Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

26 - perda total da dignidade

MINA LEÃO NÃO gosta quando como biscoitos sabor limão, e é por isso que eu devoro o meu terceiro pacote consecutivo com toda a voracidade do mundo. Não me importo se vou morrer antes dos trinta, dos vinte ou daqui a uma semana, não vou deixar mais que essa garota se meta na porra da minha vida.

A aula de Matemática na sexta é depois do intervalo, e eu subo de volta as escadas até a classe batendo o pé. Hoje estou no meu modo Eva-Que-Não-Dá-A-Mínima, então que assim seja. Encontro uma carteira o mais longe possível de Mina e afundo o rosto entre meus braços.

Só me permito erguer a cabeça quando ouço a voz do Rogério barra Vinícius alcançar os meus ouvidos, a aula pronta para começar.

— Eu sei que vocês devem estar cansados e ansiosos para o fim da aula, então não vou estendê-la muito, certo? — ele avisa, retirando da sua pasta as provas feitas na segunda. — Vou chamar os seus nomes e peço que só esperem eu entregar todas as avaliações, está bem? Depois estarão livres das minhas aulas até o começo de julho.

Me forço a continuar encarando minhas mãos sobre a carteira quando o professor chama pela Mina. Eu não vou olhar para ela, para os seus cabelos perfeitamente imperfeitos e para todo o resto. Estou evitando essa garota a semana inteira, e acho que isso já deixou de ser uma questão de sobrevivência há muito tempo. Não vou olhar, falar ou pensar em Mina Leão, e dessa vez por questões unicamente ideológicas.

Eu sei que não deveria ficar puta por Mina ser hétero. Infelizmente há muita gente como ela no mundo e o que me resta é aceitar de uma vez. Mas ela não tinha direito algum de aparecer na minha vida e bagunçá-la desse jeito para depois só ir embora, como se não tivesse feito nada. Ela passou os últimos meses me provocando — me recuso a acreditar que todo aquele flerte descarado foi sem intenção — pra apenas fingir que nada aconteceu? E eu posso estar errada da cabeça aos pés, eu aceito essa culpa sem reclamar, mas que droga de beijo foi aquele?

Estou começando a achar que todo esse poder que ela tem sobre mim não parte só do fato de Mina Leão ser uma mulher. O problema não é esse mais. Acho que o que fode tudo é que Mina Leão é Mina Leão. E todos os seus atributos, pensamentos e movimentos me apavoram como se fossem assombrações ridículas.

— Eva?

Nico, sentado na carteira atrás da minha, cutuca as minhas costas com um lápis afiado, me fazendo voltar para a realidade. Pelo visto, Rogério está me chamando há um bom tempo, já que todos na classe estão com seus olhos irritantemente julgadores voltados na minha direção. Mas que merda.

— Me desculpa — resmungo, me levantando às pressas e tropeçando na minha própria mochila. — Foi mal, professor.

— Acho que tá todo mundo com a cabeça já nas férias, não é? — ele brinca, me entregando a prova com o nome EVA AQUÁRIO no cabeçalho. — Você pode ficar na classe quando eu liberar a turma? Precisamos conversar sobre o seu desempenho.

Engulo em seco, antes de concordar com a cabeça e voltar para o meu lugar. Só tenho coragem de ver a minha nota quando me acomodo na carteira. Um sete vírgula nove escrito com marcador vermelho mancha o meu papel.

Teve um tempo em que eu me importaria de verdade com essa nota, mas eu nem consigo ficar chateada por causa disso. Só dobro a prova e a enfio no meu caderno, me forçando a manter a postura ereta enquanto essa maldita aula não termina. Assisto Rogério entregar todas as provas e fazer um discurso fofo de despedida, o que até me deixa triste mesmo sabendo que essas férias só vão durar três semanas. Fico um pouco mal quando percebo que nem metade da classe tá prestando atenção.

— Tá bem, não vou prender vocês mais tempo aqui — se rende o professor, nos dirigindo um sorriso cansado. — Estão dispensados. Até julho, pessoal.

Apanho minha mochila e espero que todos saiam da classe antes de caminhar devagar até a mesa do professor. Rogério, quero dizer, Vinícius, está usando uma camisa polo roxa, o que é uma péssima combinação com a calça cáqui marrom e horrorosa que ele também veste. Ele pode ser um ótimo professor de Matemática, mas tem um péssimo estilo.

— Eva, eu queria saber que você anda tendo problemas com a matéria — Rogério vai direto ao ponto, fechando a pasta e me encarando do outro lado da sua mesa. — Não estou querendo que se sinta mal por essa nota, nem querendo insinuar que você está me decepcionando como aluna, mas é perfeitamente comum e aceitável se você estiver tendo alguns problemas. Internos ou, sabe, externos. — Ele me lança um sorriso de compaixão, as sobrancelhas se erguendo na testa. — Tem algo acontecendo que preciso saber?

Bem, professor, por onde eu devo começar? Minha vida anda um inferno há meses, não me sinto em casa já faz um bom tempo, e talvez eu tenha estragado minha relação com a única amiga que tenho nessa droga de cidade, porque eu acabei me apaixonando por ela, me entende? Mas tirando isso, tá tudo ótimo!

— Acho que é só muita coisa rolando, professor. Casa, escola, os vestibulares — minto, dando de ombros. — Eu sinto muito pela prova.

A desculpa descarada parece funcionar, porque Rogério relaxa a postura. Jogar toda a culpa nos vestibulares parece estar dando certo, já que eu também disse isso para mamãe e Tales quando me perguntaram, durante a semana inteira, se eu estava legal. Porque, sendo honesta, eu ainda nem me dei o trabalho de pensar na porra da faculdade, mesmo sabendo que já devia ter um plano formado para o meu futuro a esse ponto.

— Quer saber? Você está liberada da reunião dos Matemagos de hoje — o professor avisa, me lançando um olhar cúmplice que só faz sentido para ele. — Entendo sobre toda essa pressão que está sentindo, Eva, e acho que você merece um descanso.

Seguro a risada antes que ela escape. Juro que a vontade de perguntar a Rogério se ele entende como é ser uma garota lésbica apaixonada pela amiga hétero é enorme. Ela ronda minha cabeça como se fosse uma nuvem pesada ou coisa parecida.

— Não vai ter problema se eu faltar?

— Nenhum, eu só preciso te dar um aviso importante. — Ele volta a revirar a pasta, tirando de lá um panfleto amassado que me faz lembrar do primeiro dia de aula, de como ele me recrutou para os Matemagos. Nossa, eu daria tudo para voltar para esse dia, para uma época onde eu não pensava em uma certa garota e em todos os seus beijos. Inferno. — Vai haver uma competição entre as escolas do estado no começo de agosto. Será um evento de dois dias e esse ano acontecerá em Alto-Mar. — Rogério me entrega outro papel, onde linhas em branco precisam ser preenchidas com meus dados pessoais. — Mande um dos seus pais assinar isso, preciso da autorização de um responsável para podermos acertar tudo sobre a viagem quando as aulas voltarem.

Encaro o panfleto, uma foto sem sentido da praia de Alto-Mar estampando toda a página, que anuncia o campeonato matemático. O guardo junto a autorização ainda não preenchida, encarando Rogério barra Vinícius sem saber o que dizer.

— Vou fazer isso, professor. E me desculpa mesmo... pela nota.

— Não se desculpe, não há motivos pra isso. Só descanse, está bem? — ele aconselha, caminhando até a porta e a segurando para que eu saia da classe primeiro. — Nos vemos em julho, Eva.

Me despeço do professor e o assisto se afastar, me negando a olhar para o corredor que se estende atrás de mim. Eu não tenho como explicar como eu sei disso, mas sinto que ela está lá, com as costas apoiadas na parede ao lado da porta, desejando que eu olhe para trás. Me esperando, eu acho. Querendo conversar.

— Eva, a gente pode...

— Aqui não, tá? — respondo antes que ela conclua, finalmente criando coragem para olhar para trás. Mina está com um delineado fino que me tira a consciência por um segundo, mas logo a retomo. — Não tô a fim mesmo de conversar sobre nosso beijo ou como tá tudo uma confusão, Mina. Tô cansada, OK?

A vejo engolir em seco, antes de concordar.

— Eu não ia... — Ela tosse, desconcertada. Me sinto um pouco mal, mas não peço desculpas. — Olha, Eva, eu tô pra te mandar mensagem desde aquela noite, tá bem? Mas não consegui, e por isso meio que te evitei a semana inteira — Mina diz, os braços cruzados na frente do corpo. — Mas acho que você nem percebeu, porque parece que tem me evitado também. É só que, sério, eu queria poder mandar tudo ir se foder e voltar ao que a gente era antes. Foi uma semana de merda, Aquário, e eu tô sentindo muito a sua falta.

Quero dizer que sinto a falta dela também. Quero ter coragem e falar que, mesmo com todos os sentimentos que eu queria não ter, eu ainda a acho uma boa amiga e que ignorá-la foi horrível, porque tudo o que eu fazia quando tentava não olhar, falar ou pensar em Mina Leão, era olhar, falar e pensar nela. Contei setecentas e trinta e quatro mensagens escritas pela metade que apaguei antes de enviá-la. Sendo exagerada, é claro, porque, às vezes, a gente precisa do exagero para entenderem o quão uma coisa deve soar importante.

— Me desculpa por ter te forçado a me beijar — digo, meu pedido de desculpas saindo meio cortado, culpa da minha garganta seca.

— Você não me forçou, eu te beijei porque quis — ela assegura, relaxando a postura e sorrindo para mim, mesmo que sem jeito. Nossa, tava com muita saudade do seu sorriso. — Mas, se tiver tudo bem por você, a gente podia não tocar mais nesse assunto. Foi uma noite turbulenta e eu... não queria mais lembrar disso. A gente pode?

Por favor.

— Por favor — respondo, minhas palavras soando como um suspiro de alívio. — Nunca aconteceu. Tá bem?

Ela assente, finalmente dando um passo à frente. Caminhamos juntas pelo corredor, vazio porque a maioria das turmas ainda está em aula. Temos sorte por Rogério ter liberado a turma cedo, pois temos agora uma hora livre cheia de possibilidades. Bem, possibilidades limitadas. Está liberado qualquer coisa que pudermos fazer nos terrenos da escola, basicamente, já que não podemos sair antes do horário.

— Que tal você vir ao campo da escola comigo? Precisa mesmo excluir esse item da sua lista, não acha?

— Mas não vou estar matando aula, então não conta.

— Olha, estamos em horário de aula, né? Então é óbvio que conta.

Reviro os olhos, o que faz Mina soltar uma risada fofa.

— Sabe que eu não me importo com essa lista idiota, não é, Mina?

— Tá bem, Aquário — ela resmunga, abraçando os meus ombros e me guiando pelo corredor. — Vou fingir que acredito em você.

O CAMPO DO colégio não é um campo de verdade. Mesmo que a Escola de Boafortuna tenha um time de futebol e exista sim um campo onde treinam, ele não fica aqui. Acho que esse lugar era pra ter sido alguma construção inovadora, uma extensão da área de convivência ou sei lá o quê, mas pararam as obras na metade, porque agora é só uma parte inabitada nos fundos do colégio. Bem, inabitada em teoria, já que tá sempre cheia de adolescentes que não veem problema em matar a porra das suas aulas.

O piso de grama sintética já deixou de ser verde há muito tempo, mas grama de verdade parece crescer ao redor. Algumas árvores estão espalhadas, altas e velhas, então imagino que elas sempre estiveram nesse terreno, o que me deixa contente. E, ao redor dos seus troncos, mesas de concreto foram feitas, ainda que não tenham bancos. Acho que não terminaram de construí-los, pelo visto.

— Vem comigo — Mina chama, me segurando pelo braço e me arrastando com ela até uma das mesas viúvas de bancos, essa ocupada por duas garotas bonitas. — Aquário, essas são a Natália e a Zia. Estudam com a gente mas acho que nunca as apresentei pra você.

— Ah, então é você a namoradinha da Mina! — exclama uma das garotas, essa com cabelos exageradamente vermelhos e um visual rebelde sem causa.

A outra garota solta uma risada, e eu vejo as bochechas de Mina ficarem vermelhas na hora. Não sei como responder a isso, então só continuo com esse meu sorriso amarelo costumeiro no rosto. Namoradinha da Mina, é? Quem me dera.

