CAPÍTULO 6 - Família Stark
A festa havia bombado, e em todos os lugares possíveis, mesmo duas semanas depois, todo mundo ainda falava dela. Tinha sido o evento do ano e ninguém conseguia achar algum erro para poder falar mal.
Mas, ainda assim eu não estava exatamente feliz. Quer dizer, aparentemente nada naquela noite havia acontecido entre Margot e eu, bom... pelo menos pra ela e com isso a convivência indiferente era sufocante.
Outra coisa que me incomodava era aquela tal de Charlie Stark. Será mesmo que eu estava precisando de tratamento profissional, tamanha a loucura que estava a minha vida? Estaria eu ficando louco?
É. Talvez eu esteja e, ficar olhando para aquele cartão sem fazer nada parecia ser algo tão inútil que eu resolvi ir ao tal consultório. Era tudo muito limpo, branco e asséptico. Podia sentir o cheiro de desinfetante de hospital exalar pelos corredores, o que me fazia lembrar Sonic. Por quê? Não me venha perguntar o motivo.
Caminhei até a recepção da senhorita Stark e me sentei me sentindo um pouco desconfortável com tudo aquilo. Parecia que a cada movimento que eu fazia naquele sofá de couro, as pessoas olhavam pra mim como se estivesse soltando gases e tentando segurar o cheiro. Calme ok? Não era isso não.
A secretária/recepcionista me olhava de um jeito estranho, mas não dirigia a palavra a mim, enquanto digitava incansavelmente no computador sem dar atenção. Suspirei e minutos depois a porta do consultório se abriu.
— Ah, Dr. Stark... – Disse um homem baixo e vermelho enquanto chorava limpando o nariz em um paninho. Nojento. – Será que um dia isso vai passar. -
Charlie batia nas costas dele, tentando lhe consolar.
— Não se preocupe Marvin, sua mulher ainda volta para você. – Explicou ela, tentando ser solidária. Ele a olhou como se fosse o gatinho do Shrek.
— Será mesmo que a minha bonequinha lindinha cheirosinha maravilhosinha totozinha deixa aquele modelo multimilionário e volta do Caribe por amor a mim? – Charlie respirou fundo e depois de pensar um pouco assentiu. Marvin voltou a chorar enquanto ia embora. Pensei seriamente em fazer o mesmo.
Fui me levantando tentando tapar meu rosto com a revista que eu estava lendo, mas assim que eu estava prestes a atravessar a porta e sair correndo pelo corredor longe das suas vistas, ela me chamou.
— Olá, Joseph. – Droga, droga, droga. – Veio mais cedo do que eu imaginava. – Suspirei virando os calcanhares.
— Você me mandou vir no dia seguinte. – Disse a fitando nos olhos.
— Isso é irrelevante. Entre. – Disse abrindo espaço. Meu alerta de mulher doida começou a gritar: corre, corre, corre.
— Primeira consulta é de graça? – Perguntei animado. Ela sorriu meiga.
— Mas é claro que não. – Bufei revirando os olhos e entrei no consultório.
Parecia uma sala de tortura ou algo do gênero, porque era tão formal que qualquer um ali dentro começaria a pirar. Era tudo muito de madeira escura e não era legal. Ela me ofereceu o divã, e eu me deitei com as mãos no peito, enquanto ela pegava uma prancheta e sentava-se à cadeira em frente a minha.
Suspirei e ela colocou o óculo a meio nariz, me olhando de um jeito intelectual demais. Eu conhecia aquele olhar. Antes de começar a faculdade, eu pensava em fazer psicologia, mas as pessoas que cursam isso sempre são mais doidas do que os pacientes e ouvem tanta coisa que uma hora estão aponto de explodir. Meus próprios problemas já me explodem sozinho, obrigado.
— Vou fazer seu perfil psicológico, mesmo eu sabendo que o que te afeta é o fato de amar três mulheres ao mesmo tempo. – Assenti, enquanto ela escrevia qualquer coisa e olhava para mim. – Mas, para eu saber exatamente como te tratar, eu preciso saber o que aconteceu desde o começo.
— Está me chamando de doido? – Questionei erguendo as sobrancelhas, ela sorriu dando os ombros. Revirei os olhos e então comecei a contar.
Tudo começou há uns nove anos atrás. Katherine estudava na sala em frente a minha, e eu estava no primeiro ano do colegial, enquanto ela ainda estava na sétima série do ensino médio. Tínhamos alguns amigos em comum, entre eles Mike e Dave. Michael era vizinho de Kat, o que nos dava mais tempo juntos.
