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29 - assassina de almôndegas

É A PRIMEIRA vez em uns seis meses que uso meus óculos em público. Mamãe começou a se preocupar porque minha visão já não anda mais a mesma, e eu queria muito contestá-la, mas como sempre Dona Regina está certa. Acho que preciso de óculos novos, porque encaro o gráfico ampliado na apresentação Power Point com os olhos apertados. Mal estou conseguindo ler, mesmo as letras sendo enormes.

— Como vocês podem ver, se escolhermos os fotógrafos desse estúdio, nós economizaremos cinco por cento do valor, o que nos possibilitará...

A líder das turmas do terceiro ano é a garota de cabelos raspados da minha classe. Descobri só hoje que o seu nome é Julieta. Se eu estivesse no clima e nem um pouco deprimida, com certeza faria uma cantada propositalmente ruim sobre eu ser o seu Romeu e essas coisas, mas acredito que passarei os próximos dez anos sem flertar com alguém. Acho que é o certo, sabe? O melhor para a minha saúde.

Não tô prestando muita atenção nessa reunião de última hora que inventaram. Resumindo, a escola jogou a responsabilidade para nós esse ano, quando nos obrigaram a planejar sozinhos a festa de formatura. A maioria está achando isso o máximo, porque significa que, pela primeira vez na vida, o baile acontecerá exatamente como queremos, mas eu sei o que isso significa de verdade. Algumas brigas, frustrações e bate-bocas vão rolar soltas antes dessa bendita festa. E eu tô com zero saco pra entrar no meio dessas discussões idiotas.

— Ei, quer um biscoito?

Me assusto com o garoto se materializando do meu lado, mas logo volto a relaxar a postura. Nico se acomoda no banco do auditório à minha esquerda, me estendendo um pacote de biscoitos recheados de chocolate. Não são tão bons quanto os de limão, mas nunca sou de recusar algo doce. Sem falar que, mais uma vez, não tomei café. Pensei que essa droga de reunião fosse durar uns dez minutos, mas já estamos aqui há quase uma hora.

— Como se sente sendo obrigada a pisar na porcaria dessa escola nas férias? — ele pergunta, mordendo metade do biscoito que está na sua mão.

— Tô quase implorando pra alguém me matar. — Me encolho ainda mais no assento, assistindo Julieta apontar pra alguma estatística que não consigo ler. — Cadê a galera?

— A Lia tá passando uns dias na casa da Mabel, a prima dela — explica, a boca cheia. — Deve tá agora relaxando numa praia, a filha da mãe. Olinda e Bernardo não quiseram vir.

— Mas você quis, mesmo sabendo que ia ficar sozinho?

Nico me entrega mais dois biscoitos, dando de ombros em seguida.

— Tô esperando o Joaquim, na verdade.

Antes que eu pergunte quem é esse tal de Joaquim, o garoto de cabelo rosa que estava no abrigo da última vez em que estive lá aparece, e Nico se ergue num pulo do banco ao meu lado. Me dando o restante dos biscoitos no pacote, ele pergunta antes de sair:

— Vai ficar bem sozinha?

Faço uma careta.

— Não tô sozinha.

Aponto com a cabeça para os bobalhões subindo os degraus do auditório, carregando sacos de pipoca como se estivéssemos assistindo a droga de um filme ou coisa parecida. Nico se despede com um sorriso de compaixão, cumprimentando Bruno e Mina enquanto desce com Joaquim à procura de dois assentos vazios nas fileiras de baixo.

— Dá pra pular pro outro banco, maninha?

Reviro os olhos, tirando a mochila do meu irmãozinho do assento à minha direita e dando espaço para que ele e Mina Leão sentem juntos. Não acredito que estou dizendo isso, mas preferia mil vezes que fosse Bruno a pessoa ocupando o lugar ao meu lado, porque quando a garota se acomoda no banco do meio, sorrindo de um jeito fofinho para mim, todo o cheiro de hortelã parece desgrudar do seu corpo e atingir os meus sentidos como um soco. Maldito cheiro bom e malditas lembranças que me atacam com força, porque, eu juro, meus olhos cinematográficos transformam todas elas em homenzinhos furiosos, que me jogam no chão e me chutam pra valer. Pelo menos é como me sinto agora: levando vários chutes no estômago por causa da droga do seu cheiro de hortelã.

Santo Deus, acho que finalmente consegui superar o meu próprio nível de loucura.

— Quer um pouco? — pergunta Mina, me oferecendo o saquinho de pipoca.

— Não, obrigada. Tenho biscoitos — respondo, e ela me lança uma cara feia. Sei que odeia quando como essas coisas pela manhã, mas qual é. Mina sabe que não tem o direito de me exigir nada.

— Levanta a mão quem concorda em mudar o estúdio fotográfico, por favor? — ouço Julieta pedir, a voz firme que me faz voltar a atenção para ela.

Todos erguem o braço, mas eu duvido muito que a maioria dessas pessoas se importem com isso. Quero dizer, todo mundo tá animado pra formatura, pra festa e com certeza para o fim definitivo do Ensino Médio, mas há coisas mais importantes no momento do que essas fotos. Encontrar o par romântico para a noite é uma delas, assim como escolher a roupa perfeita e decidir onde vão fazer o cabelo e a maquiagem. É nesse tipo de futilidade que todo mundo anda se agarrando por aqui, porque ninguém quer encarar os verdadeiros monstros nos assombrando e pairando sobre nossas cabeças: os malditos vestibulares. Então, nessa decisão silenciosa e mútua, vamos todos apenas fingir que nada está nos acontecendo enquanto decidimos pela droga dos fotógrafos da formatura.

— Certo, próximo tópico, galera!

Meu Deus, alguém me tira daqui, por favor.

Busco o meu celular, duas mensagens da mamãe ainda não lidas. A primeira é uma foto do Ferrugem, dormindo em cima da Lola no nosso sofá. A outra é um link de um site sobre a universidade em Velha Laguna.

Matemática é o meu curso número um, mas a ideia de estudar isso pelos próximos quatro anos me deixa meio ansiosa. É uma decisão fácil demais, sabe? Precisei de zero esforços pra escolher isso e eu não sei se é assim que quero fazer as coisas. Nem cheguei a pensar de verdade em outras opções, e isso anda me tirando o sono. E se eu descobrir que odeio matemática na faculdade? E se for tarde demais pra voltar atrás?

Sem falar que, nossa, Velha Laguna. É a maior cidade por perto, quase uma metrópole, e ir pra lá significa que ficarei sozinha. Pela primeira vez na vida, estarei longe de Regina Aquário, que em breve será Regina Aquário Vinhedo, e isso me assusta. Não é que eu não queira sair dessa cidade e viver uma experiência totalmente nova e etecetera, mas não vou fingir que não estou com medo. Estou apavorada pra cacete.

— Isso vai demorar uma eternidade. Não quer dar uma saída?

Ouço Bruno murmurar, e claramente a pergunta não é para mim. Continuo com meus olhos no celular, mesmo que ainda não tenha lido uma palavra da matéria que a mamãe me enviou, mas desvio minha atenção quando a Mina pergunta:

— A Eva não quer vir com a gente?

Vejo Bruno me encarar, os lábios contraídos, me implorando em silêncio para que eu diga não. Eu não aceitaria de qualquer maneira, mas odeio sentir que só estou negando porque os seus olhos de cachorro sem dono estão me pedindo isso. Sei bem o que ele quer fazer sozinho com a Mina e, sinceramente, não tenho a mínima vontade de estar presente.

Balanço a cabeça em negação.

— Tem certeza?

— Uhum. Se divirtam — resmungo, dirigindo um sorriso amarelo para os dois.

Bloqueio o celular e me forço a prestar atenção na Julieta, ainda mostrando um gráfico estranho e sem sentido. Ela é muito bonita, principalmente sem o uniforme da Escola de Boafortuna. O batom azul a cai muito bem.

— Precisamos decidir se o ponche servido na festa será de framboesa ou de morango.

Ah, sinceramente.

Volto a desbloquear o celular, abrindo uma nova aba no navegador e buscando o site oficial da Universidade de Boafortuna. Ainda que mamãe me envie matérias e imagens da faculdade em Velha Laguna o tempo inteiro, eu sei o que ela quer de verdade. Foram dezessete anos juntas, não dá pra simplesmente ignorarmos isso.

Abro a galeria, passando devagar as fotos do campus. O prédio de artes é enorme, e o curso de cinema me chama logo a atenção. Não acho que tenha muito a ver comigo, mas sei lá. Olhos cinematográficos e essas coisas. Talvez as minhas ideias bizarras dessem bons filmes, se não me internassem numa clínica psiquiátrica antes disso.

Mas eu não sei se quero ficar em Boafortuna. Ficar significa aturar os Vinhedo pelos próximos anos, e minha nossa, se eu já não estou mentalmente desequilibrada hoje, com certeza ficarei se continuar naquela casa. Mas sei lá. Eu acabei de me mudar, até conheci uma galera legal por aqui, e não sei se estou muito disposta a passar por todo o processo de adaptação de novo. E odeio admitir isso, mas eu até que adoro o meu quarto, e nem vou começar a falar do Ferrugem e de toda a sua fofura e o quanto me despedir dele seria doloroso. É, quem sabe.

Talvez ficar não seja uma ideia tão ruim assim.

ME ASSUSTO QUANDO entro no carro e encontro Mina acomodada no banco traseiro. Já estava odiando a ideia de um almoço em família após a reunião que durou uma vida inteira, mas agora que sei que Mina Leão virá com a gente, juro que o meu desejo é cair morta nesse instante. Então, é assim que vai ser, né? Ótimo. Acho que namorar o Bruno já a torna alguém da família.

Quero dizer, eu sei que namoro ainda não é a palavra certa, mas é quase isso. Só que, sinceramente, pensar nos dois e completar com a palavra "namorados" me dá uma vontade absurda de vomitar. Mas foda-se, não me importo. Bom pra eles e tudo o mais.

— O Tales já está esperando a gente no restaurante, junto com as meninas — explica mamãe enquanto me jogo no banco do carona, pondo o cinto de segurança. — Me contem, crianças, como foi a reunião?

— Um saco — Bruno e eu reclamamos juntos, eu me esticando até o rádio à procura de uma estação boa.

— Obrigada mais uma vez pelo convite, Dona Regina — Mina agradece, e eu a vejo sorrir pelo espelho retrovisor.

Mamãe sorri de volta, educada.

— Pra senhorita é só Regina, por favor. E não agradeça, querida. Amiga dos meus filhos tem lugar especial na mesa.

O restaurante não é nenhuma Lanchonete Limonada. Na verdade é um lugar bem chique, o que me faz imediatamente ter vergonha por estar usando essas roupas largas e que poderiam muito bem ser confundidas com trapos velhos. Meus tênis surrados fazem barulho no piso lustrado do lugar e eu me encolho na cadeira assim que alcançamos nossa mesa.

Cassandra está concentrada tentando concluir uma fase do jogo no tablet da Lola, que assiste a irmã enquanto prende a respiração, nervosa. Mais uma vez, Mina arrasta a cadeira e se senta ao meu lado, sorrindo sem jeito enquanto dividimos um cardápio.

Mamãe e Bruno pedem por espaguete, Cass por alguma coisa na sessão de pratos veganos, Tales e Lola escolhem uma pasta de peixe que, na minha opinião, parece horrível. Depois de alguns minutos tentando encontrar algo minimamente bom, Mina e eu sorrimos uma para a outra quando o mesmo prato nos chama a atenção.

— Almôndegas no molho com purê de batata?

— Com certeza.

Não demora para que uma conversa se inicie, e ela se estende mesmo depois que nossos pratos são servidos. Mamãe e Tales parecem dispostos a interrogar a Mina, e eu agradeço aos céus por isso não ter nada a ver comigo. Meu irmãozinho, do outro lado da mesa, parece morto de vergonha, e eu me sinto no direito de estar me divertindo com isso. Pra caramba.

— O Bruno sempre foi um garoto muito tímido. É a primeira vez que traz uma garota para almoçar com a gente.

— É sério mesmo, pai?

— Não estou tentando queimar o seu filme — garante Tales, se segurando para não rir —, só estou tentando explicar para a Mina que ela é uma garota muito especial.

Mina sorri, tímida, enfiando um pedaço de carne na boca para não ter que responder.

— Até hoje a gente espera que a Cass traga um namorado lá pra casa.

— Ou namorada! — interrompe mamãe, batendo de leve no ombro do noivo. — Somos pais liberais e apoiadores, está bem?

Sorrio. Deus abençoe Regina Aquário.

E eu nem contei nada para ela, sabe? Sobre Cassandra e todas as bocas femininas que já beijou na Toca da Serpente. Mamãe só é naturalmente incrível.

— Claro, é isso aí! — concorda Tales com uma empolgação exagerada.

