Fui para a escola mais cedo do que imaginava. Acordei pontualmente, não me atrasei e cheguei antes de Bia e Micah. Assim que os dois chegaram, ficamos sentados no banco do pátio, conversando, até tocar o sinal. Bia parecia empolgada por falar sobre seu fim de semana.

— Ontem, meus pais ficaram me incomodando para te apresentar a eles — disse ela.

— Meus tios foram me visitar. Foi muito massa.

— Ainda bem que não fui te convidar para almoçar lá em casa.

— Ainda bem. Meus primos também foram, fazia tempo que não os via.

— Sério? Quantos anos eles têm?

Refleti por um instante sobre seu interesse inusitado.

— Para falar a verdade, eu nem sei.

Ela começou a rir.

— Nossa! É estranho não saber a idade dos seus primos.

— Não sou de memorizar a idade de todo mundo, inclusive, não conheço muito bem meus primos.

— Ah! Isso me parece uma boa justificativa.

— Eu sei. Mas é verdade.

— Acho melhor vocês manterem a calma — disse Micah.

— Por quê? — indaguei.

— Porque nós temos muito tempo pela frente para saber a idade de seus primos.

— Literalmente.

— E como.

— Sei que o papo está bom, mas o sinal já vai tocar — disse Bia, nos interrompendo.

— Verdade. Vamos para a sala, antes que a aula comece.

Nos retiramos do pátio sem pressa. Nossa manhã estava apenas começando, e muita coisa, ainda, ia acontecer.

Minha imaginação foi além durante as aulas. Parecia que eu não estava ali, assistindo às explicações dos professores. Foi muito rápido a parte da manhã. Tudo parecia novo e estranho conforme o tempo passava, mas eu tinha certeza de que tudo era a mesma coisa. Não conversei muito com meus amigos, nem prestei atenção nas tarefas que passaram, me esqueci da hora e fiquei preso no pensamento, tentando fugir dos mais tenebrosos, porém, não conseguia. Depois de um tempo, já era hora de ir embora. A aula tinha acabado e eu nem percebera.

🙍‍♂💕🙍‍♀

Quando fui para casa, passei próximo à pracinha e avistei novamente a garota que me apaixonei. Tentei chegar perto, mas, aos poucos, ela se afastava e, sem pensar muito, decidi persegui-la. Naquele momento, esqueci de tudo ao redor e só tive olhos para a garota misteriosa que roubou meu coração. Caminhei às pressas ao seu encontro, sem perceber por onde andava, e, inesperadamente, escorreguei para dentro de um buraco sujo.

***

🙍‍♂💕🙍‍♀

Acordei sendo cuidado pela garota. Estávamos em um lugar estranho, com reflexos do sol por toda parte. Senti suas mãos frias sobre meu corpo e seu aspecto parecia estar brilhando. Olhei para ela, enquanto colocava um curativo em meu braço, admirei sua beleza mais de perto e sorri.

— Quem é você? — questionei, deslumbrado.

— Acho que sou alguém... ou, então, não — suas palavras soaram com suavidade.

Fiquei surpreso.

— Como assim, você não tem certeza disso?

Ela sentou-se ao meu lado.

— Por que você quer saber?

— Sou um garoto curioso.

— Percebi. Só que eu sou muito mais do que uma simples garota.

— Concordo.

— Concorda? Você nem me conhece direito.

— Talvez você esteja enganada.

— Eu jamais me engano.

— Ok, você venceu. Não te conheço o suficiente para julgá-la.

— Ainda bem que você notou isso.

Me aproximei de seu rosto.

— Você não disse seu nome. Posso saber? — sussurrei.

— Pode. Sou Julie, e o seu?

— Chendy.

— Nome bonito. Igual você.

Fiquei sem jeito com o elogio.

— Valeu. Você também é linda.

— Obrigada, mas de onde você é?

— Moro aqui perto, e você?

— E eu, o quê? — Ela pareceu meio confusa.

— Mora onde?

— Ah... é que... eu não sei direito.

— Como assim, não sabe direito?

Começamos a rir.

— Vamos dizer que sou da vida — disse ela. Fitei seu olhar obscuro, segurei sua mão fria, que deixou meu corpo todo arrepiado, e me aproximei de seus lábios para beijá-la, mas fui interrompido por sua retirada repentina. — Desculpa. Preciso ir.

Demonstrei desânimo.

— Já?!

— Sinto muito.

Julie saiu em direção a um dos reflexos. Tentei impedir sua fuga.

— Espera. Como eu faço para sair daqui?

— Suba por onde você entrou — disse ela, com a voz sumindo aos poucos, enquanto corria.

Perdi Julie de vista, e espero poder conhecê-la melhor futuramente. Nosso encontro foi repentino, e senti algo diferente por estar ao seu lado.

🙍‍♂💕🙍‍♀

Consegui me retirar sem nenhum arranhão. Fui para casa empolgado por ter passado um tempo com a garota que roubou meu coração. Imaginei vários momentos que poderíamos passar juntos. É muito bom sentir o amor. Cheguei em casa e fui direto para o meu quarto, sem perceber a presença de meus pais ou de Marcely. Deitei sobre a cama e senti uma alegria imensa. De repente, meu pai se aproximou.

— Chendy. O que houve? — indagou ele, preocupado.

Fechei os olhos e fiquei ofegante.

— Hoje, consegui falar com a garota, e descobri que ela se chama Julie.

— Sério, filho? De onde ela é? Qual a idade dela?

— Calma. Ela não me disse quase tudo, só disse o nome e algumas coisas.

— Que tipo de coisas?

— Sei lá. Estou um pouco confuso, mas tenho muito tempo para conhecê-la.

— Concordo. Mas vocês se beijaram?

— Pai!

— Desculpa, eu só queria saber.

— Tudo bem. O pior é que senti a mesma coisa, igual ao outro dia.

Ele esbanjou um sorriso.

— E você sabe o que isso significa, né?

— Acho que sim.

— E o que seria?

Admirei sua feição alegre e demonstrei empolgação.

— Pela primeira vez, estou apaixonado.

— Isso. Quero conhecer essa garota, e não se esqueça de apresentá-la para a família, assim que der tudo certo, claro.

— Pode ficar tranquilo quanto a isso.

— Sim, estou tranquilo, só que nós precisamos se abrir um com o outro.

Fiquei confuso.

— Como assim?

— Me conte tudo o que está acontecendo no seu cotidiano e eu vou te dar conselhos.

— Acho que não preciso de conselhos.

— Já eu, discordo, mas, quando precisar, é só me chamar, tudo bem?

— Pode deixar.

Nos abraçamos com ternura. Senti sua veracidade e confiança. Somos grandes amigos, e passei a confiar mais em seus conselhos depois de presenciar esse momento agradável.