forte e lutar consigo mesmo. Não sabia quem poderia ser, mas acreditava que algo ruim fosse acontecer. Resolvi voltar para o esconderijo e me proteger. Próximo à entrada, avistei uma senhora vestida de preto, com cabelos compridos, branco e liso, vindo em minha direção. Sua expressão era séria. Senti medo e tentei fugir. Outras senhoras, com a mesma vestimenta, apareceram. Elas me cercaram e não tive para onde correr. Sentei no chão, envolvi os braços sobre minhas pernas e fechei os olhos, enquanto aguardava pelo pior. De repente, Julie chegou no local e agrediu duas mulheres. Fiquei chocado com sua brutalidade, e percebi que uma briga estava começando. Ela olhou para meu aspecto surpreso e franziu o cenho.
— Entre no esconderijo e saia de lá só quando eu mandar! — intimou Julie.
Corri o mais rápido possível para dentro da árvore e não retruquei.
Escutei o grito desesperador das mulheres confrontando com Julie. Talvez, ela estivesse correndo perigo. Tentei me esconder para não piorar a situação. De repente, uma senhora entrou e segurou meu pescoço com força, levando-me para o lado de fora. Fiquei assustado. Julie segurou uma delas, torceu seu pescoço e veio rapidamente me socorrer. Começaram a surgir mais senhoras por todo canto. Não acreditei no que estava vendo. Foi realmente assustador. Mesmo com tanto esforço, não consegui sair das mãos da mulher que me puxara para o lado de fora. Senti fraqueza e não persisti. Fui arrastado por um caminho longo, mata abaixo, e lançado no chão, brutalmente. A senhora olhou para meu aspecto sofrido, sem demonstrar emoção. Senti medo, e fiquei mais seguro quando Julie apareceu, empurrando-a para distante de mim.
A luta continuou, e, mesmo caído sobre o chão, consegui presenciar Julie derrotando todas com êxito.
4️⃣🧙♀️💢
Mais tarde, ficamos juntos na árvore. Estava mais tranquilo. Felizmente, recuperei as energias depois do susto. Observei Julie, sentada ao meu lado, e admirei sua feição. Aproveitei a oportunidade para buscar informações sobre o que acontecera.
— Quem eram aquelas senhoras? — indaguei.
Ela refletiu por um instante.
— Aquelas mulheres são de um mundo diferente do nosso, podemos dizer que são bruxas, mas não tem com o que se preocupar porque eu já ouvi falar sobre elas e, apesar de nunca ter visto uma pessoalmente, tenho certeza que vai ficar tudo bem. Esse foi apenas um mandato.
Fiquei mais seguro com sua autoconfiança e decidi descansar para não prolongar o assunto após toda ocorrência.
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