Capítulo 20
Aguinaldo estava devidamente traumatizado. Depois de ter sido pego no flagra por seu pai enquanto beijava Emê de Martnália, ele pensou que a situação não poderia ficar pior. O interessante é que o que já está ruim sempre pode piorar, e foi o que aconteceu.
— Então… como é seu nome mesmo, moça? — Juvenal cruzou os braços e encarou Emê da forma mais acusatória possível.
Pouco antes dessa cena acontecer, ele pediu que os dois o acompanhassem até a mesa da cozinha para almoçarem juntos. Em cima da mesa estavam três marmitas pré-prontas, que foram esquentadas, e que provavelmente já tinham esfriado, pois nenhum deles tocou na comida.
— Emê de Martnália… senhor — ela respondeu, se sentindo muito desconfortável.
Aguinaldo então, estava quase explodindo de tanta vergonha. Ele encarava fixamente a marmita em sua frente, como se isso, de alguma forma, pudesse o tirar daquela situação.
— Juvenal, pode me chamar de senhor Juvenal — ele se empertigou todo ao falar, se sentindo muito bem no papel de pai de respeito.
Emê olhou para Aguinaldo e apenas concordou com a cabeça, sem saber o que falar para amenizar o clima ruim.
— Enfim… — Juvenal coçou a garganta antes de continuar. — Eu sei que vocês podem estar se sentindo constrangidos por terem sido pegos no flagra…
Aguinaldo esperou que seu pai dissesse: “por isso, não vamos falar sobre isso agora.” Ele sabia, contudo, que Juvenal nunca perderia a chance de conversar sobre esse assunto naquele momento.
— … mas precisamos conversar agora sobre o que aconteceu.
Os dois jovens suspiraram simultaneamente, de pesar.
— Vocês estão namorando? — Juvenal tentou não sorrir, tentou não demonstrar expectativa, porque imaginou que essas não fossem reações de um pai sério ao encontrar pela primeira vez, a primeira namorada de seu filho.
Diante da pergunta que não queria calar, Aguinaldo não soube o que responder. Ele queria afirmar que sim, estava namorando Emê de Martnália, a garota de seus sonhos, porém não sabia qual seria a reação dela.
Então eles se entreolharam outra vez e confirmaram com a cabeça, como se estivessem pensando a mesma coisa.
— Sim.
— Não.
Aguinaldo arregalou os olhos e olhou para Emê, ela estava olhando para ele com o cenho franzido, tentando entender o motivo do “não”.
Juvenal começou a comer, percebendo que ali se iniciaria uma discussão interessante.
— Estamos namorando? — Aguinaldo perguntou, o coração estava martelando dentro do peito.
— Não estamos? — Emê rebateu.
— Como ainda não conversamos sobre isso, pensei que você não fosse querer que eu dissesse que sim.
— Bom, não sei você, mas eu não saio por aí beijando qualquer pessoa, a não ser que seja meu namorado.
Os olhos dos dois ainda estavam um no outro, meio confusos, meio em êxtase, sem saber como reagir.
— Então, basicamente, vocês estão namorando? — Juvenal se intrometeu.
— As evidências indicam que sim — Aguinaldo confirmou e tentou disfarçar um sorriso.
Emê deu de ombros e fingiu não se importar. Ela não queria demonstrar muito entusiasmo, afinal, estava na frente do pai de Aguinaldo, do pai de seu namorado. Com esse último pensamento, Martnália acabou soltando uma risada que mais se pareceu com um guincho de porco.
— Me conte mais sobre você, Emê de Martnália — Juvenal pediu, enquanto se deliciava com a situação.
Esperou tanto por esse momento, e tudo parecia acontecer exatamente como desejou. Por isso, se sentia muito satisfeito.
— Er… O que quer saber, senhor Juvenal? — Essas perguntas pessoais sempre eram embaraçosas para ela.
— Seus sonhos, objetivos, sua família… as coisas que te definem.
Ela pensou por alguns segundos antes de responder, não era todo dia que alguém como o pai do seu namorado chega fazendo perguntas tão delicadas. E se fosse sincera, Emê tinha medo que Juvenal não achasse que ela era boa o suficiente para seu filho, que encontrasse o problema que seus pais identificaram desde sempre.
— Eu sou a levantadora oficial do time de vôlei feminino do colégio, e pretendo continuar seguindo essa carreira como profissional no futuro… Minha família mais próxima são meus pais e minha irmã mais velha… E as coisas que me definem são… essas.
A garota olhou para Juvenal, e o homem apenas estava a escutando. E quando percebeu que ela não tinha mais nada para dizer, sorriu.
— Então você joga vôlei, que interessante. Bem que pensei que você seria ótima para esses esportes, pela sua altura. Você tem pinta de jogadora de vôlei.
Com esse comentário, Emê não conseguiu segurar o sorriso e agradeceu. Era sempre um prazer ouvir que só de vê-la, as pessoas já sabiam sobre seu esporte.
— O Aguinaldo não gosta muito de esportes, só fica assistindo partidas de beisebol, por horas seguidas, é super sem graça, prefiro vôlei.
— Eu concordo totalmente! O beisebol não é para mim, nunca entendi totalmente o objetivo de jogar aquilo.
— Até que enfim alguém que me entende! — Juvenal suspirou e levantou as mãos para o ar.
Aguinaldo revirou os olhos, mas por dentro estava feliz ao ver que seu pai e sua… ele ainda achava estranho se referir a Emê como “namorada” até mesmo em pensamento, e tinha certeza de nunca deixaria de sentir as borboletas na barriga quando pensasse nisso. Enfim, ele gostou de ver a dinâmica divertida entre os dois.
— E como você prefere ser chamada, Emê de Martnália, apenas Emê, ou apenas Martnália? — Juvenal fez outra pergunta que nunca quis se calar.
— Na verdade, não me importo muito com isso. Meus pais sempre me chamaram por Emê de Martnália, e geralmente as pessoas é que decidem se preferem Emê, ou Martnália, o que fica mais fácil. — Ela deu de ombros.
— Que desperdício, um nome tão criativo, perfeito para ter um apelido! — Juvenal balançou a cabeça e Emê riu. — Mas já que você não se importa, prefiro Emê.
No fim, eles se deram bem e o que estava ruim, ficou um pouco menos pior para Aguinaldo. A conversa se tornou agradável, e quando começaram a falar sobre vôlei, ficaram até exaltados.
Depois de algum tempo, Martnália avisou que deveria ir embora, e Juvenal concordou que era hora de voltar para o trabalho. Por isso, ele acabou voltando para o escritório e deixou os dois jovens e recentes namorados juntos.
— Então… — Aguinaldo tentou falar algo interessante, mas não soube o que dizer.
Era sua primeira namorada, a pessoa por quem nutria sentimentos a pouco menos de um ano. Sua mente estava entrando em curto circuito, como constantemente acontecia quando ela estava por perto.
Emê até achava engraçado a falta de jeito dele, por isso, se aproximou e depositou um beijo na bochecha de Aguinaldo, o deixando ainda mais atordoado.
— Preciso ir, a gente se vê de noite.
A consciência de Aguinaldo voltou subitamente.
— De noite? — Ele perguntou.
— Sim, na casa da Elcione. Ela me chamou para a noite de jogos de vocês.
Seus olhares se encontraram e sorriram um para o outro. Ambos sentiam que nunca se cansariam disso: da forma como se sentiam especiais e queridos apenas com um olhar.
— Então nos vemos lá — Aguinaldo concordou e sorriu.
Ao ver Emê se afastar, ele esperou pelo momento da queda, pelo momento em que iria perceber que tudo não se passou de um sonho. Nenhum dos dois sabia que de sonho essa situação não tinha nada, estava mais para um pesadelo, se esgueirando pelas frestas, esperando o momento certo para eclodir.
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Oiê! 🤠
Quem é vivo sempre aparece, mesmo que seja 84 anos depois 🙃
Se você está lendo esse capítulo, preciso expressar minha gratidão! ❣️
Imagino que possa ser desanimador ler uma história que quase nunca tem atualização, por isso, muito obrigada por estar lendo esse capítulo 💖💖
E sim, finalmente, esses dois estão oficialmente juntos!! 💅
O que será que virá pela frente? 😼
Veremos...
Até a próxima 😘
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