04
Não que eu não seja totalmente influenciada pelo meu ego ⎯ já sendo ⎯ eu só de alguma forma não consigo bater na porta desse senhor e dizer simples palavras! Aaaah! Eu estou acostumada a pedir desculpas mas... com o tempo eu não consigo mais fazer isso de forma sincera.
Meu corpo estava tremendo, meu coração estava a mil! Aí meu Deus... acho que estou suando. Eu não consigo fazer isso, não mesmo. Estou tão nervosa que sinto que vou explodir!
Escuto passos em seu quarto e então me apresso para entrar no meu. Não, não consigo falar com o meu vizinho.
[•••]
Decidi tomar um ar e mais uma vez me senti só. Passei boa parte da minha vida tão preocupada em certas coisas que nunca tive tempo para me sentir só. Apesar de que era só eu e eu. Não sei se isso é a falta dele, passei tempo para me recuperar do sentimento da saudade. Acabei sendo cega demais e achando que só ele importava, mas era isso que ele implantava! Desde o começo me tratou como uma coisa tão única e preciosa, coisa que eu jamais tive. Isso me deixou sem ar, nas alturas, imaginando que tudo o que tinha naquele momento era por ele.
Mais uma vez o sentimento de culpa me consumiu.
Imaginei várias vezes se não tivesse planejado nossas vidas juntos, sonhado intencionalmente com ele todas as noites sem ao menos conseguir dormir direto. Me aproximado, não ter o deixado tomar conta da minha vida e pior ainda tocar em mim! Eu fui inútil, me ilude no meu próprio mundo e deixei com que ele me consumisse. Se eu não fosso tão burra, se eu não fosse tão idiota...
Concentrada em meus próprios e dolorosos pensamentos não olho o caminho a minha frente e acabo esbarrando em alguém.
⎯ Você está cega?! ⎯ O seu tom de voz... me lembra alguém.
Um tiro.
⎯ Ei! Está me escutando? Você não olha pro onde anda?!.
Dois tiros.
⎯ Maluca.
Três tiros.
Meu corpo fica em alerta, como se algo estivesse por vir. Ou pode ser o meu cérebro revivendo dores antigas.
Encaro o homem a minha frente me olhando confuso e estressado. Me olhava da pior forma possível. Ele me lembrava ele, os olhos profundos, a covinha esquerda proeminente... seus cabelos bagunçados e escuros.
Meu coração aperta, aperta a ponto de não conseguir respirar. Afetava todos os órgãos do meu corpo. Me sentia tonta e aérea, minhas cicatrizes aos poucos começaram a arder. Minha cabeça dói, dói tanto. Me sentia doente.
⎯ Você está bem? Está pálida. ⎯ o cara me olha estranho.
Não conseguia responder, estava confusa e sua voz soava distante. Entro em desespero e meus olhos enchem de lágrimas.
⎯ Você é realmente maluca. ⎯ Ele passa por mim batendo seu ombro fortemente no meu, com a minha falta de equilíbrio caio no chão.
O desespero finalmente me tomou e eu agarro meus joelhos chorando, sentindo meu joelho arder. Provavelmente o machuquei.
As risadas, o som das chicotadas, as tapas... tudo estava doendo, as palavras doíam. Aquilo tudo doía, mas a culpa, a culpa realmente era maior.
Depois de todo o tratamento eu não chorava mais ao lembrar dele, pensei estar finalmente curada. Foi somente o que eu pensei... pensei que estava forte, que tinha superado. Mas não foi assim, agora que percebi que não posso ver uma semelhança que logo entro em colapso.
Eu pensei que tinha superado.
A luz do sol foi tampada por algo. Estranho mas não consigo levantar a minha cabeça, estava doendo muito.
⎯ Como consegue ficar sentada no sol? ⎯ Uma voz calma e conhecida ecoa pelos meus ouvidos. Era ele... não precisava olhar para saber, era o vizinho. ⎯ Não vai me responder? Ele tudo bem, mas eu não!. ⎯ Ele senta ao meu lado.
E lá ficou, ficou sentado ao meu lado até eu me acalmar. Parei de chorar depois de muito tempo. Ele ainda estava ali, não sabia o motivo, talvez ele seja louco ou não tenha nada para fazer. Mas aquilo... de alguma forma me acalmou, na verdade me deixou intrigada, fiquei tão intrigada que parei de pensar nos meus problemas.
⎯ O-O que faz aqui? ⎯ limpo meus olhos.
⎯ Tédio. Esse lugar é legal mas não tem nada.
⎯ Imaginei. ⎯ Olho o céu escurecendo.
⎯ Você está muito dolorida?. ⎯ Faço um sim com a cabeça.
Não sei, devo estar louca mas sinto muita vontade de falar com ele. Sihyeon me falou que quando eu estiver em uma crise eu deveria ir atrás de ajuda mas ele... não tivemos um bom encontro. Talvez seja isso que me faça querer falar algo, depois daqui nunca mais nos encontraremos e ele está aqui agora.
⎯ Você já esteve em um relacionamento? ⎯ pergunto de uma vez.
⎯ Isso foi bem... aleatório... por um acaso está dando em cima de mim? ⎯ reviro os olhos.
⎯ Se eu realmente estivesse dando em cima de você seria totalmente diferente.
⎯ Vou acreditar por enquanto. Só por compaixão. E sim, já tive.
⎯ Foi doloroso? ⎯ ele fica pensativo.
