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37 - pirulitos de coração

A NOITE ESTÁ surpreendentemente fria quando saímos da Lanchonete Limonada. Algumas pessoas ainda estão na rua, fantasiadas, e Mina e eu caminhamos juntas, ela falando sobre os melhores lugares pra pegar doces, como se eu conhecesse direito os bairros da cidade.

— Mas a gente não tem muito tempo, então vamos torcer pra achar alguma casa ainda entregando doces por aqui mesmo — ela avisa, olhando pra mim e sorrindo. — Posso te pedir uma coisa que... eu sempre quis pedir, mas nunca tive coragem?

Ergo uma sobrancelha, sem saber o que esperar.

— Pede.

— A gente pode andar de mãos dadas?

Abro o maior sorriso, me rendendo na mesma hora. Estendo a minha palma na sua direção e a sinto segurar firme, nossos dedos se entrelaçando em um encaixe perfeito.

— Sei que possivelmente a gente já deu as mãos assim antes — ela diz, sorrindo com os olhos. — Mas agora é diferente. Agora é... mais bonito.

Concordo, apertando sua mão de leve.

Cruzamos uma esquina e alcançamos uma área mais residencial. Seria um pouco assustador andar tão tarde da noite pela cidade, mas as ruas ainda estão movimentadas, gente indo e vindo com fantasias cada vez mais variadas e criativas. Cruzamos com um cara vestido de árvore de Natal, e não seguramos o riso.

— Acho que ninguém vai me dar doces. Não comigo vestida assim.

Mina me olha de cima a baixo, como se só notasse agora que estou com uma meia-fantasia tosca de pirata.

— Do que você tá fantasiada, aliás?

— De Eva Aquário — brinco, e ela ri, me pedindo pra falar sério. — O Bruno me emprestou o colete da fantasia dele e... — tiro o tapa-olho do bolso do meu short, o colocando no rosto —... isso aqui, ó.

— Era pra ser um pirata? — Mina pergunta, e eu assinto como se a resposta fosse óbvia. — Sem querer ofender, mas tá péssimo, Eva.

— Eu sei, mas foi o melhor que a gente conseguiu.

Mina me encara por alguns segundos, me analisando. Antes que a gente alcance uma das casas com as luzes ainda acesas, ela me puxa até uma arruela, um espaço estreito entre uma casa e outra.

— Calma, eu vou dar um jeito nisso — avisa, tirando do bolso da calça um lápis de olho.

— Por que você anda com isso?

— Ah, eu não podia sair de casa sem. Sou uma vampira, esqueceu?

Solto uma risada, sentindo a ponta do lápis começar a manchar o meu rosto.

— Sabe que a Marceline também é bi, né?

— Sei — ela diz, se afastando por um segundo só pra que eu possa ver seu sorriso. — Foi intencional.

— O que você tá fazendo? — pergunto, ela parecendo muito séria enquanto rabisca próximo da minha boca.

Mina solta uma risada, o que indica que com certeza não tá ficando como ela queria.

— Um bigodinho de pirata.

— Desde quando piratas têm bigode? — pergunto, fazendo uma careta.

— O Capitão Gancho tem — ela explica, o que não é uma justificativa muito boa, mas não contesto. — E qual é, Aquário? Você tá ficando linda.

Reviro os olhos, tentando me concentrar em qualquer coisa que não seja a garota a centímetros de mim, porque não quero ficar nervosa, mesmo sabendo que agora tá tudo bem olhar pra ela.

Meu Deus.

Tá tudo bem olhar pra ela.

Me dar conta disso faz todas as borboletas no estômago começarem a dançar novamente, e eu preciso me segurar pra não abrir o maior sorriso de novo. Tá tudo bem olhar pra Mina Leão, e pensar nisso é bom. Só não tão bom quanto virar mesmo a minha atenção para o seu rosto, o que eu acabo fazendo sem querer, e vê-la me encarar de volta deixa minhas pernas bambas. Ela sorri, tímida, desviando o olhar logo depois.

— Pronto — diz, se afastando pra ver sua nova obra de arte. — Caralho, você tá uma gata, Eva.

