Capítulo 1 - PASSADO COMPLICADO
Eu estava, mais uma vez, sentada a uma mesa, ladeada por críticos literários e amantes de literatura. À nossa frente, uma plateia lotada que esperava para me ouvir falar sobre meu novo sucesso de vendas. Dessa vez, um romance policial cheio de sangue, ação, sexo e violência.
As pessoas gostavam disso.
Em meus vinte e cinco anos de vida, amando a literatura desde criança, aprendi a notar o tipo de literatura que estava em alta para diversos públicos. Essa minha visão, digamos assim, foi muito útil quando me tornei escritora.
Meu primeiro livro publicado foi uma ficção adolescente que explodiu em vendas, tornando-se best-seller nacional em um ano e a partir daí se espalhando para países de todo o mundo.
Eu tinha vinte e um anos.
Algumas pessoas poderiam dizer que uma mulher com essa idade é nova demais para conseguir obter tanto sucesso, mas com a ajuda das pessoas certas eu consegui. Agora, quatro anos mais tarde, esse era meu sétimo livro publicado e eu era uma das autoras mais aclamadas por públicos de todas as idades.
Além disso, um dos meus livros já havia recebido adaptação para o cinema, teria sua estreia dali a dois meses e outro livro estava em processo de adaptação, iria começar as gravações na próxima semana.
Meu contrato com a editora tinha uma cláusula que declarava, em caso de meus livros terem os direitos vendidos ao cinema, que eu tinha o direito de participar do roteiro, direção e escolha da trilha sonora e dos atores que eu achasse que combinavam melhor com meus personagens. Caso essa cláusula não fosse cumprida por parte do estúdio cinematográfico, eu poderia rescindir o contrato, negando-lhes o acesso à minha obra. É claro que isso foi conquistado com muita insistência minha e pressão dos meus advogados.
Mas estou me adiantando muito. Para que vocês entendam minha história, será preciso voltar no tempo pouco mais de uma década.
Minha família é, como grande parte das famílias americanas, disfuncional.
Meu pai, Richard Carter Grimmer, é um grande empresário americano, dono de uma das maiores multinacionais do país. Minha mãe, Margareth Verena Ruschel, é uma empresária alemã cuja família imigrou para os Estados Unidos quinze anos antes do meu nascimento.
Eles se divorciaram quando eu tinha doze anos.
O motivo era o mesmo de sempre: traição. Meu pai, um homem duro e controlador, era também conhecido por sua beleza. Com 1,80m de altura, cabelos loiro-escuros, pele clara, olhos azuis sedutores, isso por si só já era motivo de admiração pelo público feminino, mas o fato de ser bilionário atraía para ele uma legião de amantes.
No início foi difícil para mim e para a minha irmã mais velha, Samanta, que era muito apegada ao papai e, sem dúvida, a filha favorita dele. Com sua personalidade forte, ficou muito revoltada quando mamãe arrumou nossas coisas e saiu da mansão onde morávamos em Nova Iorque, nos levando para recomeçar a vida em uma cidade do Estado do Oregon chamada Ashland, onde sua família vivia.
Três anos mais velha que eu, Sam deu muito trabalho para nossa mãe, pois não aceitava que tivéssemos deixado uma vida de luxo e conforto para viver em uma casa com três quartos que ela considerava “pobre” em uma cidade “minúscula”, o que era ridículo. Nós nunca fomos pobres, pois o acordo matrimonial de nossos pais rendeu uma verdadeira fortuna para nossa mãe, isso fora as polpudas mesadas que recebíamos mensalmente do grande Richard Grimmer.
Mesmo assim, Samantha nunca ficava satisfeita. Gastava além do que devia, sempre queria as coisas mais caras e reclamava o tempo todo da decisão de nossa mãe. Queria voltar a morar com papai, mas outra parte do acordo entre nossos pais determinava que, em caso de divórcio, as filhas ficariam sob custódia da mãe, e os filhos ficariam com o pai.
Acontece que não tínhamos irmãos. Éramos só nós duas.