⎯ Foi.
⎯ O meu também. Mas, o doloroso foi... fisicamente? Não que psicologicamente também não fosse. ⎯ ele me olha preocupado.
⎯ Não...
⎯ Qual é o pior?.
⎯Todos. Todos fazem o mesmo buraco, todos nos afogam no raso, não importa quem somos.
⎯ Queria ser forte, você parece ser forte.
⎯ Não. Ninguém é. Não existe pessoas fortes, existem pessoas resistentes, que não baixam a cabeça para problemas.
⎯ Então eu sou ao contrário de uma pessoa resistente.
⎯ Por que diz isso?.
⎯ Porque fiz com que uma pessoa entrasse em minha vida e me fizesse de trapo. Ele me machucou como um. ⎯ Ele estava calado, encarando o céu enquanto eu falava. Ele não parecia com pena ou preocupado, estava indiferente.
⎯ Algumas pessoas não valorizam o que tem, descontam suas frustrações em outros e machucam inocentes. Essas pessoas são como areia movediça, quanto mais você se move, mas ele a afunda.
⎯ suas palavras foram um choque para o meu corpo dormente de sensações. Ele estava certo, e falava de forma clara, como se soubesse bem do que falava. De alguma forma, invés das suas palavras me fazerem me sentir mais culpada do que estava, ela me suavizou. Senti meu coração mais leve. ⎯ Você quer sair daqui?.
Penso por mais alguns segundos e então confirmo com a cabeça. Ele se levanta, limpa suas calças e estende a mão para mim.
⎯ Seu joelho está sangrando. ⎯ o olho e então entendo o motivo da ardência. Ele continuava com a mãos estendida ⎯ Está começando a doer...
Seguro a sua mão e ele me ajuda a levantar.
⎯ Eu vou até meu quarto para limp-... ⎯ Ele corta a minha fala me pegando em seus braços.
⎯ O que está fazendo!?. ⎯ segurava forte seus ombros com medo.
⎯ Sei lá, talvez ajudando?.
⎯ Eu tenho pernas.
⎯ E no momento estão em bom funcionamento fazendo com que chegássemos bem rápido ao quarto?.⎯ Encaro meu joelho.
⎯ Não precisa de pressa pra chegar. ⎯ Falo baixo não querendo começar uma discussão.
Ele ignora, mesmo tendo escutado.
⎯ Onde está a chave? ⎯ ele pergunta quando chegamos em frente a porta do meu quarto.
⎯ Está aberto.
⎯ Por que mantém seu quarto aberto?. ⎯ penso bem em um motivo antes de responder. ⎯ Ah, deixa, é bom que é menos trabalho.
Mesmo com um pouco de dificuldade ele abri a porta e entra comigo ainda em seus braços. Era estranho, pois a horas atrás estávamos... bem... brigados? Não nos batiamos, e sei que eu estava errada. Mas era além disso naquele momento, era estranho pois... eu estava literalmente nos braços de um desconhecido que me viu chorar no chão e sentou ao meu lado e soube um pouco da minha dor. Pelas suas palavras anteriores parecia realmente que o mesmo havia entendido.
Ele me leva até minha cama onde me senta.
⎯ Algum kit de primeiros socorros? Se não tiver tudo bem uma água e um cotonete.
⎯ Tem uma pequena bolsa na minha mala. ⎯ aponto para a pequena mala amarela, Sihyeon como sempre havia feito uma pequena bolsa com curativos, pomadas e remédios para caso eu me machucasse. Sempre acho que ela prevê o futuro.
Ele pega a pequena bolsa azul e vem até mim, a minha frente ele fica de joelhos. Retira o que for necessário da pequena bolsa e começa a limpar a ferida. Doía, bastante, mas ja tratei de ferimentos maiores.
⎯ Está doendo? ⎯ ele pergunta soprando a ferida.
⎯ Um pouco. ⎯ com calma ele coloca um band-aid. Encaro meu joelho agora tratado.
Ele guarda as coisas e joga os utensílios usados no lixo. Eu somente o encarava se movimentar pelo meu quarto. Sabe aqueles momentos em que seus olhos parecem mudar, como se tivessem os trocado ou eles amadureceram do nada. Tipo: puf! Amadureci. Pois bem, era naquele momento que meus olhos o enxergava de uma forma diferente. Ele não era mais o homem idiota em que eu tive bastante conclusões precipitadas, mas sim alguém gentil que me trazia uma calmaria.
⎯ Pronto, troque e limpe a ferida com frequência.
⎯ Você é médico?.
⎯ Não. Sou empresário.
⎯ Ah... eu sou formada em pedagogia mas não sigo a área.
⎯ Por quê?.
⎯ Não consigo mais sentir o mesmo.
⎯ Entendo. ⎯ Seu celular toca, ele olha quem ligou e desliga. ⎯ Eu preciso ir.
⎯ Obrigada... por tudo. ⎯ dou um largo sorriso para ele e vejo sua pupila dilatar. ⎯ E me perdoa... tirei conclusões erradas sobre você e o chatiei. Você é legal.
Ele somente sorri e vai até a porta mas ao pegar na maçaneta ele para. Sinto meu coração acelerar. Ele se vira e toma ar antes de falar:
⎯ Amanhã... irá fazer alguma coisa?.
⎯ Não em específico.
⎯ Me encontra na praia as 8. ⎯ Ele sai.
Por que estou me sentindo animada?!.
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