Aquela foi a pior noite de toda minha vida. O frio tomou conta do ambiente e não consegui me adaptar com a mudança de clima. Fiquei gelado dos pés à cabeça. Comecei a espirrar e percebi que estava ficando gripado. Julie não saiu do meu lado. Ela cuidou de mim, o tempo inteiro, para não piorar minha estabilidade. Foi realmente horrível lidar com essa situação. Estávamos longe de tudo e eu não poderia ficar doente no meio do nada. Não consegui dormir direito por causa do resfriado. Fechei os olhos, tentando descansar a mente, talvez, isso ajudasse a ter disposição no dia seguinte.

🏔️❄️🌲

Ainda com os olhos fechados, ouvi Julie chamar, próximo à entrada da árvore:

— Chendy! Isso é incrível, venha ver. — Ainda estava sonolento e não me importei com seu entusiasmo. — Você tem que ver isso, por favor, venha.

Fiquei curioso para saber o que estava acontecendo. Caminhei até o lado de fora do esconderijo, abri os olhos lentamente e avistei uma paisagem maravilhosa. Foi realmente incrível acordar pela manhã e perceber que tinha neve por todo canto. Folhas, galhos e pedras, cobertos de neve. Provavelmente, eu estava sonhando, e não queria acordar. Observei tudo ao redor e fiquei admirado com tanta exuberância. Olhei para Julie e sorri para sua expressão boquiaberta.

— Você tem razão. É incrível.

— Acabei de sair na rua e me deparei com essa vista.

— Nunca passei por isso antes. Acho que estou sonhando. Como pode nevar em Florianópolis? Isso é irreal.

— É impressionante, mas acredito que isso não seja um sonho. Estamos presenciando tudo, juntos.

Deitei sobre o chão, fechei os olhos e abri os braços, movimentando-os com o intuito de formar um anjo na neve. Sempre quis fazer isso e não poderia perder a oportunidade. Foi uma sensação incomparável. O gelo sobre o corpo não tem o mesmo efeito que a brisa fria. Magnífico. De repente, lembrei dos mandatos. Levantei rapidamente e olhei perplexo para Julie.

— Isso deve fazer parte de outro mandato.

— Não. Provavelmente, esse deve ser o resultado de todo aquele frio da noite anterior. A natureza é surpreendente — disse ela, esperançosa.

— Não confio muito nessas suposições.

— Vamos ter um pouco de confiança, tudo bem?

— Pode ser. Mas vou tomar cuidado.

Um barulho de helicóptero ecoou, nos surpreendendo. Rapidamente, corremos para dentro da árvore, enquanto o helicóptero sobrevoava o local. Fiquei assustado. Tentei manter a calma para não deixar o clima mais tenebroso do que já estava. O som alto e turbulento trouxe lembranças da cidade grande. Meus pais e Marcely já deveriam saber de meu sumiço e, provavelmente, estavam preocupados. Eu precisava esquecer esse detalhe, mas não queria que fosse insignificante. O helicóptero se afastou lentamente. Saímos do esconderijo para ter certeza de seu desaparecimento e continuamos admirando o fenômeno.

🏔️❄️🌲

No início da tarde, resolvemos aproveitar o momento e sentamos perto da árvore. Fiquei fascinado ao ver toda neve, e não consegui conter minha alegria.

— Isso tudo é impressionante. Estou surpresa — disse Julie.

Olhei para sua expressão sublime e esbanjei um sorriso, demonstrando afeto.

— O que você acha impressionante? — indaguei.

Ela pareceu pensativa. Enquanto isso, fiquei maravilhado com seu belo aspecto. Eu estava completamente feliz ao seu lado, e o clima complementou nosso momento.

— Estou me referindo à neve. O que você estava pensando?

Soltei uma risada.

— Nada. Concordo com seu ponto de vista. Estou achando tudo ao meu redor impressionante. Nosso relacionamento, minha vida nova, o hoje, a neve, também. Enfim. Sinceramente... estou preocupado com o amanhã. Não sei o que está por vir e esses mandatos estão me deixando maluco. Em meio a todos esses obstáculos, tenho que lidar com a maior barreira de todas.

— E qual seria?

— Meu medo. Tenho que encontrar forças e preciso ter muita confiança.

— Já conversei com você sobre pensar demais no amanhã.

— Sim, mas não consigo evitar. Às vezes, fico pensando, e não tenho como escapar. É inevitável. Desculpa se estou quebrando uma de suas regras.

— Não tenho regras, e você sabe — disse ela, um pouco exaltada.

— Deveria existir alguma restrição, pelo menos.

Ela demonstrou seriedade. Parecia estar pensando no que eu havia dito. Nossos olhares se encontraram, de modo sincronizado, e não resistimos ao momento. Começamos a rir da situação.

— Até pode ser, mas acho que não — disse ela.

Ficamos em silêncio, admirando um ao outro. Seu olhar seduzia meu aspecto, e fiquei alvoroçado em retribuição. Estávamos conectados de maneira inexplicável e não consegui mudar o foco de sua visão. Aproximei os lábios de sua boca e a beijei com ternura. Esqueci de tudo no mesmo instante. Seu afeto era enorme e me fez tirar forças de lugares extremamente irreconhecíveis.

Eu estava verdadeiramente apaixonado.

Acredito ser sincero e penso muito bem antes de falar algo. Sei que todos têm problemas e ninguém deve ser humilhado perante qualquer crítica. Jamais consegui esconder o que sentia por Julie, era impossível disfarçar toda essa paixão. Muitas vezes, eu pensava no futuro, e me preocupava se não estivesse ao seu lado. Sou dramático demais para lidar com essa situação, mas primeiro amor ninguém esquece. Será que teria o mesmo sentimento por outras meninas? Não queria pensar em ficar longe de Julie. Provavelmente, essa fase seria passageira, e, após algum tempo, estaria recuperando todo sofrimento — talvez, não. Precisávamos ter confiança um no outro e lidar com nossas escolhas. Se o sentimento fosse realmente verdadeiro, jamais teria fim. Seria eterno.

Sentir vergonha é algo extinto quando se está apaixonado. É novidade passar por isso no cotidiano quando se tem confiança. O tempo passava depressa, sem deixar rastros, e cada minuto agradável ao lado de Julie pareciam horas. Eu estava ficando louco com tantos problemas para ficar ao lado da garota que amava. Acabei esquecendo a gravidade de tudo e seria capaz de morrer por ela.

Eu estava sentindo o amor. Era magnífico.

Amar não significa

dizer somente

"eu te amo",

tem que ser provado

do começo ao fim.

Nem todo

mundo

é igual, somos

seres humanos

que cometem erros

e acertos ao mesmo tempo.