Na hora da saída, despistei Bia e Micah para chegar na pracinha sozinho. Foi complicado fugir deles, mas após tanto esforço, finalmente, consegui. Quando cheguei no local onde havíamos nos encontrado, avistei Julie, novamente. Nossos olhares se encontraram de forma sincronizada. Me aproximei dela, próximo a uma árvore, que estava sentada sob a sombra.

— Oi, de novo.

Seu sorriso cativante deixou meu aspecto mais alegre.

— Oi.

— Você não estuda?

Ela ficou sem jeito.

— Não preciso.

— Ah, você já nasceu formada?

— Acho que sim.

Começamos a rir. Senti um clima agradável por estar ao seu lado. Momento ideal para conversar.

— Queria falar com você.

— Sobre o quê?

— Sobre a gente.

— Como assim? O que você quer saber sobre mim? Quer saber se tenho namorado?

— Sim. Uma das minhas perguntas é esta. Você tem?

— Não. E você, tem namorada?

— Ainda, não. Estou esperando pela pessoa certa.

Ficamos nos olhando por um tempo. Admirei sua feição jovial, empolgada, e maravilhosa. Tive a certeza de que eu estava apaixonado. De repente, ela interrompeu o clima benevolente franzindo o cenho, demonstrando curiosidade.

— Onde você estava? — indagou Julie.

— Acabei de sair da escola.

— Estudioso.

— Só um pouco. Estudo porque quero ter um bom futuro, mas confesso que acho isso chato.

— Então, você pretende se formar, fazer uma boa faculdade, conseguir um excelente emprego e, depois, começar a viver?

— Mais ou menos assim. Por isso, é entediante.

— Concordo, um pouquinho.

— Um pouquinho?

Nos encaramos por um tempo. Momento suficiente para esclarecer sua ideia.

— Ok, é bastante chato.

— É bom saber que não sou o único a pensar desta maneira.

— Concordo.

Fiquei sem saber o que falar. Meus olhos estavam voltados para seu aspecto magnífico. Inesperadamente, ela segurou minha mão.

— Você quer ir num lugar bem legal? — convidou ela.

— Sim.

Julie saiu correndo dentre a mata. Fui atrás dela e nem percebi que estava correndo como um maluco. As árvores e flores eram incríveis. Todo o ambiente estava deixando o meu dia mais agradável. Senti o amor a cada passo dado, e todo minuto mostrava cada vez mais quem eu era ao lado de quem amava verdadeiramente. Corri o mais rápido para tentar acompanhar Julie. Subimos um morro alto e valeu toda caminhada. Cheguei ofegante no topo e, ao mesmo tempo, surpreso com a paisagem.

— Gostou? — indagou ela.

— Aqui... é lindo — respondi, ofegante.

Julie não demonstrou cansaço.

— Sabia que você ia gostar.

— Como descobriu este lugar?

— Caminho muito por essas redondezas.

Senti o vento bater em meu rosto. O lugar era maravilhoso. Lembranças sobre o sentido da vida vieram à tona e foram interrompidos pela admirável beleza de Julie aos meus olhos.

— Posso fazer uma coisa? — disse ela.

— Pode.

— Se prepare.

Ela segurou minha mão, olhou para meu aspecto surpreso e se aproximou com um sorriso esbanjado. Nossos lábios se encontraram e nos beijamos com ternura. Não tinha explicação aquela troca de afeto. Senti algo mais forte ao abraçá-la e isso comprovou o quanto a amo. Sua atitude deixou meu dia mais agradável. Momento perfeito para tomar novas decisões.

— Julie. Agora, eu quero fazer uma coisa.

— O quê?

Me ajoelhei com uma perna e segurei sua mão.

— Quer namorar comigo? — questionei, sem acreditar no que estava fazendo.

Ela ficou surpresa.

— Mas, já?

— Claro, assim a gente se conhece melhor e vai criando confiança um no outro.

— Não sei.

— Depois desse beijo, você, ainda, tem dúvidas?

Ela refletiu, encarou meu aspecto piedoso e sorriu.

— Vou aceitar seu pedido de namoro.

— Ótimo.

Nos beijamos novamente e me senti o garoto mais feliz do mundo naquele instante. Acredito em amor à primeira vista e tenho certeza que vou sentir isso por muito tempo.

💞👫💝

O tempo foi passando. Comuniquei aos meus pais sobre minha namorada. Inclusive, passei a conhecê-la melhor. Nos encontramos quase todos os dias, me tornei responsável e arrumei o quarto bagunçado — uma iniciativa que surpreendeu a todos. Também, me encontrei com Julie em meu quarto durante algumas noites, sem que ninguém soubesse. Após o pedido surpreendente, nos aproximamos mais para ter a certeza do que estávamos fazendo.

