Rascunho - Parte 2
Estou desfrutando aquela boca maravilhosa, quando um piado baixo quebra o silêncio.
Os músculos das costas do Lee se contraem um pouco e ele cessa nosso beijo, procurando o pássaro. Ele encara o pequeno animal em seus momentos finais. Acho que não temos tempo para um veterinário. Ele está debilitado demais e algo dentro de mim diz que aqueles eram os últimos suspiros do pássaro.
E então que eu finalmente me lembro de onde eu conhecia o pequeno animal de aparência exótica. Ele parecia exótico, porque era! Esse pássaro é a miniatura de Fênix que o Lee possui. Ele é um pássaro super inteligente, perceptivo e um grande companheiro de Lee.
Mas espera um momento... Isso é uma Fênix, não é? E está nos momentos finais...
Merda!
Ao olhar de novo na direção dele, vejo que as suas penas começam a ganhar um novo tom, virando pequenas brasas, compridas e cada vez mais incandescentes.
Mesmo morrendo de medo de me queimar, pego o pano com o pássaro e corro com ele até a cozinha. Coloco o pássaro dentro da pia apenas segundos antes dele entrar em combustão, queimando pássaro e pano de prato. Ainda bem que eu o coloquei aqui, aquilo poderia queimar feio o meu tapete, quem sabe até virando uma coisa pior.
Eu tenho agora um pequeno bolo de cinzas na minha pia.
Lee vem na minha direção e me olha um pouco curioso, mas não diz nada.
Para completar a minha cota de coisas impossíveis hoje, as cinzas voltam a queimar e de dentro do fogo, aparece novamente a Fênix.
Qual o número que eu ligo mesmo para solicitar ser internada em um hospício? Uma camisa de força em mim ia cair bem agora. Isso não é um sonho, mas não pode ser real.
O pássaro canta alegre e voa graciosamente em torno da pequena cozinha. Seu canto é alto, forte e cheio de vida. Ele voa sem problemas para o ombro de Lee, e então já vai encostando a sua pequena cabeça na bochecha de Lee.
— Oi meu amigo. Bem-vindo de volta! — Lee diz de uma forma bem despreocupada, alisando as asas da Fênix. Então ele se vira na minha direção e continua a falar. — Acredito que já o vi morrer e renascer pelo menos umas dez vezes, mas não consigo me acostumar.
— Ah sim, sei... — falo sem saber muito o que dizer. O que eu poderia falar para ele? — Acho que te entendo — não sei se entender é bem a palavra certa, mas é o mais próximo que consigo pensar.
— Tex. Eu posso perguntar uma coisa a você? — ele pergunta e parece meio incerto.
— Pode — melhor mesmo ele tomar a iniciativa de alguma conversa. Não sei o que pensar, muito menos o que falar. E outra, ele parece estar bem mais calmo do que eu. Quem sabe ele pode analisar essa situação melhor.
— Onde exatamente estamos Tex?
— Como assim? Estamos na minha casa... — agora que eu me lembro que ele nunca viu nada parecido com uma casa assim antes...
— Mas na sua casa? Isso quer dizer que você se mudou? Eu não consigo lembrar de muita coisa, principalmente os últimos dias... Eu estava... Bem eu estava... — dá pra ver pelas caras que ele está fazendo, que ele realmente está se esforçando para lembrar de alguma coisa.
Mas parece não conseguir lembrar de muita coisa. Nem me espanto, afinal, nem sei como ele pode estar aqui, como vou fazer ideia de como as suas memórias funcionam.
— Eu... Eu não mudei — quer dizer mudei, mas ele não teria como saber disso. — Já disse, eu não sou a Tex, então não teria como morar na casa dela... — até porque a casa dela não tem como existir. Ou tem?
Não sei mais no que acreditar.
— Acho que estou começando a acreditar nisso... O modo como você me beija é diferente... Quase como se fosse mais real...
— Isso é porque você é real!
— Claro que sou real. Sempre fui... E pelo o que parece você também... Mas as semelhanças... E esse local...
Ele não fala mais nada. Usa toda a sua atenção para analisar o meu apartamento. Seus olhos parecem absorver todos os detalhes que compõem a minha cozinha: desde a cor cinza de suas paredes, até os armários novos de madeira pendurados na parede.
Ele começa a andar e analisar tudo. Os quadros pendurados na minha parede. O sofá da sala. Tudo ali estava organizado e tinha um toque de modernidade que eu sei que ele não vai entender.
Lee nunca tinha visto nada parecido com o meu apartamento. Nunca fiz os cenários internos parecidos com as modernidades que temos hoje. Os meus desenhos são baseados na cultura oriental, mas de uns dois séculos atrás. Ou seja, as máquinas a vapor ainda estavam sendo criadas, e a revolução industrial ainda estava a começar.
Sei que tudo o que ele estava vendo na sua frente era bem mais do que o seu cérebro pode assimilar. Mas tê-lo aqui na minha sala, parado, vivo, era muito mais do que o meu cérebro pode assimilar também.
Olhar aquele belo exemplar vestido com aquela adaptação mais simples de um kimono era espetacular. Eu sabia exatamente o que aquele tecido escondia.
