O dia passou vagarosamente. Enquanto isso, tentei me recuperar do encontro com a menina dos meus sonhos. Posso estar exagerando, mas senti algo muito forte que nem eu sei explicar às vezes. Por todos esses anos da minha vida, nunca passei por uma situação como essa. Até parece que fiquei louco, me perdi no tempo, ou seja, não vivo mais desde que a conheci. Espero que ela sinta o mesmo.

Mais tarde, recebi uma chamada de vídeo pelo computador. Percebi que era Bia, e fui correndo ligar a webcam para contar a novidade. Fechei a porta do quarto, para me sentir mais à vontade, e sentei na cadeira.

— Hoje, conheci uma garota.

Ela demonstrou interesse franzindo o cenho.

— Que garota?

— Uma menina que roubou meu coração em apenas um olhar.

— Como assim? Me explica isso melhor.

— Lembra daquele dia, quando estávamos na pracinha e não me senti muito bem?

— Sim, mas o que isso significa?

— É que eu vi uma menina muito linda e me apaixonei por ela. Não consegui lidar com todo nervosismo e, por isso, fiquei naquele estado.

Bia respirou fundo e pareceu meio confusa.

— Como pode alguém se apaixonar por uma pessoa sem conhecê-la o suficiente? — indagou ela.

— Sei lá, talvez, seja... o destino.

— O destino nunca é correto e você não está apaixonado por essa garota. Mas você sabe alguma coisa sobre ela?

— Sim, sei que o nome dela é Julie, e a gente conversou um pouco, hoje.

— Onde essa tal "Julie" estuda?

— Ela não disse, só falou algumas coisas estranhas que me deixaram confuso até agora, mas acho melhor esquecer esses detalhes.

— Então quer dizer que você só sabe o nome dela e mais nada, além disso, acha que está apaixonado?

Refleti sobre seu questionamento. Talvez Bia tenha razão, e isso seria complicado para conseguir lidar com meus próprios sentimentos.

— Acho que... não seria bem assim... sei lá... — falhei com as palavras.

— Você, provavelmente, sentiu uma atração momentânea por ela, e isso não quer dizer que esteja apaixonado. Acredito em amor à primeira vista, só que dessa vez, não foi com você.

— Mas eu estou diferente. Depois que a conheci, nada parece ser o mesmo.

— Para ser sincera... não sei o que dizer. Fale com seu pai.

— Já falei.

— E o que ele disse?

— Me deu alguns conselhos e disse que estou apaixonado.

Bia ficou surpresa. Alguém a chamou, não reconheci a voz. Ela teve que sair e se despediu:

— Agora, eu preciso ir, amanhã, nos falamos — disse ela.

— Tchau.

Desliguei o computador, deitei sobre a cama e refleti sobre nossa conversa.

🎁😍💕

A noite passou brevemente. Foi fácil acordar cedo para enfrentar outro dia de aula. Fui tomar o café da manhã e avistei todos reunidos em volta da mesa. É impressionante presenciar momentos raros como esse, inclusive, me senti muito feliz e resolvi acompanhá-los. Sentei ao lado de Marcely e soltei um "bom dia" alegre. Felizmente, o clima estava agradável e complementou minha recepção calorosa. Marcely pegou a manteiga, passou no pão e ofereceu:

— Você quer?

— Sim, obrigado. — Meu pai observou minha empolgação. Seus olhos não saíam de foco. Fiquei curioso com sua admiração repentina. — O que foi, pai? Por que você está me olhando assim?

Ele esbanjou um sorriso.

— Acho que você tem algo a falar para sua irmã e sua mãe, não é verdade?

Fiquei sem jeito e tentei desviar o assunto.

— Vocês dormiram bem?

— Sim, dormimos muito bem. E você, sonhou com Julie?

Elas ficaram surpresas com o questionamento de meu pai. Fiz questão de permanecer em silêncio.

— Quem é Julie? — indagou Marcely, persistindo no assunto.

Olhei para o aspecto perverso de minha irmã.

— É uma garota que conheci.

— Sua namorada ou amiga?

— Por enquanto, amiga... eu acho.