— Acho melhor vocês esperarem sentados, então — responde Cass, também sem jeito.

— E Mina e eu não estamos namorando — explica Bruno num resmungo, os olhos no seu prato.

— A gente tá só... passando um tempo juntos —Mina complementa, sorrindo para o meu irmãozinho boboca.

À minha frente na mesa, mamãe me encara com um olhar que conheço muito bem. Ela sempre me olha assim quando quer dizer nossa, que merda complicada! E Dona Regina tem razão. É uma merda complicada pra caramba, e eu tô atolada até o pescoço nisso tudo. Odeio estar apaixonada por Mina Leão, mas que inferno!

— Por favor, me diz que eu tô comendo do jeito certo.

— O quê?

Mina sorri, se aproximando mais e sussurrando de novo:

— Eu tô almoçando com uma família falsa-escocesa, Aquário! Aposto que tô usando a faca ou o garfo errado.

Não consigo controlar a risada que escapa, mas ninguém parece se importar.

— A Lola tá comendo o peixe com a mão — aviso, cortando um pedaço grande da almôndega e enfiando na boca. — Eles podem ser ricos pra caramba, mas não acho que se importem com etiqueta, Mina Leão.

— Pra você é fácil falar — ela sussurra de volta, revirando os olhos de um jeito propositalmente exagerado. — É fofa até quando é uma assassina de almôndegas.

Sorrio, sentindo todo o meu rosto ficar vermelho, logo antes de Tales iniciar uma conversa sem graça sobre a escola, o que faz o assunto formatura surgir. Bruno fala sobre pegar o carro emprestado, o que o seu pai responde com a ideia surreal de alugar uma limusine para a noite. Sei que estou nessa família há meses, mas tem certas coisas que ainda me pegam de surpresa. Uma limusine? Sério, que exagero.

Cassandra, Bruno e eu pedimos uma torta de limão — sugestão minha — de sobremesa, e após acabarmos com nossas porções, mamãe e Tales tentam decidir quem levará a Mina para casa, mesmo com nossa convidada insistindo que pode pegar um ônibus aqui perto. No fim, depois de Bruno lembrar que precisa dar uma passada urgente no abrigo e que não poderá nos acompanhar, fica decidido que mamãe e eu iremos deixá-la, enquanto o resto dos Vinhedo vai direto para casa.

— E então, Mina, já sabe que curso vai fazer na faculdade? — Dona Regina pergunta assim que fecho a porta, ela apertando o botão do maldito SUV e ligando o motor.

Mina dá de ombros, pondo o cinto no banco traseiro.

— Ainda tô tentando decidir. Tenho alguns planos, mas meus pais querem fazer a escolha por mim, pelo que parece. Mas vamos entrar em um consenso.

— Espero que entrem! — mamãe diz, fazendo uma curva e alcançando a avenida. — Mas se não, lembre-se de fazer essa escolha por você, está bem? O futuro é seu, minha querida, e só você pode decidir como quer vivê-lo.

Mina sorri.

— É exatamente como eu penso, Regina.

Com minha amiga e eu dando as orientações, logo alcançamos o Prédio Samambaia, Mina se despedindo com um abraço torto por trás antes de abrir a porta do carro.

— A gente se fala depois, Aquário.

— Tá bem.

A assisto caminhar até o prédio, o sol batendo no seu rosto até ela sumir de vista, e demoro a perceber que mamãe continua com o motor desligado. Tiro minha atenção da calçada e a encaro, ajeitando os óculos ultrapassados que escorregam do meu nariz.

— Dá pra gente ir embora ou vamos ficar plantadas aqui?

— Ah, Eva...

Ela me encara com os olhos apertados. Não é mais o olhar de nossa, que merda complicada!, mas outro, diferente. Um olhar de pena, eu acho, o que não faz nenhum sentido.

— O que foi, mãe?

— Eu sabia que as coisas seriam difíceis até você conseguir superar a Mina, mas nossa, minha filha. Não fazia ideia que a situação estava desse jeito.

— Do que você tá falando, Regina Aquário?

Mamãe finalmente liga o motor, me dirigindo um sorriso de lábios serrados.

— Não sei como é a relação dela com o seu irmão, mas eu vi como essa garota olha pra você, querida, e eu nunca erro nessas coisas, sabe disso. E tá tão na cara. — Ela dá de ombros antes de completar: — Eva, a Mina está apaixonada por você.

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