Ela era demais. O sorriso encantador e a voz espetacular fariam com que qualquer um se derretesse por ela com um simples "oi". O gênio forte, mas extremamente meigo, pareceria fazer qualquer um se apaixonar praticamente a primeira vista.
Saiamos sempre juntos, conversávamos por horas e nos tratávamos de um jeito tão nosso que qualquer um que visse de fora, não iria entender. Foi nessa época que começamos a ficar. O primeiro beijo dela foi comigo, no dia em que fomos para uma excursão da escola. Era uma peça de teatro no qual não me lembro de absolutamente nada. Cerca de três semanas depois, começamos a namorar.
No começo, foi um relacionamento muito difícil. Os pais dela não aceitavam por que eu era mais velho e ela só tinha treze anos. Eu sabia que era cedo, mas eu a amava desde que a vi pela primeira vez. Mas então, quase oito meses depois que começamos a namorar dona Katherine, mãe dela me chamou para um almoço em uma espécie de missão de paz, e minha mãe me levou até lá, me fazendo parecer a criança mais envergonhada do mundo. Acho que só então perceberam que eram apenas duas crianças tentando ser adultos. Ela me tratava com um filho e dizia que essa era a única justificativa para alguém do meu tamanho brincar de lutinha com a filha dela, e não porque eu gostava, mas porque até a jogar bola Katherine me ensinou.
Dois anos depois, os pais dela se divorciaram e se não fosse eu, provavelmente ela teria morrido. Katherine passava o dia inteiro em casa com os olhos inchados parecendo a ponto de entrar em depressão. Quando ela ganhou o Brutus, parecia que sua vida se iluminou, o cachorro labrador escolhido pela minha mãe pareceu trazer a alegria dela de volta.
Katherine superou os pais, e algum tempo depois disso, a gente fez algo que nunca antes havíamos tentado fazer. Nossa primeira vez pareceu ser a mais bonita, romântica e perfeita de todas. Dois meses depois, Brutus morreu atropelado.
Quando eu entrei na faculdade, outra guerra começou. Ela cantava e sua carreira já estava estourando, mas mesmo com toda a força que eu dava, nunca era o suficiente. Cursava duas coisas ao mesmo tempo, o que deixava as coisas ainda piores. Ela se sentia mal com a minha ausência, e eu pior ainda. No seu primeiro concerto eu quase zerei em um prova para poder estar lá, e eu juro que nunca a vi tão feliz e bonita como naquele dia. Semanas depois, quando eu falava ninguém mais acreditava que eu namorava Katherine Hunnigan, principalmente quando eu dizia que um de seus maiores sucessos era pra mim. Na verdade, ninguém nunca acredita quando digo que qualquer uma das músicas tem algum tipo de referência.
Katherine também tentou fazer faculdade, mas com o sucesso que estava fazendo, tudo o que conseguiu conciliar com a música foi um curso rápido de teatro. Ela sempre teve talento para esse tipo de coisa, e nunca foi uma dificuldade para ela.
Ela estava no auge e agora, quem já não tinha mais tempo era ela. Eu ia para a faculdade e ela para a aula de dança ou gravar algum clipe. Houve outra música de sucesso que foi baseada em uma briga em que nos tivemos que resultou em um término. Quase morri. Pra todo lado era Katherine Hunnigan, na TV, na Internet, nas Rádios, tudo! Mesmo eu querendo fugir de suas lembranças elas me perseguiam por onde quer que eu fosse. Fiquei doente, não queria comer e só ficava dormindo, e então certa noite minha mãe deitou-se ao meu lado, me abraçou com força e disse que me amava, e quando acordei, Katherine estava do meu lado sorrindo como um anjo. Minha recuperação foi quase imediata.
Passaram-se seis meses desde então, e foi quando conheci Margot num corredor da faculdade, a gente se esbarrou e eu quase quebrei o pé dela com um pisão. Eu já estava terminando o curso e para ela ainda faltava mais de um ano. Viramos amigos e eu a levei a um show de Katherine. Ela me beijou na primeira fila, enquanto no palco minha namorada termina de cantar nossa música. Ao olhar para ela e vê-la limpando uma lágrima, reconheci o verdadeiro significado daquela letra.
No camarim, mesmo tentando explicar, ela jogou por água abaixo seis anos de namoro. Durante quase dois meses, não se falava de outra coisa. Todos me paravam para perguntar o porquê do término com a diva do momento e eu queria fugir. E foi então que Margot entrou.
