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25 - estrelas cadentes

ACHO QUE PRECISO de uma vez por todas engolir a porra do meu orgulho e ser honesta comigo mesma, porque faz cinco meses desde que cheguei a Boafortuna e mesmo com todas as coisas horríveis que vêm me acontecendo desde o dia um, nada se compara a isso. A essa droga de vazio no peito que aperta e faz com que meus olhos fiquem embaçados. Lágrimas. Estou chorando. Enquanto assisto o beijo de Mina e Bruno se repetir incontáveis vezes na minha cabeça, parece que eu finalmente tenho a coragem para admitir todas as coisas.

Preciso sair daqui.

Antes que os dois tenham tempo de me ver, eu impulsiono meus pés para longe da pista de dança. Esbarro em ombros alheios, passo direto pelo bar e por todos os olhares confusos que as poucas pessoas que me notam lançam. Eu só percebo para onde estou indo quando alcanço a porta de correr, arrastando-a e fazendo o som metálico reverberar pela Toca inteira. Subo as escadas às pressas, tropeçando nos meus próprios pés, e só me permito parar quando a música vai embora dos meus ouvidos. Estou sozinha.

O Observatório está escuro, como de costume, e os lençóis que compartilhei com Mina continuam jogados no chão mesmo depois de todo esse tempo. Limpo as lágrimas com meu antebraço, mas logo novas aparecem, fazendo com que um nó ridículo e indesejado se forme na minha garganta. Eu queria muito culpar o álcool dessa vez, culpar momentos de vulnerabilidade ou alguma porra qualquer, só pra não estar sentindo isso com toda essa intensidade. Mas eu não tenho opções, e culpar o meu coração irritantemente sóbrio é a única coisa que me resta fazer.

Malditos beijos de Mina Leão, e malditos efeitos que...

— Merda!

Faz cinco meses desde que cheguei a Boafortuna, e nunca senti tanta vontade de ir embora como eu sinto hoje.

Caio no chão sobre os lençóis e abraço meus joelhos, agradecendo aos céus pela incapacidade de ser ouvida. Não queria estar no Observatório, não sozinha e não sem ela, mas me sinto no direito de estar aqui. Mina não me disse que esse era nosso lugar secreto? Pois bem. Vou usufruir desse esconderijo que agora também é meu por direito.

E, Deus, eu só queria parar de chorar. Talvez os coquetéis tenham sim uma porcentagem de culpa por esses soluços descontroláveis, afinal de contas. Choro como se fosse um bebê, sem parar e cada vez mais alto, mais alto e mais alto, pondo pra fora tudo o que eu estava guardando há sei lá quanto tempo.

Juro que eu não queria que isso estivesse acontecendo. Juro que, puta merda, eu faria qualquer coisa pra não sentir isso. Ela falou com todas as letras que não gosta de garotas, sem a palavra acho antes delas. Então por que eu insisto em gostar de Mina Leão? E por que eu continuei com a ideia idiota de que com o tempo isso iria embora?

— Eva?

Olho para trás e assisto a garota subir o restante dos degraus, meus olhos embaçados me impossibilitando de focar no seu rosto direito. O escuro também não ajuda. Permaneço em silêncio enquanto Mina caminha até mim, devagar, e encontra espaço no chão ao meu lado.

Não sei se é real, efeito da bebida ou meus olhos cinematográficos, mas vejo de relance pela claraboia uma estrela cadente cruzar o céu vazio sobre nossas cabeças.

— Tá tudo bem?

Quase solto uma gargalhada.

— Não sei, por que você não pergunta pro Bruno?

— Ah, Eva, pelo amor de Deus — ela resmunga, me encarando com as sobrancelhas franzidas e os lábios serrados.

Eu não quero discutir com ela, mas acho que é inevitável soar um pouco ranzinza. Estou puta da vida, estou furiosa, e ainda que Mina finja que não, é tudo culpa dela e de seus beijos revolucionários que insistem em me afetar.

Mas eu prefiro cair morta nesse instante do que falar a verdade para ela.

— Você precisa parar de implicar tanto com isso — ela continua, ajeitando os cabelos bagunçados. — Não vou deixar de ser a sua amiga só porque eu beijo o seu irmão.

