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Vermelho - CAPÍTULO NOVE


Papai corria de um lado para o outro. Novamente. Ligando para alguns fornecedores, mandando e-mails para não sei quem e ajeitando planilhas em seu notebook. Francamente, às vezes eu me perguntava se iria ficar órfão de um dos meus pais mais cedo. Ele iria acabar se matando se continuasse assim. O pior de tudo, é que ele tentava fazer mais coisas extras do que qualquer ser humano poderia fazer. E quando digo extras, quero dizer tarefas de casa.

Sacudi a cabeça ao me abaixar para pegar algumas notas fiscais que ele trouxera do supermercado para conferir.

— Papai, deixa que eu cuido do almoço — falei ao vê-lo derrubar molho de tomate no piso branco.

— Nem pensar, Gim. Você é o aniversariante — respondeu sem me olhar e se abaixando para limpar a sujeira. — Não é todo dia que um garoto faz dezesseis anos.

— Não é grande coisa — murmurei entediado.

Papai abaixou o fogo do molho e olhou para mim. Tinha um pano de prato branco nos ombros e a colher de madeira na mão. Seu olhar era sereno.

— Jorge, é grande coisa sim. Você está progredindo um passo a mais na sua vida. Um dia você irá olhar para trás e ver que cada aniversário completado lhe ajudou a formar o grande homem que você vai se tornar.

— Mas Papai... — tentei relutar. Ele não quis ouvir mais nada e me empurrou para fora da cozinha.

— Não vem com essa agora. Quando os boletos e as dores nas costas chegarem você vai ver que a juventude é uma coisa boa.

Do quê ele está falando? Nós nem falamos em juventude.

— Agora vá ligar para a confeitaria e ver se está tudo certo com o bolo. — Não era só um pedido. Era uma ordem. — E não esqueça de tomar seu remédio.

— Tá! — concordei.

Derrotado tive que ir ligar para a confeitaria. No meio do caminho encontrei meu pai Antero, que escondera algo rapidamente atrás de seu corpo. Tentou disfarçar. Mas hoje eu estou fazendo dezesseis anos e já não caio mais nesse truque desde os treze. Pensando bem, desde os dez anos.

— Pai, o senhor não engana ninguém — observei. Ele curvou os ombros desanimado. Percebi como fui malvado. — Pai, desculpa. Eu tô nervoso.

— Ah é, porquê?

Como é que eu ia explicar que tinha convidado duas pessoas para o meu aniversário assim em cima da hora? Desviei o olhar. Eu não conseguia encará-lo.

— Agora é você que não está enganando ninguém. O que aconteceu?

— Eu... meio que... — socorro, alguém me ajuda. — eu...

Meu pai franziu o cenho e estreitou os olhos. Engoli em seco.

— Convidei dois amigos.

Soltei de uma vez. Era melhor. Rápido e indolor. Meu pai ficou de queixo caído. Suas mãos escorregaram e o presente embalado em um papel vermelho ficou à mostra. A caixa era grande e fechada com um laço dourado. Até se parecia com um presente de natal.

— Você o quê? — perguntou ele.

Não vou julgar meu pai. Hoje completava quatro anos que eu não usava a palavra amigos numa frase oral. Ele piscava, querendo acreditar e tentar absorver a informação que eu trazia para ele. Só pelo fato de eu estar conversando com outras pessoas já era algo capaz de fazer com que ele surtasse. No bom sentido, claro.

Abracei a mim mesmo e cocei os braços.

— Convidei dois amigos. Não tem problema, não é? — Olhei para ele em dúvida.

Tá bom. Sei que ele já tinha me dito para convidar alguém antes. Mas ele fazia por mero protocolo de convencimento. A ideia de eu trazer alguém para casa e ainda mais no meu aniversário já tinha sido esquecida por eles. A resposta para o convite era sempre a mesma. Ninguém. Só que esse ano foi diferente, então óbvio que meu pai ficou chocado.

— Problema? — repetiu em voz alta. — Luiz, venha aqui agora mesmo!

Ver o meu pai gritar e chamar pelo nome do Papai me fez ficar com um pouco de medo. Acho que não foi uma boa ideia. Eu deveria ter perguntado primeiro se eu podia de fato chamar alguém. Papai veio correndo da cozinha enxugando a mão no pano de prato. No rosto uma sombra de preocupação.

