VII - Quebrando Regras
"Contanto que esteja do meu lado, tudo ficará tudo bem. Se for pra ser, será, então deixe ser." Meant to be, Bebe Rexha
Alison e John caminharam, um ao lado do outro, pelos vários quilômetros de extensão da praia e, nem mesmo a atmosfera silenciosa que pairava entre eles, foi capaz de fazer o espírito da garota se acalmar.
Ela queria saber mais sobre John, queria saber tudo sobre ele, mas apenas o observava em silêncio, analisando o perfil de rosto, e a maneira como sua pele clara refletia a luz do sol, que aquecia seus corpos impiedosamente enquanto o horário mais quente do dia se aproximava.
Tinham tantas coisas que Alison gostaria de perguntar, mas, desde a sua última resposta, ela já não sabia se iria querer escutar o que quer que ele pudesse ter para responder.
Alison raramente se enganava, e agora, começava a se convencer de que estivera completamente errada sobre John desde o primeiro momento que o conheceu.
− Eu acho que você ficou me devendo um segredo – John foi o primeiro a quebrar o silêncio.
Matemática nunca fora exatamente o ponto forte de Alison Grace, a garota sempre se dera melhor com ciências humanas, no entanto, ela pensou que não precisava ser nenhum gênio de exatas para fazer as contas e constatar que estavam quites.
− Nada disso – reclamou. – Um segredo por outro, esse foi o acordo.
− E eu contei dois – o loiro rebateu. – Sobre o meu pai, e sobre a minha mãe. Então eu acho que é a sua vez de me contar algo seu.
A garota revirou os olhos. Ela pensou que talvez John estivesse certo, ele havia mesmo contado mais um segredo, mas nem por isso ela iria ceder. Matemática podia não ser o seu forte, mas Direito, definitivamente, era. Ela havia se preparado a vida toda para ser uma boa advogada, então, não abriria mão de defender o próprio caso.
− Sem chance. Um segredo claramente era complemento do outro, o que torna isso um segredo duplo, e não dois segredos. Além do mais, eu disse que você não precisa contar o segundo, e você o fez por livre e espontânea vontade – protestou. – Você não tem um caso aqui, John Rutherford.
− Disse quem? – ele provocou com um sorriso de lado. – A constituição dos Estados Unidos? Ou o manual da perfeição de Alison Grace?
A garota sentiu o sangue ferver em seu rosto e cruzou os braços na frente do corpo.
− Eu não sei por que você fala de "perfeição" como se fosse um defeito quando a definição dessa palavra no dicionário é justamente "qualidade daquilo que não tem nenhum defeito" – disse, e John não pode evitar franzir o cenho espantado não somente com tal conhecimento, mas com a maneira como ela conseguia parecer inteligente e desesperada ao mesmo tempo.
− Você sabe a definição de da palavra "perfeição" no dicionário? – Ele riu surpreso.
− Eu sei a definição de um monte de palavras, e você devia começar a estudar um pouco o dicionário também, pra aprender que ser perfeito não é um defeito.
− E você devia parar de estudar o dicionário e começar a interagir com pessoas de verdade, porque assim você teria percebido que eu nunca disse essa palavra com esse sentido que você está sugerindo.
− Com que sentido você usou então? – Ela arqueou a sobrancelha e encarou-o ávida por uma resposta.
− Eu usei no sentido de que você faz tudo certo, não quebra nenhuma regra. – O loiro sacudiu os ombros. – Eu estive lá Alison Grace, eu sei como tentar ser perfeito pode doer, mas não em você, você faz a perfeição parecer fácil.
− É porque eu não estou tentando ser perfeita, John – ela rebatou, e cessou a caminhada para encará-lo.
− Não? – indagou, e a garota sacudiu a cabeça em negativa. – Então me diz quando foi a última vez que você fez algo que fosse proibido.
A garota refletiu por alguns instantes. Ora, só porque ela não andava por aí pichando muros e quebrando leis, não significava que ela estava tentando ser perfeita. Fazer sempre o que é correto era algo que vinha naturalmente para Alison Grace, não precisava tentar, ela fora criada exatamente desse jeito.
− As regras existem para serem seguidas – disse orgulhosa. – Se não fossem por elas ainda estaríamos morando em cavernas e fazendo fogueiras para sobreviver.
− Tudo bem – ele concordou. – Algumas regras existem pra tornar a convivência social mais fácil, mas outras, só existem pra tornar a vida um pouco mais chata. Ser perfeito é chato, Alison, e vai chegar uma hora que você vai perceber que nada disso valeu a pena.
−Eu não sou chata – ele reclamou revirando os olhos. – E, também, eu poderia muito bem quebrar uma regra. Eu te contei sobre quando eu colei naquela prova, aquilo foi muito perigoso, eu podia ter sido pega.
