6🌑
Na rua mais cedo, assim que saíra da casa de Scott insistindo que não precisava de carona, eu fiz uma ligação.
- Olá Lis! preciso de um favorzinho seu, podemos conversar?
Lis era minha amiga desde quando éramos crianças, estudavamos juntas desde o jardim de infância e costumavamos sair pelas ruas tocando capanhinhas aleatórias e depois sair correndo assim que o dono da casa atendia quando tinhamos uns oito anos.
Em geral, Lis sempre foi alguém meio desligada do mundo e bem alatória as coisas, ou seja, nunca fazia muitas perguntas sobre nada porque realmente não ligava, e foi por isso que recorri a ela. Atualmente ela estava trabalhando no jornal local (o que foi uma sorte), estava tentando conseguir um dinheiro para viajar, ou talvez fosse para comprar drogas (se tratando de Lis,nunca se sabe). Foi nela em que pensei imediatamente quando me ocorreu a ideia de usar o jornal.
Foi bem fácil convencê-la afinal. Não me dei o trabalho nem de marcar um encontro pessoalmente, expliquei tudo por ligação. Bem, não se pode dizer que contei tudo, até por que não falei a verdade. Inventei uma história sobre um suposto grupo terrorista e Lis se alarmou. Tinha plena conciência de que aquilo era errado e senti uma pontada de culpa por estar fazendo aquilo, mas que outra opção eu tinha? era aquilo ou esperar que outra pessoa morresse. No final, Lis falou que daria um jeito de publicar a notícia em anônimo, para que não houvesse consequências para mim.
Agora eu estava em meu quarto, eram 9 da noite e eu acabara de sair do banho. Estava colocando meu pijama, mas não o de sempre, hoje, escolhi um melhor do que uma camisa larga e uma calça de pijama, (na verdade apenas troquei essas peças por outras iguais mas que não estivessem rasgadas). Minha mãe saíra a uma viajem de negócios e eu ficara completamente sozinha. Em dez minutos Scott chegaria, tinhamos combinado de hoje deixar as pesquisas um pouco de lado e assistir um filme hoje para descontrair um pouco, eu estava ansiosa, mas não saberia explicar por quê.
Faltando 7 minutos para Scott chegar desci as escadas correndo e fui até a cozinha me aventurar a fazer pipoca. Deixei queimar na primeira tentativa enquanto me distraia escutando música, e só percebi o estrago quando o cheiro chegou até mim. Na segunda tentativa mative o olhar fixo no microondas e quase não pisquei, como se ele fosse algo extraórdinario de se olhar. Alguns minutos depois eu havia acabado, e escutei a campanhinha sendo tocada assim que entrei na sala. Dei uma olhada pelo olho mágico para conferir se era Scott ( por precaução), e abri a porta. Ele vestia um pijama azul, e trazia consigo uma sacola de supermercado que levantou até a altura dos olhos e balançou, como se eu ainda não a tivesse visto.
- Trouxe comida. Em particular, trouxe bastante chocolate, você tá bem estressada esses dias, imaginei que fosse TPM.
Ri da idiotice dele e o puxei para dentro, depois tranquei a porta.Me joguei no sofá, e sentei com as pernas cruzadas, ele entretanto, se deitou ao meu lado. Ao ver meu olhar sobre ele, falou.
- É bem melhor assistir desse ângulo acredite, vamos deite-se aqui.
Me deitei ao seu lado e estendi o cobertor que eu havia levado para a sala sobre nós, estava frio e o aquecedor não estava fazendo um bom trabalho. Assistiriamos à um filme de terror, Scott o havia escolhido, por isso não lembrava o nome, mas lembro que tinha muito sangue, e isso foi tudo que me recordo. Me concentrei na respiração compassada de Scott próxima a mim ao invés de no filme, o que foi estranho.
Duas horas depois o filme acabou e nós estavamos completamente acordados, o que era um grande milagre pois eu costumava dormir bem cedo na maioria das noites, não sei o que me manteve tão acordada.
- Muito sangue,pouca emoção - falou Scott ao meu lado - está com sono?
- Nem um pouco - respondi.
- Nem eu, mas tô com uma fome de dragão - e riu.
- Será que a pizzaria ainda faz entregas a essa hora?- perguntei rindo.
- Só há um jeito de descobrir.
Ele levantou e pegando seu celular ligou para uma pizzaria próxima, por uma sorte imensa (por que eu também estava com muita fome,e quero dizer muita mesmo) o atendente falou que a pizza chegaria em vinte minutos.
- Huum, será que conseguimos comer uma pizza inteira? - perguntei sorrindo.
Antes que Scott pudesse responder uma voz assustadoramente familiar falou em tom divertido próxima ao sofá.
- Acho que como somos três essa pizza não vai sobreviver nem por 1 minuto.
Eu e Scott nos viramos ao mesmo tempo, e lá estava ele, encostado ao sofá e com um sorriso travesso nos lábios, Julian.
