VAMPIDOCE
Desafio de Contos "GAME OF CONTES" - EQUIPE ASTRO
DESAFIO #2 - TEMA: "Um vampiro diabético" (agosto 2021)
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VAMPIDOCE
L.H. Lourenço
ꟷ Manhêee, eu tô sangrando de novo!
Essa foi a frase que minha mãe mais ouviu desde que me entendo por gente. Para um descendente da linhagem nobre dos vampiros ancestrais da Pensilvânia, eu sempre fui um desgosto para meu genitor. Herdei os genes do lado materno da família, visto que minha mãe é uma humana, por quem meu pai se apaixonou perdidamente na sua juventude. Sou filho único desse casal atípico da dinastia vampiresca e a piada das rodas de conversa nos encontros anuais na casa do mestre Drácula.
Fui apelidado de Vampidoce, pois nasci com a diabetes do tipo um, que tem causa genética. Todo bebê vampiro vem ao mundo já procurando um pescoço para chupar o sangue. Eu sempre buscava por leite e queria mamar o tempo todo nas tetas da minha mãe e, mais tarde, nas das vacas, das cadelas ou de qualquer outra fêmea que estivesse amamentando.
Essa doença me causou algumas sequelas, como a visão noturna ruim, as dificuldades de locomoção, a demora na cicatrização de feridas e a necessidade de só atacar humanos com baixo nível de glicose no sangue, o que sempre dificultou muito a minha vida. Imagine um vampiro que sai esbarrando em tudo no escuro, que tropeça na capa, que carrega sempre uma mochila com um kit de primeiros socorros e um aparelho para medição de glicose. Esse sou eu!
Ainda na adolescência, detectei também uma alergia a pescoços femininos. Isso fez o meu apelido de Vampidoce ganhar outro contexto. Sofri bullying durante todos os anos de curso na Academia de Vampiros.
Mas nem tudo é ruim nesse meu universo caótico. Em se tratando de um híbrido, tenho características que me favorecem em relação a outros descendentes do Velho Mundo das Trevas. Entre essas estão a não aversão ao alho e a imunidade às cruzes. Eu até já dormi em um banco de igreja, mas essa é outra história.
Hoje estou aqui na "Taverna A Hora do Crepúsculo", na minha jornada solitária, saboreando meu Drink Rosa, de baixa caloria, à procura de um pescoço atraente, daqueles carnudos, cheirando a suor.
Meus traumas da infância e adolescência foram, praticamente, superados e aprendi a administrar meus pontos fracos. Desenvolvi talentos para identificar fontes seguras, quero dizer vítimas, com sangue que não oferecesse risco para minha saúde. Ganhei fama na sociedade vampiresca por ser o único vampiro diabético que já existiu.
Eu sei! Não é um título do qual eu possa me orgulhar e não é o que me define.
Esta noite minha ansiedade está acima da média. Há meses não encontro um humano compatível para saborear. Passo e repasso meu olhar pela multidão, que se aglomera no local, tentando detectar um alvo. Há alguém aqui que, de repente, chama a minha atenção. Está em pé, apoiado no balcão.
Estilo gótico, meu preferido! Alto, bem alvo, loiro de cabelos curtos e arrepiados. Seu corpo esguio veste calça e camiseta pretas, com uma blusa xadrez de manga longa por baixo. Para completar o traje, um sobretudo que chega até os tornozelos e uma bota de cano longo. Tem um pescoço comprido, tatuado com as presas de uma boca sangrenta.
Uau! Ganhei a noite. É nesse que vou investir!
Aproximo-me do balcão onde o meu objeto de desejo se encontra. Percebo que pediu apenas uma garrafa de água mineral gasosa. Começo a salivar ao sentir aquele cheiro másculo. Discretamente, levanto minha capa e cubro seu ombro com ela, hipnotizando-o quando se vira e olha para mim. Seus olhos são claros, delineados em preto e usa piercings no nariz e nas orelhas. Minha mão alisa a sua nuca, sentindo a maciez da pele.
Este já está no papo!
Sem que ele me oferecesse a menor resistência, saímos juntos da taverna em direção ao meu castelo. Na verdade, é apenas uma cobertura duplex, decorada com o que há de mais vampiresco na atualidade.
Já no meu quarto, um cômodo sem janelas e com paredes pintadas de preto, existe uma imensa cama com dossel, em formato de coração, forrada com lençol vermelho de fios egípcios e travesseiros de plumas de ganso. Uma luz negra é a única fonte de energia no local. Tudo pronto para criar um clima perfeito.
Acomodo aquele corpo fenomenal no colchão sem conseguir desviar o meu olhar da sua tatuagem. Passo a mão na boca para enxugar a baba e aliso as presas com meus dedos. Posso antecipar o prazer da minha mordida naquela veia que pulsa em seu pescoço.
Em um arroubo de volúpia, rasgo sua roupa com meus dentes afiados e meu corpo todo estremece. Solto um grito de socorro.
ꟷ Manhêee!!!
Total de palavras do conto: 773
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