— Meu Deus, o que aconteceu?

— Seu filho... Jorge... — Meu pai apontou para mim, suas mãos estavam trêmulas.

— O que houve? Gim, está tudo bem com você? — Papai se jogou no chão e começou a me inspecionar, como se tivesse faltando algum membro em mim. Uma ironia pensar isso.

— Papai, bem. O pai só surtou quando eu disse que chamei dois amigos pra vir aqui em casa — expliquei.

Papai se sentou sobre as próprias pernas igualmente trêmulo. Embora eu achasse que o motivo da sua tremedeira fosse outro.

— Oh meu filho... — disse ele e seus olhos se encheram de lágrimas.

Ele me abraçou e rompeu em lágrimas. De repente meu pai fez o mesmo. Ficou de joelhos atrás de mim e também me abraçou. Os dois choravam juntos. No início pensei que esse meu aniversário não seria grande coisa. Mas parece que ele estava mudando minha vida em muita coisa. A começar por mim.

***

Depois que se recuperaram da notícia que eu dei, Papai brigou com meu pai Antero. Afirmou com todas as letras que se ele ousasse fazer um escândalo daqueles enquanto o "Molho Supremo" estivesse sendo preparado, cabeças iriam rolar. Eu deixei os dois na pequena discussão e fui me arrumar. Agora estou na sala, olhando para a tela que eu pintei aos quatorze anos. Meus pais foram doidos de colocarem ela ali. Segundo eles, era uma peça única entre as minhas pinturas.

Eu nem sei o que me fez pintar aquilo. Mãos e antebraços na cor preta surgiam de vários lados e entrelaçavam-se sem atingir um prisma púrpura no centro. Aquilo me causava arrepios. E fui eu mesmo quem tinha pintado. Não faço nem ideia do que possa significar. Meu pai diz que entendeu, mas que não vai me contar.

Papai ajeitava os docinhos na mesa. Fiquei um pouco constrangido com as bolinhas roxas dispostas como se fosse uma festa de criança. Eu estava fazendo dezesseis anos! Se bem que eu nunca liguei para isso antes. O que está acontecendo comigo? Meu pai Antero colocou o bolo no centro da mesa. Era branco e retangular. Quase chorei ao vê-lo.

Era uma tela de pintura. Um pincel na cor vermelha (provavelmente feito de pasta americana) fazia uma curva sinuosa com três cores; azul, amarelo e vermelho. Não sei quem escolhera essa combinação de cores, mas eu adorei. Já estou tendo altas ideias para uma pintura com elas.

Escutei a campainha. Arthur e Tadeu devem ter chegado. Que idiota, é claro que são eles. Quem mais seria? Caminhei até o corredor que levava à porta. Senti o pânico tomar conta de mim. Era a primeira vez em muito tempo que eu não trazia pessoas em casa. Acabei congelando no lugar e não consegui me mexer. Meus pais resolveram ajudar.

Eles deram um empurrãozinho, literalmente. Olhei zangado para os dois. Eles correram para a sala. Com a mão suando e tremendo abri a porta.

— Feliz aniversário! — gritaram os dois juntos ao me ver.

Atônito, eu não sabia para onde olhar. Respirei fundo e encontrei os olhos verdes de Tadeu. Por algum motivo eu me acalmei. Baixei os olhos e vi que ele trazia um embrulho retangular de cor azul índigo. O mesmo tom da minha fita de cetim, que eu enrolava em meu pulso quando eu pintava, que estranho. Arthur estava todo animado atrás dele, com alguma coisa circular enrolada com um papel laminado e prateado. Espero que não seja uma bola.

— Não nos convida para entrar não? — Tadeu riu e apertou minha bochecha.

— Claro, entra aí — disse quase entredentes. Ele piscou ao passar por mim. Ai que vergonha.

— Que demais a sua casa! — Arthur gritou ao entrar.

— Não exagera.

Fechei a porta e os acompanhei até a sala, onde meus pais os esperavam ansiosos. Segundos depois eu também fiquei ansioso. Tadeu e Arthur estavam parados diante da sala, sem saber se entravam ou não. Os quatro se encaravam.