Todos começaram a rir.

Minha mãe esbanjou um sorriso jovial.

— Se for sua namorada, já é da família, fique tranquilo. Só quero conhecê-la — disse ela, com firmeza.

— Eu também — concordou Marcely.

Senti uma felicidade enorme por poder contar com a confiança de minha família. É bom ser compreendido. Infelizmente, eles se retiraram às pressas, pois já estavam atrasados. Novamente, tomei o café da manhã sozinho.

🎁😍💕

Cheguei cedo na escola, sentei em um dos bancos do pátio enquanto aguardava Bia e Micah. Observei todos os alunos que entravam sem a mínima vontade de estar ali. Tímidos, inteligentes, novatos, populares, enfim. Vários tipos de pessoas em um só ambiente. Acredito não me encaixar em nenhuma dessas características, provavelmente, não tenho uma definição específica. Dentre toda multidão, avistei, ao longe, Bia, empolgada, como sempre, por mais um dia de aula. Percebi que Micah a acompanhava, e ambos vieram em minha direção. Ela esbanjou jovialidade com sua recepção calorosa:

— Bom dia, Chendy.

Os dois sentaram-se ao meu lado, deixando o clima benevolente. Micah percebeu que meu aspecto estava diferente.

— O que houve com você? Está tão mudado — disse ele.

— Estou apaixonado — justifiquei.

— Sério? Quem é ela?

— Uma garota estranha que nem ele conhece direito — disse Bia, interrompendo minha explicação, demonstrando ironia.

Neguei sua afirmação.

— Eu conheço ela muito bem para ter certeza do que estou sentindo — retruquei.

— Então, fale um pouco sobre ela. — Fiquei em silêncio. Encarei a expressão satisfatória de Bia, enquanto analisava a situação. — Não falei?

  — Calma, gente, não é bem assim, também! — Micah tentou amenizar a situação. — Chendy, pode dizer o que sabe sobre ela?

— Sim. Conheci uma garota na pracinha e me apaixonei perdidamente por ela.

— Qual o nome da menina?

— Ela se chama Julie, e é incrível. Foi amor à primeira vista.

Bia se retirou, irritada, às pressas.

— O que houve com ela? — indagou Micah, preocupado.

— Acho que está tentando evitar problemas para o meu lado.

Fiquei decepcionado com sua atitude imatura. Acredito que ela esteja apenas agindo como uma melhor amiga, e isso não iria interferir em minhas escolhas.

Seguimos para a sala de aula sem tocar no assunto. Era necessário conciliar todos os acontecimentos.

Pensei em voltar na pracinha mais tarde para conversar com Julie. Talvez ela seja uma garota diferente, especial, ou perigosa, não sei, mas prefiro arriscar pelo que estou sentindo, e minha intuição não poderia falhar, senão estaria perdido. Não consegui lidar muito bem com o que estava passando. Pode ser medo em meio ao amor, raiva dentre vários traumas, ou, então, apenas uma atração forte que me deixou confuso. Jamais vou desistir sem encontrar respostas. Quero persistir na garota que mudou minha vida. Preciso saber até onde podemos chegar juntos. Esse é meu destino e tenho que aceitar os fatos.

As aulas foram entediantes. Não consegui prestar atenção em todos os professores. Meus pensamentos estavam voltados em Julie. Inclusive, pensei no que fazer mais tarde para conseguir falar com ela. Minha turma é quieta, e, quando as aulas são explicativas, a preguiça contagia o ambiente, deixando todos desinteressados.

Refleti a respeito de todos os acontecimentos. Juntei os fatos e tirei minha própria conclusão. Vou seguir minha intuição e não vou mudar por ninguém. Quero ir atrás da garota que amo, afinal de contas, não é todos os dias que me deparo com uma pessoa que faz do meu mundo o melhor. Após tomar esta decisão, resolvi voltar na pracinha, depois da aula, para conversar com Julie — espero que ela esteja por lá. Enquanto a aula não acabava, pensei em várias maneiras de iniciar um assunto agradável para tentar arrancar informações necessárias sobre sua aparição repentina e origem.