− Você quebraria uma regra inútil? – Ele duvidou, mas Alison sacudiu a cabeça confirmando que o faria.
Nesse instante, os olhos de John escaparam para as grandes rochas da costeira, e Alison seguiu a linha de seu olhar até a placa de madeira encravada com os dizeres: "Proibido subir. Risco de queda".
− Não! – ela protestou, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, o loiro estava correndo em direção a elas.
Sua primeira reação foi apenas analisar embasbacada a maneira como os músculos do garoto se tencionavam enquanto ele corria, e como os fios dourados de seus cabelos esvoaçavam com o vento, lhe conferindo uma aparência selvagem.
Ela não sabia definir o que era essa sensação confusa que John Rutherford lhe causava, ela nunca tinha sentido algo parecido com aquilo. Então apenas sacudiu a cabeça e obrigou-se a se concentrar.
− O que você está fazendo, John? – Gritou correndo em sua direção.
Sem parecer escutá-la, o loiro enganchou os dedos sobre uma das rochas e subiu sem muita dificuldade, e, assim que estava no topo dela, estendeu a mão para Alison que o encarava atentamente ali de baixo, com os olhos arregalados.
− Vem – disse. – Eu te ajudo.
− Sem chance! – protestou. – Eu não vou subir aí, você não leu a placa? Isso é perigoso.
− Eu pensei que você tinha dito que quebraria uma regra inútil – ele provocou.
Alison não queria prestar atenção no sorriso torto que ele esboçava, ou na maneira que o vento fazia seus cabelos se esvoaçarem, muito menos, no fato de que seu corpo tinha a forma escultural perfeita, como uma daquelas estátuas gregas que ela vira em sua última visita ao museu da sua cidade natal.
− Isso não é uma regra inútil! – gritou. – Você pode cair daí e morrer.
− Então eu terei morrido fazendo algo divertido. Você vai ficar aí em baixo, vivendo sua vida perfeita e chata, e vai morrer sem ter feito nada que lhe desse prazer. Todo mundo vai morrer, Alison. Eu não sei se é a vontade de deus, ou se simplesmente acontece, mas todo mundo vai morrer. Cabe a você escolher se quer viver, ou se quer passar o resto da sua vida apenas esperando a morte chegar.
Quando a garota titubeou um pouco, ele voltou a esticar a mão e ela bufou, cedendo e segurando ali.
John puxou-a para cima com a força e, assim que conseguiu ficar de pé, e encará-lo para agradecer pela ajuda, Alison deparou-se com os olhos azuis do garoto reluzindo como um par de faróis, bem diante dos seus, perto de mais.
Instintivamente, a garota deu um passo para trás, e seu corpo escorregou. Ela balançou os braços no ar perdendo o equilíbrio, mas antes que pudesse cair, sentiu o corpo musculoso de John Rutherford agarrá-la pela cintura e puxá-la em sua direção.
Ela encarou-o com os olhos arregalados, os dele agora estavam ainda mais perto do que antes, de modo que era inevitável notar todas as diferentes nuances de azul que moravam ali.
O tom de sua íris, a cor azul do céu e do oceano refletida em suas pupilas negras, e os seus próprios olhos. Alison via seus próprios olhos azuis refletidos nos olhos azuis de John, e isso a fazia sentir-se um pouco perdida ali. Ela se via em John, e ele se via nela também, como se estivessem ligados por uma espécie de conexão.
− Eu avisei que era perigoso! – ela disse em um tom furioso, mas a respiração de John tocando seu rosto fez sua própria voz gaguejar. – Eu poderia ter morrido, e teria sido culpa sua.
− Ao menos você não poderia se gabar do quanto estava certa e eu errado. – Ele esboçou um sorriso e mordeu os próprios lábios, que estavam extremamente próximos aos dela.
− Você ia responder criminalmente, e provavelmente pegaria uma prisão perpétua. Meu pai é o melhor advogado do Tennessee, e minha mãe é juíza, eles não iam deixar você sair impune.
− Se você morresse Alison Grace – ele começou a dizer, mas fez uma breve pausa perdendo-se na profundidade azul do olhar ávido com que a garota o encarava. – A prisão perpétua seria a pena mais branda que eu iria pagar. Se algo de ruim acontecesse com você por minha causa, eu jamais iria me perdoar.
− Você não ia mesmo merecer perdão – ela revidou.
John deixou que seus dedos deslizassem pelo rosto de Alison e enroscassem em seus cabelos loiros cacheados, puxou com suavidade o seu rosto para perto do dele, até que suas testas ficassem coladas.
− É por isso que eu jamais deixaria algo ruim te acontecer. – confessou. – Eu já perdi muita coisa que eu amo, eu não quero perder você.
Como que movidos por magnetismo, os seus lábios procuraram o contato um do outro, e Alison sentiu o coração disparar quando uma língua quente e úmida invadiu sua boca. Ela nunca havia beijado.
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