Beijo. Ela não usa a palavra beijar no passado. Ela não disse abre aspas porque eu beijei o seu irmão fecha aspas. Porque eu beijo o seu irmão. O que porra isso significa?

— Ele não é o meu irmão — resmungo, cobrindo o meu rosto para que ela não veja as lágrimas que deixaram minhas bochechas encharcadas. — E não é esse o problema.

— Então qual é?

O problema é você. Não sei quando aconteceu, mas sei como. Porque é impossível ficar perto de você e não sentir nada. Talvez você nem perceba, Mina, mas esse seu jeito me afeta pra caramba e eu não aguento mais não poder te dizer toda a verdade. Porque eu gosto de você, e acredite, essa é a primeira vez que digo isso até para mim mesma. Eu gosto de você e da forma como você sorri, de como você dança e de como parece um anjo quando faz isso, de como você fecha os olhos quando ouve música e parece sentir ela em cada parte do seu corpo. Eu gosto de como você finge odiar todos dessa cidade quando na verdade é bem parecida com todo mundo, mesmo que nunca admita isso. Gosto de como você é confiante e de como fica bem usando qualquer coisa. E, porra, gosto de como você me faz sentir absurdamente grande. Porque, sabe, eu venho odiando muitas coisas nos últimos tempos, mas juro que, se pudesse, eu faria uma lista de todas as coisas que eu não odeio em você.

— Por que você parou com as aulas de Matemática?

— O quê?

Engulo em seco.

— O semestre tá quase no fim e tem uma prova de Matemática marcada pra próxima semana. Mas você não foi lá em casa estudar uma única vez. — Dou de ombros, as lágrimas já secas no meu rosto. Encaro Mina em busca de uma resposta sincera, e espero de verdade que ela me dê uma. — Me corrija se eu estiver errada, mas acho que o nosso beijo teve alguma coisa a ver com isso.

Ela continua com os olhos em mim, mas não diz nada. Me encara por dez, vinte, trinta segundos, e o silêncio que preenche todo o Observatório até me faz esquecer que tem uma festa rolando lá embaixo.

— Achei que a gente já tivesse conversado sobre isso — ela responde finalmente, desviando o seu olhar para o chão. — Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

— Então por que parou com as aulas? Não precisa mais de ajuda?

— Não é isso, eu só... tô sem tempo.

— Você disse mesmo que acha que não gosta de garotas?

A pergunta sai da minha boca sem querer, e eu me sinto péssima. Não quero invalidar a Mina, não quero que ela precise justificar os seus atos ou coisa parecida. Porque seria para mim a pior coisa do mundo se alguém duvidasse do meu gosto por garotas. Então deve ser tão ruim quanto para Mina precisar assumir mais uma vez o seu não-gosto por elas também.

Mas eu quero que ela me esclareça. A droga da minha curiosidade não me permite voltar atrás nem se eu quisesse.

— E isso importa?

— Não sei, Mina. Importa pra você?

Ela solta uma risada abafada, claramente incomodada. Ajeita as mangas apertadas do vestido que usa, fazendo de tudo para não olhar para mim. Mas eu não consigo tirar os olhos dela, e nem preciso do meu olhar cinematográfico pra transformá-la em uma estrela de cinema ou uma obra de arte ou sei lá. Mesmo com os cabelos curtos suados e a maquiagem levemente borrada, Mina ainda continua sendo a garota mais linda do mundo inteiro.

— Eu não gosto de garotas, Eva.

— Pois eu não acredito em você.

Esse era o momento em que eu deveria apenas concordar com a cabeça, levantar e sair do Observatório. Eu deveria aceitar o que ela disse e não tocar nesse assunto nunca mais. Mas talvez seja o pouco álcool no meu corpo ou a coragem absurda que ainda toma conta de mim que me faz duvidar de todas as palavras que saem da boca dessa garota. Eu não quero duvidar dela, juro, mas não consigo. Deus que me perdoe.

— Então não posso fazer muita coisa, né? — ela responde, revirando os olhos de leve.

— Você gosta do Bruno?

Ela demora, mas balança a cabeça uma única vez. Sim.

— Mas não do jeito que você pensa — ela assume, mordendo os lábios por um segundo. — Ele é só um bom amigo, sabe? Tô vendo ainda aonde isso vai dar, mas eu gosto de verdade de ficar perto ele.

— Então por que vocês se beijaram?

— Bem, por que você beijou Geovan?

Hm. Então é isso, não é? Até que faz sentido. Mina Leão está com ciúmes, mesmo dizendo com todas as letras — e pela segunda vez — que não gosta de garotas. É agora que não acredito nela mesmo.

— E isso importa?

Puta merda, como eu quero acreditar nela. Como eu quero descartar essa ideia ridícula de que Mina Leão não é hétero coisa nenhuma, porque eu não quero, nem em um milhão de anos, duvidar dela. Jovens beijam o tempo todo e foi isso que aconteceu aqui, semanas atrás, quando a gente se beijou. Foi um beijo de festa, com muita cerveja envolvida e isso. A porcaria da heterossexualidade de Mina não foi afetada, e se ela tá dizendo que não gosta de garotas, eu só preciso aceitar isso de uma vez por todas.

Porque eu gosto da Mina, mas não posso fazer com que ela goste de mim. E quanto mais cedo eu aceitar isso, melhor. Estou cansada de me foder tanto por causa disso.

— Eu sei lá, Eva! — ela exclama de repente, sua voz reverberando pelo Observatório e me assustando por um segundo. — Importa? Eu só... Você não faz ideia do quanto eu tô cansada e tem tanta coisa acontecendo. E te ver beijando Geovan foi... demais pra mim. Eu não tava esperando, tá bem?

— Tem certeza de que você não gosta de garotas, Mina Leão?

Ela junta as sobrancelhas na testa, me encarando com um olhar ameaçador ou sei lá o quê, parecendo a ponto de me meter uns tapas no meio do rosto. E é justificável ela estar puta da vida assim como eu, já que fiz essa pergunta duas vezes só hoje, e num espaço minúsculo de tempo.

Ela respira fundo, como se tentasse tomar todo o ar do Observatório somente para si, antes de me responder:

— Não, eu não gosto.

— Então prove.

Não consigo evitar o sorrisinho provocante que se instala no canto da minha boca enquanto assisto a expressão dela mudar de confusa para, não sei, desafiadora. Vejo Mina se mover milimetricamente para frente, nossas mãos apoiadas no chão se tocando no processo. A onda elétrica que senti na pista de dança volta a percorrer o meu corpo inteiro.

— Como?

— Me beija.

Mina não responde, e eu nem tenho tempo de processar os seus movimentos ou entender o que está acontecendo antes de acontecer. Ainda com meus olhos abertos, eu sinto os lábios dela tocando os meus, e dessa vez é diferente. Não tem álcool, diálogos emotivos ou pressa. Na verdade, Mina é cautelosa e todos os seus movimentos são calculados, o que não significa que não me peguem de surpresa.

Eu fecho os olhos quando a vejo deslizar a mão livre até a minha nuca, segurando com os dedos os meus cabelos também suados. Ela move os dedos com cuidado enquanto continua com os lábios nos meus, e não demora pra que eu sinta a sua língua tentar abrir espaço. Meu corpo está pegando fogo da cabeça aos pés e eu sei que Mina sabe disso, porque ela continua me beijando e me puxando para mais perto, tirando a sua mão de cima da minha e alcançando o meu rosto, sua palma gelada tocando na minha bochecha com lágrimas já secas.

Se eu tinha achado o primeiro beijo revolucionário, juro que não tenho palavra alguma pra descrever esse aqui. Eu sou a droga de um céu vazio e Mina Leão a estrela cadente que me cruza.

Quando ela se afasta, a primeira coisa que vejo são seus olhos. Acho que eu nunca os adorei tanto quanto essa noite.

— E então? — pergunto, tentando recuperar o fôlego perdido.

Mina me encara, sua mão parada no ar a centímetros do meu rosto, que antes tocava. Ela abre a boca para falar alguma coisa, mas a fecha, e faz isso três vezes antes de balançar a cabeça de um lado para o outro, encarando o chão.

A assisto levantar às pressas, se afastando de mim e dos lençóis jogados sobre o piso, e eu a sigo com o olhar até ela alcançar as escadas, nossa espécie de portal para outra dimensão, que nos levará de volta à festa que pra nós já não importa mais.

Ainda sem olhar para mim, eu a ouço murmurar antes de ir embora:

— Não, Eva. Eu não gosto de garotas.

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