— Mentirosa — resmungo, buscando meu celular e tentando ver o meu rosto na câmera frontal. Mesmo com a pouca luz da rua, consigo ver as linhas pretas desenhadas, e a risada escapa na mesma hora. — Você mirou em um pirata e acertou em um... sei lá o que é isso. Parece que tô indo dançar quadrinha no São João.

— Deixa de ser chata — ela pede, fingindo aborrecimento.

— Desculpa, desculpa — peço, guardando meu celular de volta no bolso. — Ficou muito bom, eu tava brincando. Você merece um beijo como forma de agradecimento.

A puxo mais pra perto, a apoiando na parede enquanto me aproximo dela, que vira o rosto na mesma hora.

— Tá doida? Não quero manchar o meu rosto com isso. — Ela ri quando vê meu biquinho, eu exagerando no drama de propósito. — Tá bem... — resmunga, me dando um beijo rápido na bochecha. — Feliz? Agora vem comigo.

Mina me arrasta até a casa mais próxima, alguns adolescentes jogando conversa fora na varanda da frente. Acho que eles já se cansaram de pedir doces ou sei lá, e dá pra ouvir as risadas antes mesmo de alcançarmos o muro baixo. Um garoto vestido de Coringa se volta na nossa direção assim que nós duas pisamos na calçada, Mina sorrindo para ele e explicando a minha situação.

— Então, a gente só precisa de um doce. Pode ser qualquer um aí que tenha sobrado, mas é que a Eva, essa garota aqui, ó — ela aponta pra mim, que sorrio sem jeito —, precisa muito de um. Caso de necessidade mesmo.

— Serve um pirulito em formato de coração? — grita uma das garotas na varanda, revirando a tigela perto da porta que possivelmente tava cheia de doces no começo da noite.

Mina sorri, acenando em concordância.

— Serve, sim!

Outro garoto, esse com uma fantasia bacana de esqueleto, vai até o portão nos entregar o doce. Com um sorriso simpático, ele estende um pirulito para cada uma.

— Um pra você e outro pra sua namorada.

Vejo Mina ficar vermelha na mesma hora, e sou eu quem o agradece, porque a garota parada ao meu lado parece travar por um segundo. A gente dá boa noite pro grupo e voltar a caminhar até o Limonada, onde a galera com certeza já deve tá esperando a gente com a comida.

— Ei — murmuro, abrindo meu pirulito e o enfiando na boca. — Tá tudo bem? Você parece um pouco nervosa.

— Eu tô legal — ela garante, também tirando o plástico em volta do seu pirulito de coração. — Foi só a palavra que ele usou, sabe?

— Foi... forte. A gente não precisa usar essa se não quiser.

Mina sorri, sem jeito. Ela nega com a cabeça logo depois, pondo o doce na boca.

— Não é isso — assegura, o pirulito entre os dentes fazendo sua voz soar engraçada. — Não tô assustada com o peso dela nem nada, é só que... Eu disse que ia ser honesta contigo, mas eu acabei não te contando uma coisa, porque eu não sabia como.

— Do que você tá falando?

— Eu...

Ela para de andar, a Lanchonete Limonada logo em frente. Com o olhar, pede que eu a siga até lá, mas não entramos, só nos apoiamos na parede ao lado da entrada e assistimos juntas o movimento da rua fluir.

— Lembra quando eu te falei, durante as férias, que eu tava com uns planos e que eu te contaria caso eles dessem certo? — Assinto, meu coração já começando a acelerar. — Então, eles meio que deram.

— Meio? — pergunto, as sobrancelhas franzidas.

— Tá, eles deram certo. E descobrir isso foi um alívio na semana passada, mas agora tá tudo me soando mais confuso, porque a gente voltou a se falar e finalmente estamos como eu sempre quis que estivemos, mas...

Não respondo, só espero que ela se acalme até se sentir pronta pra me contar seja lá o que for. Estou nervosa e agora triste, porque meu pirulito estiloso de coração já acabou, mas tudo bem. Com o gosto bom de morango ainda na boca, eu concentro cem por cento da minha atenção nela.