- Julian... - eu corri até onde ele estava com o medo de que se demorasse mais ele pudesse se transformar em fumaça. Me joguei em seus braços e o envolvi em um abraço, ele hesitou por um segundo e depois o retribuíu.
- Seja real Julian...seja real... - eu susurrava enquanto as lágrimas escorriam de meus olhos.
- Jenny - ele murmurou - vamos, deixe disso, você não é assim, pare de chorar. Vamos... me solte agora e sente-se aqui.
Eu obedeci e me sentei no sofá, Scott parecia estar paralisado mas despertou e imediatamente me puxou para perto dele, como se tivesse medo de que Julian pudesse fazer algo contra mim. Julian percebendo seu movimento, levantou as mãos até a altura dos ombros em um gesto de rendição, e falou.
- Calma cara, não tô aqui pra machucar a Jenny nem ninguém. Pelo contrário, vim alertar vocês.
Depois de um minuto confuso tentando decidir, por fim, ele afroxou um pouco o braço firme que passara sobre mim, me permitindo sentar direito no sofá. Olhei para Julian que permanecia em pé ansiosa e tentando me conter para não saltar sobre ele novamente, e então ele falou sem rodeios.
- Esse plano de usar o jornal foi bem pensado - falou ele - as pessoas realmente vão acreditar, pelo menos a maioria. Mas eles já sabem, entretando não podem fazer nada. Como vocês bem sabem eles só agem no horário e dia certo, ou seja, aos sábados a noite, é uma espécie de tradição a ser seguida. Tenho uma notícia boa. Bem, seus amigos não morreram. - uma pequena faísca de esperança brilhou em meus olhos mas logo se apagou quando ele continuou - mas duvido que vocês ainda os vejam como antes, eu, fui um caso a parte -um sorriso brincou em seu rosto tenso - Não posso falar muito, porque não sei muito, mas tomem cuidado, mais cedo ou mais tarde eles viram atrás de vocês.
- E você? - Scott perguntou - onde estava? e por que nunca aparece a luz do dia, nem publicamente?
- Supostamente sou um deles agora meu caro - ele falou - não me orgulho disso, mas me orgulho em saber que fui uma esperiência não completamente bem sucedia. Ou seja, eles não confiam em mim mas me engressaram em seu exército por puro capricho, para me fazer sofrer. Os Glions não aprendem com os erros entendem? nem agora que a guerra está tão próxima...
- Que guerra? - perguntei saltando do sofá.
Derrepende a expressão de Julian se tornou dura e atenta.
- Eles estão próximos, sentiram minha presença, preciso ir - ele se dirigiu a uma janela que até então não percebera estar aberta, mas antes de pular ele se virou e se dirigiu a Scott - Cuide de Jenny para mim, até que eu mesmo possa fazer isso. Mantenham o toque de recolher.
E se foi.
🌑
Já passava das 3 da manhã e eu ainda estava acordada, encolhida próxima a Scott no sofá. A pizza tinha chegado alguns minutos depois de Julian sair e permanecia intocada sobre a mesa. Scott também estava acordado e havia passado um braço sobre mim na tentativa de me confortar um pouco.
Mantenham o toque de recolher. As últimas palavras que Julian dissera antes de partir. Então seria assim agora? viver seguindo uma regra em um mundo recluso até que os Glions tivessem a boa vontade de se retirar e parar de matar humanos?. Ele havia mencionado uma guerra...o que aquilo significava? humanos contra Glions? não acreditava que os humanos tivessem alguma chance...tudo estava muito confuso...tudo o que eu antes queria eram respostas e agora que as tenho não sei o que fazer com elas.
E se eles viessem atrás de mim e Scott de verdade? a aberração, o procedimento mal sucedido, e a raça inimiga...eu não sabia o que seria, mas por mais que tentasse afastar aquela palavra da minha mente ela sempre me vinha, mais clara do que nunca: Morte.
Meus pensamentos se tornaram mais vagos, minha visão ficou turva,e eu adormeci.
Tive um sonho estranho naquela noite...
Criaturas de rostos deformados seguravam espadas e decaptavam humanos e outras criaturas igualmente diabólicas sem piedade. Havia sangue por toda a parte e eu corria a toda procurando um lugar para me esconder, não de quem, mas do que, ela, a guerra. Imagens de minha melhor amiga e de Julian morrendo para aquele clarão branco invadiram minha mente e não importava para onde eu corria, elas me perseguiam e me levavam a loucura, eu estava jogando contra a morte, até que uma das criaturas me derrubou e o pior aconteceu.
Acordei ofegante e vi um Scott igualmente atordoado ao meu lado. Fechei os olhos para evitar as lágrimas, e Scott me abraçou. Ambos, de alguma forma, sabíamos o que o outro acabara de ver.
Ficamos assim até que o sono viesse novamente, dessa vez sem pesadelos, sem guerra, sem desespero.
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