01
1° NOITE
12 de Junho. Sexta-feira. Conhecido por muitos como o dia apaixonante e cheio de romance, sendo completamente normal ver as pessoas comprando presentes, rosas e joias para a pessoa amada. Alguns fazem reservas no melhor restaurante da cidade, para comer do bom e do melhor, e se divertir com quem ama. No final da noite, eles acabam na casa de um, para terminarem o dia com chave de ouro, enlaçados em amor e promessas de amor.
É tudo marketing. Ninguém pode amar uma pessoa a tanto tempo, digamos por uns 20 anos, e ainda fazer uma noite romântica para comemorar essa noite promovida pela indústria. Ninguém fala de quem não comemora essa data tão festiva e que movimenta a todos, por todo país. Não falam das pessoas que ficam em casa, solitárias, a base de doces e filmes românticos água com açúcar, para terem o que fazer.
Eu sou uma dessas pessoas.
Após tantos namoros, todos ruins, aqui estou eu, sentada no sofá, comendo um cupcake red velvet, que comprei na melhor loja de bolos da cidade, vendo a mocinha se apaixonar pelo mocinho bonito. Foi um péssimo dia para mim. Noite pior ainda. Eu poderia estar em qualquer lugar, menos aqui. Na minha casa, com minha gata, Marga, que dorme aconchegada no meu colo, assistindo um filme romântico clichê, sozinha. Completamente sozinha.
Sou uma versão de Bridget Jones brasileira. Sei exatamente como ela se sentiu solitária, comemorando seu aniversário. É horrível essa sensação de solidão. A sensação de que ninguém é perfeito para mim. Minha avó dizia que há a pessoa certa para cada um, que nascemos prometido a alguém, não importa o caminho tortuoso, sempre acabaremos nos encontrando no final. Eu quis acreditar nisso quando meu primeiro namoro deu errado, talvez ele não era o certo para mim.
Custou eu ter esse pensamento enquanto chorava sobre as coisas que tinha ganhado de meu namorado, os presentes sentimentais foram as únicas que restaram de que algum dia ele tenha me amado. Eu quis acreditar que ele não foi prometido para mim, que não seria o pai dos meus filhos.
Foi nesse pensamento de minha avó que eu tinha quando eu era chutada por mais algum namorado meu. Acontece que pensar nisso cinco vezes seguidas – contando o primeiro – acabou me cansando de sempre não mudar nada. Tudo o que minha avó disse acabou se transformando em uma grande mentira.
Uma terrível mentira, porque não importa em como eu tente (eu tentei muitas vezes), nunca encontrarei o cara perfeito para mim.
O cara ideal.
O pai dos meus filhos.
E com 27 anos, penso que deveria virar aquela tias com muitos gatos, morando numa casa pequena, tricotando muitos cachecóis para vender em uma feira. Aceitei que essa será a minha vida. Não há dúvidas disso. Eu vou morrer sozinha e irão demorar para perceber que morri, os vizinhos serão os primeiros, porque meu corpo irá começar a cheirar podre e então me acharão. Se os gatos não me comerem primeiro. Ninguém irá ao meu enterro, pois estarão ocupados com seus filhos e netos. Ou nem se importarão comigo, se sequer se lembrarão de mim.
Triste, mas real.
E assim, eu passo mais um dia dos namorados. Sozinha, mas com minha gata, pensando no meu futuro, porque o meu último namorado foi mais uma perda de tempo minha. Gastei meu tempo precioso em algo que no final deu errado.
É desgastante.
O dia dos namorados é algo que detesto e não suporto. Por mim eu deletaria esse dia do calendário de todo mundo para não ter que ver as pessoas apaixonadas vivendo um perfeito romance.
Mordo meu cupcake e reflito no filme a minha frente.