— Eu venho dizendo há meses pra você que tudo tava uma confusão, porque realmente tava. Desde o início do ano eu venho tentando convencer os meus pais que eu, e somente eu, podia decidir sobre o meu futuro, mesmo que minhas escolhas não parecessem muito boas pra eles — explica, encarando os próprios pés. — No mês passado eu finalmente consegui o que eu queria. Fui aceita numa companhia de dança.

— Meu Deus, Mina, é sério? — Ela assente, devagar. — Isso é incrível!

— É, é mesmo — admite, me dirigindo um sorrisinho. — Meus pais não puderam ir contra isso, sabe? Viram que a coisa é mesmo séria, então eu vou. Finalmente vou fazer o que eu quero, decidir sozinha o meu futuro e... viver a vida que eu escolhi. — Ela dá de ombros, mordendo os lábios de leve. — Só tem um problema.

— A companhia não é aqui em Boafortuna, né?

Ela nega com a cabeça, voltando a encarar o chão.

— Tô indo embora pra Velha Laguna no começo de janeiro — conta, levando o olhar para a rua não muito movimentada. — E pareceu o escape perfeito enquanto estávamos brigadas, mas agora... Parece ter sido uma escolha péssima.

— Ei, não diz isso — peço, franzindo as sobrancelhas mais uma vez. — Você fez a escolha certa pra você, Mina, e só isso importa de verdade. Eu tô feliz pra caramba, muito mesmo, por você ter conseguido. Sei o quanto você merece isso e muito mais.

— Alguma chance de você vir pra Velha Laguna comigo?

Fico em silêncio. Não consigo responder, mesmo que a resposta pareça meio óbvia. Eu estava cogitando me mudar pra lá pra me livrar de Mina Leão, então devia ser uma escolha igualmente fácil ir por ela também. Há curso de cinema por lá, e mesmo que no fim eu não venha a estudar isso, a cidade é enorme e eu sei que devem existir várias possibilidades pra mim por lá. Mas...

— Minha mãe vai ter um bebê — conto, e Mina assente, me dirigindo um sorriso triste. Acho que ela já percebeu aonde quero chegar.

— O Bruno me contou. Seus pais devem estar muito felizes.

— Estão, tá todo mundo muito empolgado. Principalmente a Lola — digo, soltando uma risadinha e voltando minha atenção também para a rua. — Sei que eu deveria pensar em mim agora. Com certeza a mamãe me apoiaria se eu decidisse ir, mas...

— Não é a hora certa.

Concordo, soltando um suspiro.

— É loucura porque eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu finalmente sinto que tenho uma família aqui — explico, tirando o tapa olho ridículo e brincando com sua alça. — Recusei minha nova vida por meses, mas acho que agora aceitei que aquela casa é a minha casa, e que aquelas pessoas são minhas pessoas também. Não sei se tô pronta pra dizer adeus agora, logo quando tudo parece tão certo.

A mão de Mina encontra a minha, a apertando num gesto delicado de suporte. Ela entrelaça nossos dedos, o encaixe perfeito fazendo meu peito ficar quentinho.

— Então... a gente tem dois meses — ela diz, e eu sinto um nó na garganta se formar.

— Dois meses — repito, tentando não entrar em pânico. — É o suficiente, né? Ainda vamos ter o Natal juntas, e com certeza o Ano Novo.

Ela concorda, tocando sua testa na minha.

— E não se esqueça do baile de formatura.

— Ai meu Deus, o baile!

Mina ri, se afastando pra poder me encarar. Eu realmente não lembrava da droga do baile de formatura, e isso me deixa muito desconcertada. Mina não vai mais para a festa com o Bruno, então eu posso convidá-la, não é? Ou está muito cedo e isso seria babaca da minha parte? Bem, eu não acho que isso magoaria o meu irmão, já que foi ele o maior cupido dessa história.

— Você por acaso já tem acompanhante pra noite? — pergunta Mina, soando indiferente, como quem não quer nada.

— Pior que não — digo, imitando seu tom de voz. — Tudo bem se... eu te convidasse?

Vejo Mina revirar os olhos, olhando pra mim com um olhar acusatório.

— Você já me convidou, Eva.

— Quê? Quando?