Ele estava perfeitamente arrumado, mas para uma época completamente diferente da nossa atual. Não teria como ele andar na rua de uma forma discreta. Bem que hoje poderia ter algum evento de cultura japonesa aqui na cidade... Quem sabe assim ele pudesse passar um pouco desapercebido.
Mas com sua altura, cabelos de cor bem diferente, ridiculamente bonito, e com uma roupa que chama mesmo a atenção, não teria como ele sair.
Sempre soube que eu desenhava bem, mas ver a personificação dos meus traços, era a realização de um sonho que eu nem sabia que tinha. Era quase como se ele fosse um presente dos Deuses do desenho para me gratificar pelo trabalho bem feito. Um presente somente para mim.
— O que eu vou fazer com você Lee? — faço essa pergunta baixo, para mim mesma, querendo e torcendo para que de algum modo as minhas ideias se organizassem.
Será que eu posso deixá-lo no meu apartamento sozinho? Acho que não deve ter tanto perigo assim, já que eu sei que ele é um homem bem racional, e provavelmente faria o que eu lhe pedisse sem nem pensar duas vezes.
Mas não sei. Algo dentro de mim está praticamente gritando comigo: NÃO DESGRUDA DESSE HOMEM!
Porque que eu tenho que tomar decisões tão importantes e praticamente impossíveis logo de manhã? Logo antes de tomar o meu banho de café? Logo no horário que eu definitivamente não sou funcional?
— Esse lugar é deveras incrível Tex. Você disse que estamos na sua casa correto? — mesmo sentindo a confusão de seu rosto, ainda conseguia ver seus olhos brilharem em deslumbramento com algumas coisas que ele via.
E olha que o meu apartamento não era um dos melhores, mas pelo menos estava organizado.
— Sim, estamos na minha casa.
— Seu relógio é lindo — ele diz apontando para um relógio antigo que a minha mãe insistiu que eu levasse para o apartamento. Não consigo controlar o susto ao olhar a hora. Acho que os beijos demoraram mais do que o esperado.
— Eu tenho que ir... — isso não me pareceu muito certo. Resolvo escutar a parte de mim que quer que eu não desgrude do Lee. — Na verdade, acho que nós dois temos que ir.
— Claro. Sem problemas Tex. Para onde você tem que ir? Posso te levar até lá sem problemas...
— Eu tenho que ir pro trabalho.
— Trabalho? Ah, mas porque não me disse antes... — ele vira na minha direção. — Eu mal posso esperar para... — as palavras que ele falava vão morrendo lentamente e não sei o motivo daquilo.
Ele demora um pouco e me analisa com muita calma, começando pelos meus cabelos e vai até os dedos dos pés. Quase todo o sangue do meu corpo vai pro meu rosto, me deixando vermelha e desconcertada por virar de uma hora para outra o centro das atenções dele.
Não tenho como negar, mesmo com vergonha, eu estou amando ter o Lee me olhando assim. Sua respiração se altera um pouco e vejo sua garganta mexer quando ele engole em seco. Estava muito feliz agora, mas temos que ir.
— Lee, você vem comigo, não é?
Ele não move nem meio milímetro de onde estava. Será que ele está me escutando? Será que ele parou assim por minha causa? Onde será que estão os pensamentos dele agora?
— Lee! — falo um pouco mais alto, me aproximando dele e chamando a sua atenção.
Funciona, pois ele pisca diversas vezes e parece acordar de algum tipo de transe.
— Desculpe-me Tex. Fiquei muito distraído... Esses seus trajes, eu nunca tinha visto e eles me chamaram muita atenção. E que fique bem claro: eu não estou reclamando. Gostei muito de ver essa quantidade de pernas, seus cabelos estão diferentes, soltos, você está muito sexy de um jeito distinto e incrível!
Como responder a isso? Não faço a menor ideia.
Olho para baixo e então me dou conta que estou com a minha versão de pijama. Mas camisa folgada e calcinha não são pijamas. Nota mental: Comprar um pijama decente assim que possível.
Ou não, se for para um homem lindo desses perder a concentração enquanto me olha da cabeça aos pés, eu tenho mais é que queimar todos os pijamas decentes do planeta!
— Preciso ir me trocar. Tenho trabalho.
Giro em meus próprios pés e sem querer pensar demais em tudo o que está acontecendo, tento fazer uma coisa normal, uma coisa simples e que quase todos fazem diariamente. Eu posso me trocar e ir ao trabalho. Sim, posso fazer isso sem o menor problema.
Assim que eu entro no banheiro, escovo os dentes e faço toda a minha higiene matinal em tempo recorde, resolvo pular o banho, mas mesmo assim! Prendo os cabelos no topo da minha cabeça com um coque e saio do banheiro.
Troco minhas roupas íntimas e pego uma roupa que tinha sido cortesia da minha mãe. Um vestido roxo escuro, de decote quadrado, que era bem confortável e acima de tudo, muito fácil de vestir. Não estou com o mínimo de paciência para colocar maquiagem no rosto, não ter remelas nos meus olhos vai ter que ser suficiente hoje.
