
3🌑
Cinco minutos. Foram necessários cinco minutos para me dar conta do que estava acontecendo. Saí do meu quarto e desci as escadas correndo, peguei a chave de meu carro na sala e já estava na soleira da porta quando ouvi minha mãe gritar da cozinha.
- Jenny! Aonde você vai?
- Vou a casa de uma amiga mãe! - decidi não contar a verdade - não me espere para jantar!
- Jenny, seu carro não está aqui querida. - falou ela entrando na sala - eu o mandei para a oficina, ele estava fazendo um barulho estranho quando cheguei.
Ah droga!Logo agora?
- Vou a pé mãe.
Então eu corri, corri como nunca tinha corrido em toda a minha vida. Não diminui a velocidade enquanto corria pelos três quarteirões que separavam minha casa da de Scott. Eu estava ofegante e olhava para os lados a todo tempo, suor escorria pela minha testa e meu coração pulsava num ritimo assustador. Eu estava sendo movida pelo desespero e pelo medo de algo ter acontecido à Scott. Meu coração acelerou, e soltei um suspiro de alívio quando o ví sentado do lado de fora de casa, aparentemente bem. Me aproximei e vi que Scott chorava baixinho com a cabeça entre os joelhos. Sem saber muito o que fazer e querendo saber o que estava acontecendo, me sentei ao seu lado e passei um braço pelos seus ombros.
- O que aconteceu cara? - a resposta foi um soluço abafado - Tá tudo bem, já passou...
Ele me olhou como se finalmente fosse falar alguma coisa, mas ao invés disso simplesmente balançou a cabeça e voltou a chorar.
O que diabos tinha acontecido?! Ele não tinha nem um arranhão e chorava como se estivesse prestes a morrer!
O ar estava frio aquela hora da noite,e um arrepio sinistro percorreu meu corpo.
-Scott, por favor diga alguma coisa estou ficando assustada. Alguém fez alguma coisa com você?me conte por favor!
Ele levantou a cabeça e vi aqueles olhos negros agora vermelhos e inchados por causa do choro.
- Eles vieram, eu sabia que viriam - ao ver minha expressão confusa ele explicou - os dois homens, ou criaturas, ou seja lá o que forem que me abordaram na rua a pouco tempo atrás. Eles vieram atrás de mim. Eu tentei te chamar, mas quando ia te explicar o que estava acontecendo meu celular desligou sem explicação. Foram eles Jenny, eles tinham rostos deformados, eram esguios e tinham cabelos azuis - ele me olhou - como os seus.
Eu estava completamente em choque, não conseguia falar nada nem expressar qualquer reação, então Scott continuou.
- Eles me falaram coisas, coisas horríveis que me levaram a loucura.
Ele voltou a chorar, me deixando desamparada. Eu não entendi o que estava acontecendo e nem por que "eles" tinham vindo atrás de Scott, mas mesmo assim não pude deixar de sentir medo, e o que me restou foi perguntar.
- O que Scott? - minha voz já não passava de um sussurro - o que eles falaram?
- Eles estão vindo, estão vindo para cá, e tentarão nos destruir - ele ficou em silêncio por um minuto e então falou - Nós sabemos sobre eles, nós não estamos mais seguros.
Foi naquela hora que minha cabeça explodiu. Flashes, visões de criaturas mais paranormais do que eu podia imaginar que existiam ou que chegariam a existir, sangue, guerra, tudo explodiu em minha mente e eu levei as mãos a cabeça por que não aguentava mais tanta dor, parecia que o mundo estava desmoronando bem na minha frente e eu queria que aquilo tudo acabasse, e inesperadamente, tão rápido quanto quando começou, aquilo tudo cessou e minha consciência voltou.
Scott estava ao meu lado olhando hipnotizado e ao mesmo tempo apavorado para mim, e uma única frase saiu de minha boca.
- Sim Scott, eles realmente estão vindo.
E então eu me rendi a exaustão, e desmaiei.
🌑
Acordei deitada em uma cama que percebi não ser a minha. Os raios de sol entravam por uma janela que não era de meu quarto. Me virei e dei de cara com um Scott preocupado ao lado da cama.
- O que aconteceu?
- Você desmaiou ontem a noite quando a gente estava lá na frente daqui de casa. Dei um jeito de avisar para a sua mãe que você dormiria aqui hoje por conta da festa do pijama da minha irmã - ele deu um meio sorriso - E que ela nunca descubra que eu sou filho único!
Não consegui reprimir um sorriso. Lentamente as lembranças da noite passada me vieram a mente, e junto com elas o medo. Depois de tudo aquilo eu ainda pensava em Julian, por todo aquele tempo eu o tinha julgado por conta de sua mudança súbita de personalidade, e agora tudo se esclarecia, aquilo tudo não tinha sido culpa dele, mas culpa "deles".
- Eles realmente estão vindo não estão? não sei bem quem são, mas tenho certeza de que não são o tipo de cara com quem eu gostaria de topar na rua.
