Amarelo
A discussão que tivemos na festa do Kim foi a última vez que conversamos, você fez questão de apagar a minha existência nos próximos dois meses finais de aulas, enquanto engatou em um namoro com Luka o qual foi aceito por quase todos da escola. Era irritante ouvir os comentários e suspiros encantados com vocês, até quando a banda dele conseguiu patrocínio e estourou no ranking das mais ouvidas da Europa.
Pensei que o tempo em que ele ficaria longe de você enquanto estava em turnê seria o motivo de você voltar a falar comigo, mas não. Você continuava radiante e feliz quando passava por mim no corredor com Alya, me ignorando completamente. Eu estava tão triste, Mari, esgotado e decepcionado comigo mesmo. Para meu pai, isso foi um pretexto, ele me disse que devia focar no meu futuro ao invés de gastar meu tempo com sentimentos passageiros e foi o que fiz.
Comecei a trabalhar o dobro do que trabalhava antes, e foi assim por todos os anos seguintes. Em três meses virei capa de revista da moda mundial, em um ano me tornei o jovem mais influente da minha idade. Três anos depois entrei na lista das pessoas mais ricas do mundo.
Confesso que não lembro da maior parte desses dias, passavam com uma velocidade surpreendente, estava oco por dentro. Decidi que seria o momento de ir embora de Paris quando fiquei sabendo de seu noivado com Luka, Nino esqueceu a correspondência em cima do balcão do nosso apartamento certo dia e lá estava o convite para seu casamento. A dor foi tão grande que antecipei todos os meus compromissos internacionais e me preparei para sair da cidade esperando que minhas memórias ficassem junto com minha vida antiga, meu pai na época me apoiou o que mostra a decadência de nosso relacionamento, mas eu tinha que ir, a saudade que sentia de você estava me corroendo aos poucos e os lugares que costumávamos andar não ajudava no processo de cicatrização.
Apesar de ter saído de solo francês, continuei na Europa em uma espécie de turnê, passando de cidade em cidade, minha agenda vivia lotada e não pude ser menos que agradecido, o trabalho me ajudava a manter os pensamentos longe de você. De certa forma, nunca me senti tão perto do meu pai do que naquele momento, ambos havíamos perdido alguém que amávamos a diferença é que ele a perdeu para a morte, eu a perdi para a vida e não sabia qual era pior.
Em uma das noites agitadas, eu estava em Londres a algumas semanas para desfiles e a gravação de uma série de ação. O elenco saiu para comemorar um mês de gravação e como previsto passamos da conta do álcool ingerido, isso não era um hábito, embora me matasse em trabalhar para não pensar em você, gostava de ter o pouco que restava do controle de minhas ações. Menos naquela noite.
Estavam todos se embebedando e tinham seguranças para nos levar para casa no fim da noite, ou manhã. Já tinha bebido algumas muitas doses de vodka e tequila, mas não sai da mesa em que havia sentado com o resto do pessoal desde quando cheguei, as pessoas vinham e iam mas a mesa nunca ficava menos do que lotada. Até que um amigo saiu de seu lugar para a pita de dança deixando o lugar vago por alguns milésimos, logo foi ocupado por uma garota de longos cabelos pretos. O Ar cheirava a suor, álcool, fumaça e vários perfumes misturados, mas por incrível que pareça, consegui sentir o cheiro de morangos do perfume dela, lembra-se? o mesmo que o seu.
Fiquei tão encantado e surpreso que aceitei seu pedido para acompanhá-la na pista de dança. Descobri pouco depois que seu nome era Bella, ela estudava em uma universidade ali perto e era intercambista estadunidense, estava bêbado demais para raciocinar meus movimentos mas acho que fiquei tempo demais olhando os lábios pintados de um vermelho que me lembrou o seu vestido na festa do Kim a anos atrás. Bella se balançou nos pés e se inclinou em minha direção. Ela iria me beijar, Mari, e apesar de já ter tido outros casos antes, você tinha aparecido com muita frequência nos meus pensamentos naquela noite, beijar outros lábios imaginando ser os seus não iria ajudar na minha cura interior, segundo meu psicólogo. Por isso, gentilmente e me desculpando por não ter sido um cavalheiro naquela noite, afastei Bella.
Não esperei uma resposta, corri para os fundos daquele lugar, longe dos olhos atentos dos seguranças em uma tentativa inconsequente e infantil de fugir dos meus próprios pensamentos. Fui recebido com uma rajada de ar gélido da madrugada londrina, tão perigosamente receptiva para meu estado de espírito atual. Fechei o casaco e caminhei pelas ruas bem iluminadas e desertas daquela parte de Londres. Se fosse definir a cor daquele momento seria preto, o frio e solitário preto era como eu me sentia naquele momento, sem nada, nenhuma emoção, motivação, objetivos. Nada.
Para falar a verdade, eu estava em preto desde o dia em que a perdi, pouco a pouco fui entendendo que você, my lady, era o arco-íris da minha vida solitária.
Encontrei um parque durante minha caminhada, me joguei em um banco qualquer sentindo meu corpo pesar e soube que o álcool me jogaria na inconsciência em alguns instantes. Para meu azar, o banco era bem embaixo de um poste de luz e o clarão incomodou meus olhos ao ponto de que só consegui descanso quando tampei os olhos com o antebraço e esperei pacientemente o sono.
— Adrien.
Sua voz veio tão baixa que pensei ter sido minha imaginação, então apenas ignorei.
— Adrien?
Dessa vez minha mente estava pegando pesado nas brincadeiras, eu ó queria um momento de paz.
— Adrien!
Congelei. Aquela não podia ser a voz da minha mente, estava tão perfeita, não um som estranho desgastado pelo tempo, estava vivido com a mesma entonação que minha Mari falaria. Tinha que ser ela!
— Deus! Será que chamo uma ambulância?
Abro um olho só para checar se não era fruto da minha imaginação, mas não consegui manter o outro fechado perante a maravilhosa visão que chegou a mim. Você estava lá Mari, na minha frente, reluzindo um amarelo dourado como a auréola de um anjo. Aquele amarelo invadiu minha escuridão e brilhou como ouro, me senti o ser mais rico do mundo apenas por ter o vislumbre daquela visão.
Então a inconsciência finalmente chegou m tirando daquela maravilhosa alucinação.
1089 palavras.
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