Sei que tenho algo para calçar dentro do carro, então não perco o meu tempo procurando nada. Volto para a sala descalça mesmo e ao chegar lá, vejo o Lee em pé analisando um porta-retratos meu.
Minha mãe que tinha tirado aquela foto. Essa foto foi tirada nas minhas últimas férias e estávamos na praia. Eu estava usando um biquíni minúsculo, pois a minha mãe fez o favor de não me avisar que iriamos para praia e na loja que eu fui comprar só tinha um número menor que o que eu normalmente uso, então foi o jeito ficar com ele mesmo.
Mesmo com tudo isso, eu sorria abertamente para a minha mãe e os meus cabelos estavam mais compridos e soltos. Eles voavam de uma maneira bonita com a brisa marítima. O Sol estava refletido no mar e tingia as suas águas com um tom bonito de laranja. Nem me lembro o motivo de sorrir tão abertamente praquela foto.
Só sei que ela acabou se tornando uma das minhas fotos preferidas.
— Temos que ir Lee — sei que ele me escutou, mas nem assim ele retira os olhos da foto.
— Quem retratou você nesse momento com certeza te ama muito. Claro que poderia ter um pouco mais de cobertura em seu corpo, mas a igualdade é impressionante! Recriaram seu sorriso de forma esplendorosa. Acho que esse seu sorriso é uma das coisas mais bonitas que eu já vi em toda a minha vida. Mas o que eu acho mais bonito é o rosto que você faz, logo após fechar os olhos, enquanto espera por um beijo meu. Aquele rosto é o que eu consigo pensar de mais próximo da perfeição.
— Não fala assim Lee, por favor... — sempre escrevi tudo o que ele diz, mas definitivamente não estou preparada psicologicamente para escutar essas palavras tão doces.
— Mas é a verdade... — ele larga o retrato e me encara. Os passos que ele dá em minha direção são decididos.
Suas mãos alisam o meu rosto e eu instintivamente fecho os olhos e espero pelo melhor.
— Exatamente esse rosto... — seus lábios sussurram sobre os meus antes de me beijar. Isso era tão injusto. Ele não deveria ter esse poder sobre mim. Ele nem deveria existir.
Sei que eu não deveria estar fazendo isso, mas fazer o quê se a minha carne é fraca e a dele é deliciosa? Meus dedos se perdem pelos seus fios maravilhosos. E vibro quando ele geme em minha boca. Ai que delícia!
— Você está com um gosto maravilhoso de hortelã. Muito refrescante! — ele avança na minha boca mais uma vez, e eu não sou maluca para recusar aquilo.
Ele suspende o meu corpo no ar e me mantém ainda mais próxima a ele. Nem sei quando foi que ele me deitou no sofá, mas estar entre as almofadas macias e o corpo quente dele era tão bom que suspirar alto era inevitável.
— Nunca te vi usando roupas assim, mas eu gostei, gostei muito! — ele diz ao beijar o meu pescoço com uma sede insaciável. Suas mãos exploram as minhas pernas sem o menor pudor e eu estou AMANDO isso.
Meu celular começa a tocar. Lee se assusta com o barulho e me larga um pouco. Tenho que usar todo o meu auto controle ali, pois ter aquele homem em cima de mim, mordendo o lábio e controlando a sua respiração era um convite quase irrecusável para o pecado.
Nem vi quem era ao telefone, pois parou de tocar e eu lembrei que tinha outras coisas a fazer, e por mais que eu quisesse fazer coisas com o Lee, eu tenho outras responsabilidades.
Saio debaixo dele e fico de pé. Minhas pernas parecem gelatina. Sei que se as coisas continuarem assim com o Lee com certeza eu ficaria maluca e começaria a subir pelas paredes!
— Temos que ir — ele não reclama quando digo isso ou quando seguro sua mão e praticamente o arrasto para fora do apartamento.
Minha vizinha olha com muita curiosidade para o Lee, e eu nem tiro a razão dela. Acho que ela nunca viu um homem de quase dois metros, cabelos brancos e vestido com um kimono. Um homem bonito e que se você analisasse direito, dava para perceber que ele não pertencia a esse tempo e lugar.
Melhor mesmo o Lee estar ao meu lado. Nem quero imaginar o que poderia acontecer se ele saísse sozinho. Melhor ele ficar ao alcance dos meus olhos e boca eventualmente.
Kkkk Ah, mas como eu amo essas interações do Lee com a Tessa. A carne fraca e a deliciosa kkkkk. Não vou nem mentir se isso acontecesse comigo, eu também faria a mesma coisa. Mas quem sabe uma ligadinha pro trabalho, alegando uma doença só pra aproveitar um pouco mais hahaha.
O que vocês acham que vai acontecer agora pessoal? O que acharam do Lee e da sua Fênix ganhando vida? Acham que foi apenas isso? Ahhhh, mas ainda temos algumas surpresas :)
Deixem seu voto e comentário aqui. Vou amar saber o que vocês está achando da história. Obrigada pelo carinho e até o próximo capítulo ❤
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