— Não enche, Zia — pede ela, ainda bastante desconfortável. — Essa é a Eva. Ela já me ajudou muito em Matemática, então, por favor, sejam gentis.

Eu já conheci os amigos do Bruno e surpreendentemente eles são bacanas demais para o meu irmão. Tipo, mesmo. O Nico é um amor, o Bernardo um fofo, e Lia e Olinda até já me chamaram pra sair com elas uma vez, o que na época me doeu negar. Mas eu não faço ideia de como as amigas da Mina são, e esse jeito delas me deixa um pouco nervosa. Talvez um tanto desconfortável. Não só por demonstrarem confiança demais, mas por juntas parecerem aqueles grupos de garotas adolescentes que ferram a vida das outras pessoas. Nossa, é exatamente isso. Poderiam muito bem ser uma cópia da Regina George e as Poderosas, versão Boafortuna.

Mas talvez eu esteja sendo uma exagerada. Porque eu posso não conhecer essas garotas, mas eu conheço Mina Leão, e sei que tipo de garota ela é. Então, quem sabe eu só precise dar à suas amigas uma chance.

— É claro que a gente sabe quem ela é — Natália diz, sorrindo para mim. — A Mi fala de você o tempo inteiro, sabia?

OK. Preciso mesmo dar a elas uma chance.

— Ah, é mesmo? Não me diga.

As garotas, que antes estavam deitadas sobre a mesa redonda de concreto, abrem espaço para que a gente se sente ao lado delas. A árvore nos protege do sol, fazendo uma sombra larga que balança no chão de grama-sintética-que-não-é-mais-sintética à medida que suas folhas dançam com o vento fraco.

— Teve uma época que eu jurava que ela estava apaixonada por você — comenta Zia, lançando um olhar provocador para a minha amiga. Quero dizer, para a nossa. — Era Eva Aquário isso, Eva Aquário aquilo...

— É porque a Eva é incrível, tá? — Mina se justifica, ainda vermelha. Leva o olhar para todas nós, sem se demorar muito em nenhuma. — Se calassem a boca e deixassem ela falar, entenderiam do que tô falando.

— O quê? Nada disso, não vamos falar de mim — a interrompo, fazendo de tudo para parecer a pessoa mais social possível. Se essa é a minha chance de conhecer melhor Mina Leão, preciso aproveitá-la devidamente. — Por favor, me falem tudo sobre a amiga de vocês.

Natália e Zia também fazem parte do clube de dança, e passam pelo menos quinze minutos inteiros falando sobre como Mina Leão é uma boa dançarina, o que, é óbvio, eu já sabia. Mas, mesmo assim, eu escuto tudo com um sorrisinho no rosto, porque acho fofo como elas parecem gostar de enaltecer a amiga. Em outras circunstâncias, eu adoraria me juntar a elas.

— O único defeito da Mina é ter um péssimo gosto para homens — diz Natália, passando as mãos pelos cabelos lisos e loiros. — Ela namorou por tempo demais o Lucas, a gente não aguentava mais. A coitada até que tem um coração bom pra cacete, mas ele sempre bate forte por garotos horríveis.

— Sabe que eu tô aqui do seu lado, né? — protesta Mina, voltando a ficar vermelha.

Zia ri, abraçando a amiga de lado.

— Não estamos falando nada que já não tenhamos jogado na sua cara, tipo, um milhão de vezes, Mi.

Antes que ela diga alguma coisa, eu avisto Bruno e seus amigos caminharem em direção ao campo, e acho que Mina também os viu, porque para de falar. Eu não uso os meus óculos há meses e talvez isso esteja começando a prejudicar ainda mais a minha visão, porque eu não consigo ver muito bem o rosto deles, mas o grupo do meu irmãozinho parece estar rindo de alguma coisa enquanto descem as escadas, vindo até nós.

— Esse sim eu ficaria feliz se você namorasse — comenta Natália, tirando um chiclete não sei de onde e o enfiando na boca. — O Bruno é um gato e se você não tivesse ficado logo com ele, eu ficaria.

Não acredito que vou ser obrigada a ouvir isso. Santo Deus, me tire a audição por cinco minutos para não precisar ouvir essas garotas falando de Bruno Vinhedo.

— O que você acha, hein, Eva? — pergunta Zia, apontando para o meu irmãozinho, felizmente ainda longe para ouvir essa conversa ridícula. — Pegaria o Bruno?

Não puta que pariu nem em um milhão de anos que nojo que nojo que nojo.

— Meu Deus, vocês precisam calar a boca — reclama Mina, salvando a minha pele. — A Eva é irmã dele, tá bem?

Meia-irmã — corrijo, e o que sai da minha boca em seguida pega de surpresa até a mim: — E eu sou lésbica, sabe? Lésbica pra caramba.

As garotas ficam caladas por um tempo, e é a bola de chiclete na boca da Natália que, quando explode, quebra o silêncio.

— Nossa, sorte a sua — diz Zia, sorrindo para mim e dando uma piscadinha.

Sinto meu rosto também ficar vermelho enquanto sorrio de volta para ela.

Cumprimento Bruno e os outros quando eles nos alcançam, se juntando a nós como se fôssemos um grupo grande de amigos. Todos riem juntos, interagem, conversam de verdade, e eu posso tá sendo uma boba, mas acho isso o máximo, porque, nem que seja por um momento, eu sinto como se me encaixasse no meio de todos eles. Como se essas pessoas, mesmo muito diferentes de mim e muito diferentes entre si, de repente fossem o meu grupo ou sei lá. Como se eu os conhecesse há anos e como se eu entendesse todas as piadas internas que eles contam. Acho que todo aquele papo sobre me sentir grande com as pessoas certas, mesmo que eu não entendesse bem do que eu falava na época, faz mais sentido agora.

Pelo menos é nisso que eu quero acreditar.

Talvez eu só esteja emotiva e carente pra cacete.

— Aquela festa foi horrível, Nat! — exclama Cecília, elas falando sobre uma festa dada no Condomínio Falsa Escócia no ano passado. — Saí de lá mais sóbria do que quando entrei.

— Erro seu ter focado na bebida ruim — rebate Zia, abraçada com a Natália de uma forma muito fofinha. — Eu nunca beijei tanto quanto naquela porra de festa.

Sorrio tímida quando os outros riem, eu meio sem jeito pra rir também. Meu olhar por um momento se afasta da rodinha formada por esse grupo novo de amigos, e acabo com os meus olhos paralisados em Mina Leão.

Se isso fosse um filme, ela estaria olhando para mim. Como um filme sáfico nunca feito, nós trocaríamos olhares e sorriríamos uma para a outra com eles, em uma forma de linguagem corporal que só nós duas entenderíamos — e falaríamos. Porque mesmo que Mina seja hétero pra caramba assim como eu sou lésbica pra caramba, acho que tudo bem o nosso filme terminar com nós duas como melhores amigas ou sei lá, ainda que assumir isso faça eu perder toda a minha dignidade lésbica.

Mas isso não é um filme. Quero dizer, poderia até ser, mas infelizmente seria um bem heterossexual.

Porque Mina está olhando para o Bruno. Ela até olhou para mim, mas bem rápido, e agora está com o seu olhar pousado no meu irmão, que, eu percebo, também está olhando para ela. Bruno tem um olhar irritantemente apaixonado, fácil demais de ler, mas por outro lado, os olhos de Mina são ilegíveis. Não sei se ela está confusa ou pensativa ou apaixonada como ele — inserir aqui muitos emojis de vômito.

Enquanto todos continuam conversando e rindo e falando um por cima dos outros, assisto Bruno caminhar até Mina, sentada na mesa de concreto. Ela apoia seus cotovelos nos ombros dele quando meu irmãozinho a abraça, e bem rapidamente, eles se permitem dar uns selinhos na frente de todo mundo, de um jeito que eu nunca soube como. Sem medo.

Meu coração bate forte.

Desvio o olhar na mesma hora.

Estou começando a achar que, mesmo esse filme obviamente não sendo sobre mim, eu acabo perdendo toda a minha dignidade em todos os cenários possíveis.

Toda. Maldita. Vez.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro