Capítulo 11
O DIRETOR resolveu anunciar que os alunos não precisavam mais perder seu tempo na escola e podiam ir para casa. A maioria foi feliz da vida, mas Aguinaldo decidiu ficar junto com Elcione e esperar por Emê de Martnália.
— Então, basicamente você quer criar um plano para conquistar a Emê? — Elcione levantou uma sobrancelha em dúvida.
Eles estavam sentados em uma das mesas do refeitório, pois sabiam que ali seria o local perfeito para esperar por Martnália, já que para sair do ginásio ela precisava passar por ali.
— Falando assim eu fico até meio desanimado, vamos deixar as coisas um pouco mais divertidas — Beltassamo sugeriu enquanto sorria e pegava uma folha limpa e sua caneta favorita de tigre. Ele já tinha sido perdoado e também foi convidado a participar da conversa.
Rabiscou algo em seu papel e mostrou para os outros dois amigos.
— “Plano perfeito para conquistar Emê de Martnália” — Aguinaldo leu —, nossa isso ficou ridículo.
— Ah, nem vem reclamar que eu já escrevi de caneta, não tem como apagar.
Sendo assim, os três passaram os próximos trinta minutos criando um passo a passo de dez itens para conquistar Emê de Martnália. É sempre bom lembrar que nenhum deles a conhecia bem o suficiente para determinar qualquer coisa, mas não devemos acabar com a felicidade de nenhuma criança.
•••
Plano perfeito para conquistar Emê de Martnália:
1. Amigos devem sempre contribuir para os dois ficarem sozinhos; não devem interferir quando estiverem conversando. (Aguinaldo)
2. Não dizer em hipótese alguma para ela que esse plano existe. (Aguinaldo)
3. Se colocar em situações de risco para chamar a atenção dela. Ex: o desmaio da última vez super deu certo. (Beltassamo)
4. Chamar ela para tomar sorvete, ela adora sorvete. (Elcione)
5. Perguntar para ela o que ela gosta de fazer e não confiar na Elcione. (Aguinaldo).
6. Flertar com ela. (Beltassamo)
Obs.: Flertar é simplesmente impossível [>0<] (Aguinaldo).
Obs.2: Larga de ser frouxo. (Beltassamo)
7. Comprar ataduras e pomada para machucados e dar para ela. Muito importante! (Elcione).
8. Fazer terapia para aumentar a autoestima e autoconfiança. (Beltassamo)
9. Ficar de olho em possíveis concorrentes. (Aguinaldo)
10. Chega logo nela cara! Não enrola! (Beltassamo)
•••
Suspiraram com satisfação e largaram a folha preenchida em cima da mesa.
— Acham que está bom assim? — Aguinaldo perguntou.
— Por mim nem precisava disso tudo, só o meu último conselho já está perfeito. — Beltassamo passou a mão no nariz e fingiu que era muito importante.
— Acho que vai dar certo sim Aguinaldo! — Elcione exalava animação. — Se quiser, passo na sua casa mais tarde pra gente dar uma revisada nisso tudo!
— Você pode mesmo? — Os olhos de Aguinaldo pareciam os de um cachorrinho e Elcione pensou que ele realmente parecia um em todos os aspectos da vida.
— Sim! Nós somos amigos, e você vai precisar de muita ajuda. — Ela sorriu e acariciou a cabeça dele.
— Mas quando vamos ter tempo pra isso? — Aguinaldo se preocupou.
— Relaxa cara, nós vamos ter todas as férias pra resolver essa situação. — Beltassamo olhou ao redor e viu que os alunos que estavam no ginásio começaram a sair. — Ela está vindo!
Os outros dois olharam na mesma direção que ele, e de lá vinha Emê de Martnália. Estava acompanhada de alguns outros colegas, mas eles falavam mais do que ela. E quando Emê levantou os olhos e viu os outros três esperando por ela, até deu um sorrisinho que tentou disfarçar antes de ir até eles.
— Oi pessoal! — Ela se sentou ao lado de Aguinaldo na mesa e os outros a cumprimentaram.
Emê estava com o cabelo curto preso, o que deixava alguns fios soltos em sua nuca. E por ter acabado de tomar um banho depois do treino, exalava um cheiro inebriante de perfume do sabonete. Todas essas coisas atingiram Aguinaldo em cheio de uma só vez e ele quase desmaiou outra vez. Ele nem conseguia entender o que eles estavam conversando, seus olhos só conseguiam olhar para a nuca dela e todos os seus sentimentos estavam em festa por causa da proximidade entre eles.
— Ainda vamos nos encontrar nas férias não é? — Beltassamo perguntou e se controlou o máximo que pode para não zombar de Aguinaldo que não conseguia tirar os olhos da nuca de Martnália.
Talvez por ela estar bem ao lado dele não conseguisse ver, mas como Beltassamo estava de frente para eles, era bem visível.
— Nós não vamos poder — Martnália respondeu e olhou para Elcione. Além dela mesma, ninguém entendeu o “nós”. — Digo, eu e a Elcione.
— Por que não? — Aguinaldo se desesperou.
Ela olhou para Aguinaldo e por alguns instantes ficou em silêncio, apenas o encarando.
— O vôlei. Ano que vem já é o nosso penúltimo ano, precisamos nos classificar para as regionais — Emê respondeu.
— É isso mesmo, Elcione? — Beltassamo perguntou olhando para a outra garota que ainda não havia se pronunciado.
Elcione engoliu em seco, tinha acabado de falar que iria ajudar Aguinaldo com a conquista, mas realmente havia se esquecido desse pequeno detalhe. Os três olharam para ela esperando uma resposta. Ela engoliu em seco mais umas três vezes antes de responder:
— Bem… é verdade sim — olhou para Aguinaldo —, mas o que nós combinamos ainda está de pé!
Aguinaldo já levou a mão ao rosto e suspirou, se arrependendo amargamente de ter confiado em Elcione. Entre Beltassamo e ela, ninguém saberia dizer quem é mais língua solta.
— Vocês combinaram alguma coisa? — A pergunta de Martnália gelou a espinha dos outros três.
Aguinaldo olhou para Elcione em busca de apoio e ela apenas deu de ombros sem saber o que fazer.
— É... — Ele respondeu e abriu um sorriso falso e torto.
— O Aguinaldo me pediu ajuda em uma parada aí. — Elcione também tentou explicar.
Aguinaldo revirou os olhos ao perceber que ela só iria piorar a situação. Beltassamo apenas assistia tudo de camarote.
— Ajuda? O que é? — Martnália insistiu.
Aguinaldo e Elcione olharam para Beltassamo em busca de socorro, mas se esqueceram que ele também não batia bem das ideias e que tinha várias maneiras de piorar aquilo ainda mais.
— É em matemática — Beltassamo falou.
Novamente, todos ficaram em silêncio. De todos os motivos possíveis, esse era um muito ruim. Era de conhecimento geral que Aguinaldo era o melhor aluno da turma em matemática e ele sempre estava ajudando seus amigos a entender algum ponto ou passando as respostas dos exercícios. Por isso, Aguinaldo já estava entrando em desespero outra vez.
Emê de Martnália franziu o cenho e olhou para Aguinaldo ainda mais confusa.
— Você, precisando de ajuda em matemática? — ela perguntou.
— É. — Aguinaldo engoliu em seco as pedras que apareceram magicamente em sua garganta.
— E pediu ajuda pra Elcione?
— Sim.
Ela olhou para os três com muita descrença e sorriu, pensando que de tão ridículo, era até engraçado.
— Já que vocês vão mentir, pelo menos inventem uma mentira que faça sentido. — Ao dizer isso, se levantou e esperou pela última vez que contassem a verdade.
— Eu falei sério, ele precisa de ajuda na matemática da vida. — Beltassamo abriu um sorriso quase convincente e olhou para Aguinaldo. Do outro lado da mesa, Aguinaldo só queria que ele calasse a boca.
Então Emê se virou para Elcione, que escorregou até o final da cadeira. Emê tinha certeza de que Elcione não conseguia guardar segredo, dela principalmente.
— O que vocês estão escondendo de mim? — Ela perguntou olhando fixamente para Elcione.
Elcione respirou fundo, uma guerra acontecia em seu cérebro. Dois amigos seus queriam que ela fizesse coisas opostas, ela nunca tinha passado por uma situação tão difícil assim. Por fim, desviou os olhos para Aguinaldo, e se lembrou do quanto ele precisava da sua ajuda, e que se o ajudasse, estaria ajudando Emê também.
— Não é nada — Elcione decidiu responder.
Martnália suspirou e andou até ficar ao lado de Elcione, pegou a mão da outra e colocou entre as suas, pressionando levemente. Se alguém perguntasse, ela não saberia dizer o motivo de estar insistindo tanto para saber sobre aquilo. Na maioria das vezes, ela não estava nem aí para nada, mas dessa vez… algo a incomodava, e muito, ao imaginar Elcione e Aguinaldo fazendo algo juntos sem ela.
— Ei, você prometeu que não me esconderia nada — Martnália falou com sua voz suave e chantagista.
Elas se encaram por alguns segundos em um tipo de conexão maluca e Elcione suspirou. Nesse instante, Aguinaldo percebeu que Elcione iria ceder. Foi visível o momento em que seus ombros perderam a rigidez, e caíram ao lado do corpo e ela quase se amoleceu toda. Aguinaldo sabia que se não agisse rápido, Elcione iria contar tudo. Então ele se levantou e entrou na frente de Martnália.
— É coisa nossa. — Ele puxou a mão de Elcione para si.
Martnália olhou para as mãos dos dois juntos, levantou a olhar para o rosto de Aguinaldo, e depois voltou para as mãos juntas. Recolheu sua própria mão e segurou as alças da mochila nos dois lados da cintura.
— Pensei que você gostasse de mim — Ela jogou essas palavras na cara de Aguinaldo e foi embora sem esperar mais ninguém.
Outra vez, o silêncio reinou entre Beltassamo, Elcione e Aguinaldo. Eles estavam pasmos pelo que tinha acabado de acontecer. Logo Emê de Martnália, que sempre se mostrou indiferente à maioria das coisas, agiu de uma maneira tão infantil a algo que aparentemente era fútil.
— Que merda acabou de acontecer aqui? — Beltassamo expressa o que todos os três pensavam.
— Eu não faço a menor ideia. — Aguinaldo balançou a cabeça lentamente, para um lado e para o outro.
— Aguinaldo — Elcione abriu um sorriso enorme —, vamos jogar aquele plano idiota fora.
— O quê? Por quê?
— Acho que a Emê de Martnália acabou de ficar com ciúmes de você.
Os dois se entreolharam, e começaram a rir do absurdo que era aquilo estar acontecendo justamente com Aguinaldo.
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E aí gente!?🤠
Emê estava ou não estava com ciúmes do Aguinaldo?
Minha humilde opinião: ela tava sim!
Mas... Vamos esperar pelos próximos capítulos para descobrir 😏.
Só posso garantir que daqui pra frente é só ladeira abaixo viu? 👀🍿
Muito obrigada por ter lido, comentado e votado até aqui! 💖
Até o próximo capítulo 😘😘
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