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Azul Índigo - CAPÍTULO UM

"Para onde nos atrai o azul?"

Rosa, Guimarães


Enrolei a fita de cetim azul nos pulsos e me dirigi até as escadas no piso superior. Para onde elas me levariam? Bem, apenas para o cômodo que eu mais amava na minha casa. Eu quase podia chamar de paraíso, já que era ali que eu sentia como se o mundo atrás de mim deixasse de existir. Tudo se transformava quando eu abria a porta de madeira com tinta branca e maçaneta dourada. Os passos desse cômodo até o meu quarto eram milimetricamente contados em vinte e cinco passos. E isso que eu tenho pés consideravelmente grandes.

Faltavam dez passos para que eu pudesse alcançar um dos poucos momentos do meu dia em que eu podia esquecer de muitas outras coisas.

— Jorge, é você? — ouvi meu pai me chamar do quarto dele.

Parei ao faltar oito passos. A porta com cor de caramelo se abriu e meu pai saiu de lá. Antes que eu me esqueça, seu nome é Antero. Ele tinha deixado o cabelo crescer nas últimas semanas. Particularmente, eu o prefiro de cabelos raspados, assim ele fica parecendo um garoto desleixado — igualzinho a mim. Se recostou na porta e ficou me olhando como se soubesse que eu escondia algo. Claro que eu escondia mesmo. Afinal, não é de hoje que eu escondo algumas coisas dele.

— Pai, claro que sou eu. Quem mais seria? — perguntei de forma irônica e retórica.

Papai levantou uma de suas sobrancelhas. Seus olhos escuros eram muito enigmáticos. Eu nunca sabia dizer o que meu pai pensava. Agora ele, sabia quase tudo sobre mim. Quase.

— Seu pai, talvez? — respondeu ele.

Tá, ele não tinha que responder, já que a minha pergunta era mais um deboche com a cara dele. E sim, vocês não leram errado, ele se referiu ao meu outro pai. E sim, eu tenho dois pais. À minha frente, estava o meu pai Antero, que é professor de matemática; e em algum lugar da cidade, está meu outro pai, Luiz, dirigindo de carro para uma reunião com fornecedores para o supermercado que ele administrava.

Uma família com dois pais? Jorge, você concorda com isso?

Sim, concordo e muito, aliás, as pessoas não tem que concordar ou não concordar. Apenas aceitar e respeitar. Mas eu vou contar o motivo de eu ter dois pais.

Quinze anos atrás, eu vim ao mundo. Mas não da forma que a maioria das mães têm os seus filhos, num hospital com todos os profissionais que ela teria direito e um aparato todo esterilizado pronto para dar suporte para mãe e filho. O oposto disso é o que aconteceu no meu nascimento. Minha mãe biológica, me teve numa viela escura da periferia onde ela morava. Não teve tempo de ela chegar até um pronto-socorro ou chamar ninguém.

Ela perdera muito sangue e infelizmente não conseguiu sobreviver. Um casal de jovens passava pelo local quando me ouviram chorar, de fome ou de frio. Ou de ambos. Esse casal foi atrás do choro e me encontraram nos braços da minha progenitora. Eu era um bebê pequeno, mas de pulmões fortes. Enquanto um deles me pegava nos braços, o outro chamava a polícia.

Fui resgatado, levado para um hospital e depois para um abrigo. Minha mãe, como não teve tanta sorte, foi enterrada pela família do casal que me encontrara. Eles cuidaram de tudo. Ela não tinha nenhum familiar vivo ou conhecido. E eu? Seis meses depois de ter sido salvo do frio ou de qualquer outro perigo, fui morar com o jovem casal que me resgatou daquela viela suja.

Antero e Luiz Valente me adotaram como seu filho.

A adoção não tinha sido fácil. Eu era um bebê recém-nascido e muitas famílias procuravam por um bebê como eu. Três famílias, além dos meus pais, ficaram muito ansiosos com a possibilidade de me levarem para a casa deles. Meus pais se apegaram ao amor que tinham e insistiram que deveriam ficar comigo, pois eu "apareci no auge do amor deles", palavras de meu pai Luiz.

Cinco meses de uma batalha judicial interminável fizeram o juiz decidir que eu seria adotado pelo casal valente que tinha me encontrado. Valente, além de ser o sobrenome que eu carrego e herdei dos meus dois pais, também é um adjetivo para descrevê-los no momento em que me acharam. Foram dois homens valentes. Que além de lutarem pelo direito de se amarem e viverem juntos, ainda foram corajosos e persistentes para que eu fosse morar com eles.

A minha memória não é ótima para isso, mas meus pais me contaram tudo quando eu era criança. No começo foi difícil para mim entender muitas coisas. Por que eu tinha dois pais ao invés de um pai e uma mãe, igual às outras crianças? Com carinho e atenção, eles foram me ensinando que há várias formas de se amar. E eles se amavam de uma forma diferente dos demais, mas que tinha tanto valor quanto às outras maneiras. Aos poucos eu fui entendendo a diversidade do amor. Que ele não vê o exterior, mas o interior das pessoas.

— Papai não chegou ainda... — falei. Esfreguei o tênis contra o assoalho. Um gesto que não passou despercebido aos olhos dele.

