"Bem, o céu finalmente está azul. A chuva e o vento pararam de soprar, mas você está preso na mesma tempestade de sempre outra vez. Você se agarra ao seu guarda-chuva, querido, mas eu só estou tentando te dizer que sempre houve um arco-íris pairando sobre sua cabeça" - Rainbown, Kacey Musgraves
Dedico esse capítulo à silvakauane86
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Ao saltar do banco de trás do táxi, diretamente para a recepção do hospital cardiológico de Nashville, onde deveria assinar a papelada do seguro, viu a senhora de uniforme azul marinho abrir um sorriso largo e informar logo de cara: Há pouco um doador anônimo houvera entrado em contato, e a coparticipação tinha sido paga.
John queria rir de nervoso, e chorar, e socar as paredes de raiva, mas a verdade é que estava se sentindo aliviado.
Eram tantas sensações confusa e conflitantes.
Ao mesmo tempo que ele estava feliz por seu pai ter conseguido o transplante, ele sentia medo, muito medo do que o próximo capítulo da sua vida reservava. Medo de dar tudo errado.
Ao mesmo tempo que estava grato pela ajuda dos Jones, ele não queria aceitar um único centavo.
Não precisava ser tão orgulhoso.
Ele próprio costumava dizer pra avó que ela deveria aceitar a ajuda de Bennet quando ele enviava dinheiro. Para ela, vez ou outra, faltava, para ele, sempre sobrava. Quando era novo John não costumava ver mal algum naquilo. Não conseguia entender o motivo para Judith devolver mensalmente o dinheiro que lhe era enviado pelo filho, mas agora finalmente entendia.
Se sentia inferiorizado, principalmente por saber de quem vinha a ajuda: Alison Grace.
Talvez a garota não tivesse dinheiro suficiente para fazer essa doação, mas sabia que fora ela quem convenceu o pai ao ato de solidariedade.
Ao contrário da imagem que construiu em sua mente ao longo dos anos, Bennet Jones não era um homem mal. Talvez um pouco frio, fechado, sempre concentrado de mais no trabalho, mas no tempo em que trabalhou em seu escritório, John pôde perceber que o senhor Jones tinha um lado fraternal e solidário.
Talvez o que o houvesse feito mudar de opinião sobre Bennet houvesse sido as conversas que tinha com seu pai no leito toda manhã, e como Frederick gostava de contar histórias sobre a juventude de ambos.
A verdade é que apesar da fachada dura, Bennet era sempre educado e cortês com todas as pessoas, firme, porém sem ser grosseiro, e era evidente como se preocupava com o futuro da filha.
"Alison, não se atrase para o jantar", "Alison, não perca a hora para a aula", "Alison, tire os fones de ouvido agora", "Alison, esse sapato não condiz com a sua imagem". A garota seguia sem contestar todas as regras que lhe eram impostas.
Às vezes ele se via como num espelho. Uma imagem antiga e embaçada de si próprio.
Quando novo, seus pais sempre lhe cobraram dedicação nos estudos, nas tarefas de casa, e principalmente na missão da igreja. John nunca fora o tipo de garoto que se envolve com coisas erradas, que sai para festas ou que fica até tarde fora de casa.
Quando sua mãe morreu, foi como se sua vida fosse um trem sem maquinista, em alta velocidade, desgovernado, saindo dos trilhos e seguindo rumo a um precipício. Uma queda inevitável.
Tudo tinha sido assim pra ele nos últimos anos. Uma montanha russa de poucos altos, e muitas quedas. Talvez esse fosse o motivo para ele sentir tanto medo do que lhe aguardava.
Não. John não sentia medo. Ele se sentia apavorado. Ao contrário do que esperava, não pôde ver o pai antes da cirurgia.
Órgãos transplantados não sobrevivem por muito tempo fora do corpo, de modo que o procedimento foi iniciado às pressas.
Foram intermináveis as horas em que ele apenas se sentou naquela cadeira desconfortável, encarando as mesmas paredes brancas que lhe causavam náuseas, e ficou esperando por uma notícia.
Quando ela veio, lágrimas grossas escorreram de seus olhos azuis, e seu corpo foi preenchido por uma sensação de alivio, como um fardo enorme sendo removido das suas costas.
Sabia que essa era apenas uma página virada, e não um final definitivo, mas sentiu necessidade de agradecer. Não estava mais furioso ou humilhado, fazia questão de devolver aquele dinheiro, é claro, pagar cada centavo, mas de momento se sentia grato.
O dia já tinha amanhecido quando ele deixou a enfermaria, e mesmo após passar a noite acordado ele não sentia sono, apenas precisava esclarecer a cabeça, então caminhou sem destino pelas ruas arborizadas.
Sob o céu azul do verão do Tennessee, John tinha dificuldade de acreditar que esse era o jeito que a tempestade da sua vida finalmente chegava ao fim. Sentiu seu corpo ser preenchido pela incomum sensação de esperança. Ele queria ver o arco-íris de Alison Grace. Somente uma vez na vida queria ser positivo como somente ela conseguia.
