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UMA FAMÍLIA FORA DO NORMAL


PROJETO MDT – DESAFIOS DE CONTOS DE 2021

DESAFIO #1 - Tema: MUDANÇA  (jan 2021)








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UMA FAMÍLIA FORA DO NORMAL

L.H. Lourenço


Oi!

Ei, aqui!

Você, que está lendo estas linhas. Quero lhe contar um "causo" sobre minha família. Entre as várias histórias que envolvem meus familiares, esta é apenas uma delas. Não há nada de estranho conosco, apenas somos, por assim dizer, fora do comum. Isso não nos impede de sermos felizes e de nos amarmos. Contudo, nossas confusões são bem conhecidas lá pelos lados onde moramos. Fica bem ali, entre o Norte e o Sul, na junção do Leste e do Oeste, perto de onde o vento faz a curva. Pegue um saquinho de pipoca ou descasque umas laranjas e se acomode no sofá para não perder "nadica" de nada do que vou lhe contar.

Era uma vez, em um lugar meio distante... peraí, isso está parecendo um conto de fadas. Vou começar de novo.

Onde eu moro, o calor faz seus poros verterem água o ano todo. Talvez seja mais quente que o tal do Deserto do Saara. Meu nome é Lulu Malla de Capetta. É nome mesmo! Meu pai se chama Ludovico de Capetta, minha mãe Lucrécia Malla e eles resolveram criar uma composição para me batizar. Daí veio o Lu de um com o Lu de outro e ganhei esse prenome peculiar.

Venho de uma família de sete irmãos, onde sou a caçula e única filha mulher. Cresci limpando mijo espirrado fora do vaso sanitário. Vigiada sempre fui e tenho mais seguranças que a rainha da Inglaterra, mas isso não me impediu de estudar e encontrar um emprego.

Começa assim, um dos acontecimentos mais hilários que tenho para contar.

Durante dois anos, trabalhei, no período da tarde, como ajudante de contabilidade no escritório da oficina mecânica do Sr. Azeredo, a quem batizei de Azedo. Um mal amado que só sabia reclamar de tudo. O pessoal que trabalhava na oficina dizia, à boca pequena, que ele era assim, porque a mulher sempre dormia de calça jeans. Não entendia bem o que isso queria dizer. Com certeza, não é uma roupa confortável para dormir, mas não percebia a relação disso com aquele humor de cão do meu chefe. Os mecânicos que lá trabalhavam eram muito legais e alguns chegaram a me dar um certo calor, quando vinham perto de mim com seus braços musculosos, suas camisetas coladas no corpo, cheirando suor e graxa. Nenhum deles se engraçaria comigo, pois conheciam os capangas dos meus irmãos. Pelo jeito, irei morrer solteira.

Morávamos de aluguel por opção da minha mãe. Ela dizia que mudar era sempre bom e que se desfazer de uma casa alugada era mais fácil do que vendê-la. Assim, já havíamos nos mudado várias vezes. O detalhe é que a cidade, na qual morávamos, era tão pequena que tinha meia dúzia de ruas e uma avenida principal, a única asfaltada. Os imóveis eram todos aparentemente iguais, com suas pinturas sempre avermelhadas pela terra da rua. Meu pai nunca discordava das ideias de Dona Lucrécia, portanto os filhos não tinham voz para dar opinião. Se ela decidia mudar, tínhamos que ir e assunto encerrado!

Meu pai se dizia representante de vendas, mas na verdade era um mercador ambulante, que vendia geleias e compotas fabricadas por minha mãe pelas ruas da cidade e arredores. Meus irmãos, que só terminaram o ensino fundamental, também viviam de biscates. Ou seja, era eu a única que tinha emprego fixo remunerado, mesmo sendo metade do salário-mínimo.

Era um dia comum como todos os outros, quando retornei do trabalho no final da tarde. Meu estômago reclamava de fome. Ao dobrar a esquina da rua em que residia, notei um pequeno caminhão estacionado em frente de casa, com a parte traseira carregada com móveis que reconheci serem nossos. Entrei correndo pela porta e quase fui atropelada por meus irmãos que carregavam um armário. Desviei-me deles e fui ao encontro de minha mãe.

―O que está acontecendo?

― Oi, filha, que bom que chegou. Assim você ajuda seus irmãos com as tralhas do seu quarto.

― Como assim, mãe? Para onde estamos indo?

― Lulu, seu pai encontrou um verdadeiro achado em um vilarejo próximo daqui. Alugamos uma casa bem maior, com lugar para seu pai e eu produzirmos nossas encomendas. Seus irmãos também terão espaço para trabalharem em casa e até montarem uma oficina.

―Mas, mãe, e meu trabalho? Eu não avisei nada ao Sr. Azevedo.

― Isso não é problema, Luluzinha. Seu pai conversará com seu chefe outro dia. Agora chega de lenga-lenga e vai cuidar de arrumar suas coisas. Partiremos ainda hoje.

― Ah! Mas... eu ... mãe...

Nem adiantava argumentar, ela já havia me deixado falando sozinha. Só me restava acatar as ordens de arrumar a mala com o pouco de pertences que eu tinha, liberando a cama e o guarda-roupa para serem levados para o caminhão.

Uma hora depois, ainda sem ter comido nada, eu e meus seis irmãos subíamos na carroceria aberta e pequena, onde os poucos móveis que tínhamos estavam amontoados. Meu pai sempre contratava um carreto inadequado para transportar nossas coisas, porém desta vez ele exagerou na economia. Em um espaço de aproximadamente oito metros quadrados, empilhamos geladeira, mesa, cadeiras, armário, sofá, TV, três guarda-roupas, três beliches, uma cama de solteiro e outra de casal com os respectivos colchões. Minha mãe foi na cabine, junto com meu pai e o motorista.

Nas mudanças anteriores, entre um imóvel e outro, a distância era bem curta e essas "aventuras" não foram tão perigosas. Porém, naquele caso, estávamos viajando para outra localidade, em uma zona rural.

As sacolas com mantimentos estavam próximas aos meus pés e decidi procurar por algo para comer. Com o bucho cheio, teria mais forças para a "via crucis" que enfrentaríamos. Encontrei um dos potes de compota de goiaba e o abri. Não havia talheres à vista, então passei o dedo sujo no doce e coloquei na boca. Não era exatamente o que meu estômago queria, mas era o que tinha para o momento. Esvaziei meio pote e meus irmãos repartiram o resto.

Quando saímos da cidade e pegamos a estrada sem asfalto, percebi que não havia sido uma boa ideia me encher de goiabada. Os trancos e balanços que o veículo dava, fazia o doce subir do estômago para a garganta. Meus irmãos seguravam as cordas que prendiam os móveis para que não se soltassem. Do jeito que o caminhão balançava, previa que chegaríamos ao destino com metade dos nossos pertences. Eu me equilibrava no assoalho da carroceria, afastada da grade, que ameaça se soltar a cada buraco pelo qual passávamos.

Diz o ditado que "o barato sai caro". Como se não fosse suficiente todo aquele sufoco que estávamos passando, São Pedro resolveu dar o pontapé definitivo e mandou chuva. Naquele momento, desatei a rir. Ainda faminta, enjoada pelo doce que comi, dolorida dos solavancos, ameaçada de ser atirada para fora do veículo, parecia-me com um pinto molhado. As sacolas de feltro que continham os alimentos estavam encharcadas, ou seja, não teríamos mantimentos para preparar comida quando chegássemos. Se chegássemos!

Meus irmãos foram contagiados pelo meu ataque de riso e caíram na gargalhada também. O mais velho, Maykon, decidiu cantar uma música, interpretada pelo artista Dudu Nobre, e nós o seguimos.

"Esta família é muito unida
E também muito ouriçada
Brigam por qualquer razão
Mas acabam pedindo perdão

Pirraça pai!
Pirraça mãe!
Pirraça filha!
Eu também sou da família
Eu também quero pirraçar

Catuca pai!
Catuca mãe!
Catuca filha!
Eu também sou da família
Também quero catucar
Catuca pai, mãe, filha
Eu também sou da família
Também quero catucar

Que família, heim!!"

E assim, continuamos cantando até que o caminhão atolou. Se pudéssemos pensar em algo bom em toda aquela tragédia, isso seria a decisão que tomamos de envolver a TV em um plástico. Algo chegaria a salvo ao nosso novo lar. Não teríamos onde dormir nem o que comer, mas poderíamos assistir à novela da noite. Quando e se conseguíssemos instalar a antena e o sinal fosse forte o suficiente.

A chance de chegarmos ao destino antes do horário da novela foi reduzida a zero, visto que, devido ao peso, o motorista não conseguira desatolar o caminhão. Passaríamos a noite ao relento, na chuva, sem água potável ou comida.

Minha mãe saiu da cabine do veículo com uma toalha enrolada na cabeça e sugeriu que fossemos andando procurar algum lugar para nos abrigarmos. Decidi argumentar, pois parecia ser eu a única pessoa que tinha coragem de contestá-la.

― Minha mãe, isso é uma ideia doida. Está escuro, cheio de lama escorregadia. Estamos no meio da mata, onde pode ter cobra ou outros bichos. Não é possível perceber nem uma luz distante que nos indique um possível abrigo.

― Você tem alguma ideia melhor, Lulu? Quer passar a noite na chuva e no frio?

O motorista ouviu a nossa conversa e informou que tinha uma lona enrolada no encosto da cabine que poderia servir para nos abrigar da chuva. Olhei para ele, totalmente pasma. Só agora ele nos dizia isso???? Dois dos meus irmãos aceitaram a oferta e pegaram a lona para estender acima dos móveis, criando uma cabana na carroceria. Minha mãe voltou para seu lugar de antes, enquanto eu e os manos nos ajeitamos, amontoados uns sobre os outros para nos aquecermos e descansarmos um pouco.

A manhã chegou ensolarada e a claridade nos permitiu avaliar melhor onde estávamos. Era mata fechada para todo lado e a estrada não passava de uma picada enlameada pela chuva. Com a união dos homens, menos do meu pai que estava com dores nas costas, o veículo foi desatolado e pudemos seguir viagem. Mantivemos a lona como proteção para qualquer outro aguaceiro que viesse. Já havíamos perguntado várias vezes ao Sr. Ludovico, a que distância estávamos da nova casa e a única resposta que recebíamos era que "estávamos próximos".

No caminho, avistamos um milharal e decidimos colher algumas espigas para assá-las na fogueira que acendemos. Era perto do meio dia e ainda não sabíamos o quanto faltava para chegarmos.

Enquanto comíamos o que havíamos colhido, ouvimos o barulho de uma moto se aproximando. Ficamos observando até que o motoqueiro parou aonde estávamos e tirou o capacete. Era um jovem na casa dos trinta anos e que nos informou que não conhecia a região. Estava tão perdido quanto nós, pois seu celular estava sem sinal. Oferecemos milho a ele, que aceitou. Reparei que ele era muito bonito e imaginei o que ele deveria estar pensando de mim. Após um banho de chuva, uma noite mal dormida e com as roupas sujas de barro, eu estava nada apresentável. O jovem mostrou-se bem extrovertido e contou-nos que estava à procura de um terreno que havia herdado de um tio que faleceu, mas não pretendia fixar residência ali. Sua intenção era verificar o estado do lugar e colocá-lo à venda. Perguntamos se ele tinha alguma referência do local e quando ouvimos a informação, meu pai demonstrou um certo nervosismo. Mesmo assim, ofereceu-se para levar o rapaz até o endereço do dito terreno, o que me causou uma certa ansiedade. Meu pai iria de moto com um estranho para algum lugar que desconhecíamos, sem hora para voltar, e ficaríamos ali ao léu, sem teto e sem comida. Quando pensei em argumentar, ouvi minha mãe dizer que era uma boa ideia e que aguardaríamos o seu retorno.

Era quase noite novamente e nada do meu pai retornar. Já havíamos colhido mais milho para matar a fome, mas meus irmãos estavam acostumados com uma comida mais substanciosa. Tanta fibra, acabou por causar um desconforto estomacal em um deles, o Tonho, que passou mais de meia hora escondido no mato. Ainda bem que havia bastante palha naquele milharal. Ele voltou parecendo que havia cavalgado durante dias. O motorista também estava mal humorado e já havia avisado que cobraria um dia extra por estar ali parado sem trabalhar.

Começava a me sentir desesperançada com a situação, quando ouvimos o barulho da moto ao longe. O motoqueiro retornara sozinho e avisou que meu pai havia ficado na casa a nos aguardar. Pediu que entrássemos no caminhão e que o motorista o seguisse. Ele nem sequer havia descido da moto.

O motorista tentou dar partida várias vezes sem sucesso. Eu já estava com a cabeça abaixada nos joelhos imaginando qual seria a próxima provação. Um dos meus irmãos, que entendia de mecânica, levantou o capô do veículo e fez algumas verificações, pedindo, em seguida, para que o motorista tentasse novamente. Quase pulei de alegria, quando ouvi o ronco do motor. Levantei os olhos para o céu e pedi ao Santo Protetor das Mudanças que nos protegesse de qualquer novo incidente para que conseguíssemos chegar ao nosso destino.

Após algumas horas, avistamos uma porteira com a placa: Retiro da Paz. Que nome estranho, pensei comigo! Era mais apropriado para um cemitério.

Dois dias depois, o jornal da cidade estampava a manchete: "Família Malla Capetta é presa por invasão de propriedade."

E assim, meu povo, eu termino por aqui. A intuição da Dona Lucrécia falhou vergonhosamente. 


Total de palavras do conto: 2164

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