É o meu favorito: Dirty Dancing. Um clássico. Um romance onde a menina passa as férias com a família e acaba se apaixonando por dançarino bonito, com um estilo bad boy. Meu sonho de adolescente era viver um romance assim. Ir com minha família naqueles acampamentos, que fazíamos caros, e acabar descobrindo o amor da minha vida. Que sabe dançar e é bonito. Porém, o clube que íamos não tinha esse tipo de dança e nem pessoas da minha idade. Ou eram muito velhos, ou muito novos.
Acabo soltando um suspiro vendo a cena em que Baby, a protagonista da alta sociedade, dança com Johnny, o bad boy que dança muito bem e é o rebelde impetuoso do resort que está hospedada. Ela acaba apaixonada por ele, quando tudo e todos dizem ser errados. Típico de filme. Mas eu simplesmente amo cada pedacinho desse filme. É tudo tão lindo ver como o amor atrai o diferencial em meio a tanta diferença social.
É muito ter um romance como esse filme?
Só um apaixonante romance com alguém especial e que me ame incondicionalmente, capaz de me fazer querer dançar com o amor da minha vida na frente de todos. É só isso que eu quero.
É difícil? Num mundo caótico como esse, parece impossível ser feliz com alguém ao nosso lado. Entretanto há as exceções, como aquelas pessoas que encontram o amor de sua vida, com quem irão passar o resto da vida juntos. Essas pessoas são sortudas por não terem medo de que vão ficar sozinhas, pois elas não têm esse problema. Podem dormir sossegados e passar o dia dos namorados juntos, agarradinhos.
Ugh!
Inclino minha cabeça para trás, encostando no sofá e fitando o teto sem graça da minha casa; olhando bem, admito que preciso tirar as teias de aranha nos cantos com a vassoura. Há quanto tempo aquela aranha enorme está lá? No canto esquerdo do teto, me encarando como se fosse pular a qualquer momento em cima de mim. Estremeço com medo e volto a encarar o filme na TV, depois volto a olhar meu último cupcake red velvet delicioso, me esperando na caixa de plástico para devorá-lo. Eu pego ele, pensando em como devo honrar esse último cupcake direito.
Entorto os lábios para o lado, pensativa. Ele merece ser comido com dignidade, não é qualquer cupcake, é o dia dos namorados. O último cupcake que irei ter esse ano – sigo minha dieta à risca, qualquer doce fora de datas festivas está fora de questão – depois dele só no meu aniversário, mês que vem.
Vendo o filme acabar, com o final que quero para mim, tenho uma incrível ideia. A ideia que pode mudar o modo como penso em relação a meus antigos namoros desastrosos. Quero mudar essa situação de uma vez por todas, por isso vou até minha cozinha, deixando Marga no sofá, e abrindo todas as gavetas eu acho o que quero minutos depois. Volto para a sala e pego o cupcake de volta. Coloco a vela no meio do bolinho e a acendo com fósforo, que peguei antes de vir. E, então, segurando o bolinho na minha frente, fecho os olhos e faço um pedido:
— Que o próximo cara seja o certo.
Espero alguns segundos, antes de assoprar a chama vermelha alaranjada da vela. Pode parecer uma bobagem, mas para mim será uma promessa, de que o homem que entrar na minha será o último, pois estarei casada com ele. Dou uma mordida, quando tiro a vela. Tem gosto de amor esse mísero cupcake e isso pode funcionar na promessa que fiz.
Tem que dar certo dessa vez.
A promessa ridícula que fiz é para mim mesma, porque eu não posso mais ser a solitária no dia dos namorados, e entre outros dias festivos. Mas também não quero alguém que me faça sofrer no dias que se passarem. Não quero apenas mais um amor. Eu quero mais. Quero alguém que me entenda até quando eu mesma não entender.
Não quero abraços sem sentidos, ou frases prontas feitas para redes sociais. Quero sentir o amor de alguém em seus braços, com falta de ar. É pedir muito para ter um amor capaz de me tirar o chão com apenas um sorriso sincero, dado diretamente para mim?
Só para mim.
Eu quero o sorriso que ilumine meus dias nublados e sem cor. Quero que o meu sorriso seja colorido no mundo dele. O homem dos meus sonhos está por aí, sem ao menos saber que estou aqui, sozinha no dia dos namorados, assistindo filmes românticos, me empanturrando de guloseimas. Ele deve estar com uma garota bonita, agarrados em conchinha, sentindo a respiração um do outro.
Ele está lá fora enquanto eu estou aqui. E o que estou fazendo para mudar essa situação? Nada. Não movo um músculo para sair de meus pijamas com balas coloridas desenhadas por todo ele, com pantufas que combinam. Aqui estou eu, olhando fixamente para um novo filme de coloquei, com minha gata, sem fazer absolutamente nada.
Me ajeito confortavelmente no sofá, debaixo da coberta quentinha, deitando no travesseiro. Marga se acomoda nos meus pés. E assim eu continuo minha maravilhosa noite de dia dos namorados.
💔
Sou acordada abruptamente por um miado de Marga assustado, em algum lugar do apartamento. Meu coração bate tão forte que imagino ele pode sair do meu peito a qualquer momento. Eu tinha que acabar dormindo no sofá. Amanhã sentirei meus músculos tensos, por dormir numa posição nada confortável. Sento e esfrego meu pescoço, mexendo-o e vendo se dói.
Ainda com os olhos fechados, eu o escuto falar pela primeira vez e tudo voltar ao passado:
— Ainda continua a mesma, Alice.
A princípio me assusto, afinal, não pensei que ouviria sua voz nunca mais em toda a minha vida. Ele foi o meu grande primeiro amor. Foi quem me fez perceber o grande desastre que sou com o amor. Abrindo os olhos eu me deparo com a figura chamativa de Jonas, perto das minhas plantas bem cuidadas e verdes. Ele está vestindo a jaqueta do Leão – time de futebol – e com as mãos dentro do bolso de sua calça caqui.
É como ver o Jonas do passado. Aquele que me deixou.
Bem aquele que foi embora depois de ter me levado para a cama e eu não ter mais contato e nem notícias dele. Jonas foi o primeiro cara a quebrar meu coração por completo e eu não ter ninguém para me consolar. Eu estava sozinha, em um momento triste em que chorava o dia inteiro e pensava no tinha feito de errado. Jonas foi o meu primeiro em tudo, mas, o mais importante, foi que ele foi o primeiro a me deixar quebrada por dentro.
E agora ele está aqui. Na minha frente, na sua melhor forma, me encarando com olhos verdes intensos. Não pode ser. Eu devo estar sonhando, porque Jonas não está aqui realmente. Pode ser um sonho, ou até um pesadelo. Um terrível pesadelo. Mas eu quero acordar de qualquer coisa que seja.
— O que você está fazendo aqui? — Acabo perguntando, porque a curiosidade está me sufocando.
— Me diga você, Alice — ele disse, se aproximando em passos lentos. — Por que estou aqui?
— Eu não sei. — Balanço a cabeça. Jonas para de andar. — Você nem sabe aonde eu moro, faz anos que eu não te vejo. Anos, Jonas. Não tem como você estar realmente aqui.
Seu corpo se mantém ereto na minha frente, sem esboçar nenhuma reação. Nada.
Só fico olhando em como os anos passaram e ele continua o mesmo. Ele tem os mesmos olhos verdes meigos, que me fazem perder o fôlego sempre que me encaram. Ainda tem os ombros largos adquiridos com anos jogando futebol, e que fazia as meninas ficarem babando neles. São os mesmos ombros que me carregaram quando íamos para os parques de diversão. Eu amava como ele sempre foi forte, isso me fazia a menina mais feliz do mundo inteiro. Jonas conseguia me fazer feliz, em momentos que eu tinha que ser. Claro, que não durou muito.
— Mas, eu não estou realmente aqui, Alice.
— Não...?
Torço o nariz, ficando um pouco confusa. Eu estou sonhando?
— Não. — Ele senta na mesa de centro, a minha frente, concentrado em meu rosto. — Estou aqui porque você está sozinha.
— Eu não estou sozinha.
Ele une suas sobrancelhas claras no meio de sua testa, sem acreditar nas minhas palavras e então analisa minha sala escurecida, só com a luz vindo da TV iluminando o sofá.
— Não é o que estou vendo — observou, voltando a me encarar. — Então, o que eu estou fazendo aqui?
— Eu não sei, se puder me explicar.
— Alice, hoje é dia dos namorados, fazem anos que não nos vimos e você está sozinha, numa casa triste e sem graça. Você faz um pedido num cupcake red velvet e eu apareço. Você é que tem de explicar o que estou fazendo aqui.
A ficha começa a cair. Jonas não está realmente aqui, ele é uma imagem da minha cabeça. Eu estou sonhando. É apenas um simples sonho, com meu ex-namorado. É uma coisa normal sonhar com alguém que amou por muito tempo.
É normal. Porque eu estou delirando. Jonas não está aqui. Não está.
— Ficar repetindo isso, possa ajudar você, mas não esqueça que eu estou aqui ainda.
— Você pode ler meus pensamentos? — pergunto, estupefata.
— Não. — Sorri, achando graça. — Mas, você fala sozinha enquanto pensa. Sempre fez isso, na verdade.
É verdade. A mais pura verdade que saiu da boca de Jonas. O sonho pode ser esquisito as vezes, mas eu sei que é um sonho, porque ele não está aqui, ele está a quilômetros de distância – acho que no Peru.
— O que está fazendo aqui, Jonas?
— Alice, me diga você.
— Mas eu não sei o que você está fazendo no meu sonho.
— Acha que isso é um sonho? — ele perguntou.
— Acho, porque você não está aqui, nessa cidade. Você está no Peru, escavando alguma coisa.
— Anda me espionando? — brincou com um sorriso ameaçando a aparecer em seus lábios sedutores.
— Não, só acho interessante seu perfil no instagram. Eu mal sequer te sigo. Eu não quero saber da sua vida, ou pensar em você, só quero voltar ao meu sono e não sonhar com você.
— Mesmo assim, aqui estou eu, na sua frente, sem você saber o motivo.
Reviro os olhos, bufando logo em seguida.
— Que merda, Jonas. Eu só queria passar o dia dos namorados sem aventuras emocionais. Eu fiz um pedido num cupcake ridículo para que isso não acontecesse.
— O pedido deu certo — concluiu, encolhendo os ombros ao constar esse fato.
Franzo minhas sobrancelhas.
— Como?
— Esse é motivo para que eu esteja aqui. Você fez um pedido.
— Mas, o pedido foi para que o próximo cara seja o certo. Não para que meu ex-namorado otário aparecesse em meus sonhos.
— Alice, isso é mais do que um sonho.
— Então, é o quê? Estou delirando de tanto doce que acabei comendo?
Ele balançou a cabeça.
— Não. — Abriu um sorriso. — Eu vou te levar para o passado, presente e futuro de seus cinco relacionamentos que não deram certos.
— Como que é?
Ergo uma sobrancelha, então olho ao redor vendo se estou em minha casa e se não estou mesmo em um sonho. Quero acordar logo. Queria me beliscar, para ter a certeza de que é um sonho. Um sonho ridículo.
— Você me entendeu — ele disse. — Iremos visitar seus relacionamentos e você verá o que deu errado com cada um.
— Tá falando que a culpa foi minha por meus relacionamentos não terem dado certo?
— Você verá. — Ele soa misterioso, o que odeio. Jonas se levanta e estende a mão. — Vamos?
O encaro completamente fora de órbita. Não pode ser possível isso estar acontecendo comigo, eu ainda acho que é somente um sonho. Um sonho completamente louco, que quero acordar nesse momento.
— Eu estou de pijama — falo.
Ele sorri, analisando-me de cima a baixo, com seus lindos olhos, minhas vestimentas.
— Não é um problema, ninguém irá nos ver.
— Tá legal. — Levanto do sofá e pego a mão de Jonas. É impressionante como sua mão é exatamente como eu me lembro; forte e irradiando calor em suas palmas cálidas. — E agora? — pergunto, ignorando a sensação de passado que traz, segurando sua mão.
Ele torce os lábios para o lado, olhando em volta à procura de algo.
— Você ainda o colar que lhe dei no festival de primavera? — perguntou.
— Não.
Ri, voltando a me encarar.
— Alice, você nunca soube mentir.
Eu suspiro.
— Tá na minha penteadeira.
Jonas, sem dizer nada, começa a me arrastar em direção do meu quarto, onde fica o cômodo que durmo. Ele vai direto para minha penteadeira, não olhando a bagunça que minha está, pega meu porta joias e tira o colar que ganhei dele de dentro. Tem um pingente de uma gota de chuva pendurado na gargantilha. É simbólico. E muito. As lembranças que voltam são de como estava chovendo e fui beijada pela primeira vez por ele debaixo daquela chuva forte.
Foi mágico.
— Podemos ir?
Engulo em seco, sufocando as lembranças no fundo de minha mente.
Ele assente. De repente, como mágica, o pingente de chuva começa a brilhar intensamente e tudo fica mais claro no meu quarto, capaz de me cegar. Então eu fecho os olhos, não vejo mais nada, mas escuto tudo. Os sinais da escola, as pessoas indo e vindo, com passos barulhentos e conversas altas. Armários abrindo e fechando. Sei exatamente onde estou.
Sinto a respiração de Jonas perto da minha orelha depois de alguns minutos.
— Pode abrir os olhos — disse ele.
Seu hálito faz os pelos da minha nuca se eriçarem. Eu faço o que pede. Abro, lentamente, meus olhos e começo a reparar em tudo; todas as pessoas que já me fizeram sentir mal, que foram minhas amigas, mas acabei descobrindo toda a verdade por trás. Vejo todo mundo da escola, os populares, os excluídos e os loucos. Tudo.
É como se eu estivesse realmente no colégio, com todo mundo a minha volta. Ficamos parados no corredor, apenas observando tudo. Até que, o que eu menos esperava, acontece. Eu me vejo, perto do meu antigo armário, usando roupas coloridas (eu não sabia mesmo me vestir, como, eu toda minha existência, eu usava meias três quartos rosas), e com cabelos curtos, na altura dos ombros.
Jessica, minha única amiga naquela época, está ao meu lado e parecemos conversar sobre algo.
— Lembra do que conversavam? — Jonas perguntou.
Tinha esquecido que ele estava ao meu lado. Faço que não com a cabeça. Começamos a nos aproximar de onde, o meu eu do passado, está parado.
— A gente bem que podia ir naquela festa, né? — Jessica perguntou para mim, no passado.
Ela era totalmente diferente de mim, dava para ver claramente o contraste de nossa personalidade, tinha o costume de usar roupas provocantes em dias frios e no calor as roupas pioravam. A gente não era compatível, ainda nem sei porque éramos amigas, mas lá estava eu sendo amiga de uma menina que fingia ser minha amiga e que gostava de mim.
Se a Alice daquela época soubesse toda a verdade, poderia ter se esquivado de tudo o que a fez sofrer tempo depois.
— Eu não gosto de festas — Alice do passado disse, fechando o armário depois de pegar o livro de biologia e se virar para Jessica.
— Você é uma chata.
Alice, daquela época, deu de ombros, mordiscando o lábio inferior. Elas começam a andar, se afastando dos armários, andando pelo corredor extenso, as seguimos.
— Eu era uma nerd completa — disse a ninguém em especifico.
— Se tivesse sido diferente, você acha que tudo mudaria? — Jonas perguntou, pegando-me de surpresa.
— Não sei. — Dou de ombros. — Eu não gostava da minha versão nerd, eu não aproveitei nada do ensino médio.
— Lembra do que fez?
— Nada de interessante, só que era caidinha pelo capitão do futebol, mas todas eram.
O assunto é encerrado, quando Alice e Jessica param de andar, para que os populares andassem no meio do corredor. Como se mandassem na escola. Era ridículo ver isso ao vivo, fica ainda pior relembrar da cena. Eu, como sempre, babo somente em uma pessoa. Jonas Albuquerque, o capitão do time de futebol. Dono de uma beleza monumental, ele andava confiante, com sua namorada da semana debaixo do braço e um sorriso matador. Todas eram apaixonadas por ele, e não tinha como não ser. Todo mundo via que Jonas mandava naquele lugar e não apenas pela beleza, mas, sim, porque Jonas tinha pais famosos e que davam dinheiro para a escola. Ele era o rei, enquanto nós, os plebeus, éramos seus súditos.
Ficamos de lado, para que Jonas e sua trupe passasse por nós.
— Você era ridículo — soltei, olhando o sorriso que mandava para todas as meninas que babavam nele.
— Mas, você gostava de mim — apontou.
— Eu não sabia o que você realmente era.
— Alice, eu...
Avancei, seguindo Alice e Jessica, soltando da mão de Jonas e andando sem ele. Não posso lidar com isso agora. De repente, o tempo avança, ficando tudo turvo, e paramos no exato momento que não consigo esquecer. Eu estou sentada na cadeira do refeitório, sozinha e chorando. Sei o que aconteceu. Jessica tinha enviado imagens minhas de calcinha e sutiã para todos do colégio. Nunca entendi porque tinha feito aquilo, mas eu não consigo esquecer o que senti naquele dia. Eu me senti sozinha e sem ninguém. Com uma imensa vontade de desistir de tudo.
Foi o dia em que...
— O que está fazendo? — Jonas perguntou, entrando no refeitório e parando atrás de mim.
Enxuguei meus olhos, antes de virar para trás e encarar Jonas.
— Nada.
Me levantei, prestes a ir embora, mas Jonas pegou em meu cotovelo gentilmente, me impedindo de andar. Eu sinto. Sinto seu toque na minha pele, é quente e me atinge profundamente. Estou revivendo a primeira vez que ele me tocou. A primeira vez em que meu coração perdeu uma batida e ficou descompassado. O peito parecia afundado, com emoções à flor da pele.
— Está chorando.
— Esperto você, ein — debochei.
Jonas riu, do meu lado. É o Jonas do presente que ri da cena que vemos.
— Essa foi boa — ele disse. — Por que está chorando?
Dou de ombros, segurando as lágrimas.
— As pessoas sabem enganar.
— Nem me diga.
E é aí que eu pensei que Jonas é alguém igual a mim, que passa pelas mesmas coisas que passei.
— Você me enganou — sussurro, encarando a cena a nossa frente, em que acreditei que Jonas podia estar vendo-me pela primeira vez.
— Não fiz isso.
Me viro para encará-lo.
— Você quer me dizer que não fingiu gostar de mim num momento vulnerável?
Cruzo os braços, esperando por sua resposta. Qualquer que seja, eu preciso ouvir o que tem a dizer. Jonas fica em silêncio, passando por mim e indo até o seu eu do passado.
— Tá vendo isso aqui? — Apontou para seu olhar me encarando no passado. — Foi aqui que eu notei quão linda você é de perto. Fui sincero no olhar, Alice. E aqui — apontou para seu coração —, foi quando eu percebi como meu coração palpitava tão forte perto de você.
Um silêncio se forma enquanto o encaro com a mão sobre seu coração. A sinceridade que carrega na voz me atinge.
— Podemos continuar?
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