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Azul Índigo - CAPÍTULO TRÊS


Cruzei os braços e franzi o cenho indignado. Meus dois pais me olhavam como se tivesse nascido um terceiro olho em mim (o que não seria novidade). Assim que cheguei em casa, os confrontei mais uma vez para saber o real motivo de terem me transferido de escola e justo na metade do ano. Como eu estava muito puto, eles me deram um pincel novo para eu me entreter. Não funcionou, entretanto, mantive o pincel por perto. Eu poderia querer arrancar alguns fios dele, ao invés dos meus cabelos.

— Jorge, nós já te explicamos, tivemos nossos motivos — meu pai Luiz respondeu, já que meu pai Antero tinha ficado calado.

Ah tá! Os motivos deles. E a minha opinião não conta? Eu bufei e arranquei alguns fios do pincel. Até que ele serviu para alguma coisa afinal. Revirei os olhos e olhei para o outro lado da sala, evitando o olhar deles.

— Jorge, não faça essa cara. — O meu pai Antero chamou a minha atenção.

Eu não costumo ser rebelde. Pensando melhor, acho que não sou um adolescente rebelde. Talvez as coisas que já passei me fizeram ficar assim. Olhei novamente para meus pais. Os olhos do meu pai Luiz, eram dóceis. Tanto que ele sempre foi mais suave comigo. Enquanto que os olhos do meu outro pai eram mais severos.

— Mas pai... — supliquei para Luiz.

Antes que eu pareça desrespeitoso, vou explicar que vou parar de falar "meu pai X, meu pai Y". Fica mais fácil para mim. Espero que entendam. Continuando, Luiz me olhou da mesma maneira de sempre. Com aquela expressão de que iria ceder aos meus lamentos e iria interceder por mim. Eu já podia sentir o gosto da vitória, eu estava quase sorrindo. Quando Antero olhou para meu pai super zangado. E pela primeira vez, vi que Luiz não iria conseguir persuadir meu pai. Não dessa vez.

Antero ficou em pé e veio até mim, se abaixando para ficar frente a frente comigo. Como ele era bem mais alto precisou ficar de cócoras. Senti um ligeiro calafrio. Eu respeitava meus dois pais, mas sentia mais medo de Antero. Não que ele fosse me fazer nada, jamais. Eles sempre me deram muito amor e todas as formas dos castigos eram amenizados com lições que me ensinavam a distinguir o certo do errado.

— Gim... — ele se referiu ao meu apelido de infância.

Meu pai pousou uma mão sobre meu ombro e me olhou fundo nos olhos. Havia lágrimas. Naquele momento eu senti meu coração se comprimindo dentro do meu peito. Desde que eu consigo me lembrar, eu nunca o tinha visto chorar. Ele era muito sério, talvez por isso eu tivesse mais medo dele do que de meu outro pai, que era muito mais chorão. Antero me abraçou forte. Baixinho eu ouvi que um dia eu iria entender que o que os pais fazem é para o bem dos filhos. Também me disse outra coisa, que fez com que os meus olhos ficassem inundados em lágrimas.

Ele ficou em pé e bagunçou meu cabelo.

Olhei para os dois, que tinham ficado lado a lado. Dessa vez era Luiz que tinha o semblante mais sério. O que estava acontecendo nessa casa? Os polos da Terra se inverteram e isso interferiu na personalidade das pessoas com exceção da minha? Eu fiquei sem reação. Tanto com meu pai chorando quanto com o que ele me disse baixinho. Sem ter o que dizer, me arrastei para o meu quarto e deixei os dois ali, quietos. Sei que me olhavam, eu conseguia sentir a pressão do olhar de ambos vindo direto para as minhas costas.

A porta do quarto estava entreaberta, empurrei-a com minha cabeça. Que fervia com tantas indagações. Antero me explicou o motivo, eu ainda não acreditei. Caminhei até o espelho do meu guarda-roupa. Olhei bem para o meu reflexo. Desci os olhos para ver meu corpo por completo. Mais uma vez eu senti vontade de partir aquele objeto que tanto me fez mal antes. E que hoje começa a querer me fazer mal novamente. Fechei os olhos e me afastei. Cerrei os punhos, eu apertava tanto minhas mãos, que eu sentia as minhas unhas quase perfurando a minha pele.

Me joguei na cama e tentei não lembrar do passado. Era doloroso. As vozes ainda ecoavam e mesmo a terapia não tinha sido forte o suficiente para afastar totalmente os pesadelos, eu apenas aprendi a esconder muito bem o que acontecia em minha mente. Consultei o horário, estiquei minha mão para a gaveta do meu criado mudo. A caixinha branca aberta me lembrava muitas coisas. E nenhuma delas era boa.