— Jorge, você anda muito estranho nos últimos dias. O que está acontecendo?

— Nada não, pai — respondi rapidamente. Se eu demorasse para responder era capaz dele querer descobrir, e eu ainda não estava preparado para lhe contar. — Hã, são as tarefas. Sabe como é.

Mentir para o meu pai não era uma coisa da qual eu gostava muito, era como se eu estivesse cobrindo uma parede cheia de rabiscos com um papel de parede fino e prestes a ser rompido pelo vento. Só que eu não iria conseguir falar com ele, pelo menos não com meu pai Antero.

— Sei sim. Eu mais do que ninguém sabe como é difícil. — E deu uma risadinha, eu ri junto com ele.

Para minha sorte, eu não tinha aula com meu pai. Não tenho vergonha dele, jamais. Ele é um orgulho para mim, mas ter o próprio pai lhe dando aulas é muito horrível. Um dos meninos que estuda na antiga escola em que eu frequentava, tem aulas com a mãe e com o tio dele. As reclamações do coitado percorriam os corredores, dizendo que ambos exigem muito mais dele. O lado bom de se ter um pai matemático, é que ele dá uma super força na hora de estudar para as provas.

Agora ter aulas dentro do mesmo ambiente já é outra conversa. Apesar de meu pai ser super na dele, prefiro evitar isso. Ele lecionando no colégio dele e eu tendo aulas na minha escola comum. E assim fica ótimo.

— Bem, vou indo — falei depois que as risadas pararam e ficamos um olhando para o outro sem ter o que dizer.

Buona fortuna! — Papai me desejou boa sorte em italiano.

Não, ele não tem descendência italiana. Mas meu pai resolveu aprender italiano. Aí fica falando pequenas frases. De acordo com suas certificações, ele estará fluente no idioma até o fim do ano. E isso já vem desde o ano passado.

Grazie — agradeci e meu pai fechou a porta do quarto.

Ele só se trancava no quarto quando preparava as provas mais difíceis para seus alunos. Mais um motivo para eu não ser aluno dele. Andei até a porta branca que me transportava para outro mundo.

O meu mundo. Cheio de cores e um só sentimento.

O assoalho de madeira rangeu quando fiquei a um passo da porta. Era o som que para alguns seria torturante, mas para mim era gratificante. Girei a maçaneta e logo fui recebido pelo aroma de tinta fresca.

Meu ateliê.

Aqui eu podia me refugiar do mundo. Podia me deixar levar pelo lado abstrato dessa poesia de cores. Por toda volta, telas de pintura estavam espalhadas. Pelo chão, recortes de lona manchados com respingos de tinta. A parede que ficava de frente para a porta exibia uma pintura que eu fizera bem no começo das minhas aventuras pelas tintas e pincéis. Quando eu descobri que o mundo mágico das tintas poderia me levar para além das cores que eu via.

Aproveitei para colocar na parede branca e lisa, um céu estrelado. Uma lua cheia gigante e a silhueta de uma árvore. Se você olhasse de dia, veria isso que eu descrevi. Mas quando olhasse para a pintura quando estivesse durante a noite, a tinta fluorescente mostraria outra pintura completamente diferente.

Próximo à janela, uma das minhas últimas telas descansava. Eu contemplei os borrões de tinta vermelha que eu respinguei no canto inferior direito. Os tons violetas que usei para fazer os círculos que contrastavam com o azul que ondulava. À minha frente, estava o cavalete com minha nova tela. Pronta para dar vida a uma nova história. Era como se eu estivesse com uma porta para um novo mundo. E eu tinha a chave no macacão bege que eu sempre usava para esse fim.

Tirei o pincel vermelho do bolso frontal. Meu nome fora escrito com letras deitadas. Ele já era bem velho, mas eu amava pintar com ele. Eu o ganhei quando completei doze anos. Nessa idade eu só sabia pintar com giz de cera e lápis de cor. Eu até arriscava alguns traços em folha sulfite, mas usar a tela era algo que eu nem tinha imaginado. Sequer imaginaria que um dia eu teria o meu próprio lugar para pintar.

A paleta sobre o meu banquinho giratório parecia dormir, enquanto esperava que eu a acordasse. Para que juntos pudéssemos ilustrar o oceano de emoções que se agitava dentro de mim. Peguei-a e passei o dedo sobre os pontilhados de tinta que eu fizera um tempo atrás. Eu poderia ter limpado com um removedor de tinta. Mas a lembrança, ainda que dolorosa, me fortalecia. Esses pingos secos em alto relevo me faziam ver que eu tinha que lutar.

Fui até a janela e a abri. Voltei e me sentei no banquinho, fechei os olhos e respirei fundo. Esse era o meu ritual antes de começar a pintar. Eu poderia levar horas pintando, mas tinha que reservar uns minutos para absorver a energia que estava ao meu redor. O som de pássaros, de carros, de tudo. O vento gelado ou quente que entrasse pela janela. E por que não o silêncio? Tudo poderia me envolver e me inspirar. E dessa vez fora justamente isso que me inspirou. O silêncio.

Abri os olhos e escolhi o tubo de tinta com a cor índigo.

Eu já sabia qual porta eu abriria com minha chave. Passei o pincel sobre a camada de tinta e cruzei a tela de um lado para o outro.

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