Confusão. 😡😢😤
O fato de estar apaixonado seria uma ótima notícia para minha família, mas eu precisava passar por isso primeiro, e acho que estava acontecendo. Passei a noite toda em claro. Fiquei escutando música, folheei alguns livros e algumas revistas, fui pegar algo para comer na cozinha, assisti televisão em meu quarto e fiz outras coisas para me distrair enquanto o despertador não tocava. Ao amanhecer, fui para a escola como se nada estivesse acontecido. Por incrível que pareça, não senti sono e nem demonstrei ter passado a noite acordado.
Enquanto estava seguindo caminho até a escola, encontrei Micah, e resolvi acompanhá-lo.
— Bom dia. — Ele não respondeu porque estava ouvindo música no fone de ouvido. Me aproximei e encostei em seu ombro. — Falei com você.
Ele pareceu feliz por me ver, logo pela manhã.
— Ah! Oi, tudo bem?
— Sim. Beleza.
— Seus pais brigaram com você, ontem?
— Mais ou menos. Eles chamaram minha atenção, disseram para não sair de novo sem avisar, e expliquei onde estava, para não deixá-los desavisados, pelo menos. Depois, ficou tudo bem. Não foi um puxão de orelha digno, mas melhor deixar assim, mesmo.
— Que bom.
Sua preocupação deixou meu aspecto mais animado. Fiquei feliz por poder contar com alguém que se importa comigo. Inesperadamente, Bia nos surpreendeu atravessando a rua, vindo em nossa direção.
— Oi, galera. Como vai? — disse ela, animada.
Micah assentiu sem dizer nada.
— Muito bem, obrigado por perguntar — respondi, demonstrando gratidão.
— De nada. Seus pais não brigaram com você, ontem?
Esbanjei um sorriso.
— Não. Inclusive, eu estava explicando isso, agora, para o Micah. Eles só chamaram minha atenção, mas já está tudo bem.
Percebi que tenho dois grandes amigos e poderei confiar neles para o que precisar.
😡😢😤
Na terceira aula, tivemos educação física. Todos fizeram alguma coisa, menos eu. Acho que não tem sentido ficar jogando futebol, vôlei ou basquete na escola — apesar de não saber jogar nenhum destes esportes. Preferi ficar sentado em um banco, assistindo meus colegas.
Dois alunos vieram falar comigo. Pensei que fossem se aproximar ou me convidar para jogar. Porém, um deles, que não conheço direito, pareceu arrogante.
— Acha que esta escola é de rico? É melhor você se mexer, senão a coisa vai ficar feia para o seu lado — disse ele.
O outro encarou meu aspecto surpreso.
— Você está no lugar errado — complementou o segundo garoto.
Fiquei sem reação no momento. Apenas tentei não absorver as palavras grosseiras e intimadoras.
Eles se retiraram.
— E vocês acham que são donos da escola para ficar me dizendo o que fazer? — pronunciei, por impulso.
Os dois pararam. Senti uma adrenalina enorme em meu interior. Ambos pareciam analisar o que eu havia dito. Pensei no pior, mas, felizmente, continuaram andando. Bia veio em minha direção, assustada, e sentou-se ao meu lado.
— O que o Jorge e o Max queriam? — indagou ela, curiosa.
O nervosismo tomou conta de mim.
— Aqueles garotos vieram dar as boas-vindas.
— Tome cuidado, eles não são nem um pouco legais.
— Percebi isso com o aviso deles.
— Que aviso? — indagou ela, surpresa.
— Acho que eles queriam que eu jogasse.
— Estranho. Mesmo assim, tem que abrir o olho com esses dois. Eles estudam comigo desde o quinto ano e sempre dão um jeito de arrumar confusão.
— Pode deixar, vou me cuidar.
Tentei ficar tranquilo, mas foi difícil não me preocupar com os dois indivíduos.
😡😢😤
Quando cheguei da escola, Marcely estava me esperando para ir procurar emprego, parece que ela estava sem sorte.
À tarde, fiquei livre para arrumar meu quarto. Não consegui olhar para toda a bagunça e ter ânimo para colocar tudo no seu devido lugar. A preguiça tomou conta de todo meu corpo e foi impossível ficar empolgado para realizar a tarefa. Estou envelhecendo muito rápido. Liguei o som, sentei na cadeira e fiquei observando o movimento pela janela do quarto. Refleti sobre o que acontecera mais cedo e fiquei me perguntando inúmeras vezes: onde foi que eu errei? Provavelmente, aqueles dois garotos vão me perseguir por um bom tempo, e vai ser difícil enfrentá-los calado.
😡😢😤
Acordei ao anoitecer e percebi que não estava em casa. O lugar era estranho, escuro e desajeitado. Meu aspecto estava diferente. Mudei. Olhei meu reflexo no espelho e levei um susto ao ver minha aparência envelhecida. Não acreditei no que estava vendo e desci as escadas correndo. Haviam muitos degraus que aparentavam não ter fim. Corri o mais rápido possível para chegar até o andar de baixo. Fiquei agoniado com tanto esforço e desespero. O medo aumentava cada vez mais. Cheguei no andar de baixo e avistei uma garota de bruços no chão. Me aproximei, curioso para saber quem era. O clima estava tenso. Coloquei a mão sobre seu ombro e, ao se virar, avistei Marcely com o rosto deformado, parecendo pedir ajuda. Fiquei apavorado e tentei fugir. Corri por um corredor escuro. Mais à frente, encontrei minha irmã, novamente, mas, desta vez, ela estava sem nenhum machucado.
— Hey! O que você está fazendo? — indagou ela.
Levei outro susto e, de repente, acordei em meu quarto. Foi apenas um sonho ter passado por tudo isso — na verdade, um pesadelo.
— O que houve?
— Você dormiu e esqueceu de arrumar o quarto de novo, né?
Tentei me recuperar do devaneio macabro e fiquei sem jeito por não ter organizado o quarto, novamente.
— É que... estava muito cansado e acabei dormindo. — Olhei pela janela e percebi que anoitecera. — Que horas são?
— Já é hora de você ter vergonha nessa cara e ser mais organizado.
— Mas eu vou arrumar meu quarto.
— Quando?
— Amanhã... eu acho.
— E eu acho que devo avisar à mãe sobre isso.
Marcely se retirou às pressas. Sua ameaça foi insignificante. Assim, tentei me recuperar do pesadelo.
Mais tarde, minha mãe brigou comigo referente ao que acontecera, mas prefiro não entrar em detalhes quanto a esta discussão.
😡😢😤
O fim de semana chegou muito rápido. Recebemos uma visita inesperada de meus tios com seus filhos. Foi um almoço em família especial porque ficamos sem nos ver por um bom tempo. Tia Marta veio até meu quarto — ainda bagunçado —, sentou-se na cadeira, ao lado da cama, demonstrando, como sempre, muito afeto.
— Querido, posso falar um instante com você? — questionou ela.
— Claro. O que houve?
— Como você está se sentindo, morando aqui?
— Aos poucos, estou me adaptando.
— Pensei que estivesse com saudades.
Esbanjei um sorriso em retribuição.
— Não, imagina. Já arrumei novos amigos e entendi o motivo pela mudança. Acho que preciso me acostumar.
— Que ótimo. Mas quem são esses seus amigos?
— Eles estudam na minha sala.
Mateus, um de meus primos, apareceu na porta.
— O pessoal está chamando a gente — disse ele, interrompendo nossa conversa.
— Para quê? — questionou tia Marta, curiosa.
— Provavelmente, terá um discurso.
Acompanhamos Mateus até o andar de baixo. Ao descer as escadas, avistei meu pai na sala, em frente a todos os convidados. Com certeza vai ter um discurso. Rodeado por todos, ele esbanjava carisma.
— Quero dizer que esperei isso por muito tempo — disse ele, iniciando sua apologia. — É uma honra ver toda família reunida em minha residência, confraternizando nossa chegada. Estou aqui por vocês e espero não ter que mudar de cidade outra vez.
— E não vamos deixá-lo ir, se isso acontecer — complementou uma de minhas tias.
Todos começaram a rir, esbanjando felicidade.
— Agradeço a todos pela presença e quero dizer que amo todos vocês. — Fiquei emocionado pelo afeto sincero e verdadeiro de meu pai. Todos ficaram comovidos com o discurso e, para minha surpresa, ele estendeu a mão para mim. — Filho, acho que você tem algo a dizer.
Fiquei envergonhado.
— Melhor não.
— Nada disso. Tenho certeza que você tem algo a dizer.
— Sinceramente, acho que não tenho nada para falar.
— Tem, sim — persistiu ele.
Todos começaram a implorar por meu discurso. Tentei disfarçar o medo e caminhei até o lado de meu pai. Fechei os olhos tentando encontrar as melhores palavras para aquele momento e, felizmente, consegui encontrar uma segurança em meu interior para falar o que sentia.
— A vida é feita de momentos, e um deles, para mim, é o agora. Acho que deve ser especial qualquer um deles. Antes de vir para cá, eu tinha uma outra vida, um cotidiano diferente, outros amigos, pessoas que conviveram comigo e que hoje sinto falta, mas acredito que foi bom ter passado por essa mudança porque é uma oportunidade de conhecer novas pessoas. Agradeço de coração por ter uma família unida como vocês.
Finalizei com chave de ouro e surpreendi todos ao pronunciar o que estava sentindo.
Um pouco mais tarde, meus familiares foram embora. Inclusive, nos convidaram para visitá-los futuramente, e não tinha como recusar.
Resolvi dormir mais cedo para não ficar cansado no dia seguinte. Parecia impossível fechar os olhos sem pensar em Jorge e Max, talvez meus inimigos. Mas acredito que o ocorrido tenha sido apenas passageiro.
Será?
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