Outro Ângulo
Como foi que eu deixei isso acontecer?
Não parava de me perguntar enquanto andava de um lado pro outro na sala do nosso apartamento. O que eu estava fazendo a duas semanas e meia atrás? Eu tinha ficado doente? É, alguma coisa que eu comi me fez mal. Passei dois dias no hospital e uma semana inteira de cama em casa. Daquela vez eu tinha deixado Park Jimin realmente preocupado. Quase nunca ficava doente, ele que sempre ficava exausto e não se cuidava direito com todos aqueles ensaios malucos. Já tinha cansado de falar pra ele maneirar com aquilo. Não adiantava nada.
Naquela semana ele cuidou de mim o tempo inteiro, até faltou em algumas aulas pra passar o dia comigo na cama fazendo nada. Merda! Park Jimin você cuidou de mim direitinho filho da mãe.
Eu estava sentindo que o pânico ia tomar conta de mim a qualquer momento. Não sabia como lhe dar com aquilo. O que eu ia fazer? Ou melhor, o que eu poderia fazer? Nada! Absolutamente nada. Ásia Cecília Prado, dessa vez vocês ferraram com tudo mesmo. Já era. Acabou.
Levo a mão a minha testa respirando rapidamente. Nem tento acalmar meus batimentos cardíacos por que sabia que ia ser inútil. Quando ouço um barulho na fechadura dou um sobressalto e escondo a mão atrás das costas bem em tempo.
- Ei jahgi... o que tem pra comer? – se apressa em tirar seus sapatos e jogar sua mochila na entrada, como de costume – Hoje estou morrendo de fome, só tive tempo de tomar uma chuveirada antes de vir embora.
Se dirige até mim com os cabelos molhados caindo levemente nos olhos. Me da um selinho rápido e volta pra cozinha, logo abrindo a geladeira.
- Quase desloquei o ombro tentando aprender uma coreografia nova. Eu sei o que você vai falar e que já está cansada de repetir que eu tenho que maneirar e me cuidar, mas foi a ultima vez, eu prometo. E sei também que você vai falar que eu já prometi isso antes, mas dessa vez também é sério. De novo.
Ele não parava de falar e eu não sabia o que fazer. Vendo que eu não respondi, Park Jimin olha pra mim de relance antes de pegar um suco na geladeira e se preparar pra beber do gargalo.
- Está tudo bem Ceci? Você está meio pálida – dá um gole longo na garrafa e depois continua – O que andou comendo?
Não fui eu quem comeu...
Ta certo, eu ia ter um colapso se continuasse assim.
- Eu vou sair – falo do nada e praticamente corro até a porta, girando a maçaneta rapidamente.
- O que? Como assim vai sair Cecília? – segura minha mão gentilmente e me afasta da porta – Você está de pijamas, está tudo bem? - ao me fazer virar pra encará-lo não consigo mais esconder a mão atrás das costas – O que é isso?
Comprimo os lábios, mais nervosa do que já estive em toda minha vida. Ele pega o objeto da minha mão e olha com o cenho franzido.
- Eu fiz mais três desses de marcas diferentes. Em todos apareceu essa carinha feliz. Me desculpa Park Jimin...
Agora era ele quem não respondia nada. Ficou lá com a boca meio aberta.
- Acho que os remédios que eu tomei naquela semana que fiquei doente cortaram o efeito do anticoncepcional. Eu não sabia... não tinha ideia de que podia atrapalhar... você sempre tão carinhoso... com esse seu fogo... eu tava com saudades... foi tão devagar e gostoso... eu achei que uma vez só sem proteção não faria mal... ainda mais naquelas circunstancias... eu meia doentinha... não sei... não sei mesmo o que pensar... e... Park Jimin? Você ta me ouvindo?
Aos poucos ele começou a virar o palitinho de um lado pro outro, como se lá tivesse alguma instrução pra ler, ou alguma coisa explicada. Se eu não estivesse tão nervosa acharia aquilo muito engraçado.
- Olha, esses testes podem dar errado. Eu preciso fazer um exame de verdade... me desculpa...
Me afasto novamente dele, voltando pra sala. Eu nunca tive o hábito de roer unhas, mas naquele momento passei a ter. Meus pés estavam impacientes, meu estomago revirava, as palmas das minhas mãos suavam, e eu estava com frio apesar da temperatura ali estar mais que agradável. Quando ele finalmente notou que eu me afastei pareceu acordar de um transe.
- Desculpa? Jahgi... desculpa? Você enlouqueceu? – não precisava falar assim também né. Ah não, eu já estava ficando sensível – Isso é...
- Eu sei, atrapalhou tudo... acabou...
- O que? – me interrompe como se estivesse indignado – Não fala assim jahgi, senão ai que você vai conseguir atrapalhar o melhor dia da minha vida.