— Pais, esses são Tadeu e Arthur. Meus amigos da escola — apresentei os garotos. E fiz o mesmo com meus pais. — Garotos, esse é o meu pai Luiz e meu pai Antero.

A reação deles foi inicialmente de choque. E não é para menos. Acabei não mencionando que eu tinha dois pais. Não foi por maldade minha. Raciocinem comigo. Eu sou uma pessoa que não interage com as pessoas. Só fico na minha. E eu nem sonhava que fosse conversar com alguém nessa nova escola. Então é claro que muitas informações sobre mim ficariam escondidas. Hum... escondidas não, guardadas.

— Jorge, você não me contou... — Arthur me olhou incrédulo.

Meus olhos foram dele para meus pais que devolveram o mesmo olhar do meu colega.

— Que eu tenho dois pais? — indaguei receoso.

— Não, que o professor substituto era seu pai — bufou e me deu um soco no braço.

— Ai! — exclamei e esfreguei o braço.

— Isso é bom para você não me esconder as coisas.

Meus pais riram, aparentemente aliviados com o fato de que Arthur não se impressionou por eles serem gays e serem meus pais. Essa atitude me deixou tocado. Nunca escondi que ao invés de eu ter uma mãe e um pai, como a maioria das crianças, eu tinha dois homens como pais. Sempre foi meu motivo de orgulho. Só que nem todo mundo gostava disso e ainda hoje, há motivo para preconceito e discriminação. Ao ver um colega de sala reagir normalmente para mim foi algo muito especial para mim. É assim que as pessoas deveriam ser.

Distraído com Arthur que tinha ido cumprimentar meus pais, percebi que Tadeu me observava apreensivo. Sorria de leve, quando eu me virei para olhá-lo com mais clareza ele disfarçou e virou o rosto.

— Tua casa é muito maneira, mesmo — disse ao dar uma olhada pelos cômodos do andar de baixo. — Esses quadros top, aposto que foi tu que fez.

— Ganhou a aposta — afirmei. Apertei os lábios num sorriso contido.

— Valeu por ter me chamado, espero que goste do presente — Tadeu me entregou o pacote.

Eu não sei o que tem dentro, mas pareceu uma caixa. Um pouco embaraçado eu agradeci.

— Obrigado, mas não precisava. Só de você ter vindo...

Parei de falar. Porque eu disse isso? Senti meu rosto corar. Tadeu riu. Bateu em meu ombro e disse que eu era um cara gente boa. O calor dele emanou por todo meu corpo. Ele foi até meus pais para também cumprimentá-los. Eles apertaram as mãos bem animados.

— Está na hora de cantar parabéns! — Papai falou todo animado.

Essa não, que vergonha. Arthur comemorou com ele. Parecia que eram amigos de infância. Cobri o rosto com as mãos. É muito tarde para correr até o meu quarto e me trancar lá? Não. Acho que vou fazer isso mesmo. Enquanto ninguém está olhando.

— Vem, vamos cantar parabéns pra tu — Tadeu me agarrou pelo ombro, envolvendo seu braço em meu pescoço.

Me pergunto se ele sacou que eu estava pretendendo fugir ou se foi um movimento involuntário. Ser abraçado por Tadeu outra vez me fez congelar. Ainda nem fiz o pedido e soprei a vela e parece que ele já tinha se realizado. Eu sentia todos os meus músculos vibrando por estar tão próximo de Tadeu.

É uma sensação muito boa, mas estranha. Eu nunca me senti assim antes. Cada vez mais eu ouvia meus pensamentos de querer estar junto com Tadeu. Que ele me envolvesse em seu abraço. E isso me deixava confuso.

Atrás da mesa com o bolo em formato de tela de pintura, eu os via cantar a bater palmas. Meus olhos estavam fixos nos olhos de Tadeu e ele fazia o mesmo. O som da sala desapareceu. Eu via tudo em câmera lenta. Escutei quando me mandaram fazer um desejo.

"Quero ficar com Tadeu", pensei e apaguei a vela. Observei enquanto a fumaça subia rodopiando.

Ainda não entendo o que é isso que estou sentindo por Tadeu. É confuso, nunca senti isso antes. Preciso saber se é uma coisa boa ou não. Só não sei como descobrir e muito menos se vou gostar da resposta. Que droga...

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