Ela falou com Katherine, mas todos já estavam saturados daquela situação, e mesmo eu tentando contornar aquilo tudo, já não tinha mais jeito. Margot me amava, e eu estava começando a sentir o mesmo por ela. Talvez, desistir de Katherine fosse à coisa mais sensata a se fazer e seguir em frente.
Quase seis meses depois do primeiro beijo, houve a primeira vez para que no dia seguinte o nosso namoro engatasse. Foi um ano muito bom. Margot era perfeita. Ela me conhecia e sabia exatamente como me convencer a fazer o que ela quisesse, por isso quando terminou a faculdade nós compramos a revista. Foi incrível como aquilo deu certo. No primeiro ano já era mais vendida, entrando com assuntos conceituais e do momento, sem ser maçante ou menos do que divertida. Nossas ideias eram inovadoras, chamavam atenção. Margot e Katherine viraram uma espécie estranha de amigas, por conta disso, e mesmo depois de dois anos depois do nosso fim, a morena ainda mexia comigo. Margot sabia disso, assim como Katherine, mas apesar de tudo, eu nunca largaria Margot, eu a amava incontrolavelmente, e só de olhá-la meu sorriso já se alargava e não conhecia nada melhor do que estar do lado dela.
Mas então, a prima de Dave apareceu. Summer parecia uma boneca, era a garota mais linda e meiga que já havia visto em toda a minha vida. Quando ela não sabia o que falar simplesmente sorria e tudo estava explicado.
Um pouco antes de Margot e eu completarmos um ano e sete meses, nós brigamos feio. Summer tentou me fazer voltar com ela, mas eu já não sabia como. Nossa relação havia se tornado insuportável, e já não sabíamos como mudar aquilo, com isso, veio o fim. Naquela noite, fui até sua padaria recém conformada e quando ela havia terminado de dispensar o último funcionário da Cupcake eu a beijei. Ela ficou sem palavras, mas algo começou a fluir e quando vimos, namorávamos, e a relação perfeita e cheia de amor, que contagiava todos a nossa volta. Summer era engraçada, bonita e doce como os seus bolos, mas como sempre, eu consegui estragar tudo.
Quando Katherine ganhou um disco de platina, Margot e eu ficamos responsáveis por cobrir o evento. Mike e Dave estavam tão animados com a festa que acabei indo no embalo e bebi mais do que a conta. Perdi meu celular na bolsa de Margot e nesse mesmo dia, Sun havia sofrido um pequeno acidente de carro e quando me ligou para avisar do ocorrido, Margot estava com o novo namorado e atendeu, fazendo Summer entender tudo errado. Eu fui avisado por Dave, fui ao hospital, mas ao chegar lá, já tinha explicação que resolvesse. Para uma garota como Summer, a única coisa que realmente importava era a confiança e isso não existia mais.
Depois disso, foram quase um ano até os dias atuais.
Quando eu terminei de contar, Charlie me olhava com curiosidade. Suspirei esperando que ela me desse algum tipo de remédio de memória para eu poder esquecer tudo aquilo e seguir a vida feliz, sem me preocupar com o quão idiota eu era.
— E então? – Quis saber. Ela suspirou, coçando a cabeça.
— Ainda bem que eu cobro por hora. - Revirei os olhos e ela riu. – Você tem uma extensa ficha amorosa. – Assenti fazendo bico. – Principalmente com Katherine, a história é bonita, com Margot também, e com Summer só prova que você é um grande cretino.
— Vai adicionar isso ao meu perfil psicológico? – Perguntei franzindo o cenho.
— Ainda estou pensando. – Disse dando os ombros. – Talvez coloque perfeito idiota, mas cretino é ofensivo. – Arremessei uma almofada nela. – Acho que agressivo também vai parar aqui.
— Sem comentários. – Respondi cínico. – Acabou?
— Não. – Ela se levantou e foi até a mesa e me trouxe um caderno. – Toma. – Olhei para aquilo com tanto asco que provavelmente deve ter achado que eu estava pensando que aquilo era uma bomba. – Não é uma bomba!
— Como tem tanta certeza? – Perguntei desconfiado.
— Tem flu-flu. – Ótima explicação. Maneei a cabeça.
— Então o que é?
— Um diário. – Olhei bem para a cara dela, antes de ter um ataque de riso mais cínico que eu já tive em toda a minha vida.
— Quantos anos mesmos são necessários para cursar psicologia? Cinco? Ok, você realmente comprou o seu diploma. – Ela me bateu com o caderno.
— Eu sei o que estou fazendo. – Disse firme. – Quero que escreva aqui tudo o que gostaria de falar, mas não pode. — Peguei o caderno com certo descaso.
— Espero que tenha um estoque. – Disse sorrindo, começando a folhear aquilo. Era toda e tinha pompom coloridos.
— Eu sei o que estou fazendo. – Respondeu de novo.
— Isso vai me ajudar em exatamente em que? – Perguntei erguendo as sobrancelhas.
— Não sei. Preciso saber de que tipo de gente eu estou lidando. – Disse.
— A informação dos seus pacientes não são o suficiente. – Questionei a fazendo revirar os olhos novamente. Querida, eu abri minha vida pra você e tudo o que você tem pra mim é o diário da Barbie? Eu me recuso a pagar por isso!
— Não. Nunca foi. Agora vamos. Quero tomar um café. O que acha de passarmos na Cupcake? – Perguntou pegando seus pertences, jogando os que estavam espalhados dentro da bolsa.
— Acho que você é uma estranha muito estranha. – Disse levantando e ela abriu a porta. Sai e ela foi atrás de mim.
A Cupcake estava movimentada como sempre. Eu me senti desconfortável estando ali com a minha psicóloga, já que ninguém sabia que aquilo era para fins extremamente profissionais. Suspirei me sentando e um dos funcionários de Summer veio nos atender. Sorri, enquanto ele anotava o meu pedido, mas esse sumiu quando Charlie pediu algo tão estranho que eu fiquei com uma cara de assustado por saber que tinha o que ela havia pedido ali.
— O que você acabou de pedir... – Disse enquanto observava o garçom se afastar. – É comestível?
— É. Indiano. O nome é Tchai. Você iria gostar, experimenta. – Disse sorridente. Eu ergui as sobrancelhas, lhe olhando com minha melhor cara de sorridente. Não confiava em nada com nomes difíceis de pronunciar.
— Não. É indiano. Lá, as mulheres no qual convivo são vacas sagradas. – Falei como se fosse à melhor explicação do mundo. Na verdade, não era, já que Summer estava bem atrás de mim e jogou a bandeja com extrema força sobre a mesa com uma expressão muito, muito, muito nervosa.
— O que você quer dizer com mulheres que você convive, Ucker? – Perguntou a loira com cabelo no rosto. PARABÉNS, JOSEPH!
— Quero dizer que você não está inclusa, amor da minha vida. – Respondi sorrindo. Ela tentou jogar a bandeja em cima de mim, mas tinha coisa em cima. – Te amo, Summer. – Ela me ignorou, provavelmente imaginando como iria me matar dessa vez. Suspirei. – Ei, Sun, essa aqui é Charlie... – Disse apontando para a psicóloga que olhava Summer com curiosidade.
— Ei, eu acho que te conheço... – Charlie começou, mas antes de poder terminar, Summer se virou para ela muito rapidamente lhe queimando com os olhos.
— Não queridinha, se eu te conhecesse com certeza você não estaria no meu estabelecimento. Passar bem. – Respondeu saindo dali quase correndo.
— Out. – Disse impressionado com a menina, ainda observando enquanto ela entrava na cozinha furiosa. – Se o seu tratamento der certo, eu prometo que dou seu número para ela.
— Ela irá precisar... Mas, de verdade... Eu acho que conheço aquela garota... Mas, de onde? – Perguntou a si mesmo, questionadora. Talvez do inferno, de onde todas as mulheres vieram, com certeza.
— Talvez do fantasioso mundo de Charlotte Stark. – Disse sorridente. Ela sorriu junto comigo.
— É isso... – Ela pareceu lembrar. Nesse momento a campainha de sino apitou informando que mais um cliente havia chegado. Summer voltou da cozinha, dessa vez menos nervosa para atender o cliente. Charlie continuou. – Eu já sei de onde a conheço!
— STAAAAAAAAARK! – Summer gritou me fazendo erguer o pescoço para ver. Charlie se virou, pensando que tinha chamado ela, mas antes terminou de responde:.
— Ela é a namorada alérgica do meu irmão! – Exclamou.
Eu não tive tempo de olhar para a cara de Charlie, já que estava muito pasmo enquanto assistia Summer engolindo um carinha magrelo de cabelos pretos na frente de todo mundo.
Ok. Agora meu arqui-inimigo é irmão da minha psicóloga. Cadê meu diário? Quero falar mal dessa família já que em público eu seria preso.
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