- Temo que sim - ele me lançou um olhar profundo que me fez estremecer - mas agora, preciso que me fale um pouco sobre você Jenny, e sobre o que aconteceu com seu amigo Julian, sei que está um pouco cedo, você acabou de acordar mas eu preciso saber, prometo que te levo pra tomar um café reforçado depois - e sorriu, ah aquele sorriso perfeito.
Fechei os olhos e os abri lentamente. Eu não estava completamente preparada para aquilo, mas senti que eu devia uma explicação, já que ele me falara tanto sobre ele mesmo sem saber quem eu sou. Então eu contei tudo, contei sobre o dia em que tudo mudara, contei sobre minhas inúmeras pesquisas, meus olhos me traíram quando chegou a parte da morte de Julian, e eu chorei. Scott foi compreensivo e não me fez perguntas, apenas me envolveu em um abraço (aliás, ele tinha um cheiro muito bom. Talvez eu esteja exagerando de novo, mas ele cheirava a sabonete) e deixou que eu chorasse em seu ombro.
- É complicado eu sei - ele murmurou - precisamos descobrir o quanto antes como nos defender do que esta por vir. Eu sei que não nos conhecemos a muito tempo, mas sinto que nos conhecemos a anos, e pode parecer estupidez mas eu confio em você Jenny, e você não é a única que quer obter respostas. Acho que não estamos preparados, e que não somos tão eficazes como eles, mas vamos tentar não vamos?
Ele me afastou para que pudesse olhar em meus olhos. Percebi que ele esperava uma resposta, eu estava assustada, apavorada, mas mesmo assim falei.
- Sim, nós vamos, e resistiremos até que não seja mais possível lutar.
🌑
Mais tarde Scott me levou em casa para trocar de roupa e eu o convidei a entrar. Por sorte minha mãe não estava em casa, tomaria muito tempo apresentar Scott a ela e explicar que ele era só um amigo.
- Casa legal - ele falou.
Ele era bastante curioso, observou a casa toda, mas eu não me importei. Subi para o meu quarto, escolhi um jeans e uma camiseta, e calçei meu bom e velho tênis. Desci depois de dez minutos e encontrei Scott olhando as fotografias de quando eu era bebê que minha mãe insistia em deixar expostas na sala de estar, apesar de eu sempre falar que aquilo era clichê e muito vergonhoso para mim. Ele estava com um meio sorriso no rosto e eu corei ao constatar que ele olhava para uma foto minha na banheira.
- Ei! para de olhar! - eu falei dividida entre a raiva e a diversão.
- Tá legal, parei - ele falou rindo e colocando as mãos para o alto em um gesto de rendimento.
-Vamos, não temos tempo a perder - eu falei conseguindo conter o riso.
Nós visitamos o cemitério no qual Julian tinha morrido com a esperança de encontrar algum vestígio, alguma pista que pudesse nos ajudar.
Paramos o carro próximo ao muro do cemiterio e descemos. Confesso que senti uma sensação ruim ao voltar ali depois de todo aquele tempo, senti vontade de sair dali no instante em que pus meus pés no chão. Dei uma rápida olhada por sobre as lápides, claro que desnecessaria pois eu sabia exatamente onde tinha acontecido.
- Me leve até lá - pediu Scott como se adivinhando meus pensamentos. Ele me surpreendeu ao pegar minha mão e a segurar junto a sua - vamos.
Um pouco mais segura agora, caminhei lentamente até lá. O local exato ficava bem no final do cemitério. Eu havia escolhido aquele lugar específico por que queria privacidade. Talvez seja estranho ter escolhido logo um cemitério, mas acontece que foi o lugar mais afastado da cidade que consegui pensar. Meu sangue gelou quando percebi que ainda havia uma marca onde Julian havia morrido, uma marca negra deixada por aquele maldido clarão. Scott se abaixou até ficar bem próximo a marca.
- Foi a dois anos? a marca parece bem resistente.
Fiz que sim com a cabeça. Ele ficou parado por alguns segundos com os olhos fixos na marca como se tentasse enxergar algo. Por fim se virou para mim.
- Onde o corpo de Julian foi enterrado?
- Eu... - droga! Como eu havia esquecido de contar aquilo? - não foi encontrado corpo na verdade. Eu saí em pânico do cemitério naquela noite, deixando o corpo ai. - apontei para o local - quando voltei com a polícia ele tinha desaparecido. A polícia ainda tentou rastrear o corpo por insistência dos pais dele. Mas eu sabia que era inútil. Tive que inventar várias histórias para os políciais. Acho que eles chegaram a desconficar que eu tinha feito aquilo.
Ele me olhou com a testa franzida. Imaginei o que passava pela cabeça dele, toda aquela história era confusa, era muita coisa para entender.
- Bem, não há muito a fazer na verdade. Mas mesmo assim quero que vá para minha casa hoje a noite - acrescentou depressa - precisamos fazer algumas pesquisas, e ver se conseguimos alguma coisa. Mas o que realmente nos resta é esperar pelo próximo ataque, por que sim, de uma maneira ou de outra, ele vai vir.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro