CAPÍTULO 11 - Hora do show
Luzes, flash, câmeras, pessoas e barulho. Era tudo o que resumia o último ensaio antes da premiação da melhor influencia literária moderna do ano. Vulgo, revistas. Era um evento e tanto para apenas algumas folhas de papel extrafino. Era incrível como a palavra escrita pode mudar a visão das pessoas, mesmo que a falada possa ir bem mais além.
— Um, dois, três, quatro. – Dave disse sentado no chão do palco principal enquanto Katherine contava o espaço que teria para suas danças loucas. Ela estava com saltos extremamente altos e uma saia esvoaçante e me perguntava como uma coisa não enroscava na outra e ela não saia tropeçando em qualquer coisa que houvesse no caminho. Eu no lugar dela estaria me estrangulando com aqueles panos no primeiro passo que desse.
— Tá tudo pronto? – Perguntou aos berros da plateia e os dois pararam o que estavam fazendo por um momento.
— Não. Mas está quase, xuxuzinho. – Dave falou colando o indicador e o polegar um no outro para indicar um “ok”.
— Não em público, Dave, por favor. – Pedi colocando a mão no rosto, olhando para os lados vendo se não havia ninguém olhando para a gente.
— É assim que você me trata depois de ontem, Joseph? – Gritou, ficando de pé e colocando as mãos na cintura batendo o pé no chão. Cadê o meu chicote, para eu meter na bunda daquela coisa? Peraí. Melhor não, vai que ele gosta? Uma vez ouvi Dave cantando “um tapinha não dói” em uma situação muito constrangedora e depois disso evitei bater nele.
— Quer parar? – Pedi em um grunhido.
— O que? – Katherine disse tão alto quanto ele. – Joseph, você me decepciona, como pode tratar ele assim depois de tudo o que aconteceu ontem? – Perguntou abraçando Dave que fingia chorar, repousando sua cabeça em seu ombro. – Eu jurava que você era mais homem do que isso, independente da sua opção sexual, eu pensava que você poderia fazer algo melhor por ele. Eu pensava que você era o cara certo para estar junto de Dave, mas estou totalmente enganada! Vem cá, Dave, não chora! – O abraçou alisando seus cabelos.
— TEM JORNALISTAS AQUI!
Katherine soltou Dave e os dois começaram a rir descontroladamente como se aquilo tivesse tido graça. Revirei os olhos fazendo bico. Minha imagem social não precisa mesmo ser mantida, não é mesmo? Degradação pública foi o que eu sempre sonhei.
— Terminaram? – Cruzei os braços e olhei no relógio. – Já são quase duas horas. – Katherine arregalou os olhos e começou a pegar as coisas que estavam no chão. – O que foi?
— Nada, nada é que eu... – Dizia recolhendo as coisas desesperadamente. Franzi o cenho olhando para Dave que deu os ombros.
— Katherine? – Chamaram e ela parou no mesmo momento antes de se virar. Sua cara lhe denunciava. Virei-me na mesma direção que ela, e no canto do palco, recostado em uma estrutura, Stark a olhava com uma cara séria o que dizia que ele não estava bravo, nem triste, mas também não estava feliz. Os olhos verdes a fitavam de modo que eu não podia distinguir o que era. – Tudo bem? Dave, Joseph. – Nos cumprimentou com um aceno de cabeça, já que suas mãos estavam enfiadas no bolso do jeans.
— E aí. – Falei e ele foi até o palco, descendo os degraus que havia ali, ficando do meu lado ainda olhando para a morena estática.
— Katherine, você não está com fome? – Perguntou para ela, mexendo nos cabelos. – Não sei, por que eu estava morrendo de fome, sabe? Mas ai, eu fui almoçar. Sozinho. Enfim, se eu fosse você, iria comer, é sempre bom manter a alimentação regrada. Mas tanto faz, você não cumpre muito os seus horários mesmo. – Deu os ombros, antes de se voltar para mim e para o Dave. – Não é verdade? Vocês que a conhecem bem, devem saber disso. Eu não sei, já que não a conheço. Enfim— Sorriu dando os ombros. —, tchau.
Ele travou o maxilar antes de olhar para ela e dar as costas. Dave abriu a boca como se tivesse entendido tudo e olhou para a menina batendo os pés como havia feito comigo. Eu ainda estava sem saber o que havia sido aquilo.
— Não fala nada. – Ela disse erguendo os dedos.
— Safada! Você não me falou nada depois daquilo! – Disse ele, lhe repreendendo com o olhar. – Você me decepcionou Hunnigan.
— Cala a boca. – Ela dizia enquanto voltava a pegar as coisas no chão.
— Eu realmente não acredito nisso. – Falei a fazendo parar de novo. – Katherine Hunnigan ex Uckermann! Como se atreve? Eu não acredito que você está...
— Shhhhhhhh! – Colocou o dedo na boca pedindo silencio. – Fica quieto!
— Saindo com o Stark. – Disse com um sussurro. Ela revirou os olhos. – Estou chocada! – Falei, subindo no palco, fazendo a mesma pose que o Dave. — Você partiu meu coração! Nunca imaginei que você seria capaz de fazer isso comigo. – Funguei me debruçando em Dave, imitando a cena anterior. Como assim ela está fazendo isso? EU SOU O MELHOR AMIGO DAQUELE MACACO DE ASA! Ela tem a obrigação moral de me contar todos os seus romances.
— Cala a boca! – Ela pediu de novo, com sangue nos olhos. – Isso morreu aqui, entendeu! – Disse apontando o dedo na minha cara.
— Ui. – Ergui as mãos como quem se rendesse. – Ela tá brava, querendo esconder o romance.
— Cala a boca! – Gritou novamente, e ri. – Ninguém pode saber disso, muito menos a imprensa e a Summer! Ele é ex dela. – Afirmou e eu revirei os olhos.
— Mas eles terminaram.
— Você nunca levou isso à sério depois de ter terminado comigo e companhia, certo? – Engoli a seco e não respondi. Não vos jogar as merdas dos amiguinhos na cara, vamos? – Pois é, então, por favor, keep a secret. – Piscou antes de pegar sua bolsa e seguir até seu camarim que por sinal ficava na mesma direção que Stark havia ido.
— Ei. – Dave me chamou ao ver que eu observava o lugar para onde Katherine havia ido um tanto quando pensativo. Voltei-me para ele, erguendo o queixo para que prosseguisse. – Você gosta do rapaz? – Dei os ombros.
— Depois que ele terminou com a Sun parei de pensar sobre. – Ele deu os ombros também, mas eu sabia que queria falar mais alguma coisa. — O que você tem a dizer, Dave?
— Não sei. – Deu os ombros. – Só que... Perseguição, não? Mas, e a Margot, vai bem? – Então deu as costas assoviando como se tudo fosse fácil e simples. Ergui a sobrancelha, sem entender o que ele queria dizer com aquilo.
Perseguição? Stark? Margot? Oi?
Não, espera. Stark pegou Sun. Stark pegou Katy. Stark ainda não pegou Margot. Stark pegou todas as minhas ex-namoradas. Stark pegará Margot.
— DAVE! – Gritei saindo atrás da rapariga que começou a correr desesperadamente a me ver indo atrás dele. O puxei pela gola da blusa e ele teve de parar para não morrer enforcado.
— Olha a Maria da Penha, amor, eu posso te denunciar por agressão à donzelas.
— Ou você pode me dizer o que quer dizer com aquilo. – Afirmei. – Dave, Stark está saindo com a Margot? – Subi a sobrancelha e ele revirou os olhos.
— Não, mas é uma possibilidade. Está seguindo uma lista, não está? Só falta ela. – Deu os ombros.
— Não me deixe inseguro! – Gritei. Adeus autoestima. Adeus autoconfiança.
— Converse com ele, oras, simples assim. – Sorri nervosamente e o larguei. Dave tentou correr novamente, mas eu o segurei de novo, peguei o celular do bolso digitando o número de Stark.
Margot.
Eu precisava ir logo, mas aparentemente tudo conseguia conspirar para que eu demorasse mais naquilo. Já estava até o talo, ainda teria de falar com Joseph e pedir desculpas sobre o que havia acontecido.
Virei pelos bastidores e o vi conversando com Dave, iria ir falar com ele, mas parei assim que ouvi o que eles estavam falando.
— E ai? – Dave perguntou e eu me virei, os olhando apenas por uma fresta que havia ali. Eu me sentia uma das três espiãs demais. — O que disse? – Dave riu.
— O que acha? Eu nunca estive a fim da Margot e nunca vou estar. Eu sei que ela não está a fim de mim também e não me importo. Na verdade, tudo o que eu quero agora é ter uma relação boa com a Katherine, é tudo o que me importa. Sempre foi ela, mesmo depois da Summer, sempre foi ela. Nunca mudou. – Ele suspirou e Dave riu.
— Sabia!
— Sabia nada, cala a boca! Mas se for para ser apenas a Katherine, que seja. Estou disposto a aceitar tudo isso. Como disse: Margot nunca foi uma opção.
Senti uma ardência incomoda da minha garganta e tentei controlar a enxurrada de lágrimas que estava a ponto de descer por meus olhos. Respirei fundo, antes de olhar para Dave e Joseph que se abraçavam felizes, como se tivesse acabado de se confessar e sai dali o mais rápido possível, entregando as coisas que eu estava fazendo para a primeira auxiliar que eu achei, dizendo um claro “termine”, antes de me afastar, indo em direção ao estacionamento.
Entrei no carro e respirei fundo, enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto. Eu era trouxa. Eu sempre fui uma trouxa pra dele. Eu havia dito que Joseph iria brincar comigo e me trocaria pela Katherine. Ela sempre foi o amor da vida dele, desde crianças, mas eu insistia em gostar de alguém que só fazia mal a mim.
Ergui o rosto e tentei me controlar. A minha frente, pude assistir a cena de Katherine se atracando com Stark, de modo que pareciam tentar esconder, mesmo que o estacionamento fosse o lugar menos apropriado. Ela segurava um celular no qual ele tentava pegar de sua mão. Seria o casal perfeito se ela não fosse uma vaca por ter mentido sobre ter deixado Joseph para mim, dizendo que ele havia ficado no passado e agora estava pegando o ex da sua amiga. Pegando provavelmente os dois ao mesmo tempo. Hipócrita.
Limpei as lágrimas e respirei fundo, antes de sacar o celular e visualizar todas as mensagens de Joseph sobre querer conversar, apagar o histórico de chamadas não atendidas e levar o aparelho até a orelha discando um número que eu já conhecia.
— Alô? – A voz do outro lado atendeu.
— Oi, eu espero que você não tenha nada marcado para hoje à noite. Você irá me acompanhar em uma festa.
Joseph.
— Mas ela simplesmente tomou o celular da mão dele? – Dave perguntou assim que se afastou do abraço aliviado do amigo.
— Foi. Aquela menina é histérica. Pensando bem, Stark é um cara legal, ele não magoou minha Sun e a Katherine gosta de verdade dele, assim como eu creio, que ele dela. – Dei os ombros. – Margot não sofre nenhum risco. Pelo o que eu percebi, ele nem simpatiza muito com ela, sabe? Seu foco é a Hunnigan.
— Então, foque na sua mina, cara. – Dave disse apertando meu braço. Suas atitudes no último minuto foram de um verdadeiro homem. Que orgulho da minha borboleta azul celeste.
— Falando em focar em mina... E a Gabs?
O rosto do rapaz enrubesceu de uma hora para a outra. Dave engoliu a seco e eu já estava começando a pensar que ele havia voltado a ser uma menininha quando ele sorriu.
— Bem, eu... Eu to pensando em umas coisas sobre ela. – Deu os ombros, se sentando no palco, balançando as pernas. A equipe fazia os últimos ajustes para a apresentação da Hunnigan. Sentei-me ao teu lado.
— Quais coisas? – Perguntei franzindo o cenho. – Dave, por favor... – Comecei, mas ele simplesmente revirou os olhos, pousando a mão na minha coxa. Constrangedor. – Tira a mão. – Ele o fez no mesmo instante, mas não antes de fazer um olhar sedutor. Missão homem por dois minutos fracassada.
— Você fala como se não gostasse, meu gato. – Subiu as sobrancelhas com a língua para fora.
— Não em público, por favor! – Pedi novamente e ele riu, antes de voltar ao assunto principal. — E a Gabs?
— Cara, eu não sei... – Explicou, suspirando. – Mas, eu realmente gosto dela. Eu gosto muito mesmo dela.
Eu realmente não sabia se eu o socava ou o abraçava. Minha fada estava virando homem e eu não estou preparado para isso, muito menos quando está virando homem junto com A MINHA GABS! Isso é tão injusto.
— Eu realmente quero... – Pensei por um momento, antes de me virar e dar um soco no queixo de Dave o fazendo voar para o outro lado. Todos pararam o que estavam fazendo para me olhar.
— Por que você fez isso, sua vaca? – Ele perguntou antes de se erguer, fingindo choro. – EU VOU TE DENUNCIAR, ISSO CABE NA MARIA DA PENHA!
— Se você magoar a Gabs, eu te jura que te estripo. — Gritei, apontando o dedo na sua cara.
— Estupre meu amor, porque pode ter certeza que é mais fácil. – Ele disse enquanto empinava a bunda em minha direção.
— Acho que vou vomitar. – Disse me jogando para trás.
— Só se for um arco-íris. – Ele falou, revirando os olhos. – Não sei se percebeu, mas depois de muito tempo de depressão por três mulheres, essa é a primeira vez que tudo em nossa vida está dando certo.
— Sim. Tá tudo dando certo. – Suspirei.
***
— JOSEPH TRAVIS UCKERMANN! – Summer se esgoelou no corredor. Meu susto foi tão grande que cai praticamente aos pés da menina. – EU NÃO ACREDITO! Como você ainda não está pronto?
— Desculpa meu bem, mas eu preciso somente de cinco minutos para me arrumar, não de cinco horas. – Ironizei, fazendo-a revirar os olhos. Desculpa meu bem, mas minha beleza é de fabrica.
— Notícias da pouca coisa? – Perguntou olhando as unhas. "Pouca coisa"e pareceu muito um modo de Summer se referir a Margot e eu não sei bem se isso é justo.
— Sim, você vai bem? – Perguntei e ela me deu um tabefe me fazendo cair no chão de novo. Para uma menina tão pequena, amassar pão ajudava a ganhar força.
— Nunca deveria ter lhe dado carona. Sou péssima com DRs, além do mais eu estou com a paciência zero. – Explicou revirando os olhos novamente. AH, QUERIDA, MAS VOCÊ JURA?
— Mas que frouxa. – Falei, enquanto conseguia terminar de vestir o tênis. – Mas não, não tive noticias da Margot, mas ela postou que estava saindo para a premiação há uns cinco minutos. – A loira botou a mãos na cintura.
— Bom saber que enquanto crio raiz te esperando, você está aí stalkeando a namorada. — Me safei do tapa bem a tempo da sua mão quase rasgar minha cara ao meio.
— É exatamente para isso que você serve, certo? – Perguntei ficando em pé, arrumando o terno. Ela me deu uma almofadada e sorri.
Summer estava linda. Os cabelos não tinham farinha (o que vamos combinar, é um grande passo) e estavam presos em um coque com fios soltos. A maquiagem marcava muito bem os olhos azuis e o vestido era preto cheio de detalhes brilhante. Seus saltos a deixavam quase da minha altura, o que significa que eram muito grandes.
Ela me deu o braço e saímos pelo corredor. Durante o pequeno trajeto eu olhei no celular de novo e nada de Margot. Ela não era de fazer isso, mas eu estava decidido a não brigar, iria resolver tudo para que a nossa noite fosse perfeita. Estava tudo dando certo, lembra? ESTAVA TUDO DANDO CERTO (ignorem o tom psicótico)!
Seguimos em direção ao elevador, já um tanto quanto atrasados.
— Vai logo, vai, vai, vai! – Disse me empurrando para dentro do elevador antes mesmo dele terminar de abrir. A doida começou a apertar os botões do painel com total desespero, quase como se ele fosse parar e pensar "Ah não, como ela está com pressa eu irei subir mais rápido só pra ela não se atrasar, até porque apertar todos os meus botões irá me deixar muitíssimo feliz".
— Sun, você não pode... – Comecei, mas ela me parou. Ergueu a pequena mãozinha na altura do meu rosto com 0 respeito.
— Ah, cala a boca.
— Não pode...
Eu não pude terminar de falar. O elevador parou na metade do caminho e suspirei revirando os olhos. [i] De novo, não! [/i] As pessoas devem ter ciência de que eu sou Joseph Uckermann, uma pessoa relativamente importante, principalmente no meu trabalho e que eu não devo chegar atrasado nos eventos de premiação da minha própria empresa. Mas nãaaaao, tem de impedir o vôo da borboleta e travar o elevador!
— EU NÃO ACREDITO NISSO! – Enchi a boca para falar. Summer fincou as mãos nos meus braços, apertando com muita força e eu quase pensei se ela não estava treinando uma nova técnica para cortar os pães amanhecidos da Cupcake (eles ficam idênticos a um tijolo).
— Joe, o que você estava dizendo? – Havia um medo um tanto quando controlado na sua voz. De repente, tudo se tornou mais azul pra mim, um peso saiu de cima dos meus ombros e eu pude sentir o prazer me invadir por completo e, quando voltei a falar acho que seria visível ver um demônio de Satanás sentado no meu ombrinho.
— Você não era claustrofóbica?
— Ai meu Zeus! Ai meu Zeus! – Disse se abanando, fazendo uma espécie de respiração de cachorrinho, antes de enfim desmaiar caindo em meu colo feito cocô de cavalo.
— Summer! – Comecei a abaná-la. Jesus Cristo, tenha piedade de minha alma, pai! – Acorda, acorda!
— Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! – Gritou.
— Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! – Gritei me assustando com seu grito.
— Idiota, me solta! – Disse se recompondo e jogando o cabelo como se nada tivesse acontecido. – Eu estou bem, ok? – Suspirou, olhando para frente. Franzi o cenho e aceitei até que: — Aaaaaaaaaaaaaaah! – Desmaiou de novo.
Revirei os olhos enquanto segurava a garota em meus braços e apertei os devidos botões no painel. Não demorou mais do que alguns segundo para ele voltar a funcionar.
(Dica da vida: leia sempre os manuais de manutenção dos elevadores).
Summer abriu apenas um dos olhos enormes observando o local. Ele vagou por todo o cubículo em que nos encontrávamos, até parar nos números dos andares se movimentando, antes de olhar pra mim e me empurrar para longe.
— Idiota. Eu não sou claustrofóbica. – Disse cruzando os braços. – Katherine que é.
— Eu sei, por isso que ela só anda de escadas. – Sorri e ela me deu um murro, enquanto a porta se abria.
— Sua sorte é que eu estou de bom humor.
— Jamanta! Você andou engordando, sabia? – Ela parou, respirando fundo, me fuzilando os olhos. Ergueu a minúsculas bolsa e de lá ATENÇÃO: ela tirou um rolo de pão!
— Joseph um...
— Ai, desculpa, eu já parei! – Disse erguendo as mãos e seguindo o mais rápido possível para o carro. Provavelmente aquela arma assassina me daria outro olho roxo.
Quando chegamos, o lugar estava lotado de fotógrafos. Algumas revistas que não haviam sido indicadas, faziam questão de fazer toda a cobertura do evento, as que foram indicadas iriam dar detalhes ainda mais sórdidos sobre aquilo.
Sun e eu fomos bombardeados de flashes e alguns jornalistas e repórteres tentavam nos entrevistar. Consegui ser simpático antes de vazar vazando. Não sei lidar com a fama.
— Você viu a Margot? – Perguntei no ouvido dela assim que passamos pelo segurança. Summer deu os ombros.
— Não, ela deveria já estar aqui, não acha? – Assenti, preocupado, enquanto a procurava com os olhos. Suspirei ao ver que seria quase impossível achá-la e nós dois fomos até o camarim da Hunnigan, encontrando no caminho Dave, Michael, Gabs, Candy e Charlie.
— HOLA AMIGOS, HOLA! – Disse Dave puxando do bolso um saco de camisinha. — HOLAAAAAAAAAAA! – Gabs virou uma muqueta na orelha dele que ele pendeu para o lado, e jogou o pacote no chão.
— Passe no meu escritório, qualquer dia desses, Dave. – Charlie pediu e ele revirou os olhos.
— Eu sou a pessoa mais legal desse meio, minha querida. – Disse erguendo o dedo. – Você que meça suas palavras para falar comigo, porque ninguém aqui consegue viver sem mim.
— Mentira. – Michael disse, tirando o dedo do nariz e enrolando a bola de catarro que saiu grudada, limpando-o no vestido de Gabs que quase vomitou em cima dele.
— Nojento, por que fez isso? – Gritou empurrando-o. Candy colocou a mão sobre o rosto, tentando se esconder da vergonha alheia.
— Por que você me lembra um deposito de cocô. – O estalo que eclodiu por entre os corredores foi ouvido por muita gente. Por isso que eu amo a Gabs, mulher de atitude. Deu-lhe um tapão que ele foi parar do outro lado. Candy suspirou.
— Você não tem nojo? – Charlie perguntou a menina, que não pareceu entender.
— Nojo do que?
— De beijar um cara que tira caca do nariz em uma festa na frente de pessoas relativamente importantes?
— Tenho, mas ele é gato. – Deu os ombros indo atrás do rapaz e o ajudando a levantar. Ela não ousou triscar em suas mãos, antes de guiá-lo até o banheiro.
— Estranhos. – Charlie disse os observando se afastar. Gabs e Dave concordaram com um aceno.
— Bem... – Comecei chamando a atenção de todos. – O que estamos fazendo aqui, exatamente?
— Katherine está no camarim conversando com Stark. – Dave entregou e eu me seguirei para não revirar os olhos. Mas que safadeza é essa? – Acho que aconteceu algo... – Deu os ombros. – Mas, pelo o que ouvimos nada grave.
— Você estava ouvindo a conversa dos dois pelo vão da porta, Dave Sheepard? – Summer perguntou abrindo a boca indignada. Ele deu os ombros. – Então vai, conta. – Disse desesperada e eu realmente revirei os olhos dessa vez. Eles começaram a conversar, fofocar. Gabs mexia no celular com certo desespero, e Charlie observava tudo com o seu olhar profissional. Alguns instantes depois, Stark abriu a porta do camarim e saiu andando na direção oposta em que a gente tava, provavelmente nem nos vendo.
— Minha vez. – Falei seguindo para o camarim.
Abri a porta e contemplei uma Katherine assustada. Ela alisava o rosto, e assim que me viu pelo reflexo do espelho suspirou abaixando a cabeça. Aproximei-me, colocando a mão sobre seu ombro, esperando que ela me dissesse o que havia acontecido.
— Você está bem? – Perguntei e ela se ergueu me abraçando. Foi um abraço tão forte, que o pequeno corpo de Katherine parecia encolher conforme eu lhe apertava. Ela estava assustada.
— Por que tudo acontece comigo? – Sua voz saiu abafada pelo fato de seu rosto estar exprimido no meu peito.
— Kat, o que houve? – Perguntei, e ela apenas negou com a cabeça, me apertando ainda mais. – Katy...
— Stark... – Respondeu em um sussurro e uma onda de vontade de matar alguém a chicotadas invadiu meu corpo. To falando! Não se podem deixar minhas mulheres por ai que alguém vem e acaba com tudo. Posso com isso? Não posso! Eu realmente só não mato, porque meu físico sensual ainda não está preparado para se adequar a uma dieta presidiária. – Ele... Nós... Nós brigamos. E... – Ela se afastou com a mão no rosto e se sentou na cadeira que estava.
Preciso dizer o que aconteceu depois? Eu realmente não sei quem chorou mais, se fui eu ou ela. Ela por estar sofrendo pelo Stark e eu por saber que ela não podia borrar a maquiagem porque deveria se apresentar daqui alguns minutos. Ah, ela também estava sofrendo, super chateada e eu não gostava de lhe ver assim, principalmente por não saber o que fazer.
— Kate, calma. – Pedi erguendo seu rosto, tentando enxugar suas lágrimas. – Não chora.
— Está doendo. – Eu assenti, lhe puxando para perto. Ela sentou no chão aos meus pés e me abraçou com força.
— Eu sei. – Suspirei tentando me controlar. – Mas eu to aqui.
— Mas você também está chorando. Por que está chorando, Joe? – Soluçou, apertando meu braço.
— Eu estou chorando porque você está chorando, por que eu não consigo ver você sofrendo por quebrar uma unha quem dirá quando quebra o coração.
— Por que eu não me aquietei com você, Ucker? – Perguntou suspirando. – Era tudo tão mais fácil... Por que depois de tudo o que aconteceu entre a gente, por que parece que eu levei um soco na cara? Eu só queria sumir...
— Isso acontece por que você o ama, vida. Assim como você me amava. – Expliquei alisando os cabelos. – Mas essa dor vai passar.
— Vai demorar tanto quando a sua durou?
— Não.
— Promete? – Ela se levantou me olhando nos olhos. Katherine parecia um urso panda, com a cara inchada e os olhos negros. Eu não iria comentar sobre aquilo, já que a próxima coisa que ficaria preta seria a terra caindo em cima de mim quando estivesse sendo enterrado depois do homicídio que iria cometer contra minha pessoa, mas segui.
— Pela minha vida.
Ela sorriu para mim, mesmo com as lágrimas caindo sobre sua face e me abraçou se levantando. Suspirei um pouco mais calmo, mas eu teria uma conversa com o senhor James de todo o modo.
— Eu te amo. – Ela disse depois de um tempo e beijei sua testa com força.
— Eu também te amo.
Nosso momento amigos para sempre lalaialalalaiala foi interrompido quando a porta do camarim de Katherine foi aberta de supetão fazendo com que a gente se afastasse de modo incriminador. Ergui o olhar e Margot tentou sorrir.
— Desculpe. Eu não queria interromper. – Ela disse trincando os dentes. – Mas aconselho que se apressem, a apresentação está prestes a começar. – Respondeu antes de bater a porta com força.
— O que foi isso? – Perguntei franzindo o cenho.
— Acredito que um ataque de ciúmes. – Respondeu antes de me olhar.
****
— Que demora coração. – Disse Dave assim que eu me aproximei para sentar no lugar demarcado ao lado dele e Mike. Ele veio em minha direção pronto para me beijar, mas ao que Gabriela pigarreou, ele voltou a se sentar. O que aquela menina estava achando de barrar o meu romance???
— Dave, contenha-se! – Mike disse, arrumando o terno como se fosse alguém importante. – Estamos em um evento chique e público, precisamos nos manter a altura. Sei que pra você é difícil, mas você ainda pode aprender comigo. Um dia receberá o teu diploma, prometo.
— O seu diploma será igual papel higiênico, sua principal função vai ser limpar minha bunda. – Respondeu fazendo um carão mesmo. Quase ergui o coro de de "NOOOOOSSA, NÃO DEIXAVA", mas ainda estava em público e precisava parecer um hominho.
— Ai, minha querida. Isso é o que a sua ralé diz, porque qualquer um com um pouquinho de conhecimento iria querer aprender comigo. – Mike respondeu, passando a mão no cabelo como se estivesse o arrumando.
— Amor, olha como ele tá falando comigo! – Dave disse me cutucando para que o defendesse de Mike.
— Contenham-se! – Pedi, articulando com as mãos enquanto as luzes diminuíam. – A Katherine vai entrar agora e se por acaso vocês viram James Stark me avisem, por que o meu atirador já está preparado. – Expliquei e apontei com o queixo para uma Summer que segurava uma sacola de mercado no qual conseguia distinguir o conteúdo de ali dentro.
— O que ela está segurando? – Michael questionou forçando as vistas para a garota.
— Mamonas. – Disse orgulhoso. – Esqueceu que aquela cabra tem cabelo de Justen?
— Que golpe baixo. – Dave negou com a cabeça. – Da próxima vez, deveria ter pegado algo que machucasse mais. – Falou se voltando para mim mudando de idéia quase instantaneamente.
Sorrimos um para o outro e eu tentei encontrar Margot com o olhar, mesmo que no meio daquele tanto de gente parecesse impossível.
O show da Katherine começou com a abertura de sempre com ela dançando no meio dos seus bailarinos marombas que todo mundo gostava, mas que na verdade davam mais ponta do que o próprio Dave.
Depois da parte agitada, ela pegou o microfone, sentando-se tipicamente no banco no meio do palco e suspirou sorrindo depois de cumprimentar seus fãs como de praxe. Estava ofegante ainda assim.
— Bem... Uma vez eu li um texto em uma revista que dizia mais ou menos assim: Alguns poetas dizem que tudo pode acontecer por causa de uma linha no horizonte chamada destino, outros, afirmam que nem tudo é porque um ser maior colocou seu dedo sobre duas pessoas as empurrando para ruas inimagináveis da vida, fazendo com que se cruzassem pelo resto de seus dias. Ainda existem outros que preferem falar que tudo acontece sem querer, escolhas que refletem um futuro desconhecido. Assim, de relance. No agora, no já. Sem pensar, pular, se jogar. Ao destino ou ao acaso, não importa como, mas quando duas pessoas são feitas para ficarem juntas, não importa por quantas ruas andem, eventualmente, encontrarão o caminho de volta. – Katherine sorriu e eu me afundei mais na poltrona em que estava. – Mas... Talvez nossa alma gêmea não seja exatamente quem nós gostaríamos, ou simplesmente, é a alma gêmea de outra pessoa. – Engoliu a seco. – Apesar de tudo, devemos seguir em frente e não botar a culpa que é simplesmente nossa no destino que só tenta fazer o seu papel. – Ela sorriu enquanto a batida começava.
Ela cantava com tanta vontade e emoção que era difícil distinguir se ela estava cantando para seu público ou para si mesma. Levantou-se do banco deixando-o de lado enquanto vivia sua música. Todos pareciam prestar atenção só nela, mas depois de uns segundos uma movimentação diferente começou. Katherine não percebeu quando um rapaz seguiu a passos rápido até o palco sendo seguidos pelos seguranças, e tudo o que fez foi segurar Katherine pelos braços e beijá-la.
Todos, e quando eu digo todos, são realmente todos. Todos no lugar ficaram paralisados. Os músicos continuavam tocando, mas era por puro ciclo vicioso. Pensei que por um minuto alguém ia fechar a bater palmas, porém:
— MAMONA NELE! – Dave ao meu lado se ergueu gritando, apontando com uma cara de gladiador solitário para Stark e Summer a frente, com sua linda mira, começou a arremessar mamonas descontroladamente em Stark que se afastou de Katherine no mesmo instante.
Depois disso foi um fuzuê louco.
Seguranças pularam sobre Dave e Summer ao mesmo tempo em que outros começavam a arrancar Stark do palco. Mike tentava libertar Dave, o me tornava o marco zero entre uma briga de seguranças e pessoas com sexualidade duvidosa. Summer gritava, assim como Katherine que tentava puxar Stark pelo braço e todos aplaudiam o beijo como se fosse uma cena de novela muito esperada.
Não que eu me lembre exatamente tudo o que aconteceu nesse meio tempo, mas o resultado fui eu, novamente como de costume, com a perna machucada.
— ESTOU CANSADO DISSO! CANSADO! – Berrei em lágrimas. Meu coração doía apenas por pensar que novamente eu seria manco. Summer que tinha um olho pré-roxo, mas parecia muito inteira para quem começou a briga, se aproximou de mim, assim como Dave que estava todo rasgado.
— Calmo amor. Fica calmo... – Disse Dave colocando a mão sobre o meu pé.
— NÃO ME MANDA FICAR CALMO! – Berrei e ele grunhiu se afastando. A voz de Katherine e Stark começaram a ressoar mais do que eu gostaria naquele recinto.
— Você é lindo...
— Não, não... Você quem é... – Stark disse alisando o rosto de Katherine.
— Não, você é perfeito. Eu te amo.
— Não, eu te amo mais.
— Não, quem ama é eu.
— Não, eu.
— Eu.
— Eu.
— Eu.
— Eu.
— Eu.
— Não, eu.
— Ah, para. Você sabe que sou eu.
— Não! Sou eu!
— Eu.
— Eu.
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! Chega disso pelo amor de Zeeeeeus! – Pedi com os olhos em chamas. Katherine alisou o rosto de Stark antes de se jogar em cima dele como um desentupidor de pia. Summer a minha frente revirou os olhos.
— EU MANDEI PARAR! – Summer gritou fazendo com que todos olhassem para ela. – O que? – Questionou cruzando os braços. – Ele ainda é o meu ex.
— E daí? – Mike perguntou.
— E daí que isso é deselegante. – Explicou. – Agora... Vamos sair daqui. Temos de voltar para a festa, por que em breve a premiação do aleijadinho vai começar.
— Bullying com deficientes também é crime, idiota. – Disse enquanto Dave e Mike me ajudavam a se levantar.
— Quem se importa? – Perguntou antes de dar um chutinho no meu pé me fazendo cair no chão. Bati com a boca no piso da enfermeira, mas minha perna doeu mais do que qualquer outra coisa.
— AH! – Gritei. – Summer! – Ela deu um sorrisinho antes de sair rebolando na nossa frente. – Padeira assassina!
Como o dito, quando chegamos de volta aos nossos lugares a premiação estava prestes a começar. Margot ainda não havia aparecido, o que me deixava preocupado. Eu sei que talvez ela estivesse com um pouco de raiva de mim ainda, mas poxa... Essa era para ser a nossa noite. Eu precisava daquilo. Nós precisávamos.
Tentei evitar o meu incomodo e suspirei enquanto as anunciações começavam. Algumas categorias era bem óbvias, outras eram estranhas até demais, mas a cada categoria meu coração abria mais forte, já que logo seria anunciado a revista do ano.
— Agora, o prêmio que todos estavam esperando, mesmo depois da surpresa que Katherine Hunnigan nos proporcionou. – Disse o apresentador gravando o rosto da menina que sorriu envergonhada no telão. – Vamos à categoria de melhor revista do ano! – Ele bateu palmas enquanto um slide passava na tela.
— Ei... – Gabs chamou, apontando para algo perto do palco. – Aquela ali não é a Margot?
Eu me ergui um pouco para poder ver e tudo o que eu consegui reconhecer foi um vestido muito brilhante – e curto – preto e cabelos ruivos demais, que por sinal parecia estar brigando com alguém tentando lhe puxar para fora dali.
— Sim. Eu vou lá... – Disse tentando me levantar, mas além da fisgada que eu senti na perna, Summer me segurou no banco.
— Hey supergirl. Fique ai. – Ela disse e eu revirei os olhos suspirando, mas acabei concordando. Até porque, no passo que estava, eu iria chegar lá só na premiação do ano que vem.
—... E a ganhadora como melhor revista do ano é... – Novamente começaram a passar coisas no telão e de repente o logo da minha revista passou na televisão e meu coração foi na boca. OMG! OMG! NÓS GANHAMOS GENTE? POSSO VOAR AGORA, EU GANHEI! FREE BUTTERFLY, I GO! I GO!
Meu rosto passou no telão e eu parecia um boneco do posto chacoalhando as mãos livremente pelo ar, fazendo a coreografia do vôo da vitória, mesmo que ninguém soubesse a coreografia e pensasse que estivesse apenas tendo um acesso de pânico. Katherine me abraçou assim como Stark, já que eles estavam cada um com um imã no estômago que os impediam de se manter a mais de vinte centímetros de distancia um do outro. Summer, Candy, Charlie e Gabs foram as outras e depois minhas quengas, vulgo Mike e Davisson.
Ai, mas eu estava tão feliz! E Margot também deveria estar. E só quando eu olhei para ela perto do palco percebi que ela já estava subindo para receber o prêmio. E era ela mesma, estava meio pelada, mas... Quem se importa?
— Mais uma vez ganhando esse prêmio! Nós agradecemos muito a todos que lêem nossa revista e que nos apoiaram desde sempre. E se eu pudesse dedicar isso a alguém, com certeza seria a uma pessoa que está comigo desde o início, me ajudando a erguer esse império, a qual eu amo demais e pretendo passar o resto dos meus dias. – Enfartando em três, dois... PI, PI, PI. Hora da morte, 23:58.
Meu coração havia parado por alguns segundos e meu sorriso quase rasgava minha cara quando eu me ergui para poder dar um jeito de andar até lá. As garotas estavam tão animadas quanto eu.
— Joseph, ela te perdoou! Vai dedicar o prêmio a você! – Dave disse e eu assenti igual um idiota. AI MEU DEEEEUS!
— Eu dedico esse prêmio ao amor da minha vida: Pablo. – Margot ergueu o prêmio, acompanhada de palmas e seguiu até a beira do palco onde Pablo subia e lhe beijava na frente de todos.
Ao ouvir aquelas palavras meu coração parecia ter sumido. Como se ao redor dele houvesse um monte de espinhos e Margot havia puxado uma corda que os fez entrar na minha carne, despedaçando cada pedacinho que havia ali, enquanto caiam dentro de um liquidificador e eram triturados , virando o suco que o Pablo bebia.
— Com licença. – Disse antes de me levantar e sair daquele salão o mais rápido possível. A dor do meu tornozelo machucado havia desaparecido totalmente. Cientistas dizem que quando concentramos nossa dor em algo pior, ela desaparece. Eu havia trocado um dor pela outra.
— Joseph! – Katherine chamou, trocando olhares com Summer.
— Por favor – Disse me virando para elas antes de sumir – Eu quero ficar sozinho.
Margot.
Assim que eu percebi que o beijo com Pablo não tinha efeito nenhum em mim, eu sorri para ele e ele me piscou. Saímos do palco e pousamos para algumas fotos, e me afastei dele por um momento, indo em direção a mesa onde todos estavam. Aparentemente Joseph tinha acabado de se retirar dali.
Eu precisava ir até ele e esfregar aquilo na sua cara como eu tenho certeza que ele iria fazer assim que reatasse seu relacionamento com a Hunnigan diante do público. Mas eu havia sido mais rápida, eu tinha dado o troco antes.
— Você não vai ir atrás dele. – Summer disse segurando meu braço assim que passei por ela.
— E você não manda em mim. – Respondi puxando o braço e o seguindo em direção a saída. Encontrei Joseph no hall vazio e ele tentava andar mais rápido que as pernas. Bati palmas andando calmamente e ele se virou. Seu rosto estava transtornado. — Palmas Joseph, você ganhou o prêmio de corno do ano. – Sorri parando de bater palmas e botando as mãos nas cinturas. – Como se sente?
— Qual o seu problema? – Perguntou engolindo a seco. Dei os ombros. – Por que você fez aquilo?
— Deu vontade. – Expliquei. – Estava cansada de você, dá para entender? – Perguntei erguendo as sobrancelhas. Joseph desviou o rosto, e mesmo o amando como amava, me mantive firme. Não seria trocada de novo, muito menos pelo mesmo cara. – Eu cansei de você, Joseph. Pensava que te amava, pensava que pelo menos gostava de você, mas... – Fiz que não com a cabeça. – Não é verdade. Tudo o que eu sentia era pena... Você correu atrás durante tanto tempo e eu pensei: Por que não? Por que não fazer uma caridade? Dar outra chance? E então... Quando eu vi que não dava mais, como iria te explicar? Eu te xinguei, briguei com você, mas você não entendeu... Então... – Dei os ombros de novo. – Eu fiz o que eu tinha de fazer.
— Eu tenho nojo de você. Você sempre foi exatamente o que sempre me disseram.
— Uma vadia? – Erguei as sobrancelhas de novo, me aproximando. – Quem disse isso? Sua queridinha Katherine? A diva pop do momento? A rainha do país? Ou aquela padeira metida à durona que tem grandes probabilidades de ficar sozinha pra sempre? – Questionei trocando o peso do corpo de lado. – Eu não me importo com opiniões de ninguém.
— Que bom, por que a partir de agora, eu não me importo mais é com você. – Ele respondeu antes de me dar as costas e sair de perto de mim. Vislumbrei Joseph se afastar e engoli a seco. A lágrima escorreu pela minha face, e pude ouvir saltos apressado atrás de mim, me dando tempo de limpá-la antes que a vissem.
— Era o carro dele! – Summer disse correndo. – Eu vou pegar o carro, me espere aqui. – Ela falou e eu me virei para Katherine com um sorriso de orelha a orelha.
Ela me olhou com os olhos em chamas e eu me perguntei se aquele não seria um presentinho. Se acertar com os dois traidores no mesmo dia, só poderia ser uma dádiva divina. Engoli a seco dando alguns passos em sua direção.
— Vadia! – Ela disse e eu sorri.
— Engraçado você me dizer isso. – Suspirei. – Por que quem deveria estar te chamando assim era eu.
— Como pode? – Questionou desesperada. – Como teve coragem e estômago para fazer isso com ele? Ele foi um príncipe com você! Como... Como pode?
— Príncipe? Comigo? – Perguntei colocando a mão no peito. – Até onde me lembro, ele era um príncipe com você. A vagabunda que dava em cima do namorado dos outros e que foi à causadora de tudo isso. Você, Katherine, você é a vadia... – Eu não pude terminar de falar.
Um estalo eclodiu por todo o recinto e meu rosto se virou assim que os dedos dela espalmaram o meu rosto. Aquilo não poderia ser verdade, além de tudo, ela estava me batendo, quando quem deveria estar batendo em alguém era eu? Depois de estar me traindo com o Joseph, ainda tinha coragem de me bater?