Seus pés o levaram automaticamente para uma conhecida rua da cidade, um conhecido prédio alto, cuja cobertura era onde a garota morava.
Remoeu por alguns instantes sua própria vontade de adentrar o edifício, mas apesar do medo da recepção talvez não-tão-calorosa, criou coragem para fazê-lo.
Os olhos azuis da garota encararam-no espantados quando ela abriu a porta de madeira de entrada.
John tinha os cabelos loiros um pouco despenteados, e os olhos cercados por uma olheira funda. Ele próprio não percebia o quanto estava exausto. Foi instintivo envolvê-lo em um abraço.
Seus corpos como duas compressas quentes amortecendo as dores um do outro.
- Você não precisava ter feito isso - ele sussurrou.
Seus dedos grossos deslizavam pelos cachos loiros da garota de um jeito carinhoso, e o hálito quente colidindo contra a sua pele fez um arrepio subir pela coluna de Alison Grace, fazendo-a estremecer.
Normalmente proibia-se de sentir esse tipo de coisa, mas nesse instante, era inevitável.
- Eu faria qualquer coisa pra não precisar te ver sofrer, John Rutherford - ela confessou. - Eu amo você.
Mas a última parte só foi dita em pensamento.
É claro que ela amava John, e é claro que ela queria que o sentimento fosse tão fraternal quanto ela sabia que precisava ser, mas não conseguia.
Ela amava John das formas mais intensas e proibidas possíveis, e ele, por outro lado, jamais entenderia como ela podia dizer aquilo quando não tinha pensando duas vezes para deixá-lo sem qualquer notícia na Geórgia dois anos atrás.
Ambos levaram um susto ao ouvir um pigarrear grave vindo de trás das costas de Alison.
- Senhor Jones - John ajeitou a postura e esticou a mão para cumprimentar Bennet.
- Rutherford - devolveu o cumprimento. - Como está o seu... Ahn... Frederick?
Ele ajeitou a gravata junto ao paletó e sentiu-se um pouco embaraçado com a situação.
- A cirurgia saiu conforme o esperado, agora ele está em recuperação, e bem... É um procedimento delicado, e nós sabemos que ainda existem riscos, mas meu pai acredita que as coisas sempre saem conforme os planos de Deus.
- O Frederick sempre foi um homem de muita fé. - Bennet sorriu.
- Senhor Jones, eu não tenho como te agradecer pela ajuda, eu vou pagar tudo de volta quando...
- Fica tranquilo, garoto. - Ele espalmou o ombro do garoto e encarou os seus olhos azuis. A proximidade ocasionada pelo ambiente de trabalho compartilhado, fez crescer em Bennet uma sensação ainda maior de paternidade quando o assunto era John. - Receba como um presente. Frederick é um amigo de longa data, eu tenho muito apresso por ele, não poderia ter feito menos que isso.
John sorriu e agradeceu mais uma vez.
Desistira de entender a família Jones. Enquanto Alison o deixara sem qualquer explicação na Geórgia, e agora agia como se se importasse de fato com ele, Bennet jamais houvera visitado seu pai no hospital, ou em sua fazenda, em todos os anos em que ficaram afastados, e agora agia como se ambos fossem grandes amigos.
- Você deve ser o famoso John Rutherford. - A senhora loira surgiu da escadaria com os cabelos presos em um coque alto, e esboçou um sorriso de lábios cerrados.
- É um prazer conhecê-la senhora Jones. - Ele esticou a mão para cumprimentá-la.
- Por que não se junta a nós para a refeição, querido? - Christina sorriu, e então desviou os olhos para a filha. - Grace, por que você não sobe e se arruma adequadamente para a refeição? Nós temos visitas.
A garota encarou seu próprio corpo, se sentia confortável com as roupas que estava. Um vestido de verão estampado, sandálias baixas, e os cachos soltos caindo pelos ombros.
- Não se incomode por minha causa - John segurou seu pulso antes que a garota pudesse escapar. - Você está ótima desse jeito, Ali.
Ela sorriu timidamente, mordendo os próprios lábios e deslizou os dedos pelos cabelos loiros.
- Alison, querida - Christina disse com uma simpatia forçada, mas com o olhar carregado de impaciência.
Ela encarou os olhos azuis irritadiços da mãe, e depois os olhos azuis gentis de John, que conseguiam brilhar ao olhá-la apesar da expressão de cansaço.
- Eu estou bem desse jeito - se atreveu a dizer.
Christina apertou os próprios dedos, e contorceu o rosto em um sorriso plastificado. Não começaria uma discussão em frente ao convidado.
- Bom, então vamos logo para a mesa?
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Obrigada pela paciência comigo e meu bloqueio criativo, minhas estrelinhas!
Vocês que leem, votam, comentam, são o motivo pra eu continuar buscando inspiração pra concluir essa história. Amo vocês!
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