Droga. Eu nunca vou me livrar dessa dor.

***

Duas semanas depois, eu me via dentro do meu ateliê. O pincel em minha mão não se movia. Gotas de tinta verde caíam sobre o jornal da semana passada. O rosto de algum jogador de futebol foi totalmente coberto pelos respingos e eu me perguntava o que eu iria fazer. A minha ideia inicial tinha sido abatida depois do confronto com meus pais e com minha pequena regressão ao passado. Saltei do banco e deixei o pincel sobre a paleta. Fui até a janela observar se a rua estava em movimento.

Do meu quarto eu tinha uma visão limitada da rua, já que ele dava para o quintal. Mas a janela do meu ateliê ficava de frente com a rua e ela estava incrivelmente deserta. E nem estava tão tarde assim. Tampouco frio. A tarde se tornou propícia para que todos estivessem andando, se divertindo e aproveitando. Então qual era a razão para eu estar aqui ainda?

Ah é mesmo, eu não gosto de interação social.

Resolvi sair e dar uma volta. Atravessei a sala de estar com passos suaves que nem um gato. Meus pais conversavam sobre alguma coisa. Falavam tão baixinho que eu não pude ouvir, também não fiquei para tentar entender. Poderia ser um assunto particular deles. Saí de casa sem fazer barulho, porém imagino que eles tenham percebido que eu estava saindo.

Do lado de fora, notei que as copas das árvores cobriam parte do céu azul. Alguns pássaros cantarolavam pelos galhos sem que eu conseguisse vê-los.

Perto de casa existia uma pracinha com um playground para as crianças brincarem. Também estava vazia. Que estranho. Melhor assim, não vou precisar ter que conversar com ninguém. Não é que eu odeie as pessoas, porque não odeio. Só que nas últimas vezes em que eu me aproximei, meus sentimentos foram quebrados. E os estilhaços não foram colados por completo, se é que um dia serão. Ainda posso sentir os fragmentos se remexendo dentro de mim. Silenciosos. Entretanto, eles eram fortes o bastante para continuar me machucando. Abrindo as velhas cicatrizes e cutucando as feridas que não cicatrizaram.

O balanço de madeira se mexia sozinho. Se eu estivesse numa história de terror eu acharia isso suspeito e não me aproximaria. Mas como não é, fui até ele. Me sentei e fixei os pés no chão, ficando parado, fechei os olhos. Inspirei e prendi o ar por alguns segundos. Apurei meus sentidos. Ouvi o vento passear por entre as folhas das árvores, ouvi mais pássaros assobiando uns para os outros, senti a corrente fria sob meus dedos.

— Então é aqui que tu se esconde? — Ouvi alguém falar comigo.

Antes de abrir os olhos, tentei reconhecer a voz de quem era, porém não consegui. Quando soltei o ar e olhei para quem falava comigo quase caí do balanço. Era aquele garoto que conheci no primeiro dia de aula após eu ter passado uma vergonha no débito. Como era mesmo o nome dele? Ah tanto faz, eu não iria conversar com ele mesmo. Na primeira vez eu estava fragilizado pela humilhação e atordoado por conta da bolada. Então foi fácil dele ter me arrastado para a quadra e me apresentado para os amigos dele. Nos dias seguintes eu não arredei os pés da sala, então não cruzei mais com ele.

Parei de olhar para ele e encarei o chão. Nem tinha percebido que tinha descalçado os chinelos. A areia fria e áspera pinicava a sola dos meus pés. Ele estava com o uniforme do time da escola, descobri quando ouvi algumas meninas da minha sala comentando sobre o próximo torneio que teria depois do festival de primavera que o terceiro ano iria organizar. O azul índigo das roupas dele me lembrava da minha fita de cetim que ainda estava presa ao meu braço, como eu saí com pressa acabei me esquecendo de tirá-la.

Retirei e a coloquei no bolso do meu macacão. Espera. Eu estava com meu macacão de pintura na rua? Não acredito que não percebi isso antes. Preciso ir embora o quanto antes. Fui detido pelo cara da escola, que ficou na minha frente. Me impedindo de sair.

— Mano, eu ainda não sei seu nome — ele me falou ao ver sentir que eu queria fugir e não trocar ideia. — Não te vi mais pela escola por esses dias, ainda está pilhado pela bolada?

Sacudi a cabeça negativamente. Eu já tinha esquecido, só me lembrei ao vê-lo na minha frente. De certa forma, a culpa por eu ter sido atingido fora minha, mas isso não era questionável no momento. Sair dali era o ponto crucial.