— Você dobre a língua para falar de mim! – Ela disse apontando o dedo na minha cara. – E primeiramente, você quem o roubou de mim, lembra, sua vaca atirada? – Trincou o maxilar. – Então, antes de falar qualquer coisa de mim, se olhe nos espelhos, pois ao contrário de você, eu nunca roubei o namorado de ninguém.
— Ah, não? – Coloquei a mão no queixo tentando evitar a ardência no meu rosto. – Por que os planos de Joseph sobre “Margot não, Katherine sempre” hoje mais cedo eram bem claros para mim.
— O que? – Ela franziu o cenho, estupefata. Parecia tentar se lembrar de algo familiar. – Eu... Eu não acredito! Sua louca, ele estava contando a Dave sobre a conversa que ele havia tido com Stark, que por sinal é o MEU NAMORADO. Ele estava com medo de que Stark estivesse perseguindo as ex namoradas dele, e tinha medo de que você fosse próxima! Eu não quero e não vou querer saber do Joseph. Eu tenho a quem amar e pode ter certeza que para isso eu não precisei humilhar ninguém! Você não o merece.
De repente, uma balde de água fria havia caído sobre mim. Meu corpo se paralisou e eu tentei lembrar-se de tudo o que Joseph e Dave haviam falado mais cedo. Parecia tudo tão... Real.
— Katherine, sai de perto dela. – Mike falou e eu me virei para os meus ex-amigos me olharem com ódio. – Ela não merece se explicar.
— Dave, hoje mais cedo, depois do ensaio, com quem Joseph falou no telefone? – Katherine perguntou, sem tirar os olhos de mim. Dave franziu o cenho sem entender a pergunta.
— Com Stark, Katherine. Você roubou o telefone da mão dele e começou a brigar com Joseph por querer saber se Stark tinha alguma intenção suja com a Margot. – Fez que não com a cabeça. – Não me diga que está com amnésia!
— Depois de desligar o telefone, ele te falou algo sobre a ligação? Algum comparativo entre nós? – Katherine não tirava os olhos de mim, assim como eu dela.
— Falou, ele me contou tudo. Algo como, “sempre Katherine, Margot nunca”. – Dave deu os ombros. – Por que a pergunta?
— Não! É que de acordo com nossa querida amiga, Margot, Joseph e eu estávamos a traindo. Mas, não se preocupe Dave, isso só prova que Joseph sempre amou quem não deveria. Como se sente, Margot? – Cruzou os braços. – Humilhada? Porque foi exatamente o que você fez com o único homem que seria capaz de dar a vida por você.
— Katherine! – Summer chamou. Estava molhada, já que começava a chover do lado de fora. – Vamos!
— Agora, com licença. O meu melhor amigo deve estar sofrendo por amar alguém tão imundo como você e eu preciso consolá-lo. – Ela passou por mim, fazendo de tudo para que seu ombro não se encostasse ao meu, e pude ouvir enquanto o salto batia pelo hall e ela saia do prédio.
Olhei pra frente e suspirei. Todos me olhavam com ódio. Respirei fundo, antes de começar a marchar para longe dali. Meu dia já havia sido podre demais.
Joseph
Se existe alguma teoria que diz que depois de muito tempo chorando as lágrimas do seu organismo secam, eu acabo de comprovar que é mentira. Se fosse assim, eu deveria estar chorando sem que nenhuma lágrima caísse há uns quinze minutos, mas meu rosto ainda estava molhado.
Meu sofá, o escuro e a chuva que castigava o lado de fora nunca pareceram tão compactuados em me fazer me sentir tão confortável, mas ainda assim, meu peito se rasgava com uma dor tão grande que eu não sabia mais há quanto tempo eu estava ali, mas a dor parecia não querer mais se largar de mim. Como se não tivesse mais motivos para sorrir, ou simplesmente para erguer o rosto e seguir em frente, a única coisa que eu sei é que... Tá doendo tanto.
Eu estava jogando no sofá, olhava para cima, enquanto as lágrimas escorriam pelo canto dos meus olhos e escorriam até minha camisa. Meu pé havia parado de doer, mas meus olhos arderam quando abriram a porta.
— Joe... – A voz da Summer soou em meus ouvidos e eu ergui o rosto para vê-la. Katherine e Summer entraram no apartamento e fecharam a porta antes de se aproximarem de mim. Me sentei enquanto as duas me abraçaram com tanta força que tudo o que eu consegui fazer foi chorar. — Não chora, por favor, não chora. – Ela pediu alisando meu rosto, me fazendo olhar para ela. As duas estavam ajoelhadas no chão a minha frente e eu estava com os cotovelos apoiados nos joelhos.
— Tá doendo tanto. – Disse entre soluços. Meu rosto estava todo molhado e eu tentei não imaginar o quão ridículo eu estava sendo. – Eu nunca imaginei que... Que... – Solucei, esfregando o rosto e desisti de falar.
— Não importa! – Katherine disse limpando a lágrima do próprio rosto – Não importa. Ela foi uma vadia com você, lembra? Mas... Mas nós estamos aqui e iremos estar sempre. Eu prometo pela minha vida. – Disse enxugando outras lágrimas, repetindo o que eu havia dito mais cedo. – Então, não chore por ela, mesmo que doa, por que estou aqui e eu vou estar aqui para sempre, por que eu te amo.
— Eu também te amo. – Summer disse abaixando a cabeça. As duas choravam comigo. – E estarei sempre aqui.
— Mas... Eu perdi tudo sabe? Meu chão foi embora, tudo o que imaginava que seria daqui para frente, tudo... Sumiu. – Engoli a seco soluçando. – E acabou.
— Ei, ei, ei! – Summer falou segurando meu rosto – Para com isso, ok? Ela não vale à pena.
— Mas e se eu perder tudo? – Questionei me encolhendo.
— Você ainda terá a nós. – Katherine completou antes de as duas voltarem a me abraçar. Lágrimas nos lavaram até eu não aguentar mais de dor e cansaço até cair no sono.
Era melhor assim, dormir. Pelo menos desse jeito eu tentava fingir que tudo não havia passado era só o pior pesadelo de toda a minha vida.
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