💞👫💝

No café da manhã, antes de ir para a escola, avistei Marcely empolgada, comendo. Resolvi acompanhá-la e sentei em sua frente.

— Bom dia.

— Bom dia. Dormiu bem? — questionou ela.

— Sim, e você?

— Também. Você vai encontrar a Julie depois da aula?

Pensei por um instante.

— Acho que sim.

— Então, convide ela para vir aqui em casa, não vou trabalhar hoje, e quero conhecê-la.

— Ela é muito compromissada, sempre tem alguma coisa para fazer. Provavelmente, vocês só vão conhecê-la no nosso casamento.

— Nossa! Já estão pensando em casar? Que horror!

— Por que você pensa assim?

— É só juntar os fatos. Nem começaram a namorar direito e estão querendo casório.

Ela sorriu ironicamente. Me retirei para pegar a mochila na sala e decidi não comer nada.

— Você parece antiga.

— E você parece um mentiroso. Acho que não existe namorada nenhuma.

— Se você acredita, ou não, isso, é problema seu.

— Então, vou fingir que acredito.

Nos despedimos rapidamente e fui para a escola.

Pensei alto demais falando sobre casamento com minha irmã. Ainda sou muito jovem para ficar pensando nisso e ninguém se casa cedo por achar que está apaixonado. Preciso manter a calma e ir devagar com esse relacionamento, que pode mudar futuramente. Odeio esperar para ter certeza de algo que acredito já estar mais do que esclarecido.

💞👫💝

O período da manhã passou rápido. Na saída da escola, fui surpreendido por Julie no outro lado da rua, e fui correndo em sua direção.

— Oi. O que você faz aqui?

Ela esbanjou um sorriso.

— Vou te acompanhar até em casa — disse ela, empolgada.

— Então, vamos.

Decidi beijá-la na frente de todos os alunos que passavam. Jorge e Max viram a cena e começaram a rir.

— O cara é doido — comentou um deles.

Não consegui identificar quem estava caçoando e nem fiz questão de descobrir. As risadas continuaram, sem explicação alguma. Julie ficou chateada com a ocorrência.

— Desculpa. A gente se fala mais tarde — disse ela.

Julie saiu correndo sem justificar nada. Fiquei sozinho e sem entender o que aconteceu.

💞👫💝

Cheguei em casa cansado. Marcely estava fazendo faxina. Fui para o meu quarto e não a interrompi. Fiquei confuso com o que acontecera, mas acredito existir uma boa explicação. Após o almoço, resolvi escutar música no fone de ouvido, na sala. Deitei no sofá e refleti sobre a situação desagradável que ocorrera em frente à escola mais cedo. Percebi que alguém tinha chegado, pois Marcely foi em direção à porta. Não me importei em saber quem seria e comecei a entrar no clima da canção. Avistei tia Marta caminhando até a sala, retirei o fone de ouvido e fiquei feliz por sua visita.

— Oi, Chendy — disse ela, com um sorriso no rosto.

— Oi, tia.

Nos abraçamos. Marcely estava desarrumada.

— Ela quer falar com você, vou terminar de limpar a casa — disse ela, indo para a cozinha.

— O que foi, tia? — indaguei, ansioso.

— Quero te convidar para o aniversário do Mateus, que será neste fim de semana.

— Obrigado, pelo convite. Pode deixar que eu vou.

— Já falei com sua irmã. É uma festa para adolescentes e tenho certeza que seus pais não vão querer ir. Eu também não vou.

— Onde será a festa?

— No salão da sua escola.

— Que bom. Eu conheço muito bem esse lugar.

Ela esbanjou um sorriso.

— Ele queria convidá-los pessoalmente, mas ocorreu um imprevisto.

— Sem problemas.

— Bom, agora, preciso ir. Ele vai esperar por vocês na festa.

— Presença confirmada.

Ela se despediu rapidamente e se retirou às pressas. Marcely apareceu, repentinamente, com uma vassoura na mão.

— Você vai na festa do Mateus? — indagou ela, curiosa.

— Claro. Gosto de ir a festas.

— Quanto às garotas, pode esquecer, você já é comprometido, não é mesmo?

— Sim. Sou fiel à Julie.

Ela seguiu em direção às escadas soltando uma risada sarcástica. Não estou sendo levado a sério, e comecei a ficar preocupado.