Arregalo os olhos surpresa e vejo seu sorriso lindo e brilhante se alargar aos poucos no seu rosto. Por alguns segundos eu só consegui prestar atenção naquilo e no meu peito subindo e descendo. Ele tava falando sério?
- Você entendeu certo mesmo? Eu estou grávida, Park Jimin. GRÁ-VI-DA.
- Meu Deus... é ainda melhor ouvindo de você assim – ele caminha até mim e tenta enlaçar os braços na minha cintura, sem desfazer o sorriso.
- Jimin a gente só tem 20 anos... eu ainda estou no último ano da faculdade, você ainda tem mais um ano na sua especialização... não temos renda nenhuma pra arcar com isso agora... meu estágio mal da pra ajudar a pagar as coisas pra nós dois... – conforme listo os fatos o pânico vai me consumindo mais e mais. Aposto que se tivesse um medidor de pressão no meu braço, aquilo iria explodir – a gente mora nesse cubículo... não sei se você reparou mas só tem um quarto... onde a gente vai colocar uma criança aqui? Não estamos em condições nenhuma de nos mudar no momento... não somos casados... imagine o que sua família vai dizer... meu Deus, sua mãe vai querer me matar... – levo a mão a cabeça quase tropeçando nos meus próprios pés quando me lembro da minha sogra – O que ela vai pensar de mim Park Jimin?
- Ceci... a gente mora juntos a quase 3 anos, acha que meus pais imaginam que a gente fica jogando só vídeo game nas horas vagas ou brincando de esconde esconde? – arqueia uma sobrancelha, incrivelmente calmo.
E com aquele sorriso.
- Como você pode estar tão calmo? – bato levemente em seu braço, fazendo-o rir. Eu não estava em condições nem de distribuir meus soquinhos inofensivos – Isso provavelmente vai me impedir de arrumar um emprego. Eu nem sei se vou conseguir terminar a faculdade no final do ano. Como vou me formar com uma barriga de nove meses? Como vou continuar indo as aulas? Como você vai cuidar de tudo sozinho tendo que praticar tanto? Isso vai atrapalhar todo seu grupo e vocês estão indo tão bem... acabou Park Jimin... acabou...
- Jahgi, calma... você ta hiperventilando – segura meu rosto com as duas mãos – Esquece todas essas coisas. Só tira um segundo pra pensar por outro ângulo – sua voz era baixa de propósito, com o intuito de me fazer ficar calma – Eu vou ser o pai do seu filho... e você vai ser a mãe do meu – se possível seu sorriso se alarga ainda mais – essa não é a melhor sensação do mundo?
Ele aproxima seu corpo do meu, seu abdômen encosta levemente na minha barriga. Seus polegares acariciando minhas bochechas. Mirando-me em expectativa. Aos poucos consigo ver seus olhos começarem a marejar, e como num passe de mágica aquilo ajuda a diminuir meus batimentos.
- Você vai chorar amor? – não consigo evitar um risinho bobo que escapa.
Balança a cabeça em negativa e ri um pouco mais alto que eu. Tentando afugentar qualquer lágrima que quisesse ousar escorrer por sua bochecha.
- Eu não choro por bobagens Cecília – me responde irônico, tentando me imitar.
Deixo que me envolva nos seus braços ao mesmo tempo em que passo os meus sobre seus ombros, o apertando em mim com toda minha força. Só ele mesmo pra sempre me acalmar não importa qual seja a situação ou crise. A gente ia mesmo fazer aquilo. Nós íamos ser pais. Sorrio com aquele pensamento pela primeira vez e agora preciso beijar o futuro pai do meu filho. Praticamente ao mesmo tempo buscamos os lábios um do outro e iniciamos um beijo cheio de carinho e sorrisos bobos, que infelizmente não dura tanto quanto eu gostaria.
- Fala se não é o melhor dia da sua vida – sobe uma mão pelas minhas costas só pra bagunçar meu cabelo.
- Sei lá, eu passei minha folga fazendo xixi o dia inteiro e pirando por isso.
Ele solta uma gargalhada gostosa.
- Duvido que você vai ficar durona assim durante os nove meses. Quero só ver você sair do armário das trevas e se revelar.
Agora é minha vez de acompanhá-lo, sem segurar minha risada. Armário das trevas.
- Você é um idiota, bobo fofo e irresponsável sabia Park Jimin?
- A gente vai dar um jeito em tudo jahgi – fala em tom um pouco mais sério – Fica tranquila.
- Eu sei – sorrio sem mostrar os dentes e lhe dou um selar longo em seguida.
Olhando por outro ângulo. Aquela era mesmo a melhor sensação do mundo.
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