— Aquele discurso do Bruno? — ela diz, negando com a cabeça. — Eu amo o seu irmão, mas eu soube na mesma hora que aquelas palavras não eram dele. Só você me diria que se sente grande comigo, Aquário.

Meu Deus, o Bruno é um idiota burro. Coitado.

— Ele pediu ajuda sobre como te chamar e...

— Tá tudo bem. Você tava só sendo uma boa irmã e eu, por outro lado, uma péssima amiga — ela responde, dando de ombros. — Eu não devia ter aceitado sabendo que eu tava ouvindo aquilo tudo de você, mas pelo menos tive coragem pra voltar atrás, e... — Ela se afasta da parede, indo até o centro da calçada e olhando pra mim de frente —... eu quero poder fazer certo dessa vez, te chamando pra ser o meu par.

Sinto meu rosto pegar fogo, Mina tirando o celular do bolso e abrindo o Spotify. Não sei o que esperar, mas já sei que vai ser vergonhoso pra caramba, e de propósito. É um pedido pro baile de formatura, né? É impossível isso ser não-clichê e não-propositalmente-brega.

Mas eu não seguro o riso quando a música de A Bela e a Fera começa a tocar.

— Não, Mina, pelo amor de Deus.

— Qual é, é romântica, tá legal? — ela rebate, mas também tentando não rir. — Então tá, vamos lá. — Ela suspira, segurando a minha mão direita com a palma livre. Meu rosto continua muito, muito vermelho. — Eva Aquário, eu disse que nós éramos almas gêmeas pouco tempo depois de te conhecer, porque eu sentia que tinha algo de especial na garota que, mesmo tendo falado poucas vezes comigo, parecia ter uma visão do mundo muito parecida com a minha. Não sei explicar o que eu já sentia naquela época, mas sei que, quando disse que havíamos nascido uma para a outra, eu realmente torci pra que isso fosse verdade.

Acho que por causa da música, algumas pessoas se viram em nossa direção enquanto passam por nós. Recebi tantos olhares hoje, e sem querer, que superei a minha cota de atenção pra vida toda. Mas Mina não parece se importar. De costas pra rua, sua atenção está inteiramente em mim, e não posso dizer que não estou achando isso bom.

— Eu já disse isso essa noite — ela continua, e eu tento manter contato visual sem entrar em colapso —, mas eu realmente não odeio te ver dançar. Sei que acha que estou mentindo sempre que digo isso, mas de verdade, eu amo ver você dançando. E te ver dançando comigo nessa noite especial vai ser a coisa mais incrível que eu já vou ter feito nos meus quase dezoito anos de existência.

— Tá exagerando muito — resmungo, e Mina revira os olhos.

— Cala a boca, Aquário — pede, ajeitando a postura pra continuar com seu discurso. — Eu não consigo me ver no baile sem imaginar na mesma hora você do meu lado. Eu quero rir contigo, quero beber ponche ruim e quero muito, muito mesmo, dançar todas as músicas da noite com você. — Ela sorri, respirando fundo antes de dizer: — Então? Você gostaria de ser a minha acompanhante na suposta noite mais importante da nossa vida, mas que possivelmente nem vamos nos lembrar direito no futuro?

Solto uma risada, a puxando mais pra perto. Mina apoia uma das mãos na parede, se mantendo afastada só pra me provocar, e o seu perfume de hortelã me atinge tão em cheio que por um segundo eu perco a concentração.

— Com você dançando comigo, eu duvido muito que eu não lembre de cada mínimo detalhe, mesmo depois de décadas e décadas.

— Então é um sim? — ela pergunta, erguendo uma sobrancelha.

Levando minhas mãos até seu pescoço, a guio até mim, nossos lábios se encaixando e eu sentindo toda a revolução de novo. Um beijo doce com gosto de pirulito de coração.

— É um sim — deixo claro assim que nossas bocas se afastam, ela me encarando tão de perto que dá pra ver os seus olhos brilhando.

— Dois meses, né? — lembra, dando de ombros enquanto engole em seco. — A gente consegue fazer esse tempo valer a pena.

— Dois meses — repito, numa tentativa de aceitar isso de uma vez por todas, e concluo com a única verdade em que quero acreditar: — Vai dar tudo certo.

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