O CASO DO PAPAGAIO
Exercício do curso "Conto: A Escrita do Nocaute" - Canal Carreira Literária
Desafio: escrever um conto policial
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O CASO DO PAPAGAIO
L.H. LOURENÇO
Conheço Ágatha desde que éramos crianças. Ela sempre teve um jeito sagaz de escrutinar tudo o que via e de memorizar os mínimos detalhes. Nada passava desapercebido ao seu olhar. Não era à toa que ganhara fama de ser Sherlocka.
Quando a rua em que moramos foi surpreendida pelos apelos da vizinha D. Lucinha que, desesperada, abordava a todos à procura de notícias de seu papagaio que havia desaparecido, não me surpreendi que Ágatha fosse a única a desvendar o misterioso sumiço.
O pássaro em questão era conhecido em toda redondeza pela facilidade como entoava as mais variadas músicas e como respondia aos comandos de sua proprietária, que o considerava um membro da família há mais de vinte anos. Na casa de D. Lucinha, conviviam com o papagaio, o marido dela, o filho pequeno, a mãe idosa e uma cozinheira. Todos se mostraram chocados com o desaparecimento do bichinho. Seu vizinho da casa ao lado era o único que reclamava dos barulhos que o pássaro fazia, principalmente quando este ficava irritado e punha-se a gritar.
O filho de sete anos tinha fama de ser um pestinha e, para muitos palpiteiros, ele teria feito alguma maldade e dado cabo da ave. Diziam haver testemunhas de que o garoto maltratava animais nas ruas.
O marido tinha o péssimo hábito da bebida. Nunca teve uma boa relação com a sogra, de quem reclamava para todos que quisessem ouvir. Dizem que o papagaio ficava agitado quando ele chegava em casa bêbado.
A mãe da vizinha era uma senhorinha, na casa dos setenta anos, famosa pelo seu gênio difícil. Graças a ela, o papagaio conhecia uma infinidade de palavras de baixo calão, o que deixava sua dona bastante embaraçada na frente de visitas.
O papagaio estivera sempre com uma pequena corrente presa à sua perna e à gaiola, que fica na grande varanda que rodeia a casa e que faz conexão com as salas de estar e de jantar e com a cozinha.
Ágatha começou a sondagem conversando com os membros da família. Todos afirmaram que tinham visto e ouvido o papagaio naquele dia na parte da manhã, porém cada um teve um motivo para não ser testemunha do desaparecimento da ave.
D. Lucinha contou para Ágatha que saiu para uma consulta médica às 10h e retornou ao meio-dia. O seu marido afirmou que foi para o bar assim que a esposa saiu. O seu filho pequeno informou que decidiu ir andar de bicicleta com um amiguinho logo cedo e só retornou para o almoço. A sua mãe idosa atestou que não acordou se sentindo muito bem do estômago, tomou um chá e ficou no seu quarto assistindo TV. A cozinheira disse que chegou às 8h e teve que fazer uma canja para a senhora que estava mal do estômago e não parava de azucriná-la.
O vizinho de D. Lucinha alegou que teve reuniões online durante a manhã e que os gritos do papagaio o incomodaram como sempre até umas onze horas, quando ele não aguentou mais e parou de trabalhar.
Ágatha havia observado que a gaiola estava no local de sempre e que a corrente não havia sido arrebentada, ou seja, alguém havia soltado a ave. Ela notou também que havia uma trilha de penas verdes que seguiam pela varanda, passavam pela sala e seguiam para a cozinha.
Destampando a lata de lixo, ela matou a charada. O almoço da velhinha havia sido canja de papagaio.
Total de palavras do conto: 560
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