— Você se lembra quem eu sou, né? — indagou e se sentou no balanço ao lado do meu.

Olhei para o outro lado. Caramba! Como ele é insistente. A maioria das pessoas desiste na primeira tentativa, quando veem que não estou a fim de conversar e me abrir, elas se vão. É muito simples. Questão de objetividade. Ele ficou em silêncio por um tempo. Ao longe eu ouvi o som de uma buzina.

— Tadeu. Muito bem, você acertou! — comemorou ele. Revirei os olhos com o deboche. — Então, você também gosta de pintar?

Eu me virei para ele instantaneamente. Tadeu até se assustou, mas riu da minha reação espontânea.

— Você pinta? — perguntei tão repentinamente que não consegui raciocinar. E com isso, me esqueci que não deveria interagir com ele. É a regra.

— Quem diria, você sabe falar — gargalhou com a piada.

Me calei. Meu rosto esquentou e não consegui mais olhar para ele. Voltei a observar os meus pés. Uma formiga carregando uma folha verde passou bem próximo ao meu dedão.

— Pô cara, não fica pilhado. Tava te zoando. Mas quem pinta é minha irmãzinha. — explicou. Olhei com o canto do olho, ele começou a se balançar. — Ela tem quatro aninhos e faz uma bagunça.

Ele ria enquanto falava. E como falava! Ou seria porquê eu que não dizia nenhuma palavra? De qualquer forma, eu preferia apenas ouvir. Tadeu me contou que sua irmã se chamava Marisa. E que ela tinha pintado as paredes tantas vezes, que os pais dele precisaram colocar ela num quartinho com as paredes brancas, assim como eu.

Eu mesmo não disse mais nada depois da única frase que soltei por acidente. Tadeu também ficou quieto, ainda se balançava e arrastava os pés no chão. Depois de um tempo eu comecei a me balançar e nem sei o que me levou a fazer isso. Olhei para ele que olhou para mim. Tadeu sorriu e uma coisa estranha aconteceu. Eu sorri em resposta.

A praça recebeu uma lufada de um vento gelado.

— Cara, eu tô suado e está me dando frio. Acho que vou embora. — Tadeu parou o movimento e saiu do balanço.

Ele colocou as mãos atrás do pescoço e se espreguiçou. Quando ele se virou para mim e sorriu, senti uma fisgada na boca do estômago. Mas o que foi isso?

— Eu vou indo, a gente se esbarra na escola. Na próxima vez que a gente se vir, você me fala seu nome. — Tadeu piscou e foi embora.

Observei enquanto ele seguia na direção contrária da minha casa caminhando tranquilamente. O vento fazia seus cabelos pretos esvoaçarem. Consegui distinguir um borrão azul ao longe, eu sabia que era ele. O azul índigo do uniforme era único. Senti como se meus órgãos estivessem se contorcendo dentro de mim. Que droga! O que diabos estava havendo comigo? Conforme o céu escurecia, eu ponderava se diria meu nome a ele ou não.

Não. É melhor não. Tenho que ficar longe dele. Me afastar de todos. Um dos estilhaços arranhou meu coração e me trouxe uma das recordações que me fizeram chorar. A memória cinzenta preencheu minha mente e aquela trilha sonora de risadas que tanto alegra muitas pessoas ecoou pela praça. Fechei os olhos e tapei os ouvidos com força, eu não queria mais ouvir. Junto com as risadas vieram outros adjetivos. Adjetivos esses que são combustíveis para fazer com que os estilhaços se remexessem dentro de mim. Arranhando. Cortando. Fazendo sangrar.

Enquanto eu tentava remoer as lembranças, senti que alguém me envolvia em um abraço. Sem ter que abrir os olhos, eu já conhecia aquele abraço. Era de Luiz, o meu pai. Deixei as lágrimas escorrerem sem medo. Ele conhecia minha dor. Conhecia tudo sobre mim, até mesmo o motivo das memórias cinzentas causar tantas revoluções entre os estilhaços.

Tirei a fita cetim de cor azul do meu bolso. Apertei-a. Era o fio que me ligava entre o mundo real com o meu mundo de cores. Um lugar que existe atrás das paredes que faziam com que eu me sentisse seguro.

Meu pai me pegou pela mão e me levou embora. Eu tinha uma tela para terminar. Ao sair da praça, olhei para trás. Os dois balanços mexiam-se devagarinho. Um rastro de cor azul índigo cortou o ar.

Foi só na minha cabeça, eu sei. Mas ter esse vislumbre fez com que eu me sentisse estranho. Era como se aquela cor quisesse me dizer que teria muita importância em minha vida.

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