Podiam falar o que quisessem do Richard, mas se tinha algo que ele respeitava e cumpria eram os acordos. Era um homem de palavra quando se tratava de negócios. Infelizmente, isso não se aplicava à sua vida pessoal.
Nos três anos que se seguiram ao divórcio deles, mamãe usou boa parte do dinheiro do acordo para abrir uma clínica de estética e salão de beleza. Esteticista formada, Margareth abriu mão da carreira para se tornar esposa do poderoso empresário que encantara seu coração de moça romântica.
Se pudesse voltar no tempo, teria feito diferente, dizia ela. Também dizia que as únicas coisas boas do seu casamento foram suas lindas filhas.
Somos muito parecidas. Ambas temos pele alva e cabelos ondulados loiro-pérola, mas meus olhos são verdes-azulados, uma mistura dos olhos dos meus pais. Minha mãe tem 1,70 m de altura, eu sou alguns centímetros mais alta e Sam tem a mesma altura do nosso pai, além de ser a perfeita versão feminina dele, exceto pelos olhos verdes herdados da nossa mãe.
Com o passar dos anos, a clínica de estética de minha mãe foi ampliada, depois começou a fazer filiais em cidades como Portland e Eugene, e daí para cidades dos estados da Califórnia e Washington, para onde mudou sua sede, mais precisamente em Seattle. Foi assim que Margareth Ruschel se tornou uma bem-sucedida empresária multimilionária. Mas isso aconteceu alguns anos depois da parte de minha vida que quero contar a você.
Eram as férias de verão, eu tinha dezessete anos e tinha terminado o ensino médio.
Desde muito novas, minha irmã e eu éramos ensinadas a tocar piano e outros instrumentos. Samantha até era uma boa musicista, mas tinha preguiça de se dedicar, achava que não valia à pena gastar horas estudando instrumentos, pois já tinha tudo que o dinheiro podia comprar, não precisava disso.
Eu sempre tive uma bela voz de contralto, me dediquei a tocar piano, violão, guitarra e baixo. Era especialmente boa no piano e sonhava em me tornar uma cantora mundialmente famosa.
Obviamente, esse era um sonho não compartilhado com meu pai, pois, para ele, música era apenas uma forma de se ter habilidades extras, um hobby, não uma forma de carreira. Meu futuro já estava traçado por ele: eu seria sua sucessora na administração de suas empresas.
Curiosamente, apesar de não esconder que Samantha era sua preferida, meu pai não confiava o destino de seu trabalho duro a ela. Pelo contrário, sabia que ela só queria se divertir e ser famosa. Sua almejada carreira era a de Top Model. E nosso pai concordava. Porque Samantha Verena Grimmer sempre tinha o que queria.
Quando se tratava de Evelyn Leona Grimmer, porém, meus desejos e sonhos não tinham nenhum valor para meu pai. Eu seria sua sucessora, me casaria com um homem de sua confiança, aprenderia a ser forte e dura como ele e isso não estava aberto a discussões.
Então, no verão, depois de me formar na escola secundária, eu deveria arrumar minhas coisas para praticamente atravessar o país e ir estudar na Universidade de Columbia, Nova Iorque.
A essa altura, minha irmã já havia nos deixado há dois anos e estava trabalhando em uma das maiores agências de modelos do país.
Eu me sentia acuada e desapontada por não poder definir minha própria vida.
Foi então que o conheci.
Alexander Taylor era um lindo rapaz afrodescendente de sorriso encantador. Alto, dez centímetros a mais que eu, ele tinha um corpo forte de atleta, uma voz macia e perturbadora. Seus cachos negros harmonizavam perfeitamente com os olhos castanho-escuros, possuía uma presença marcante, era extrovertido, inteligente e todo mundo que o conhecia gostava dele.
Estava acompanhando minha melhor amiga a uma festa de alunos recém-formados quando o vi pela primeira vez. Fiquei encantada no mesmo instante.
Ele tocava um violão, os dedos habilidosos deslizando pelas cordas de um jeito que só alguém absolutamente apaixonado pela música pode fazer. Eu não conseguia desviar os olhos dele. Era impressionante como sua expressão parecia enlevada pela melodia.
— Nossa! Mas que pecado ambulante é esse? — Julie falou, se abanando com a mão enquanto admirava o moreno tocando. — Estou ficando com calor!
Eu olhei para a minha amiga por um momento.
Pequena, dez centímetros menor que eu, Julie Sanders tinha uma pele perfeita, escura como a de Alexander, exibia curvas sensuais e era o tipo de pessoa que não tem filtros. O que ela pensa é o que sai de sua boca. Isso nunca mudou.
Nos conhecemos quando me mudei para Ashland, nos demos bem logo de cara e nunca deixamos de ser amigas. Por algum motivo que nunca pude entender, eu fui facilmente aceita pelos meus novos colegas de escola, as pessoas pareciam gostar de mim, mesmo que eu, às vezes, fosse impulsiva e mal-humorada.
Minha irmã, por outro lado, não conseguia se enturmar. Mesmo meus colegas não se agradavam da presença dela, ainda que gostassem de garotas mais velhas. Samantha quase nem tinha amigos de sua idade, o que a deixava mais frustrada e revoltada contra nossa mãe.
Julie foi a responsável por tornar minha transição suportável, me alegrando com seu jeito expansivo.
Ela olhava o rapaz tocando e eu olhava sua troca cômica de expressão.
— Ele está te olhando de cima a baixo, como se quisesse te devorar — ela comentou, me dando um sorriso enviesado.
— O quê? — Eu fiquei surpresa.
— O moreno gostoso com o violão — esclareceu ela. — Está te admirando sem nenhuma vergonha.
Eu olhei para cima e nossos olhares se encontraram.
Baixei os olhos, corando. Ele realmente estava me encarando.
Sem responder, fui procurar um lugar para sentar e Julie me acompanhou.
— Uh-oh — ela murmurou quando sentamos a uma mesa com dois colegas nossos. — Ele te segue com os olhos, parece observar cada movimento teu. — Sua voz parecia admirada.
Eu olhei para cima de novo. Ela estava certa.
Ele sorriu para mim e eu fiquei totalmente envergonhada. Vermelha como estava, tal qual um tomate maduro, decidi retribuir o sorriso lindo e contagiante dele.
Quando a canção que tocava acabou, vi-o se levantar e guardar cuidadosamente o violão na caixa, quase com adoração.
Então, como se fosse a coisa mais natural do mundo, ele andou até nós e estendeu a mão para mim, convidando-me para dançar. Eu fiquei surpresa com sua atitude, mas pensando bem, não deveria, pois Alexander exibia uma autoconfiança invejável.
— Desde que entrou por aquela porta, não consegui parar de olhar para você — ele disse, e sua voz de tenor suave enviou calafrios pela minha coluna. — Você é a garota mais linda que eu já vi.
Eu corei furiosamente. Era uma característica que eu não gostava muito.
Minha pele muito clara sempre revelava meus sentimentos, eu ficava facilmente corada, por vergonha, felicidade, medo, raiva. Parecia que estava o tempo todo usando uma máscara de tomate. Aparentemente, isso fascinava as outras pessoas, e não seria diferente com Alexander.
— Você fica adorável com esse rosa na pele — ele sussurrou no meu ouvido, me deixando impossivelmente mais vermelha do que já estava.
— Obrigada. — minha voz estava trêmula.
— Nossa... você tem uma voz linda. Já cantou alguma vez?
— Não em público — respondi sem pensar.
— Por que não?
Eu hesitei.
— Não sei, na verdade. Canto e toco instrumentos desde os quatro anos, mas meu pai sempre considerou isso apenas um passatempo.
Alexander levou a mão ao peito teatralmente.
— Isso é uma ofensa gigantesca aos músicos.
Eu ri. Ele tinha um jeito que me fazia superar minha timidez sem nem fazer esforço.
Passamos aquela noite e os próximos dias nos conhecendo.
Filho de um franco-americano com uma afro-canadense, Alexander tinha dezoito anos e morava em Portland, mas seus avós haviam se mudado para Ashland alguns meses antes e ele foi passar as férias de verão com eles.
Como eu havia imaginado, seu talento musical era incrível, um guitarrista realmente talentoso, mesmo sendo tão jovem.
Além de tudo, Alexander era muito carinhoso, atencioso, um perfeito cavalheiro. Já se passara uma semana e meia quando aconteceu nosso primeiro beijo. Eu tinha beijado outros garotos, mas eram sempre beijos castos, mornos.
Com Alexander foi diferente.
Ele tinha um sabor picante, beijava de uma forma que me fazia sentir sensual e adorada ao mesmo tempo. Era incrível. Conforme as semanas passavam, mais apaixonada eu ficava por aquele rapaz. Eu via a forma como outras garotas olhavam para ele e ficava orgulhosa porque ele só tinha olhos para mim.
Os momentos que tínhamos eram tão maravilhosos que me fizeram esquecer o que estava reservado para o meu futuro, até que uma ligação do meu pai me fez voltar à realidade.
O mês de maio estava no fim, só faltava mais um mês para o fim das férias de verão. Meu pai queria, não, ele exigia que eu estivesse em Nova Iorque até dali a três semanas para conhecer as instalações da universidade e voltar a me habituar com o clima e ritmo da metrópole.
Eu estava em pânico. Meus sonhos nunca iriam se realizar.
Então Alexander me fez uma proposta que mudaria para sempre o rumo da minha vida.
Olá! Eu não sou muito de ficar mandando notas ao fim de capítulos, mas faço essa pausa para explicar alguns questionamentos de leitores que criticam o fato de minha personagem ter nascido rica e privilegiada, pois assim não conseguem se identificar com ela.
Não quero ser rude, mas isso é ridículo. Você também nunca irá se identificar com uma secretária pobre e de beleza comum que é notada e se casa com um CEO bilionário. Isso não acontece na vida real e, caso não tenha percebido, isso aqui é um romance fictício.
Sim, a Evelyn é uma escritora famosa e multimilionária que conseguiu sucesso aos 21 anos, e alguns podem dizer que isso é impossível, mas no contexto da vida dela e suas relações familiares, é totalmente plausível. Quando lançou seu primeiro livro, foi com a ajuda do dinheiro de sua mãe e pelos contatos empresariais dela que a obra começou a se espalhar fora do país, por isso a Evelyn teve o impulso necessário para se tornar famosa. É claro que ela é uma escritora muito talentosa, mas dinheiro é essencial para seguir essa carreira, vocês são escritores também e sabem disso.
Outra coisa que criticam é o fato de a Evelyn ser "perfeita" e a Samantha parecer ter todos os defeitos. Pensem comigo: é a Evie que está narrando. Temos a tendência de não mostrar nossos defeitos quando contamos nossa própria história, pelo menos eu admito que costumo ocultar meus defeitos e quem nunca fez isso? Quem é que chega pro crush em um encontro e sai listando seus defeitos? Ninguém. Você mostra suas qualidades para manter o interesse dele.
Quanto à Samantha, ela teve todos os privilégios como sua irmã, e até mais, porque foi livre para escolher a carreira desejada. Ela é belíssima e famosa, mas para ela dinheiro é tudo. SIM, elas são lindas, porque seus pais são lindos. Um empresário bilionário, lindo e machista como Richard Grimmer jamais se casaria com uma mulher que não fosse estonteante e a Evie é parecida com a mãe, então é óbvio que ela também é belíssima.
Para quem critica o fato de os personagens serem lindos, nas novelas os protagonistas são sempre bonitos, pense nos livros como versões melhores das novelas. Ninguém gosta de imaginar personagens desagradáveis aos olhos, se você gosta, então você é a excessão.
Beijinhos no coração e... TCHAU!
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